20/01/2015
Três Lagoas é uma das principais “portas” de entrada para o Pantanal, para quem está em São Paulo, e é terra onde o mundo das duas rodas está praticamente em todas as casas. Vamos conhece-la? Então primeiro tome algo gelado pois a cidade é quente de “derreter os miolos”.
COMO CHEGAR
Da capital paulista até lá são 680km de muita adrenalina e, se quisermos, praticamente numa única reta. Partindo pela Bandeirantes ou pela Anhanguera, quando estivermos na região de Jundiaí tomemos o rumo pela Rodovia Marechal Rondon, até seu fim. Pronto, chegamos.
Com essa opção vamos trafegar em pista de mão dupla entre as cidades de Porto Feliz e Botucatu, num trecho aproximado de 120km. O bom é que vamos poder apreciar a Serra de Botucatú, único lugar mais fresco do caminho.
Outra opção é seguirmos pela Rodovia Castello Branco até a cidade de Pardinho e dali até Botucatu, quando então passaremos a desfrutar da Rodovia Mal. Rondon. A distância à ser percorrida é praticamente a mesma nos dois trajetos.
A partir de Botucatu a pista, embora larga e bem conservada, começa ficar cada vez mais deserta. Os postos de combustíveis vão “rareando” e, conforme a autonomia da sua motocicleta convém abastece-la com bastante frequência para não ter surpresas.
Os bons lugares para uma refeição praticamente terminam em Baurú. A partir de lá vamos ter que nos contentar com os “Postos de Estrada” e seus cardápios tradicionais, com pouca variedade de pratos. São bastante utilizados por caminhoneiros.
Mais um detalhe importante convém ser aqui mencionado. A partir da cidade de Botucatu muito pouco você usará do guidão de sua moto. Tudo parece uma reta interminável, com mais de 400 km de extensão. O Calor também começa a abrasar cada vez mais nesse trecho.
Para quem sai bem cedo de São Paulo e não faz muitas paradas, poderá chegar em Três Lagoas por volta das 14h, ou melhor: 13h, pois haverá um fuso horário de uma hora a menos. O calor estará quase insuportável, mas você é um aventureiro.
Quase na divisa com o Mato Grosso do Sul já é possível avistar o imenso mar de água doce a nossa frente. Poucos quilômetros antes da Barragem de Jupiá, por onde passaremos, inicia o Rio Paraná, que na verdade se deriva do Rio Grande e do Rio Paranaíba, tendo como afluentes imediatos o rio Sucuriú e o Tietê.
CHEGANDO
Atravessar os 5,5km da barragem pode ser bem prazeroso, se não houver congestionamento de caminhões de carga. A barragem abriga uma imensa eclusa com desnível aproximado de 20m. Imensos comboios da Hidrovia Tietê/Paraná utilizam-na diariamente.
Se puder dar uma paradinha há um mirante especial onde se pode entrar com a motocicleta e apreciar a represa com bastante intimidade. Pelas adjacências é possível ver, na parte baixa do Rio, a imensa ponte de outros muitos km por onde passa a ferrovia.
Embora a Usina de Jupiá seja da CESP, ela está praticamente inteira dentro de Três Lagoas e, juntamente com a imponente Estação Ferroviária, a intensa movimentação rodoviária, e seu aeroporto com capacidade para grandes aeronaves, faz da cidade uma das mais importantes do Estado.
A Rodovia Marechal Rondon termina exatamente na cabeceira da Barragem de Jupiá e do outro lado Três Lagoas nos aguarda. Cidade moderna, com largas avenidas bem pavimentadas, desfruta de um concorrido centro comercial, bons restaurante e estrutura hoteleira de dar inveja.
Siga sempre em frente, não há como errar. A Cidade é bem planejada e suas ruas são sempre em ângulos retos e você quase não vai encontrar curvas. A referência é a estátua do Cristo Redentor, quase no fim dessa via.
Esse monumento é a chave para chegarmos a região central da cidade, em direção às suas “três lagoas”. Siga a avenida que em pouco tempo estarás as margens da Lagoa Maior.
NAS PORTAS DA CIDADE
EM TRÊS LAGOAS
Nesta viagem não utilizamos essa Avenida em frente ao Cristo, mas seguimos quatro quadras adiante, até a avenida a beira da ferrovia (Av. Rosário Congro). Nosso primeiro objetivo era, literalmente, livrarmos de nossa tralha, principalmente da roupa pesada de viagem.
Exatamente em frente da Estação Ferroviária, na mesma quadra do Relógio Central e com fundos para a charmosa Praça de Santo Antônio de Pádua, estava nosso destino: O Hotel Três Lagoas, o mais tradicional da cidade.
Suas 59 suítes, todas com ar condicionado, só mantém o calor humano no relacionamento com seus clientes, já que nele também funciona o restaurante Cheiro Verde, com cardápio agradabilíssimo. Nos dê licença agora, que o banho gelado é inevitável.
Desfrutamos da suíte 29, com oito repartições internas. O banho seguiu de um leve cochilo para tirar o cansaço da viagem. Por volta das16h (15h para eles) fomos dar a primeira volta pelo centro da cidade e aproveitar para fazer as pazes com o estômago. Ainda havia lugar servindo refeições e aproveitamos de uma boa churrascaria.
NA LAGOA MAIOR
O tempo deu uma fechada e muitas nuvens formaram no céu, porém foram-se ligeiras e nem uma gota de chuva pra nos refrescar do calorão, o que praticamente nos obrigou a curtir um descanso ao lado da Lagoa, tomando um suco ou um gostoso sorvete. Foi o que fizemos sem muita espera.
Evidentemente escolhemos a 3ª Lagoa (a Maior), pois a infraestrutura ao seu redor é magnifica. A Segunda Lagoa já tem algum conforto em sua volta, mas ainda carece do mínimo para receber bem o usuário. Por sua vez a primeira lagoa, a menor delas e a mais distante, ainda padece de todos os cuidados e sua orla ainda não dá para ser frequentada sem algum risco.
A orla da 3ª Lagoa tem aproximadamente 3,6km de extensão, toda revestida com belos jardins, academia ao ar livre, que é chamada de “Parque do Idoso”, área de skate, quadras poliesportivas, pista de caminhada e muita área verde com viveiro de aves. Um chafariz com luzes esverdeadas chama a atenção no centro da lagoa.
Curtimos a sombra fresca das árvores e no cair da noite aproveitamos para um aperitivo a “beira lago”. Peixe frito e água de coco gelada completaram o desjejum daquele dia. Noite se fechando, amargamos o calor forte do ar quente até o hotel.
TOUR EM TRÊS LAGOAS
NO BALNEÁRIO
A manhã seguinte veio ligeira, pelo menos para nós que tínhamos uma hora a frente por causa do fuso horário. Madrugamos para tomar o café da manhã e em pouco tempo fomos conhecer o Balneário Municipal, a praia oficial dos Treslagoenses.
Não se paga nada para entrar, mas as regas devem ser respeitadas. O Parque é bem equipado, tem estacionamento interno seguro. sanitários e vestiários higiênicos e fica às Margens da foz do Rio Sucuriú, pouco antes de se transformar no imponente Rio Paraná. A visão é privilegiada.
A torre de vigia mantém funcionários atentos a possíveis afogamentos e cuidando da segurança em geral. A visão desse lugar é magnífica e é possível ficar horas “brincando” naquela água gostosa, sem o inconveniente do sal, comum nas praias de mar.
A VILA DE JUPIÁ
Devidamente refrescados seguimos para o outro extremo da cidade, o Vilarejo de Jupiá, uma localidade típica de pescadores e de “caiçaras de beira-rio”, que deu origem à cidade. O trajeto é em direção a Barragem, porém entrando à direita, antes de atravessa-la.
Para chegar lá é preciso cruzar algum trecho em terra, sobre a ferrovia e em pavimentos diversos até seu ponto central. O ambiente é tipicamente praiano, com vários restaurantes e quiosques que servem peixes, além das praias de água doce, pedalinhos e muito divertimento. Muita gente curte esse lugar até altas horas da noite, já que há muitos “points” por lá.
Os esportes náuticos ganham aí seu ponto mais alto, tendo grande procura os passeios de lanchas e jet sky, disputando com as inúmeras embarcações de pescadores. É nessa localidade que acontecem muitos torneios com embarcações e com pesca.
ARENA MIX
Na volta da vila aproveitamos para visitar o Arena Mix, um dos poucos Parques temáticos feitos no Brasil especialmente para o motociclismo. Com uma área de cerca de 5 hectares, ao lado da Barragem, tem infraestrutura invejável e recebe eventos de todo o país.
Palco em estrutura metálica permanente, área coberta em alvenaria de 1000m2, quadras diversas, pista para motocross, área de camping e sanitários impecáveis, tem sido referência no mundo das motocicletas e é a sede oficial do MOTOSHOW de Três Lagoas desde 2009.
Tudo isso só vem confirmar uma das vocações da cidade: O uso das duas rodas. Motos? Aos milhares. Bicicletas? Em número maior ainda. Regras de pilotagem? Bem, aí temos que mudar, pois hoje são praticamente nenhuma.
O MUNDARÉU DE MOTOS E BIKES
Milhares de pessoas se equilibram todos os dias pelas ruas de Três Lagoas das maneiras mais diversas possíveis. Vamos ver?
CAPACETES
Sim, todos tem um capacete, porem em grande parte o estado de conservação deles são simplesmente deploráveis. Viseiras praticamente inúteis, riscadas e amareladas; cintas jugulares em péssimo estado ou inexistentes; capacetes “fora da cabeça” ou com as viseiras abertas também são as constantes. Viseira: Serve para que mesmo???
A esmagadora maioria das pessoas usam motos de 125cc, com predominância das cubs e scooters. Pelo que pudemos perceber a moto na cidade parece mais uma extensão do próprio corpo. Difícil ver na cidade pessoas a pé que não esteja carregando um capacete.
VESTIMENTAS
Como cidade é muito quente (muito mais quente que você possa imaginar), a vestimenta do motociclista é essencialmente precária. Pilotar de sandálias, chinelo de dedo ou mesmo descalço é bastante comum. Roupas? Shorts, bermudas e até vestidinhos sem pestanejar. Luvas? O que será isso santo Deus?!
PILOTAGEM
Em fila de dois, três, quatro ou mais, qual a diferença? Onde vai a bolsa? Pendurada no guidão ou na lateral do corpo, onde se usa tradicionalmente. E onde vão as compras? Nos mesmos lugares. Grandes volumes são transportados sem o menor cuidado.
GARUPAS
Igualmente aos condutores, os garupas também sofrem dos mesmos vícios. Sentam-se no banco de trás da moto sem qualquer formalidade e preocupação, e são eles, muitas vezes, os responsáveis pelas “cargas” extras que o motociclista pretende levar para todas as partes da cidade.
PILOTOS
Chegamos a conversar com uma senhora de seus 50 anos que saia com sua Titan. Ela nos relatou que o mais difícil foi convencer o pastor de sua igreja a poder utilizar calça comprida para pilotar, sendo que as mulheres devem sempre usar saias ou vestidos. Com a devida “autorização” dona Cecília percorre toda a cidade várias vezes ao dia.
LETÍCIA E SUA MOTO
Letícia Silva conversou conosco por algum tempo e nos passou uma entrevista exclusiva, sobre como é a realidade no dia-a-dia de uma piloto numa cidade como Três Lagoas. Suas dificuldades e dúvidas, seus conceitos e modo de agir. ACOMPANHE AQUI
AS RUAS
Um ponto favorável e bem vindo na cidade poderia ser copiado nas grandes cidades brasileiras: a quantidade de estacionamentos especiais para motos e bikes. São milhares de vagas para motos e muito mais para bicicletas, que chegam a ocuparem três filas no mesmo estacionamento. As bikes ainda contam com suportes fixos ao solo.
Três Lagoas é absolutamente plana, não há uma ladeira mínima sequer. As ruas são bem largas e todas bem asfaltadas, mas há muita concentração de terra vermelha nas bordas delas e nem chuva resolve, pois não tem como “escorrer” a água e a terra para outro lugar.
Como as motos são veículos pequenos e de baixa potência, nas vias de transito mais rápido são compelidas a utilizarem justamente essa área suja das ruas, causando inúmeros tombos dos motociclistas, principalmente aqueles que estão com pneus gastos.
BICICLETAS
Os ciclistas não fogem à regra e conduzem suas bikes da mesma forma dos motociclistas (ou vice versa). Bicicletas com uma, duas ou mais pessoas são comuns na região, já que pedalar não causa maiores fadigas, uma vez que a cidade é toda plana. Como bicicleta não requer habilitação, os abusos do trânsito são mais comuns ainda.
FISCALIZAÇÃO
Buscando informações junto aos órgãos de trânsito local, a justificativa foi que a cidade adotou recentemente a motocicleta como meio de transporte, em substituição a bicicleta, e está difícil a conscientização da população quanto as regras de segurança.
Com tal atitude de esconder o sol com a peneira, toda a administração pública faz certa “vista grossa” com as aberrações no trânsito, restringindo as multas e apreensão de veículos a casos raros. Mas não se iluda, nós, forasteiros, somos vigiados nos menores erros.
“TRUCO MARRECO!”
O sol pode estar a pino; o asfalto pode até derreter, mas nada parece esquentar os ânimos de seus moradores, que acham jeito para tudo, até mesmo para uma trucada informal num dos espaços da Avenida. Todos em pé, o banco é a mesa e o “seis” é chamado aos berros. Risadas e alegria.
AS RUAS DA CIDADE
Não obstante todos esses comentários que fizemos, o certo é que transitar pelas ruas de Três Lagoas, ainda que devidamente equipado, é tarefa bastante complicada e não conhecemos um que já não tenha caído por lá, por causa das terras sobre o asfalto.
Como tudo por lá é plano quase absoluto, a poeira trazida pelo vento invade as ruas, principalmente nas extremidades, locais por onde percorrem as maiorias dos veículos de duas rodas, sendo eles motos ou bicicletas.
Escorregões são uma constante e, em alguns casos, com resultados desastrosos, quando envolve além das bikes/motos, outros veículos maiores, como os caminhões, que tem na cidade uma rota constante.
RUAS DA CIDADE
A FÉ DO TRESLAGOENSE
Não encontramos em Três Lagoas a Igreja da Matriz a se destacar das demais em ponto estratégico, e não é pelo fato de ali predominarem outras denominações religiosas. A Catedral de Três Lagoas, sua Igreja Matriz, fica longe, nas adjacências do centro comercial, na Rua Zuleide Perez Tabox, numa bonita e espaçosa praça. É bastante interessante conhece-la, já que em estilo moderno.
Como nossa cultura tupiniquim é herdada dos Europeus católicos, em regra toda cidade foi fundada pela doação de terras por membros ilustres, que sagravam a localidade à algum santo(a) de sua devoção, construindo uma pequena capela que futuramente se transformava numa Igreja maior.
Três Lagoas foi fundada em 1910 por Antonio Trajano dos Santos e a primeira igreja foi construída em 1914, em homenagem a Santo Antonio de Pádua. A Igreja é um tanto curiosa, pois tem forma de grandes catedrais, no entanto é uma capelinha muito acanhada, uma miniatura de igreja, na qual mal cabem duas dezenas de pessoas.
Sua localização é exatamente entre do Hotel Três Lagoas e o Prédio dos Correios, em frente ao Relógio Central, numa praça fechada com grades de aproximadamente 2.500m2, que tem acessos por grades pela Rua Elmano Soares e pela Avenida Antonio Trajano.
SUOR E DETERMINAÇÃO
Como não bastasse o dia estressante embaixo de muito calor, o treslagoense não se dá por vencido e, após o expediente regular, não deixa de lado a academia para colocar o corpo em forma com o professor Ortiz, que já foi algumas vezes campeão, inclusive sul americano.
Tivemos a oportunidade de acompanhar alguns alunos que se dirigiam de moto para uma aula de Kickboxing nas proximidades do centro da cidade, e percebemos que persistência e determinação ainda são as chaves do sucesso.
DESPEDINDO
Como já estávamos despedindo da cidade, pois o dia seguinte marcaria nossa partida para outras regiões do Pantanal, fomos curtir mais uma vez a delícia da noite a beira da Lagoa Maior, degustando porções de peixe frito e nos refrescando com sucos e água de coco. Como o local é muito lindo, as saudades já se faziam sentir.
Deixamos o hotel logo pela manhã com rumo definido ao norte do estado. O sol nos acompanhou ainda por muito tempo. Viaje conosco também nessa nova aventura, que será contada em breve.
Gostou da matéria? Faça um comentário e envie-a aos seus amigos.
Não gostou? Envie-nos então suas críticas ou sugestões.
CLIQUE AQUI PARA VER TODAS AS FOTOS
CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
conheça também:
Olá! Em setembro de 2016 foi inaugurada a nova ponte sobre o rio Paraná; por isso, deste essa época, o trânsito sobre a usina hidroelétrica está impedido.
Valeu pela informação