10/01/2023
Nossa primeira aventura de 2023 ocorreu na cidade mais meridional do Estado de São Paulo, Cananéia, que além de sua riquíssima história pós descobrimento do Brasil, faz divisa direta com o Estado do Paraná.
HISTÓRIA
Os compêndios contemporâneos nos dão conta que a região de Cananéia começou a ser visitada por Américo Vespúcio e Gaspar de Lemos, desde o mês de janeiro de 1502, tendo eles nomeado o lugar como Barra do Rio Cananor.
Nessa viagem trouxeram, também, um degredado português de nome Cosme Fernandes, possivelmente sendo ele o conhecido Bacharel de Cananéia, o ser mais odiado pela coroa portuguesa, principalmente quando se tornou a pessoa mais poderosa das terras tupiniquins, possuindo muitos escravos a seu comando.
Somente em 1531 outra esquadra lusitana aporta em terras de Maratayama (antigo nome de Cananéia), essa comandada por Martim Afonso de Souza e que fixou aqui as bases de uma colonização, dirigindo-se posteriormente mais para o norte, onde também fundou a Vila de São Vicente, em 22 de janeiro de 1532.
Por falta de documentação mais elaborada a respeito, São Vicente, ao contrário de Cananéia, é considerada a cidade mais antiga do Brasil, dados esses que dificilmente serão mudados, ainda que se tenham as provas absolutas do equívoco.
Cananéia desde os primórdios do descobrimento do Brasil tem sido palco de lutas atrozes entre portugueses e espanhóis, sem contar com navios de outras bandeiras e até corsários neutros que ali travaram batalhas sanguinolentas.
Nossa história é rica nesses assuntos e não é nosso escopo descreve-la aqui com as minúcias e as correções que só os estudos aprofundados teriam condições de lograr êxito, mas a região se viu relacionada com exércitos indígenas e até mesmo com o extermínio do império Inca, no Peru.
Nem mesmo a vizinha Iguape livrou-se da guerra travada pelos portugueses contra o espanhol Moschera, tendo como aliado o Bacharel de Cananéia e muitos índios a seu comando.
IGREJA MATRIZ DE CANANÉIA
Foi somente nas últimas décadas do século 16 que a igreja Matriz de São João Batista foi erigida de fronte ao mar pequeno, tendo como proteção a Ilha Comprida.
A edificação é extremamente resistente, com todos os predicativos de um autêntico Forte Militar, com largas paredes sustentadas por impressionantes “mãos francesas” ao seu derredor e áreas vazadas nas paredes, para a utilização de armas por quem estivesse em seu interior. Servia para rezas e para a guerra.
A igreja Matriz de São João fica em frente ao Ferry Boat que dá acesso a Ilha Comprida e ao lado de Praça Martim Afonso, com seus dois canhões históricos ainda direcionados ao mar, e seu obelisco comemorativo.
No entanto temos que a história de Cananéia vai muito além do quanto aqui narrado, mas é assunto de pesquisa séria por vários anos, coisa que sistematicamente temos feito há mais de 15 anos, ainda que de forma amadora.
A CIDADE
A partir dos primeiros anos do século 20 Cananéia passou a incrementar o turismo, sem deixar de lado o potencial econômico que a pesca sempre proporcionou, principalmente pela localização privilegiada que possui.
RODANDO EM CANANÉIA
A vocação industrial, pequena até os dias atuais, somente deu o ar das graças depois da metade do século passado, mesmo assim restringe-se a produções sem muita complexidade, como engenhos, serrarias, etc.
O crescimento populacional fixo continua bem singelo, pouco ultrapassando aos 13 mil habitantes, distribuídos a maioria na área central, na Ilha de Cananéia e em outras localidades no continente, multiplicando-se exponencialmente nas temporadas de férias.
Para isso a cidade tem um parque hoteleiro capacitado a receber tanta gente, representado por grandes hotéis cheios de requintes, a inúmeras pousadas, campings e hotéis mais populares, sem contar com a gama impressionante de lugares para uma boa culinária.
Por falar em culinária, os frutos do mar e, especialmente a ostra fresca, não podem faltar na mesa de cada turista e não é a toa que um dos codinomes de Cananéia é: “A capital da ostra”.
E aqui vai mais uma dica importante. Quando falamos em ir para Cananéia, muitas vezes não damos conta que vamos para um arquipélago e que o centro da cidade fica numa ilha, assim como o Guarujá, Ilhabela ou mesmo Florianópolis.
A ilha principal se chama Ilha de Cananéia e é nela que está todo seu centro histórico, suas atrações, seu comércio e tudo mais que o turista busca por lá em termos de infraestrutura.
A maior das ilhas é a Ilha do Cardoso, com 22 mil hectares, hoje transformada em Parque Estadual. Nela vamos encontrar desde uma riquíssima biosfera marinha, como nada menos que oito sítios arqueológicos, muitos podendo ser acessados por trilhas.
É na Ilha do Cardoso, ainda, que o turista vai encontrar a maioria das praias do município, todas elas sem a presença de veículos automotores de qualquer espécie, salvo as lanchas que chegam pelo mar para despejar os turistas.
A parte sul da Ilha se estende numa estreita península de muitos quilômetros, mantendo acesso em praias pelo lado do mar aberto e pelo “mar de dentro”, dando acesso a várias praias como a do Marujá, da Laje, do Fole, etc., abrigando nela comunidades indígenas e caiçara.
Outra ilha de grande prestígio que compõe o arquipélago de Cananéia é a Ilha do Bom Abrigo, cheia de história e belezas e que fica na entrada da Barra do Mar de Cananéia. Bom Abrigo é perfeita para embarcações, mergulhos e banho de cachoeira. Em 1760 foi uma armação de abate de baleia para retirada de óleo para iluminação, construção de vilas e é nela que está instalado o Farol Bom Abrigo (1886).
A ilha do Castilho, cuja balsa demora cerca de 4 horas para chegar, é uma boa pedida para mergulho; A ilha da Figueira, famosa por seus paredões vulcânicos, aves migratórias e ponto de ninhos, requerendo preparo e permissão específica para visita; e a pequena Ilha Casca, especializada no cultivo de ostras e que fica entre o continente e a Ilha do Cardoso.
Na parte histórica de Cananéia o turista vai se deliciar com a qualidade do casario dos primeiros tempos do Brasil Colônia. A grande maioria devidamente preservada, faz divisa com uma ou outra abandonada há muito tempo.
Verificamos, entretanto, que metade delas permanecem como residências fixas e a outra metade acabou sendo transformada em pequenos comércios como lojinhas, bistrôs, restaurantes, cantinas, pousadas e congêneres.
As ruas centrais são todas extremamente estreitas e pavimentadas com blocos de cimento, contrastando com as grandes avenidas: A independência, principal delas e base do comércio local; A Av. Pinta, que termina do lado do Centro Náutico de Cananéia; e a Av. Municipal, que serve algumas áreas residências do município.
Todas elas partem exatamente da rotatória de entrada da cidade, junto ao Portal da Caravela, um bonito monumento em homenagem aos primeiros navegadores a pisarem por lá.
DISTRITO DO ARIRI
Um passeio a parte é conhecer o pequeno e singular Distrito de Ariri, a 95km da cidade, se o interessado desejar utilizar-se a ponte de cimento para chegar ao continente, ou 65km se não fizer questão de atravessar com a balsa, que parte da Ilha em toda hora cheia.
RUMO AO ARIRI
O acesso para o Distrito ocorre na altura da graciosa Vila de Itapitangui, nas margens da SP-226 e a 6km da balsa que vai para Cananéia.
No início havia apenas a Vila de São José (Ararapira), no extremo norte da ilha do Superagui, criada como uma localidade paulista e que servia de referência, tendo sido citada por Hans Staden em seu livro “Duas Viagens ao Brasil”, e pelo padre jesuíta José de Anchieta, em suas famosas cartas, que a coloca como um caminho para o Paraguai.
Tem-se que por causa de sua localização chegou a abrigar 500 famílias, tinha um comércio bem diversificado e era famosa por suas festas religiosas.
A discórdia entre os Estados de São Paulo e Paraná pela delimitação de sua área fronteiriça, fez com que o Governo Federal intervisse, ficando estabelecido em 1920 que a linha divisória fosse a partir do litoral dos dois Estados, onde a Vila Ararapira, então pertencente a Cananéia, passou a compor o município de Guaraqueçaba, no Paraná.
Com tal mudança muitos paulistas que moravam em Ararapira quiseram mudar para o outro lado do Canal do Varadouro, onde foi criado o atual Distrito do Ariri, fazendo construir nele um colégio, uma cadeia um cartório, um tabelionato e uma polícia própria para manter a ordem.
Por sua vez a antiga Ararapira, que passou a ser do Estado do Paraná, definhou sem parar e hoje é tida como uma vila fantasma, com tudo desmoronando e a igrejinha de São José sempre abandonada.
Criada como uma área quase que exclusiva para moradores ligado a pesca, o novel vilarejo de Ariri foi tomando corpo com o passar do tempo e a partir dos últimos quarenta anos tem sido ponto turístico de muita gente, dado a beleza da região.
Pena que nesta viagem não pudemos mostrar o esplendor do Distrito, tampouco o que restou da Vila Fantasma de Ararapira, graças as chuvas constantes que assolaram a região nestes primeiros dias de 2023.
Mesmo assim trouxemos um pouco do trajeto até tal localidade, cujo trecho em terra, na verdade, seria um projeto para a BR-101 que jamais foi começada, já que a ideia era seguir pela linha do telégrafo instalada no segundo império.
O point principal do Distrito é a estreita e curta “Avenida Beira Mar”, com seu minúsculo porto que recebe embarcações regulares vindas de Cananéia.
É nesse trecho que poderemos saborear o famoso “lambe-lambe”, prato feito com mexilhões ainda na casca, ricamente temperados no arroz branco e iscas de peixes, que faz criar água na boca de qualquer ser mortal.
Hoje o local prima por ser um dos recantos mais bonitos do litoral paulista por sua natureza espetacular, trilhas, passeios de barco, cachoeiras. A mata atlântica dá o toque especial para aqueles que amam história e natureza.
Sua infraestrutura é boa para os visitantes, com vários restaurantes, pousadas e até campings.
COMO CHEGAR
Para os aventureiros que partirem da capital paulista em direção de Cananéia, o melhor percurso é seguir pela Rod. Regis Bittencourt, até a altura do km 464, seguindo em direção de Pariquera-Açu e Cananéia, rodando cerca de 30km até o acesso a Cananéia pela ponte de cimento (mais rápido), ou seguindo direto até a balsa. O percurso total terá aproximadamente 260 km nas duas hipóteses.
Já o visitante que partir de Curitiba terá um percurso um pouco menor (244 km) seguindo pela Rod. Regis Bitencourt, até a cidade de Jacupiranga, e então derivando a direita, pela SP-222, até Pariquera-Açu, para seguir até Cananéia como no caso anterior.
Se você já conhece a região, tem alguma crítica ou sugestão para fazer, envie-nos um comentário a respeito. Será muito útil para nós.
EDITORIAL
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Jornalista responsável: Marcos Duarte – MTB 77539/SP
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