20/10/2017
Temos que admitir que desde criança ficávamos curiosos com aquela lagoa comprida no fim do mapa do Brasil, principalmente quando tínhamos que desenhá-la nas aulas de geografia, fato análogo com o que também acontecia com a Ilha do Marajó, no norte do país.
Histórias das mais bizarras sempre foram nos contadas a respeito dessa lagoa, mas realmente pouco soubemos sobre esse território brasileiro e acabamos deixando para lá.
O Portal D Moto resolveu por um fim nesse mistério e trás a você, leitor amigo, uma matéria feita em toda sua extensão, num verdadeiro Abraço na Lagoa. O resultado você pode conferir aqui.
Em primeiro lugar é preciso dizer que tecnicamente a Lagoa dos Patos não é uma lagoa, tampouco um lago.
Segundo os estudiosos do assunto, para os dois casos citados a definição clássica seria “uma extensão de água cercada de terra por todos os lados”. A diferença é que os lagos seriam maiores e as lagoas menores, mas sem medias mínimas ou máximas para enquadra-los nesta ou naquela definição.
Apesar do nome pomposo a Lagoa dos Patos é tecnicamente uma Laguna, já que tem comunicação direta com o mar na divisa entre as cidades gaúchas de Rio Grande e São José do Norte, onde existe um imenso Porto lacustre/marinho.
Mas aqui nesta matéria, mesmo que a nomenclatura esteja equivocada, vamos tratar nossa querida anfitriã desses dias maravilhosos que passamos ao seu lado como Lagoa. A famosa e mística Lagoa dos Patos, a segunda maior lagoa da América do Sul e a maior do Brasil, com mais de 10.000 km2 de superfície.
A área apresentada poderia ser bem maior se fossem acrescentadas a ela as superfícies do Lago Guaíba (500km2) e da Lagoa do Casamento (300km2), que também não são tecnicamente lagos ou lagoas, mas que se fundem com a Lagoa dos Patos, sem qualquer acidente geográfico que possam delimitar uma pretensa divisão de suas águas.
“LAGOA” DO CASAMENTO
Pouco se consegue pesquisar sobre a “Lagoa do Casamento“, que fica a nordeste da Lagoa dos Patos, a não ser que é inóspita e bruta, com quase nenhuma infraestrutura ao seu redor. Mas essa é uma conversa para a segunda parte da nossa viagem Abraçando a Lagoa dos Patos
“LAGO” GUAÍBA
Ainda conhecido como “Rio Guaíba” é, na verdade, uma grande bacia de sedimentação localizada as margens de Porto Alegre. Embora sem o requisito primordial para ser lago (cercado de terra de todos os lados), foi assim classificado depois de estudos da UFRGS.
Da mesma forma que a “Lagoa do Casamento”, une-se a Lagoa dos Patos sem qualquer formalidade ou acidente geográfico que possa definir se tal água pertence a esse ou aquele lago ou lagoa.
A MAIOR LAGOA DO BRASIL
A Lagoa dos Patos tem exatos 10.144km2 de superfície, perdendo em tamanho na América do Sul apenas para o Lago Maracaíbo (que também é uma laguna), existente no norte da Venezuela e com uma superfície de 13.210km2.
Os outros lagos sul-americanos, elencados por tamanho, são: O Titicaca, na fronteira entre a Bolívia e o Peru, no alto dos Andes, com 8.300km2; o extinto Lago Poopó, na Bolívia, que tinha 3.130km2 de superfície até o ano de 2010 e simplesmente virou um deserto absoluto pela ação nefasta ação do homem; e o Lago Argentino, no pé dos Andes argentinos, com 1.415km2.
A catástrofe ocorrida em Oruro, na Bolívia, que fez desaparecer um verdadeiro mar de água salgada em plenos Andes, nada tem a ver com alguma maldição “pinchada” pelos torcedores do Corinthians, presos anos atrás naquela cidade, mas pelo excesso de rejeitos jogados nele pelas mineradoras, que foi gradativamente diminuindo sua profundidade até fazê-lo desaparecer por completo.
Qualquer semelhança com o que vimos em Mariana e nas cidades exploradas mineralmente em nossas terras não é coincidência.
O PRIMEIRO DIA DO NOSSO PROJETO
Para nossa empreitada em busca de abraçar a Lagoa dos Patos partimos de São Paulo, exatamente nos dias mais frios do ano e junto com a chegada do inverno no sul do Brasil. Argh! Que frrrio.
Como vocês puderam perceber até aqui, nossa empreitada era algo impossível, pois impossível é circundar a Lagoa dos Patos, salvo se circundássemos também o “Lago” Guaíra e a “Lagoa” do Casamento, o que na verdade acabamos fazendo.
Com a moto preparada tratamos também de nos prepar para a viagem. Segunda pele por baixo, calça de proteção com forro e botas resistentes garantiram a proteção e a temperatura das partes baixas do corpo.
Na parte de cima, onde o vento vem sempre de encontro, usamos sobre a segunda pele uma camiseta de mangas compridas e uma blusa grossa de moletom. Por cima de tudo a jaqueta forrada cumpriu seu papel. Para garantir o conforto um cachecol de lã ajudou muito na transição entre o capacete e o pescoço.
O bom par de luvas só foi suficiente com um outro par de lã por baixo. A balaclava grossa e o capacete compuseram nossa armadura. Prontos para a aventura, lá fomos nós.
Esperávamos viajar por uns doze dias nessa empreitada e fomos sem pressa alguma. Seguimos pela BR-116 até Curitiba e depois do almoço seguimos até Joinville onde paramos para curtir a cidade, só seguindo viagem no dia seguinte, pela manhãzinha. Rodamos pouco mais de 600kms nesse dia.
O SEGUNDO DIA
Deixamos o hotel as 7h, mas parecia que estávamos na madrugada: escuro e com uma neblina que mal víamos a estrada em nossa frente. Nessas horas da manhã parece que o frio se apresenta mais intenso, fazendo doer todas as nossas juntas.
Seguíamos agora pela BR-101 e chegando em Itajaí o sol já começara a aparecer, o que nos fez dar uma paradinha extra em Camboriú e outra esticadinha em Floripa, para um lanche rápido.
Deixamos a capital catarinense por volta das 11:30h e rumamos ao sul com uma única parada em Maracajá, antes de chegarmos em Passo de Torres, divisa com o Rio Grande do Sul. Lá aproveitamos para almoçar atrasadamente e fazermos a primeira gravação oficial deste nosso projeto, que você poderá ver no rodapé desta matéria.
A tarde já ia alta e nessa época do ano a luz do dia também vai embora mais cedo. Assim, mal paramos na primeira cidade gaúcha a nossa frente (Torres) e fomos direito para Osório, onde pernoitaríamos naquele segundo dia de viagem.
Rodamos nesse dia o mesmo que no dia anterior, ou seja: pouco mais de 550kms. Cuidamos de nos hospedar e ao anoitecer fomos jantar com um casal de motociclistas que estava no mesmo hotel, viajando com uma Varadero 1000. Caminhamos a pé pela cidade conversando animadamente e relembrando viagens antigas de cada um de nós.
São esses momentos de prazer, ao lado de “velhos amigos que nunca conhecemos antes”, que faz valer a pena enfrentarmos estradas insólitas e frias, chuvas, neblina e vento forte. São com esses “amigos”, que só vimos uma vez na vida e talvez não os vejamos nunca mais, que curtirmos os melhores momentos de nossas empreitadas por este mundão.
O TERCEIRO DIA
No terceiro dia deixamos Osório por volta das 7h 30m, rodando agora pela BR-290 (Free way). Não perguntem o motivo desse nome e os gaúchos odeiam quando fazemos piadinhas a respeito.
No primeiro trecho da rodovia, quando ela contorna parte da Lagoa dos Barros, nossa moto insistia em não ficar na pista dado ao forte vento lateral que faz girar dezenas de torres eólicas nessa região.
Antes que a coisa piorasse de vez, demos uma curta parada no morro da Borússia para contemplarmos a bela paisagem e colhermos algumas fotos, aproveitando, também, para fazermos as pazes com aquele vento todo. Depois de algum tempo seguimos novamente em direção da capital gaúcha, chegando lá ainda no começo da manhã de um final de semana frio, mas ensolarado.
Esse terceiro dia de viagem foi um dos que menos rodarmos nessa viagem e não foi por preguiça ou cansaço. O trajeto desde Osório até a capital portalegrense não era grande e gastamos pouco para rodar pela cidade e seus pontos turísticos de nosso interesse. Rodamos neste dia cerca de 150km, conforme você pode ver no link acima.
O QUARTO DIA
O quarto dia de nossa viagem era aguardado com muita ansiedade, já que era a partir dele que efetivamente passaríamos a “Abraçar a Lagoa dos Patos”.
Deixamos Porto Alegre para trás rodando nas ruas quase desertas naquelas primeiras horas do dia e, depois de um último adeus visual na grande metrópole gaúcha, atravessemos a Ponte do Guaíba sobre o Rio Jacuí em direção da Ilha do Pavão e da Ilha das Flores. Rumávamos agora pela BR-116 e aos poucos foram aparecendo as primeiras cidades de nossa jornada.
A BR-116, nesse primeiro trecho depois de POA, é de pista dupla e muito movimentada, mas essa facilidade acaba logo após a cidade de Guaíba.
Rodando numa manhã fria, mas ensolarada, as primeiras cidades foram ficando para trás. Primeiro passamos por Eldorado do Sul e logo depois Guaíba. Caminhávamos ligeiros em busca do primeiro município que margeasse a Lagoa dos Patos: Barra do Ribeiro.
Em pouco tempo a rodovia passou a ser estreita e de mão dupla, porém com um asfalto razoável e sem buracos. A quantidade de caminhões transitando por ali também era muito grande, o que exigiu nossa atenção redobrada, principalmente nas ultrapassagens.
Depois de visitarmos Barra do Ribeiro continuamos nossa viagem pela BR-116, passando por alguns núcleos habitados ao longo da rodovia, um deles chamado Douradilho, esse com uma estrutura mais elaborada e ao lado de uma grande industria.
Uma vez na BR rodamos exatos 40kms até nos depararmos com a rotatória para a nossa segunda cidade a ser visitada: TAPES. À esquerda da rotatória seguiríamos para Tapes, pelos 15kms da RS-717 ou, se seguíssemos pela direita, pela RS-715, atingiríamos Sentinela do Sul depois de 10kms.
Poderíamos ter vindo direto de Barra do Ribeiro sem passarmos pela BR-116. O trajeto alternativo é bem mais curto e segue margeando a Lagoa. No entanto o trecho é todo de areia muito fofa, o que só retardaria a chegada em nosso destino naquele dia e não era o objetivo dessa viagem.
Seguimos então a estradinha estreita e de praticamente uma única reta, num asfalto bom e trânsito sossegado, o que fez que chegássemos em Tapes em pouco tempo e sem qualquer incidente.
Ao deixarmos Tapes para trás continuaríamos nossa viagem até a próxima cidade que margeasse a Lagoa, mas ainda agora não faríamos pelo caminho mais curto, pois também era de areia fofa. Assim, voltamos até a BR-116 seguindo dali em direção a Camaquã, com previsão de derivarmos para Arambaré, num trecho de aproximadamente 20km pela RS-350.
Como nos confundimos na entrada de Camaquã acabamos seguindo direto e, quando demos conta Arambaré já tinha ficado muitos kms para trás. O jeito foi amargarmos o sonho de não conhece-la naquele dia, mas garantindo, desde já, nossa volta exclusiva para essa localidade em breve. Promessa é dívida.
Nesse percurso passamos por várias industrias de porte, incluindo a imensa fábrica da Camil e não era para ser diferente. As extensas plantações de arroz existentes naquela região brejeira justifica empresas desse ramo de atividades.
Já nos limites da cidade de Cristal demos uma pequena parada para nos hidratarmos com um suco e esticarmos as canelas. Tínhamos acabado de cruzar o Rio Camaquã e nosso próximo destino estava agora a pouco mais de 40kms dali.
Seguiríamos ainda pela BR-116 até a rotatória para a cidade de São Lourenço do Sul. Nesse trecho entre Tapes e São Lourenço rodaríamos cerca de 110kms.
Depois do almoço frugal, já que tínhamos ainda muita aventura pela frente, seguimos de volta à BR-116 e de lá tínhamos como destino, naquele momento, a última cidade que visitaríamos nesta primeira parte de nossa aventura.
Seriam mais 50km até a cidade de Pelotas e esse trecho da BR estava em obras, com máquinas ziguezagueando pela pista para duplicação, com poucos kms em pista de mão dupla; muitos kms em construção da segunda pista; e o trecho final já duplicado. Alguns trechos com a operação siga/pare estavam em funcionamento na rodovia.
Na altura da rotatória com a Avenida Fernando Osório deixamos a BR-116 para trás e adentramos na cidade de Pelotas, a terceira mais populosa do Rio Grande do Sul. Se pretendêssemos seguir até o fim da BR-116, seriam mais 140km de estrada até a cidade de Jaguarão, que faz divisa com o Uruguai e é o marco zero da maior rodovia do Brasil.
Embora não estivéssemos ainda na parte mais meridional do nosso projeto, demos por findo esta primeira parte do nosso projeto “Abraçando a Lagoa dos Patos” pela margem oeste da Costa Doce, nome carinhosamente dado a orla da Lagoa, numa alusão as suas águas.
Já nessa região, onde a Grande Lagoa se liga ao mar, suas águas tendem começar a ser salobas dependendo a época do ano, das estiagens, das marés e dos fenômenos marinhos, quando o mar avança sobre as águas naturalmente doce da Lagoa.
Depois de bem hospedados na cidade fomos tratar de cuidarmos do estômago, arrumando um tempinho extra para curtirmos um pouquinho da vida noturna de lá, sem o menor exagero, pois o dia seguinte seria marcado por mais estradas e aventuras
Neste dia rodamos apenas 370km, mais o quanto rodado nos limites de Pelotas, completando, nesta primeira metade de nosso projeto, 1700kms efetivamente percorridos desde nossa saída da capital paulista.
Quer ver o resto de nosso projeto? Então aguarde em breve a segunda e última parte desta matéria, que será publicada em breve.
Boas estradas a todos. CONTINUA…
Acompanhe todo o percurso em volta da Grande Lagoa e nas cidades que por ela são banhadas, nos links abaixo relacionados.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
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