09/02/2018
Nossa aventura nesta época carnavalesca foi por Tejuco, ou melhor, Diamantina para nossos tempos modernos. Literalmente encravada na inóspita Serra do Espinhaço, região do Alto Jequetinhonha, será o destaque deste roteiro de viagens pelos sertões de Minas Gerais.
COMO CHEGAR
De Belo Horizonte até lá são cerca de 300km, viajando-se pelo trajeto tradicional. Partindo de BH roda-se aproximadamente 175 km até a cidade de Curvelo, sendo os primeiros 130km pela BR-040 e os demais pela BR 135.
É preciso ficar atento para entrar em Curvelo na primeira oportunidade, pois evitará passar pelo centro da cidade, a menos que deseje curtir um lanche ou almoço por lá. Para ir à Diamantina é só procurar o acesso para a BR-259 e seguir por mais 100km, até o trevo de Datas/MG. Os últimos 35km até Diamantina serão percorridos pela BR-367. Pronto, chegamos.
A CIDADE
Diamantina é uma as menores cidades mineiras em área territorial, com apenas 3.870km2, porém, com uma vultosa população que beira a 50mil habitantes.
Se é a terra onde viu nascer o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, médico que dedicou sua vida a um Brasil mais justo e unido, é também a terra de Domingos José de Almeida, que trocou as Gerais pelos charcos gaúchos e foi um dos líderes de alto escalão da Revolução Farroupilha.
Também foi entre suas ladeiras íngremes e apertadas, calçadas de pedras rústicas e grandes casarões centenários, que viveu Chica da Silva, mais precisamente Francisca da Silva de Oliveira, escrava alforriada que manteve uma união estável com um dos homens mais ricos da época: João Fernandes de Oliveira, tendo com ele treze filhos.
Como se vê, fica difícil visitar Diamantina sem conhecimento prévio desses fatos e de tantos outros, que fazem da cidade uma das mais importantes do mundo, quer por sua riqueza, quer por sua peculiar história.
Poderíamos dizer que a cidade é um dos destinos da Estrada Real, mas ela é o ponto máximo da “ER”, a ponta do iceberg de um dos roteiros culturais e turísticos mais fantásticos do Brasil e sonho de consumo de tantos motociclistas, ciclistas, jipeiros e aventureiros em geral. Faz parte do Circuito Turístico dos Diamantes.
Apesar do grande número de turistas que invadem a cidade, principalmente nesta época de carnaval, a infraestrutura para receber esses visitantes é bem acanhada em relação a outras cidades históricas de Minas Gerais, com um trânsito confuso nas estreitas e íngremes ruas de pedras de seu centro histórico.
HISTÓRIA
Diamantina foi fundada como Arraial do Tejuco em 1713, com a construção de uma capela que homenageava o padroeiro Santo Antônio. A localidade teve forte crescimento quando da descoberta dos Diamantes, em 1729, e em fins do século XVIII já era a terceira maior povoação da Capitania Geral das Minas Gerais, atrás apenas da capital Vila Rica (Ouro Preto) e com população semelhante a de São João Del-Rei.
Ficou mundialmente conhecida por causa da grande produção de diamantes na região, que eram explorados pela Coroa Portuguesa por mineradores lusos, ou lusos-brasileiros, obrigados a enviavam para além-mar o quinhão real. Somente em 1831, depois da proclamação da independência do Brasil, é que Tejuco se emancipou da cidade de Serro, passando a se chamar Diamantina por razões óbvias.
Em 1938, por ocasião do aniversário dos cem anos de sua emancipação, recebeu do IPHAN o título de patrimônio histórico nacional e, em 1999, o merecido título de patrimônio da humanidade, pela ONU.
A economia de Diamantina, que por muito tempo foi ligada ao turismo, tem mudado rapidamente desde o ano 2000, quando houve a implantação de uma Universidade Federal no município, com quase 30 cursos de graduação e outros tantos de pós, além de mais de 1200 servidores e 12mil alunos.
Com isso os costumes locais estão sofrendo um abalo significativo, o que faz com que o morador mais arraigado com as tradições seculares, sinta algum desconforto na adaptação com essa juventude que vem de outras localidades.
NOSSA CHEGADA
Como já era para se esperar, não fizemos o caminho que narramos no início desta matéria para chegarmos em Diamantina, mas viemos pela Estrada Real, no caminho por terra partindo do Distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras, onde nos hospedamos numa pousada a 2 metros da cabeceira da Cachoeira do Comércio.
Deixamos São Gonçalo assim que o sol raiou, seguindo pelo calçamento de pedras arredondadas ladeira acima, até encontrarmos o acesso da estreita estrada de terra que nos traria à Diamantina. Com muitas pedras soltas como se fossem cascalhos, a moto teve sua tração prejudicada em muitos pontos, derrapando ou tracionando em falso, atrasando nossa chegada ao destino.
É de menos de 40km o trajeto até Diamantina, mas pelas circunstâncias do caminho imaginávamos que demoraríamos uma eternidade para completa-lo se a estrada mantivesse aquelas condições em todo o percurso, já que não se viam por ali trechos planos, sendo a maior parte deles ladeiras íngremes para subir ou descer.
Levando em conta o peso da motocicleta com seus acessórios e tanque cheio (240kg); o peso dos três baús lotados e objetos colocados sobre o banco traseiro (60kg); mais o peso do piloto aparamentado (100kg); seriam aproximadamente 400kg de massa para se esborrachar no chão no caso de uma queda na descida, minimizando um pouquinho se fosse na subida.
Alguns quilômetros depois de nossa saída de São Gonçalo cruzamos a pontinha estreita sobre o Rio Jequetinhonha, num trecho que o rio se encontrava muito raso e aparentemente mais sujo que o Rio Tietê anos atrás. Mesmo assim paramos para colhermos algumas imagens, sendo que uma delas serviu para fazermos um painel gigante em nossa sede, com medidas aproximadas a 3 x 2 metros.
Nas imagens que postamos nesta matéria podemos ver o retrato da desolação do local. O leito do Jequetinhonha foi sugado até o último grão de poeira a procura do rico brilhante e há, ainda, extrações pela região que deixam seu fio d´água negro como o betume. Como o rio é forte e valente, ele se revigora logo mais adiante e segue imponente até o nordeste do país.
A uns 10km antes de chegarmos em Diamantina encontramos a estrada em franco processo de pavimentação, com alguns poucos trechos já asfaltados, mas o asfalto sumia de vez em quando para voltar mais a frente, alterando momento a momento nosso ritmo de pilotagem. Hoje, passado algum tempo, boa parte desse percurso já deve estar pavimentado.
Se era verdade que no início desse dia não tínhamos pressa alguma de chegar, não era menos verdade que o sol estava escaldante, principalmente no meio de tantas pedras, o que fazia com que retardássemos ainda mais nossa viajem, parando de tempos em tempos para um gole de água, inclusive com uma parada mais demorada num barzinho no pequeno e simpático Distrito de VAU.
Para sermos exatos, somente conseguimos andar nesse trecho com alguma velocidade, graças ao Sr. Antonio e sua esposa, nossos anjos da guarda do dia, que se ofereceram para levar os 3 baús da motocicleta no fuscão que estavam. Eles já tinham passado por nós em sentido inverso, momentos antes, mas, percebendo nossa dificuldade para manobrarmos a moto naquele terreno pedregoso, resolveram dar a volta e espontaneamente nos ajudar.
Como era o dia do aniversário deste repórter, aceitamos prazerosamente o inesperado presente e o seguimos com mais tranquilidade, mas nem tanta assim, pois o “seo” Antonio era “pé de chumbo” e “sentava o pé” no possante, tanto que de vez em quando o perdíamos de vista entre tratores e desvios da estrada, que ele conhecia como a palma da mão.
Por volta das 12h estacionamos nossa motocicleta no Hotel Santiago, no qual o Sr. Antonio e esposa fizeram questão que nos hospedássemos, pois gostavam do lugar. Para sermos gentis aceitamos o convite, mais ainda por ter partido de pessoas tão maravilhosas como eles, que deixaram de ir no culto evangélico da IURD para nos ajudar.
NOSSA CHEGADA EM VÍDEO
O Hotel Santiago era simples, mas confortável, contando com quatro pavimentos e garagem exclusiva pela rua de trás. Seria nosso quartel general em Diamantina exatamente na época de carnaval, tendo como único inconveniente ficar exatamente em frente da Rodoviária.
Depois de nos acomodarmos em nossos aposentos; do banho refrescante e demorado; e da muda de roupas para outras mais leves e características dos festejos carnavalescos, deixamos o hotel a pé para um tour pelas ruas centrais da antiga Tejuco.
A pé? Irá perguntar o leitor. Sim, com as imensas ladeiras ocupadas por vários palcos improvisados; trechos interditados para veículos; gente perambulando por todo o lado e uma multidão de automóveis ziguezagueando naquelas pedras disformes do chão, melhor mesmo a caminhada, pois possivelmente nem manobrar a moto para voltarmos seria possível em alguns lugares.
Essa parecia mesmo ter sido a melhor ideia e foi até referendada por outro motociclista local, que também deixou sua GS650 bem defronte ao hotel onde estávamos, justamente para não ter que descer com ela e ficar impedido de retornar.
CONHECENDO O TEJUCO
CASA DA GLÓRIA
Não se pode falar em Diamantina sem antes lembrar dessa construção pitoresca, que trouxe muitos mexericos na velha capital dos diamantes, desde o início do século XIX. O passadiço existente sobre a rua da Glória liga dois prédios de características, épocas e estilos diferentes e é o cartão postal da cidade
Acredita-se que a casa do lado direito de quem sobe a rua foi construída na virada do século XVIII e XIX, e que lá tenha vivido dona Josefa Maria da Gloria até 1813, daí advindo a denominação atual.
A partir desse período a casa passou a ser patrimônio do Estado, servindo de residência para os intendentes, tendo ela recebido grandes estudiosos como Auguste de Saint Hilaire, John Mawe, Barão Wilhelm Ludwig Von Eschwege, J.B. Von Spix, Von Martius e muitos outros “Vons” do mundo afora.
Em 1864 a residência passou aos domínios da Igreja Católica e foi transformada em sede do Segundo Bispado de Minas Gerais, tornando-se residência oficial dos Bispos de Diamantina. Por volta de 1867, com a finalidade de abrigar religiosas da Ordem de São Vicente de Paulo, a casa do outro lado da rua sofreu algumas transformações e passou a ser conhecida como Orfanato e, posteriormente, como Educandário Feminino de Nossa Senhora das Dores.
O “Passadiço da Glória”, que encanta pela sua graciosidade, foi construído nessa época para ligar as duas casas e chegou causar até alguma polêmica, por avançar sobre a rua, mas acabou se integrando a paisagem diamantinense e foi símbolo da campanha ‘Diamantina – Patrimônio Cultural da Humanidade’.
Em 1979 o conjunto foi adquirido pelo Ministério da Educação e Cultura para sediar o Instituto Eschwege, mais tarde denominado Centro de Geologia Eschwege – CGE, ligado ao Instituto de Geociências da UFMG.
Pode-se visitar a casa da Glória sem nenhum custo, mas nem toda ela é acessível ao público. Porém, passar sobre o famoso passadiço, que dá visão para o alto da Serra do Espinhaço, é o ponto alto da visita e não podemos perder.
FÓRUM
Construído no século XVIII, pouco se sabe sobre sua história e dos primeiros moradores desse prédio, que certamente pertenciam às classes mais abastadas da época.
Em 1864 ali morou o primeiro bispo de Diamantina, Dom João Antônio dos Santos, que logo mudou-se para a Casa da Glória. Logo depois o prédio funcionou como Câmara Municipal, servindo o primeiro andar para abrigar a cadeia pública local. O prédio hoje funciona como Fórum.
Evidentemente aproveitamos para conhece-lo internamente, já que está num dos lugares chave da cidade: Em frente a Igreja de São Francisco e da Praça JK.
Perscrutando as repartições, principalmente a sala da OAB com visão esplêndida da Igreja de S. Francisco, subimos para o salão do Júri que é usado para julgamento dos delitos contra a vida, reparando que seu mobiliário, feições, paredes e janelas ainda são os mesmos dos tempos coloniais, o que certamente representaria uma imensa honra para qualquer advogado, juiz ou promotor atuar nele.
PRAÇA JK
A praça, na verdade, é mais um canteiro longitudinal com pouca vegetação além de seus coqueiros imperiais, ostentando uma estátua do presidente Juscelino em tamanho natural, sobre um pedestal de uns 2m de altura.
Como infelizmente as ruas centrais de Diamantina não são vedadas ao trânsito de veículos, o monumento passa quase desapercebido de quem por lá trafega.
Bem próximo dali está a casa onde viveu Juscelino desde os três anos de idade, junto com a mãe e a irmã, após a morte do pai. Dizem que Diamantina está para Juscelino assim como São João Del Rei está para Tancredo Neves e, estando por lá, percebe-se que é bem isso mesmo.
A antiga casa, hoje unida a outra vizinha, foi transformada num museu que expõe mobiliário, documentos importantes e objetos pessoais desse presidente de nossa república.
MUSEU DO DIAMANTE
A poucos metros da Praça JK e do Fórum está o Museu do Diamante. Esse sim é outro passeio imperdível, principalmente em Diamantina. O casarão serviu de moradia do Padre Rolim (José de Oliveira Silva e Rolim), um dos três padres inconfidentes que, depois do degredo em Portugal, voltou para o Brasil.
Na época da inconfidência a casa foi confiscada de Rolim pela Fazenda Real e leiloada, pertencendo a particulares até 1945, quando foi adquirida pelo Estado para ser transformada no Museu.
Além da exposição perene sobre o ciclo do diamante na região, com largo acervo de gemas e objetos de sua exploração, bem como utensílios, recibos, documentos valiosos, etc, o museu expõe, ainda, um riquíssimo acervo de arte sacra barroca, com obras de igrejas e de particulares, cuja visita não deve ser perdida pelo visitante.
CHICA DA SILVA, A NEGRA
A figura de Chica da Silva é muitas vezes contada como folclórica, mas ela era real, de carne e osso. Nasceu no Milho Verde e viveu seu apogeu em Diamantina, na gigantesca casa que ainda se mantém em pé, como prova viva dessa ex-escrava que quebrou todos os tabus de uma cultura extremamente preconceituosa.
Antes da fama Chica foi escrava do sargento-mor Manoel Pires Sardinha, com quem teve dois filhos, ambos retirados dela e educados em Portugal. Posteriormente adquirida por seu futuro marido que a alforriou, o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, deu a volta por cima e se tornou o mito que hoje encanta a muitos.
Dessa nova união nasceram outros 13 filhos, quatro deles homens e que também acabaram sendo levados à Portugal pelo pai, depois que o casal rompeu uma união que durou 16 anos.
As más línguas contam que Chica era de gênio forte e cruel, sempre exigindo ouro, joias e diamantes do seu consorte, que atendia a todos os seus extravagantes caprichos.
Mas há quem discorde, dizendo que o casal tinha um relacionamento harmonioso e o marido é quem tentava impor a presença de sua escolhida num meio hostil aos negros em geral, mimando-a para provocar a sociedade escravagista de então.
Com a ruptura do casamento Chica permaneceu com seu patrimônio intacto e uma polpuda renda, continuando a residir na sua luxuosa casa de 21 cômodos, capela particular, lago artificial e um teatro próprio.
Atualmente na casa foi instalado o Museu Chica da Silva, que exibe roupas e objetos pessoais e muita história dessa figura extravagante das Minas Gerais dos idos tempos.
MERCADO VELHO
O velho mercado da Praça Barão de Guaicuí não chegou ver os tempos brilhantes da extração mineral na cidade, pois foi construído em 1835, quase no declínio do Ciclo do Diamante, calculado em meados do século XVIII.
O lugar, a princípio, era casa particular e ao mesmo tempo ponto de negócios de mercadorias entre comerciantes e mineradores que passavam pela cidade, construído pelo tenente Joaquim Cassimiro Lages. Só em 1889 a Prefeitura adquiriu o prédio dos herdeiros de Cassimiro e deram início ao Mercado Municipal de Diamantina.
Hoje o lugar é tombado pelo patrimônio histórico e serve como área para atividades culturais, como a movimentada feira de comidas e artesanato, entre outros.
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
A Estação Ferroviária de Diamantina foi aberta em 1913 pela então E. F. Vitória a Minas. A primeira Estação tinha um prédio bem menor, embora já de alvenaria. Mais tarde, já sob a administração da E.F. Central do Brasil é que houve a construção da atual, também desativada desde 1970.
Hoje a bela Estação de trens, ainda com a inscrição “Diamantina” em suas paredes laterais, abriga o 3º Pelotão de Bombeiros Militar de Diamantina e está em posição estratégica para tal.
MAIS CENTRO HISTÓRICO
Quem visita Diamantina em qualquer época do ano, não dispensa jamais uma visita pelas ruas centrais da cidade e a melhor dica é mesmo a pé. Além dos pontos turísticos que elencamos nesta matéria, muitos outros são os procurados pelos visitantes, dependendo de seus interesses.
Os que buscam diversão terão inúmeros barzinhos, cantinas, adegas e restaurantes em becos e vielas no estilo Harry Potter, muitos deles funcionando durante a noite para aquele happy hour no fim do dia. Em nossa estadia na cidade evidentemente nos servimos de alguns desses points para beliscar alguma coisa gostosa que só Minas sabe nos oferecer.
Para os que buscam a história e o conhecimento, o melhor é visitar prédios públicos e antigos casarões como o prédio da Intendência, atrás da Catedral; o casarão da Chica da Silva, a duas quadras da Catedral; A casa de Juscelino, na Rua São Francisco; a centenária Loja Maçônica Atalaia do Norte, da Rua Direita; a fonte ao lado da Matriz, com toda sua história, e mais uma infinidade de outros lugares.
É certo que o visitante que desejar conhecer tais atributos da cidade o fará melhor se para cá vier em outras épocas do ano, que não o carnaval, pois a cidade perde muito de sua identidade com a instalação de vários palcos ao longo das pequenas ruelas.
Porém, para aquele que pretender unir os traços da Real Tejuco com os do reinado de Momo, terá um carnaval bastante animado como deve mesmo ser, somado a tranquilidade característica do lugar. E podem acreditar, aqui também valem as fantasias tradicionais entre amigos.
UM PASSEIO POR DIAMANTINA
AS IGREJAS DO TEJUCO
As Igrejas de Diamantina, embora sem a presença da figura famosa de Aleijadinho nessa época, constitui um capítulo a parte na história diamantinense, com obras e acervos do mais alto quilate, para representar a grandeza e a riqueza dos cristalinos tempos dos diamantes. Vamos aqui conhecer as principais delas?
CATEDRAL METROPOLITANA DE SANTO ANTONIO
A Catedral Metropolitana de Santo António da Sé, em Diamantina, é uma construção relativamente nova que foi concluída em 1933, em substituição a antiga igreja, essa toda degradada pela ação do tempo.
Erigida em estilo neo-clássico, tem feições modernas, simples e sem luxo. Todo seu interior é revestido de textura aveludada em tons pastéis, com nuances entre o branco gelo e o bege claro.
Sob a cúpula abobadada da capela-mor pende a meia altura um crucifixo em tons de ouro velho, no tamanho aproximado de uns 80 x 40cm. Ao fundo do altar está a imagem do cristo crucificado em close, estampado numa espécie de moldura redonda vitrificada, aposta sobre uma parede de pastilhas douradas.
O pouco que restou da construção original derruída pelo tempo pode ser visto como dois altares laterais da nave principal, exibindo os retábulos de madeira em talha barroca, estes datados do século XVIII, destoando da novel construção mas dando uma característica única ao templo. É num desses nichos que encontramos a imagem “oficial” de Santo Antonio, padroeiro da cidade.
IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS
No final da Rua São Francisco e exatamente em frente ao Fórum local, encontramos o belo templo da igreja de São Francisco de Assis, toda imponente a nossa vista.
De acordo com a história, a igreja, embora tenha sido concebida em 1762, só teve suas obras iniciadas em 1766 e somente ficou pronta em 1830, quase setenta anos depois. Construída em madeira, com as paredes em adobe (espécie de barro), que era a tecnologia da época, é toda caiada de branco com suas portas e janelas na cor ocre do zarcão e detalhes em azul.
IGREJA NOSSA SENHORA DO AMPARO
O início de suas obras data de 1773, com a formação da irmandade N. S. do Amparo por homens pardos, construção essa que demorou para ser concluída por dificuldades financeiras. Tem uma única torre central e foi feita em madeira e adobe, como a igreja de S. Francisco.
Por causa do emblema feito no frontispício, com o Brasão do Império do Brasil aposto logo depois da proclamação da independência, recebeu o título de “Imperial Capela”
Como Nossa Senhora do Amparo era a padroeira das mulheres grávidas do Tejuco, a cada nascimento fazia‐se repicar alegremente o sininho de Nossa Senhora do Bom Parto, situado no lado direito da torre. A pintura do forro representa o Divino Espírito Santo, cuja festa, uma das mais tradicionais da cidade, é realizada anualmente nessa igreja.
IGREJA DO BONFIM
Mal saímos de uma igreja e outra já está a nossa porta. Para concorrer com Diamantina em número de igrejas e capelas, só mesmo a antiga Vila Rica (Ouro Preto).
Estima-se que sua construção é anterior a 1771, tendo sido idealizada e custeada por militares, mas nada há de documental nesses fatos. O que se tem certeza é que a igreja foi utilizada por membros da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, tendo servido também aos Crioulos Rosarianos dissidentes.
As poucas informações a respeito de sua história são desencontradas e uma pequena placa na porta desse templo aponta-nos no sentido que aqui documentamos. Uma pena não termos mais e melhores dados acerca de nosso passado nem tão remoto assim.
Também construída em adobe e madeira, tem torre única à esquerda, do mesmo lado onde fica a sacristia. Os outros dois cômodos da igreja são a Capela–mor e a Nave principal.
IGREJA DO CARMO
A igreja do Carmo do Tejuco é uma das mais significativas de Diamantina, não só pelo seu porte imponente, mas pelas delicadezas de suas formas.
Diferente de todas as outras, sua única torre fica “nos fundos do prédio“, atrás da Capela-mor, solução inovadora para a época. Já sua fachada e construção, sem a marca tradicional de uma ou mais torres, foi concebida da forma tradicional, em adobe e madeira
Segundo consta, os membros a Ordem Terceira do Carmo contrataram como construtor João Fernandes de Oliveira, esposo de Chica da Silva, e o templo acabou sendo feito próximo de sua casa, contra sua vontade pessoal.
A fachada é ricamente ornada por gradis de ferro nas sacadas das amplas janelas, e um entalhe gracioso feito por Francisco Antônio Lisboa, diga-se de passagem que não se trata de Aleijadinho ou algum parente seu.
Eu seu interior há um magnífico órgão de 514 tubos, que teria sido utilizado por Lobo de Mesquita, um dos mais importantes compositores coloniais.
Como curiosidade, existem duas versões para a torre da igreja ter sido feita nos fundos:
A primeira era para que Chica da Silva pudesse assistir missas lá, pois era terminantemente proibido que um negro ultrapassasse as torres das igrejas na época;
A segunda teria partido da própria Chica, para que o barulho dos sinos não fossem demasiadamente inoportunos em sua casa, bem perto dali.
IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
A Igreja foi edificada em 1731 pelos membros da irmandade de N. S. do Rosário dos Pretos e é uma das mais antigas de Diamantina, reformada radicalmente em 1771.
Sua construção assume a clássica divisão das igrejas de Minas Gerais, com o Coro, a Nave principal, a Capela-mor e as Sacristias nas laterais, sem falar na torre única, marca registada de Diamantina.
Pelo que vimos em seu interior bastante escuro, os acabamentos são em entalhes dourados até o forro e há nichos que guardam as imagens de São Domingos e São Elesbão. O forro da Capela-mor é considerada uma das melhores obras da pintura mineira dos anos setecentos.
IGREJA NOSSA SENHORA DAS MERCÊS
Segundo as fontes do IPHAN, pois não tivemos acesso ao interior dessa igreja, ela foi construída por volta de 1785, porém, com a reforma feita por volta de 1830 muito das características do projeto original foram alteradas.
Como é comum na cidade, esta igreja mantém a tradição de uma torre única e seu campanário aposto na parte central, sobre o átrio, com típico telhado pontudo de quatro águas.
Segundo a história, a Confraria de Nossa Senhora das Mercês, instituída em 1771 pelos escravos crioulos nascidos na colônia, que se retiraram da Irmandade do Rosário, tinha em seus estatutos que a irmandade poderia admitir “toda a qualidade de pessoas”, mas muitos dos seus membros tentaram impedir a entrada de “pretos cativos naturais da Costa da Guiné”. Pois é!
IGREJA DA LUZ
A Igreja da Luz de Diamantina teve sua origem além mar, em Portugal. Por causa de um terremoto que arrasou Lisboa em 1755, a rainha D Maria I fez uma promessa à santa para que protegesse sua terra e família, que ela mandaria construir na sua colônia do Brasil uma igreja em sua homenagem, especificamente no Arraial do Tejuco.
Para designar o local de sua construção o responsável pela obra colocou nas costas de um escravo uma grande pedra e disse a ele para subir uma trilha cheia de matos e buracos nas redondezas de Diamantina. Disse mais. A missão era para que ele, quando somente quando cansasse, jogasse a pedra no chão, pois ali seria o local onde se construiria a igreja.
Seu altar principal sofre uma grande influência mourisca e o nicho onde fica a imagem da Santa retrata características árabes, trazidas pelos cruzados do oriente.
O atual medo dos habitantes de Diamantina é que toda essa obra possa vir ao chão repentinamente, devido ao tráfego intenso dos ônibus e veículos que passam pelo local, o que tem ocasionado grandes rachaduras nas paredes da centenária Igreja.
BASÍLICA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
A obra da suntuosa Basílica é de cunho de D. João Antônio dos Santos, devoto do Sagrado Coração de Jesus, e foi iniciada em 1884. O projeto foi do Padre Júlio Clavelin, o mesmo que projetou a Igreja do Caraça e levou pouco tempo para ser concluída. Sagrada em 1890, foi elevada a condição de Basílica pelo Papa Bento XV em 1920.
A construção seguiu a tendência da moda daqueles tempos e suas linhas podem ser definidas como de estilo neo-gótico, com torres em agulha, janela de rosácea rendilhada na fachada e janelas ogivais, com vitrais franceses nas laterais.
Na literatura especializada temos: “Na temática dos vitrais, quinze são dedicados aos mistérios do rosário e um à aparição do Sagrado Coração de Jesus à Santa Maria Alacoque. A janela de rosácea do frontispício mostra, no seu centro, o Coração de Jesus e, em cada um dos doze raios que saem desse centro, está a figura de cada um dos doze apóstolos”.
Essa igreja, juntamente com a igreja da Luz, são os templos históricos mais afastados do centro nervoso de Diamantina. A Basílica fica logo atrás da antiga Estação Ferroviária e bem próxima da Rodoviária da cidade.
MAIS DIAMANTINA
Com a festança de Momo rolando a solta naqueles dias, acabamos ficando mais tempo do que esperávamos sob os encantos da cidade dos brilhantes, bem como sobre os lençóis do Hotel Santiago, para que pudéssemos apreciar não só toda a beleza das marchinhas tradicionais em muitos becos e vielas, mas também para comemorarmos nosso aniversário em volta de tanta riqueza ainda reluzente em cada muro e em cada beiral do casario centenário daquele lugar.
Com a missão cumprida e a alma lavada, quarta feira de cinzas viu nossa moto firme e forte seguindo pelo sertão mineiro, em busca de novas aventuras, dessa feita junto ao “Velho Chico”. Mas esses são outros “causos” e outras aventuras, que serão contadas em breve.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
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PARABENS DR MARCOS PELA MATERIA LEVANDO CULTURA AO NOSSO LEITORES DE PLANTAO GOSTO MUITO DE SUAS MATERIAS .
Valeu amigo Argeu. Fico feliz que esteja gostando das matérias do Portal.
DIAMANTINA
Essa terra preciosa
Era a joia colonial.
Sua riqueza valiosa
Era cobiça imperial.
Sua história graciosa
É a testemunha real.
Nem tudo foi flor,
Nessa mineração.
O escravo teve dor,
Ao qual, peço perdão,
Mas teve muito amor
Com Chica e o Barão.
O diamante foi riqueza,
E restaram os sobrados,
Igreja com sua beleza,
Vesperata com dobrados.
Nova Mykonos, com certeza,
Deixa todos deslumbrados.
Na história da educação
É referência nacional.
Seu estilo de construção
É patrimônio mundial.
O filho de maior projeção
Deu ao Brasil sua capital.
Autor: Sebastião Santos Silva de Urandi-Bahia
Valeu. é letra de música ou poesia?