16/10/2017
Curtir um City Tour aqui tão pertinho de sampa pode ser muito mais emocionante do que se imagina e a cidade pode oferecer muito mais que praias limpas, mar azul e belas mulheres.
Então não é preciso dizer que não seremos nós a desvendar-lhes todos os segredos entranhados em cada uma das saliências dessa cidade, e uma pesquisa séria sobre sua importância na história do Brasil pode levar uma vida toda.
Muito antes da chegada de Martim Afonso de Souza, o primeiro donatário da então capitania de São Vicente, já existira no lugar a aldeia dos índios Peroibe, que teve seu principal cacique na pessoa de Piriri Goa Ob Yg.
As primeiras notícias do local datam de 1532 e, que na chegada de Martim Afonso em 1534, Pero Correa pede a ele confirmação da propriedade dessas terras, que antes pertenciam ao Bacharel de Cananéia.
FUNDAÇÃO DA CIDADE
No início a cidade floresceu “do outro lado”, em sua parte norte mais distante do centro, ao lado da Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição, instalada numa pequena elevação próxima ao mar e identificada como uma das primeiras construídas no Brasil.
Foi erguida na segunda metade do século XVI com o fim de catequizar os índios tupis que viviam na região. Ali se estabeleceu, também, o segundo Colégio de Meninos do Brasil e, no seu entorno, formou-se o único aldeamento do litoral de São Paulo: o Aldeamento de São João Batista. É patrimônio histórico nacional e paulista, tombado pelo IPHAN e CONDEPHAAT (1984).
A figura mais ilustre dessa instalação religiosa foi o padre Leonardo Nunes, que chegou à cidade em 1549. Interagindo positivamente com os indígenas locais logo passou a ser conhecido por eles como “Abarebebê” (Padre Santo ou Padre Voador) por estar sempre em vários locais e ao mesmo tempo.
Outra figura também ilustre chegou em 1554, o Padre José de Anchieta, então um noviço com apenas 19 anos de idade, aceito para auxiliar na catequese local. Depois seguiu Anchieta seu apostolado de amor e trabalho no bem por outras terras brasileiras.
MIRANTE DA TORRE
Não perdemos tempo e logo em nossa chegada à cidade fomos direto termos uma visão panorâmica daquilo que enfrentaríamos nesses dias de visita, dessa feita realizada de forma criteriosa, já que visitamos Peruíbe pelo menos umas cem vezes na vida.
Contornamos a pequenina igreja de N. S. da Aparecida, no sopé da montanha, e seguimos por uma subida íngreme feita com tijolinhos de cimento mal cuidada e demonstrando abandono, fato análogo ao encontrado lá em cima.
Só subimos no mirante pois haviam muitas pessoas por lá naquele dia, incluindo os funcionários das empresas de telecomunicações que operam na torre de transmissão ali existente. Em nenhuma outra hipótese enfrentaríamos aquela bela estrutura de alvenaria sozinhos.
Deixando o medo de lado a visão lá do alto é fantástica, podendo ser vista toda a cidade de Peruíbe, toda sua orla e, estendendo a visão, até a serra do Mar, do lado oposto ao mar. Lá do alto divisamos nosso próximo destino: as Ruínas de Abarebebê.
RUÍNAS DE ABAREBEBÊ
Deixando o mirante seguimos até a Avenida Padre Anchieta e divisamos a esquerda. Em pouco tempo estávamos nos portões do Parque que abriga as famosas ruínas da antiga Igreja da Conceição, talvez a primeira do Brasil.
Paramos aí pois o lugar está interditado há algum tempo. Segundo informações fidedignas, o vandalismo tem tomado conta do parque com constantes invasões de usuários de entorpecentes que depredam parte do acervo arqueológico e da estrutura que deveria servir de suporte aos visitantes.
Como a falta de verbas para essas finalidades nunca existem e, quando existem, a “burrrrocracia” para sua obtenção é de pasmar, praticamente inviabilizando qualquer projeto, só mesmo se o “padre voador” intervir de alguma forma.
Com autorização especial cedida pela diretoria de Turismo da cidade adentramos ao local e pudemos constatar em loco a magnitude que deveria ser preservada, definhando a céu aberto sem uma testemunha sequer de sua desdita. Mais uma vez: “Abarebebê, rogai por nós”.
Deixamos cabisbaixos aquele ambiente por demais merecedor de honras e seguiríamos em direção à orla marítima, o fazendo pela última rua habitada de Peruíbe em sua parte norte, onde caprichosamente divide espaço com uma das maiores reservas indígenas do Estado, seguindo ininterruptamente da praia até o sopé da serra do mar.
ALDEIA NHAMANDU MIRIM
Por falar em indígenas, foi mais uma vez na aldeia Nhamandu Mirim que fizemos nossa “boquinha” nesse dia, antes de atingirmos a praia. Saudado pelo cacique e outros Tchondaros, divertimos um pouco com as crianças antes de darmos continuidade a este City Tour.
Peruíbe tem uma praia de cerca de 16km praticamente plana, 4 deles em reserva indígena, fora as demais praias que se estendem do Costão até a Barra do Una, já na reserva Ecológica Juréia-Itatins.
Percorremos toda a extensão beira-mar desde a reserva indígena até a Praça Redonda, num dia de muito sol, início de temporada e final de semana prolongado. Só por isso o City Tour já seria uma festa. Mas tinha mais.
3º PERUÍBE MOTO FEST
Nossa viagem coincidiu com o 3º Peruíbe Moto Fest, organizado pela prefeitura e tendo apoio dos motoclubes e motogrupos da cidade, com base para acampamento na sede do MC Epidemia da Estrada.
O auge da comemoração, como não podia deixar de ser, foi em frente ao Edifício referencia de Peruíbe, chamado por todos de “redondo”, que na verdade se trata de uma “arco”. Os organizadores estavam esperançosos na participação de mais de 4mil pessoas nos quatro dias de evento e eram esperadas cerca de 2mil motos. Essas cifras foram baseadas nos dois primeiros eventos realizados anos atrás pelo município.
Evidentemente não pudemos ficar para todos os dias do evento, tampouco pudemos desfrutar das bandas que tocariam a noite, pois estávamos sediados no meio da Reserva Ecológica Juréia-Itatins e não quiséramos voltar altas horas da noite por causa de nossas obrigações no dia seguinte.
Por outro lado, durante os dias que ficamos na cidade aproveitamos a estrutura feita para o 3º Peruíbe Moto Fest como todas as pessoas que passavam pela região puderam fazer sem o menor constrangimento. Porém, a concentração das motos só era mesmo esperada para as noites, com lugares reservadas para essas máquinas de duas rodas.
PORTINHO
Peruíbe tem muitos atrativos e em apenas poucos dias de estadia fica impossível visitar todos. Um deles, entretanto, sempre teve lugar reservado em nosso calendário, faça chuva ou faça sol. O Portinho.
Junto ao portinho está um dos mais bonitos e bem instalado mercado de peixes de todo o país, com muitos boxes bem cuidados em área bastante fresca, garantindo a qualidade do produto alí vendido.
Camarões de todos os tipos e tamanhos, in natura ou já limpo, dividem espaço com os mais diversos frutos do mar e peixes da estação. Até quem não aprecia peixes não perde a oportunidade de curtir o lugar e tomar um gostoso sorvete, aperitivos e petiscos dos mais diversos.
RODANDO EM PERUÍBE
O projeto “Frite Seu Peixe” é da autoria da atual presidente da Colônia de Pescadores de Peruíbe (Z-5) e envolve todo o setor pesqueiro do município. Com tal projeto ganha o pescador, o vendedor e o turista, que pode aproveitar do peixe adquirido ali mesmo.
Na prática o turista visita o mercado, escolhe o peixe ou o fruto do mar pretendido e leva ao galpão ao lado, onde pode ser preparado e servido ali mesmo. Cobra-se um valor de aproximadamente R$ 1,45 para cada 100g de pescado.
Como sempre nos rendemos a tais comodidades, aproveitamos para degustarmos iscas de peixe frito com molho, refrigerante de litro e, depois, uma bela porção de ostras “selvagens” (que não são criadas em cativeiro). Para completar o repasto um sorvete de saquinho delicioso e umas balas de coco de saideira.
BARRA DO UNA
O início da tarde já se pronunciava e agora era hora de seguirmos ao Una. A “viagem” até a Barra do Una demanda 25km de terra, com muitos trechos críticos, melhor percorridos por veículos altos, 4×4 e, no caso das motocicletas, as do tipo trail. Porém, com cuidado qualquer veículo é capaz de transitar pelo lugar e é isso que vemos constantemente por lá.
Devidamente acampados em área própria, ficamos só a curtir parte do feriado na água fresca do mar, afinal, nem só de trabalho vive o homem e tínhamos também o direito de desfrutarmos daquele paraíso.
A noite num lugar como aquele tem encantos para uns e tormentos para os medrosos. Nada do som característico das buzinas, das pessoas falando, dos carros se locomovendo, das luzes acesas, etc. Em seu lugar o coaxar dos batráquios, o canto das aves em revoada ensurdecedora no escurecer e amanhecer e o cadenciado das ondas quebrando na areia.
No vagar da madrugada sentia-se o vento firme carregado de fina areia que se depositava sobre a lona da barraca. Não estava frio, mas o frescor impunha o resguardo de roupas para dormir e as vestes de viagem fizeram as vezes do pijama.
NO GUARAÚ
Pela manhã orquestramos o “levantar acampamento” e, em uma hora tudo estava pronto para o retorno. Café da manhã improvisado no camping e pelas 9h da manhã seguimos de volta, com destino ao Guaraú. Lá ficaríamos até o fim da tarde, antes de regressarmos definitivamente para casa.
A primeira providencia foi encontrar um lugar para deixar a moto sem preocupação e isso não foi problema, pois um dos quiosques toma esse cuidado especial para nós motociclistas.
Moto protegida, roupas desvestidas, ainda neste dia curtiríamos o mar e as delícias do quiosque. Quiosque? O mais estranho foi ler a placa indicativa. A princípio se entende outra coisa… só depois compreendemos.
Por volta das 16 horas deixamos definitivamente a cidade de Peruíbe, mas que a cidade nos espere, pois cedo ou tarde estaremos mais uma vez por aí. Afinal, são muitas histórias para contar desse reduto que nos recebe há mais de 40 anos seguidos.
Peruíbe tem muito mais do que isto que apresentamos, mas a cada visita que fazemos na cidade vamos nos inteirando mais de suas belezas. Temos a certeza que o amigo leitor também terá suas histórias do local e, aquele que ainda não a conhece, com certeza achará uma oportunidade de visita-la.
CLIQUE AQUI PARA VER MAIS FOTOS
CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
conheça também: