Nesta edição apresentaremos o Distrito de Antônio Pereira, o oitavo da série dos doze Distritos de Ouro Preto que estamos mostrando neste projeto especial por Minas Gerais.
HISTÓRIA
À boca miúda, tem-se que a região foi um dos primeiros núcleos mineradores das Minas Gerais, desde os anos finais do século 17, e algumas ruínas no centro histórico confirmam essa assertiva.
Mais precisamente na virada do século 18, fixou moradia por lá o bandeirante Antônio Pereira Machado, que deu ao local o nome de Bonfim do Mato Dentro, mas não ficou por muito tempo, retornando para a Vila do Carmo, atualmente a cidade de Mariana.
Algum tempo depois estabeleceram de forma definitiva no local o Padre João de Anhaia e os mineradores Mateus Leme e Antônio Taques, que são considerados os verdadeiros fundadores do Arraial, ao qual atribuíram o nome de Antônio Pereira em homenagem ao primeiro habitante que ali viveu.
Várias minas foram abertas na região naqueles tempos e já no ano de 1716 foi fundada a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, já consagrada como Igreja Matriz em 1720.
Com o esgotamento das minas de ouro da forma artesanal, como era feito no passado, a decadência da região aflorou, vindo Antônio Pereira se reerguer apenas por volta do ano de 1950, mesmo assim o progresso durou pouco tempo.
Porém, quarenta anos atrás, quando foi descoberto que o Distrito estava assentado em grandes jazidas minerais, várias empresas de grande porte se instalaram por lá e dominaram a região, criando uma nova expectativa de progresso.
O DISTRITO
O Distrito é relativamente pequeno, de predominância operária e perigoso ao nosso ver, mas sem deixar de lado as qualidades surpreendentes do doce povo mineiro.
Essa foi a classificação preliminar que pudemos perceber quando percorremos toda sua extensão, ladeado de fora a fora pela MG-129, também chamada no trecho como Rodovia Samarco/Mariana.
É relativamente pequeno por ser compacto, com ares de uma cidadezinha interiorana e dependente das cidades maiores para um abastecimento mais completo dos moradores, que basicamente só tem área comercial destinada aos gêneros e serviços de primeira necessidade.
Pode ser considerada uma vila operária, vez que o Distrito não dispõe de muitas áreas de veraneio, residências bem elaboradas ou de arquitetura requintada, salvo o casario do seu centro histórico. O visitante terá dificuldades de encontrar hotéis ou pousadas acolhedoras que sirvam aos turistas nessa região, já que está na linha principal de produção das mineradoras em ação, que praticamente circundam todo Distrito.
É perigosa e as inúmeras placas indicativas pelo local não nos desmentem, no sentido do medo enfrentado pelos moradores, oriundo das várias barragens a poucos metros do Distrito. Nesse contexto, é bom frisar que foi justamente nessa região que ocorreu a tragédia de Mariana, conforme matéria que publicamos na época neste Portal (ver aqui)
Embora pertença ao município de Ouro Preto, como um de seus Distritos, Antônio Pereira tem muito mais afinidade com Mariana que, inclusive, chega a ser muito mais perto e até é caminho natural para se chegar em Ouro Preto.
A distância de Antônio Pereira até Mariana é de apenas 10 km, entretanto, são 28 km para se chegar ao centro de Ouro Preto e, se o aventureiro, como nós, cortar caminho pela precaríssima Estrada da Purificação, em terra batida, o trecho diminui para 15 km, mas asseguramos que é assustador para quem não é habituado ao Off Road.
PERRENGUE NA ESTRADA DA PURIFICAÇÃO
O tempo pelo menos estava ensolarado, depois de tantos dias de chuvas, e nos permitiu gravarmos mais e melhores imagens do lugar e de como foi nosso acesso, pela Estrada da Purificação.
Mal chegamos em Antônio Pereira e já fomos assediados por vários moradores ávidos à vender “lembranças” minerais tidas como extraídas ali, tais como: colares, anéis, pingentes, gargantilhas e até mesmo pedras polidas, lapidadas e brutas, tudo acondicionado em pedacinhos de papel sulfite dobradinho, espalhados pelos bolsos dos vendedores.
A primeira vista tínhamos esses vendedores de joias como trabalhadores da construção civil, da lavoura ou aposentados e, depois de conversa vai, conversa vem, típico dos mineiros, ficamos sabendo que alguns deles já foram garimpeiros ou trabalhavam como mineradores, e hoje vendem essas joias para ajudar na economia doméstica.
Muitos não tem tempo suficiente para qualquer benefício previdenciário, tampouco saúde para voltarem ao trabalho pesado, e acabam vivendo dos bicos diversos e venda de pedrarias e joias.
Como o Distrito beira a rodovia seu formato é praticamente linear, com uma área tida como central, onde fica localizado o patrimônio histórico, e o restante como área habitacional, onde moram a maioria dos habitantes.
O perímetro urbano, embora linear, é bem compacto, divisando ao oeste com a rodovia e a leste com as barragens das mineradoras, bem mais altas que o nível da área urbana, preocupando muito seus moradores.
As ruas da parte mais antiga são mais íngremes que as demais, porém, todas são estreitas e tortuosas, revezando a pavimentação entre pedras, paralelepípedos, blocos de cimento e asfalto.
A sinalização é muito precária, para não dizer quase inexistente, ao contrário das placas orientando o morador sobre as rotas de fuga e ponto de encontro, no caso (sempre possível) do rompimento de uma das barragens
E nem se diga que a crítica é infundada, já que jornais locais e atuais vivem trazendo esse assunto a baila. (saiba mais)
RODANDO EM ANTÔNIO PEREIRA
GRUTA DA LAPA
A região de Ouro Preto é a maior produtora do Topázio Imperial do mundo e uma das maiores minas, hoje desativada e a céu aberto, está a poucos metros de Antônio Pereira.
No tempo do garimpo artesanal essa riqueza mineral significava bem estar da população, quer dos garimpeiros em geral, quer dos comerciantes que viviam no entorno.
Nos tempos atuais, ao contrário, ter essas riquezas minerais em nossas terras significa pobreza, estagnação, doenças e perigos inúmeros, já que grandes empresas, algumas multinacionais, exploram na localidade as riquezas e deixam a degradação, a poeira tóxica, os buracos, as barragens perigosas, etc.
É nesse contexto que vamos encontrar a entrada da Gruta de Nossa Senhora da Lapa, bem ao lado do antigo campo de garimpo do Topázio Imperial no Distrito.
A história conta o ano de 1757 como o da descoberta da gruta por algumas crianças que brincavam por ali, e que relataram terem visto a santa.
Como não poderia deixar de acontecer, o lugar virou ponto de atração de peregrinos, principalmente no mês de agosto, e até construíram uma pequena capela na parte da frente da gruta, tendo sido o local elevado a Santuário no ano de 2014.
IGREJA QUEIMADA
A igreja de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, mais conhecida atualmente por “Igreja Queimada”, é um atrativo a parte para o visitante de Antônio Pereira e só ela já vale o passeio até lá.
A igreja substituiu a capela original construída na época da fundação do Distrito e acabou ardendo em chamas por volta do ano de 1800, com várias teorias da conspiração para o fato.
A primeira dá conta que a Igreja foi construída em homenagem à N. S. da Conceição da Lapa, pois teria sido vista por crianças na Gruta da Lapa. Nessa versão e como o incêndio foi “misterioso”, credita-se o ocorrido à própria santa, que era sempre vista na igreja e na Gruta. Assim, nessa versão teria ela agido (promovido o incêndio) para permanecer apenas na Gruta, onde foi vista pela primeira vez.
Numa segunda versão a ideia é que a igreja teria sido assaltada por uma pessoa vinda da Bahia, que ficou escondido depois da missa para se safar depois e, para não chamar a atenção para si, teria colocado fogo na igreja depois do roubo.
Noutra versão, ainda, o culpado é o sacristão, cujo nome a história não esquece para seu escárnio pessoal: “Roque”. Nessa versão teria ele esquecido uma vela acessa, que possivelmente caiu em algum tapete, causando todo o reboliço. Dizem que na época ele chegou até a ser preso pelo “crime”.
Seja como for, a igreja foi primorosamente construída com a melhor tecnologia da época, continua em pé, porém, em ruínas, e em seu interior formou-se um pequeno cemitério, anexo ao cemitério tradicional do Distrito.
IGREJA DAS MERCÊS
A igrejinha de Nossa Senhora das Mercês é a que atende hoje aos fieis de Antônio Pereira, já que a igreja da Matriz permanece e permanecerá em ruínas.
Embora bem acanhada, em relação a Matriz Queimada, ostenta duas torres sineiras e duas grandes janelas frontais, a completar a fachada do templo.
TURISMO NATURAL
Não obstante ao turismo religioso e cultural do Distrito, este é rico também nas belezas naturais, sendo que em seu entorno o turista mais radical (e corajoso pela região de mineração) terá muito o que fazer por lá.
Cachoeiras e mais cachoeiras afloram na região e, embora não sejam altas, são bem concorridas.
As principais estão na região da Pedreira, onde há captação da água para o Distrito.
COMO CHEGAR
Para o aventureiro que partir de Ouro Preto o percurso natural será de 28km, iniciando pela BR-356, até a cidade de Mariana, e de lá seguindo pela MG-129, em sentido de Catas Altas.
Outra opção e a que nós utilizamos nesta matéria, foi seguir de Ouro Preto pelo Morro da Queimada (Rua 15 de Agosto/Avenida das Andorinhas) e seguindo pela precaríssima Estrada da Purificação (em terra mal conservada), até chegarmos no trevo da Purificação, na MG-129. Ao todo foram 10 km, sem passar por Mariana.
Já para o aventureiro que partir de Belo Horizonte o percurso quase inteiro pode ser feito pela BR-356, até a cidade de Ouro Preto, num percurso de 102 km, e depois escolhendo uma das opções acima para chegar ao Distrito.
Para visitantes de outras localidades a sugestão é a consulta num bom guia rodoviário, levando em referência a cidade de Ouro Preto.
Se você já conhece a região, tem alguma crítica ou sugestão para fazer, envie-nos um comentário a respeito. Será muito útil para nós.
EDITORIAL
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