28/06/2022
Carrancas, Minas Gerais: A “terra das cachoeiras”. Esse encanto de cidade, com pouco mais de 4 mil habitantes e o maior trecho de Estrada Real num só município, é nosso presente especial deste finzinho de junho e com as férias de julho se avizinhando.
HISTÓRIA
Os primórdios da atual cidade se deram por volta da segunda década dos anos 1700, quando bandeirantes paulistas e suas famílias passaram a fixar moradia nas imediações do Rio Grande, que hoje forma a grande Represa dos Camargos.
Essas constantes viagens ocorreram durante o ciclo do ouro, sendo a região roteiro original da Estrada Real que ligava as jazidas minerais das Minas Gerais com o Porto de Parati, no Rio de Janeiro.
A primeira capela lá edificada foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição, isso no ano de 1721, passando a localidade se chamar Nossa Senhora do Rio Grande.
A fama do povoado trouxe para lá mais paulistas e portugueses interessados no ouro que se acreditava ter e na agricultura, que tinha que se desenvolver para alimentação do maior número de pessoas que passaram a residir por lá.
O nome atual (Carrancas) vem da impressão que se tinha olhando para duas grandes rochas existentes, que se pareciam com duas caras distintas, principalmente depois de escavadas para a mineração, fato que chegou influenciar nos nomes que a localidade passou a ter doravante: Nossa Senhora Conceição das Carrancas, Carrancas de Baixo, Carrancas de cá, etc.
RODANDO POR CARRANCAS E ESTAÇÃO DE CARRANCAS
Apesar do afinco dos mineradores na obtenção do metal dourado, a empreitada não foi nem de longe satisfatória, sendo certo que os veios auríferos mais profícuos foram encontrados um pouco mais acima, na região de São João del Rei, Tiradentes e Lavras.
Com o esgotamento das poucas jazidas da cidade a agricultura e a pecuária passaram a ter papel primordial em sua subsistência e, mais ultimamente, o turismo tem alavancado a economia com a grande rotatividade de forasteiros curtindo suas cachoeiras, serras e florestas em busca de tranquilidade e aventuras radicais.
A CIDADE
Levando-se em conta o perímetro urbano e seus bairros, Carrancas é muito pequena. O centro histórico é composto de pouquíssimas ruas, coisa de se contar com os dedos se não agregarmos alguns bairros novos colados a cidade. Mesmo assim não são muito mais.
Apesar de estar sediada em região serrana, numa altitude média de 1.050m acima do nível do mar, suas ruas principais são relativamente planas e sem desníveis acentuados, propiciando boa locomoção a despeito do veículo que se disponha.
A área comercial como costumamos entender é praticamente inexistente na cidade, estando suas lojas comerciais, restaurantes e agência bancária isoladas entre si, em ruas simples em que se predominam residências particulares.
O ponto de encontro das pessoas em Carrancas é a Praça principal bem arborizada e que abriga a Igreja da Matriz, cuja fachada forma um mosaico em pedras. É nela que encontramos um bem montado e diversificado playground; um coreto com sanitários públicos dificilmente abertos e uma gruta artificial com chafariz.
A pavimentação das ruas principais costuma ser em blocos de cimento, migrando para o asfalto tradicional nos logradouros mais distanciados do centro da cidade.
IGREJA DA MATRIZ
Sediada no centro da cidade e ladeada por uma grande praça arborizada como já o dissemos, a Igreja Matriz foi concebida e consagrada a Nossa Senhora da Conceição, tendo sido erigida ainda no século 19.
De aparência singular, demonstra singeleza em suas linhas clássicas com duas torres frontais e uma fachada ornamentada com pedras de quartzito típicas da região, sobrepostas umas as outras.
A modéstia arquitetônica apresentada em seu exterior contrasta com a exuberância de sua parte interna nos quesitos nave principal, retábulos do altar mor e nos talhados e ornamentação da arte barroca mineira.
Em especial temos que o teto da nave principal foi pintado pelo mestre Joaquim José da Natividade, discípulo de Aleijadinho, conferindo ao recinto o ambiente de recolhimento que é marca registrada dessa época.
O que atrai o turista para a contemplação desse templo são suas torres, distintas entre si, ao nosso ver por suas dimensões, já que desenhadas com o mesmo risco original.
ESTAÇÃO DE CARRANCAS
Fora dos limites da sede do município vamos encontrar o Distrito de Estação Carrancas, que fica 15km do centro e com acesso exclusivamente por terra.
A localidade se formou nos derradeiros anos do século 19, por trabalhadores da ferrovia que lá fixaram residência devido aos cuidados que tinham com as locomotivas a vapor, que necessitavam de muita água e lenha para desempenharem o trajeto até a cidade de Barra Mansa, no Rio de Janeiro.
Assim como aconteceu aqui, várias outras estações da antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) serviram de ponto inicial para povoados em todo o interior do estado. Sua inauguração se deu em dezembro de 1903.
Hoje a estação não opera mais com carros de passageiros, mantendo seu foco exclusivamente no transporte da carga, mas ainda fazendo com que reine um ar de calma e tranquilidade em suas adjacências, não deixando que os mais saudosistas se esqueçam dos inúmeros “causos” perdidos nos idos tempos.
TURISMO
No turismo a cidade “desbunda” e é tida como expressão máxima do turismo mineiro por todo seu potencial hídrico, e não é demais o título que lhe deram de “Terra das Cachoeiras”.
Nesse quesito é bom lembrarmos que, apesar de toda beleza e encanto da natureza, Carrancas ainda dispõe da hospitalidade típica da gente mineira quando nos recebem em suas pousadas, pousos, hotéis, sítios, fazendas, vendas, etc.
Ainda que o turismo represente grande fatia da receita municipal, não podemos desatrelar a vocação agropecuária de Carrancas com suas carnes, queijos, cachaça, café, milho, mandioca, feijão, arroz e… artesanato, tudo isso fazendo parte do seu itinerário turístico.
“I num sisqueça das prosa, uai!”. É isso mesmo: prosear. Não há coisa que o mineiro saiba fazer melhor do que prosear. Nas praças, nos bares, nas ruas e até mesmo com os monitores ambientais, quando nos conduzem pelos atrativos naturais nas cachoeiras, grutas, etc., prosa é coisa que não se despreza por lá.
Para começar um bom roteiro pelas belezas de Carrancas, sugere-se consultar agências especializadas, “di modo a num perdê um tiquinho só das emoção nus meio dus matos e dus rios”. Mas vamos dar aqui algumas sugestões.
O Complexo da Zilda é um desses lugares que não podemos perder.
Para se chegar até o poço e a prainha é preciso atravessar um rio e percorrer uma trilha por 15 minutos. Nesse trajeto vamos poder ver algumas pinturas rupestres e quedas d’água para banho.
Lá o aventureiro poderá dispor, também, da Cachoeira dos Anjos, da “Racha da Zilda” e de um escorregador natural.
Já no Complexo da Vargem Grande o visitante poderá usufruir da Cachoeira da Esmeralda, cujo nome se deve a colocação cristalina esverdeada de suas águas.
Nesse caso a trilha é bem tranquila e existe muito espaço para nadar e curtir a natureza. Dá para ir com crianças.
A Cachoeira da Fumaça, que faz parte do Complexo Cachoeira da Fumaça, é um dos cartões postais da cidade.
Nesse complexo existem, ainda, as cachoeiras Fundo da Fumaça, Fumaça de Cima, Véu de Noiva e Luciano.
Mas cheque bem antes de ir até lá, pois esse complexo esteve recentemente impróprio para banhos.
E, bem pertinho da cidade, a cerca de 3km da Praça da Matriz, vamos encontrar a Cachoeira do Tira Prosa, para não deixar de lado o jeitinho mineiro de prosear.
Conta-se que no local havia um antigo morador que não perdia a oportunidade de “tirá um dedim di prosa cos turista”, cada vez que iam até lá.
DE CARRANCAS A SÃO THOMÉ
Esse trajeto se torna imperdível para todos os amantes da natureza, assim como aos aficionados pelo fora da estrada.
Entre as duas cidades existem ramificações mil em estradinhas vicinais, estradinhas de sítios, trilhas e picadas que não podemos ignorar. Tudo isso sem contar a quantidade de mata-burros que vamos encontrar no trajeto e, cuidado com eles.
Muitos estão em elevações que só vamos perceber ao chegarmos neles; outros estão escondidos nos matos e são quase invisíveis, dependendo do tamanho da vegetação; outros deles, espantem, estão com suas travessas no mesmo sentido da estrada.
Nesse último caso pode não fazer muita diferença para o transeunte em seu veículo de quatro rodas, mas poderá ser fatal para o motociclista, se suas rodas encaixarem entre as travessas. Todo cuidado é pouco nesses casos.
Há muitos anos mencionamos aqui mesmo, neste Portal, uma aventura feita com duas pequeninas motocicletas (125cc e 150cc), onde postamos um vídeo só com mata-burros de lá.
MATA-BURROS NA ESTRADA REAL
Apesar das imagens serem antigas e com baixa resolução, sempre é útil verificar o sofrimento. Da mesma forma é possível examinar vários dos mesmos mata-burros daquele tempo no nosso vídeo atual.
O trajeto que fizemos entre Carrancas e São Thomé poderá não se cumprir integralmente com vocês, já que amiúde perdemos o caminho e temos que inventar. Mas não duvide, sempre vamos chegar nas terras místicas de São Thomé.
Deixamos Carrancas para trás pela Rua Oito de Dezembro e em poucos metros o asfalto deu lugar a terra batida, o que permaneceu até o fim do percurso.
Rodando aproximadamente 7 km transpusemos o Rio Capivari por uma pontinha em concreto, sem qualquer tipo de proteção lateral, da mesma forma que já estava quando passamos por ela em outras vezes, desde 2011.
Seguimos o trecho restante até o Distrito de Estação de Carrancas, composto de algumas poucas ruas devidamente pavimentadas, a maior delas seguindo a linha do trem.
Atravessando a linha férrea continuamos em frente, contornando a imagem de São Sebastião no meio da rotatória, até voltarmos aos trechos em terra. No primeiro entroncamento, no fim da rua Américo Nasser, seguimos a esquerda, desprezando a placa em direção da cidade de Luminárias.
TRAJETO ATÉ SÃO THOMÉ POR TERRA
Nosso primeiro destino era o Distrito de Sobradinho de Minas, já em São Thomé das Letras, mas é preciso tomar muito cuidado para não ficar rodando em círculos e alongar o caminho, a menos que isso seja a vontade do aventureiro.
Para garantir colocamos uma imagem do Google Maps como orientação ao leitor amigo.
Deixando o lugarejo seguimos em direção da Fazenda Colibri, Fazenda Bela Cruz, Poço das Esmeraldas (uma imensa jazida de quartzito em atividade que passamos por cima) e, finalmente, paramos no Distrito de Sobradinho.
Com a fome apertando e o horário se estendendo, paramos para um gostoso almoço ao lado da igrejinha de Nossa Senhora da Guia.
O lugar era bem simples e com pouca variedade, mas tudo que tinham era bom e gostoso. Peixe frito, polenta, tutu de feijão, arroz e salada. O refresco foi suco natural que a dona fez na hora, com limão e açúcar.
De Carrancas até Sobradinho rodamos 32km. Desse trecho em diante e até São Thomé das Letras não temos mais como errar. São os últimos 15km seguindo a rota dos gnomos, dos duendes, dos ets, das bruxas, etc.
É um interminável mar de lugares e estabelecimentos ligados ao maravilhoso, ao misticismo e às divindades extraterrestres, que não vamos nos perder nunca.
O estranho é que, com tanta energia cósmica que se julga oriunda ou dirigida a São Thomé, dificilmente encontramos sinal de celular nesse trecho. Coisas de ver para crer, como já dizia o santo padroeiro da cidade.
Ao total, saindo de Carrancas até a Gruta da Toca do Leão, em São Thomé, rodamos pouco mais de 67km pelas estradinhas maravilhosas de Minas.
Para os mais aventureiros de plantão é bom lembrar que nesse trecho que percorremos é possível encontrar inúmeras cachoeiras e lugares paradisíacos, que só essa região mineira tem. Parar ou não depende de cada um.
COMO CHEGAR
Para os aventureiros que partirem de Belo Horizonte o percurso mais curto terá 310 km, optando-se pela Rod. Fernão Dias, até a cidade de Lavras, e dali seguindo em direção a Itutinga e Carrancas. (cuidado com buracos na BR-265).
O paulista da capital, entretanto, rodará cerca de 450km para poder chegar na terra das cachoeiras. O trajeto também será feito pela Rod. Fernão Dias, em sentido norte, até a cidade de Lavras, e dali seguindo em direção a Itutinga e Carrancas. (reforçando os cuidados com buracos na BR-265)
Já para aventureiros de outras localidade o mais indicado é a pesquisa num bom mapa rodoviário, principalmente ao Carioca, que tem mil e uma opções para chegar em Carrancas.
Se você já conhece a região, tem alguma crítica ou sugestão para fazer, envie-nos um comentário a respeito. Será muito útil para nós.
EDITORIAL
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Jornalista responsável: Marcos Duarte – MTB 77539/SP
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