Enfrentar a BR 116 com uma big custom; leva-la dentro de um trem para a beira do mar; e depois subir uma das estradas mais belas do mundo, a Graciosa, é passeio para tirar o fôlego de qualquer um. Vamos ver?
A VIAGEM
Na madrugada gelada São Paulo foi deixada para trás, se tornando cada vez mais pequena vista pelos espelhos da potente Vulcan 900. O motorzão zumbia suave sob o acento, desenhando o contorno das curvas com bastante imponência e maciez.
Nem o calor do motor afetava o conforto, graças a posição de pilotagem, a disposição dos escapes e do eficiente radiador frontal, que sequer descaracteriza as linhas clássicas da motocicleta.
Trafegando ligeiro pela Régis Bittencourt, entre muitos caminhões e trânsito intenso, em pouco tempo chegávamos ao destino daquele primeiro dia: Curitiba, a capital paranaense de tantos encantos e belezas.
EM CURITIBA
Rapidinho fomos de encontro do nosso pouso confortável daquela noite, num dos melhores hotéis da cidade. O hotel foi reservado pela Serra Verde Express, concessionária do famoso trem turístico que parte de Curitiba e vai até Paranaguá, no litoral paranaense, entre montanhas e desfiladeiros imensos.
Depois de nos acomodarmos em nossa imensa suíte, fomos curtir um pouco da noite que chegava no Jardim Botânico da cidade. Entre as fontes de águas limpas e a bela estufa de metal, passamos horas de raro descanso e entretenimento.
O maior problema desse grande parque, praticamente no centro da cidade, é a segurança, principalmente do motociclista. O estacionamento reservado para as motos e bikes é escuro e escondido. Um verdadeiro convite ao perigo.
Livramos ilesos e cuidamos do estômago, que também nos chamava à brios. Numa noite muito fria como aquela uma deliciosa massa no Barolo Trattoria era irrecusável. “Conchiglia di gamberi a San Marino” e um vinho italiano foi nosso jantar, e em pouco tempo voltávamos ao hotel.
Motos guardadas, o elevador do prédio nos levou às alturas. De nosso apartamento envidraçado era possível ver “metade” da cidade. Banho tomado, equipamentos e bagagem preparados, antes de dormirmos tomamos um ligeiro repasto de frutas decoradas que nos aguardavam no aposento, convidando-nos à saboreá-los.
TREM DA SERRA
Acordamos no dia seguinte bem na madrugada, por volta das 4:30h. Fomos um dos primeiros à chegar a mesa do desjejum, dividindo o soberbo salão do Hotel com outros hóspedes que também se preparavam para suas viagens, rumando para o aeroporto.
Era necessário que madrugássemos, mesmo com a temperatura baixíssima naquelas horas do dia, pois tínhamos que estar na Estação Ferrorodoviária as 5:30h, para embarcarmos nossas motocicletas antes do burburinho das pessoas que já estavam para chegar.
A façanha agora seria viajar de trem, partindo de Curitiba até a cidade de Morretes, na baía de Paranaguá. O mais importante: As motos viajariam conosco, num vagão exclusivo para essa aventura que se iniciava.
Chegamos com bastante antecedência ao recinto. Quando o funcionário abriu a porta principal da Estação, entramos com as motos, imponentes, rumo a plataforma de embarque. A composição que partiria para Paranaguá teria 21 vagões, o primeiro deles destinado às motos.
Cumprimos rigorosamente as recomendações da Serra Verde Express, nossa anfitriã, no tocante aos equipamentos necessários para a fixação e o transporte das motos e aguardamos a “montagem do trem”, vagão por vagão, que acontecia aos nossos olhos.
Em pouco tempo o saguão da Estação Curitibana estava fervilhando de turistas que partiriam no mesmo trem, cada qual em sua classe pré definida. Autofalantes anunciavam as etapas em três línguas diferentes.
Por volta das 8h da manhã o apito derradeiro da locomotiva denunciava sua partida incontinenti. Acomodamos ao lado da chefe do trem que nos proporcionou uma das mais belas viagens de nossas vidas. ACOMPANHE AQUI.
EM MORRETES
O comboio ferroviário parou finalmente em Morretes, onde descarregamos nossas motocicletas e fomos ligeiros à Pousada Itupava que nos aguardava, também reservada com exclusividade pela Serra Verde Express para esse nosso roteiro turístico.
Deixamos a pequenina estação contornando a pracinha e o casario antigo de uma das cidades mais antigas do Brasil, percorrendo uma estradinha absurdamente reta até as margens do rio Nhundiaquara, onde pernoitaríamos várias vezes.
A beleza do lugar é impressionante. O citado rio nasce na confluência dos rios São João e Ipiranga, a 1400 metros de altura, dentro do Parque Estadual do Pico do Marumbi. Alguns de seus trechos corre ao lado da Estrada da Graciosa.
Boa parte de seu leito é formado de pedras arredondadas e tem baixíssima profundidade, o que é um verdadeiro convite à vários esportes aquáticos. Poderemos passar horas no bóia cross, canoagem ou rafting se desejarmos.
Depois de cortar toda a cidade de Morretes o Rio Nhundiaquara vai desaguar na Baía de Antonina, que faz parte do Mega Ecossistema do Lagamar. Sua extensão total é de aproximadamente 37km.
Morretes, antigamente Menino de Deus dos Três Morretes, era território dos Índios Carijós que ocupavam a faixa litorânea desde Cananéia até a Lagoa dos Patos. Com a descoberta de ouro em 1646, a região passou a ser ocupada por mineradores e aventureiros. O primeiro povoado foi fundado em 1721 e hoje Morretes é uma cidade moderna.
O nome da cidade faz referência aos pequenos morros (morretes), que circundam a sede do município. É também famosa por seus produtos artesanais e restaurantes que vendem um prato típico da região: O Barreado, que experimentamos no Restaurante Terra Nossa.
Ao caminhar pelas ruas planas da cidade se pode ver, em toda a sua volta, as montanhas arredondadas que deram nome ao lugar e, principalmente, o Complexo do Marumbi, situado no Parque do mesmo nome.
O COMPLEXO DO MARUMBI
Olhando para essas montanhas pode ser ver um traço fino em sua base: É a estrada de ferro por onde viemos e que ainda é usada normalmente no dia-a-dia, levando e trazendo produtos entre Curitiba e o Porto de Paranaguá.
O Parque do Pico do Marumbi tem 8,75 ha. No conjunto de montanhas se destaca como ponto mais alto o “Olimpo”, com 1.539 m, tendo sido conquistado, pela primeira vez, em 1879 por Joaquim Olímpio de Miranda, que acreditava ser ele o ponto culminante do Estado do Paraná.
Os outros picos do complexo são: Boa Vista (1491m), Ponta do Tigre (1400m), Esfinge ( 1378m), Torre dos Sinos (1280m), Abrolhos (1200m), Facãozinho (1100m) e Rochedinho (625m). É absurdamente lindo contempla-los de baixo, com o azul do céu ao fundo.
O Conjunto teve a honra de inaugurar a escalada esportiva no Brasil e nessa primeira empreitada Joaquim Olímpio e alguns amigos subiram ao pico vindos pelo Caminho do Itupava, exatamente onde fica a pousada que estávamos.
Hoje o Complexo é servido por uma bem marcada rede de trilhas que dá acesso à todas as montanhas, com variados graus de dificuldade; muitas vias de escalada técnica mapeadas e uma boa infraestrura na base composta por camping, bar, museu e um Agrupamento de Socorro (COSMO).
Para o alpinista experiente, assim como para o motociclista de primeira viagem, há trilhas das mais diversas à serem percorridas junto a natureza e, com toda certeza, qualquer um, com algum preparo físico, pode se aventurar por lá.
Nossa Vulcan não era nem um pouco apropriada para as trilhas, mesmo assim curtimos chão de terra batida da Estrada do Itupava, até onde foi possível. Quase conseguimos colocar um “vulcão” entre os pacatos picos do Parque do Marumbi. Com uma moto apropriada poderíamos chegar bem mais longe. Desafio esse que já aceitamos.
A dica que deixamos é para conhecermos os detalhes antes de nos aventurarmos pelos morros, morrinhos e morrões de Morretes, seguindo as dicas do COSMO. A melhor forma de chegar até o Parque ainda é pela Ferrovia.
Se os passeios pela natureza nas adjacências da cidade é coisa para durar meses, O centro histórico de Morretes também tem seus muitos encantos, principalmente no rico casario colonial e nas mais variadas casas de gastronomia. Nem só de barreado vive o morretense.
A Vulcan também não passou desapercebida no centro da cidadezinha e, a cada parada percebíamos os olhares curiosos para aquela máquina cor de abóbora, que foi nossa carruagem de um conto de fadas por lá.
A VOLTA
Como tudo que é bom dura pouco, nossa estadia em Morretes já estava chegando ao fim. O frio estava a cada dia mais intenso e as chuvas passaram a não dar trégua em nossos dois últimos dias por lá.
Deixamos a cidade pela manhazinha chuvosa. Voltaríamos pela famosa Estrada da Graciosa, cujo título não tem nenhum exagero. Esperávamos poder desfrutar melhor dessa via encravada na montanha, mas a neblina era intensa.
Entre as inúmeras pousadas e recantos da parte plana da “Graciosa”, pudemos observar a riqueza natural a cada km percorrido. O Rio São João, com suas “pedras vivas”, é de um encanto sem fim. Segue ele exuberante para, mais a frente, formar o Rio Nhundiaquara que banha a cidade de onde acabamos de partir.
Essa parte plana, embora toda asfaltada, é bastante estreita e nela afluem muitos veículos nos feriados e finais de semana, havendo necessidade de muita atenção, principalmente com a velocidade e sob chuva forte, como foi nosso caso.
De Morretes até a BR 116 são cerca de 38km pela Graciosa, boa parte dela pavimentada com asfalto bem conservado. Entretanto, o ponto alto da estrada é justamente a subida/descida da serra, totalmente sinuosa e com o piso em paralelepípedo. Sim, é isso mesmo!.
O perigo ronda a cada metro percorrido, a cada curva galgada. A pista em blocos de granito é extremamente escorregadia e um pequeno descuido pode levar-nos ao chão, na melhor das hipóteses e a beleza do lugar, ainda por cima, nos concita a observa-la constantemente. Atenção é fundamental.
Uma coisa jamais estará sob suspeita: A beleza da Estrada da Serra da Graciosa. Com suas hortênsias a beira do caminho, floridas ou não, é incontestável a graciosidade do lugar, sendo considerada por muitos, e até por nós do Portal D Moto, como uma das mais belas estradas do Brasil e do mundo.
Cavalgamos a Vulcan com bastante cuidado e em pouco tempo divisávamos o Portal da Graciosa, exatamente na confluência dessa estrada com a Rodovia Régis Bittencourt (BR 116), no trecho pertencente a Quatro Barras/PR.
Desse ponto em diante o retorno foi previsível, sendo que seguimos para casa sob a forte chuva que caiu durante quase toda a viagem. Foi só no início da noite que chegamos em São Paulo, obviamente depois de muitas paradas para descanso e … falta de pressa.
A volta continua sendo para todos nós, motociclistas, o ponto mais triste de cada percurso. Pensar no retorno às tarefas cotidianas, deixando para trás tantas belezas, realmente não é agradável e dá para se sentir no peito a vontade de continuar nas estradas.
Como balanço do nosso Projeto ao mundo do Marumbi, podemos considerar que a moto escolhida correspondeu às nossas expectativas, com exceção do trajeto em terra, onde realmente não era de sua vocação.
Se você gostou da viagem e pretende se aventurar nesse mundo maravilhoso da Serra do Mar, na região de Morretes, programe tudo com bastante antecedência, levando em conta o tempo que permanecerá por lá. Caso contrário tudo pode dar errado e você ficar com enorme vontade de não voltar mais para casa, de tanta diversão solta.
Portal D Moto, com você morro acima e morro abaixo.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte e Bruna Scavacini
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Muito legal que você compartilhou sua aventura na web Marcos!
Sou mais um feliz proprietário de uma “Laranja Mecânica” e pretendo rodar com ela para MG em agosto, uma viagem de 800k (ida).
Garanto que muitas das informações postadas aqui, servirão de ajuda/dica para esse desafio.
Parabéns pelo site e por compartilhar conosco.
Abs
Bom que tenha gostado da matéria e que ela tenha sido útil. Estaremos viajando por MG também em agosto, quem sabe nos encontraremos por lá??