28/02/2018
Nesta matéria apresentamos uma das sete maravilhas da Estrada Real: O Santuário do Caraça, incrustado na Serra do Espinhaço entre as cidades de Catas Altas e Santa Bárbara, em Minas Gerais.
Instalado numa área de 11.233ha é de propriedade da Província Brasileira da Congregação da Missão, uma instituição católica da família Vicentina, considerado um “centro de espiritualidade e missão, de cultura e educação, de conservação ambiental, lazer e turismo”.
Como empreendimento turístico múltiplo, mantém pousadas, restaurantes, lanchonetes, lojas e atrativos naturais e culturais, que movimenta um fluxo turístico anual maior do que a soma das populações das duas cidades onde se localiza.
O ponto nevrálgico da propriedade é mesmo o conjunto arquitetônico do Santuário do Caraça, onde estão a igreja neogótica, o prédio do antigo colégio (hoje museu e biblioteca) e a pousada. Na área de manejo estão localizadas a Fazenda do Engenho, com sua outra pousada, o Buraco da Boiada e a Fazenda do Capivari.
Toda a área do Caraça está sobre um imenso maciço rochoso, logo acima das nefastas minas de extração mineral que se romperam sobre o vilarejo de Bento Rodrigues, comprometendo toda a extensão do Rio Doce até o litoral do Espirito Santo e sul da Bahia.
Não fosse a área pertencer a uma instituição religiosa, como é, fatalmente toda sua extensão já estaria devastada como ocorre em suas redondezas, e a “tragédia de Mariana” poderia ser absurdamente maior.
COMO CHEGAR
O Caraça fica a 100km de Belo Horizonte. Para o aventureiro que parte de lá o caminho é por Sabará, Caeté e Barão de Cocais, seguindo daí em diante pela MG-129 até o Distrito de Brumal, quando se toma a “Estrada do Caraça” por 20km, mais da metade dessa distancia rodados dentro da propriedade da PBCM.
Já os aventureiros que partem da capital paulista rodarão cerca de 600km pela Rodovia Fernão Dias, até a capital mineira, e a partir de BH seguindo o mesmo percurso acima indicado.
O carioca, por sua vez, terá 500km de rodovia pela BR-040 para chegar ao Caraça, viajando por estradas serranas e lindas a maior parte do tempo. Deixará o Rio de Janeiro seguindo por Petrópolis e depois, já em Minas Gerais, por Juiz de Fora, Barbacena, Conselheiro Lafaiete e, finalmente, Belo Horizonte.
NOSSA VIAGEM
Em nossa viagem ao Caraça aproveitamos para conhecermos também as cidades de Barão de Cocais, onde existe a primeira obra de arte atribuída a Aleijadinho, bem como Catas Altas, uma relíquia sem par também encravada na Serra do Caraça. O Bicame de Pedra também foi alvo dessa nossa visita.
Para chegarmos ao Santuário deixamos a MG-129 na altura do Distrito de Brumal, mas nem paramos para o conhecermos, apesar de sabermos que é muito bonito e rico em história.
Seguimos por cerca de 7km e já chegamos na portaria das terras do santuário, onde podemos receber as orientações necessárias e pegarmos nossa “comanda de visita”, onde será controlado nossos gastos e despesas, dentre elas o ingresso na propriedade com direito a estacionamento. Daí até o topo seriam mais 13km de uma estradinha particular muito bonita e bem cuidada.
Esses trecho de asfalto mostra uma pequena parte da propriedade, que reserva muito mais para o turista que deseje tirar o dia todo para sua visita, e mais ainda para aquele que se hospedar em suas dependências para alguns dias de lazer.
Lá ficamos sabendo que o Caraça oferece um turismo alternativo com trilhas para vários locais, muitas cachoeiras, tanques e piscinas naturais, antigas construções e até grutas e picos que só podem ser visitados com guias.
Embora o Santuário do Caraça ofereça uma série de aventuras para cada visitante e para os grupos que sobem a Serra, nosso tempo era curto e tratamos de chegar rapidinho ao Santuário, de forma a aproveitar o pouco tempo disponível apreciando sua arquitetura, seu museu, sua inusitada pousada nos mesmos aposentos do tempo do seminário e para conversar com as pessoas de lá.
A primeira impressão que se tem ao se chegar ao Caraça é de imponência. A agulha da alta torre da igreja rasga os céus normalmente azuis das Minas Gerais, muitas vezes crispado de cirros alvos como o algodão, remetendo-nos a meditação espontânea sobre grandeza da obra divina e nossa pequenez no universo.
Infelizmente em nossa estadia no local contamos com um céu cinzento, prenunciando chuvas em poucas horas, razão pela qual não pretendíamos permanecer muito mais tempo no Caraça, já que tínhamos outros destinos a cumprir naqueles dias de visitas por lá.
Estacionamos nossa motocicleta ao lado do museu e lá fomos recebidos pela Marcela, recepcionista do Santuário, que nos informou tudo que desejávamos saber, além de nos acondicionar posteriormente numa ala reservada da propriedade, para que pudéssemos melhor elaborar o trabalho a que nos propúnhamos por lá.
Percorremos a inusitada pousada percebendo que alguns de seus corredores estreitos e escuros, nos moldes de antigamente, lavavam-nos a nave principal da magnífica igreja, sempre resplandecendo sua luz difusa e suave aos que buscam a paz e serenidade.
O museu do Caraça é praticamente de visitação obrigatória. Instalado no antigo seminário que sofreu incêndio no ano de 1968, ostenta a estrutura original remanescente de grossas paredes em pedras, agora intercalado com vidros temperados, que emprestaram à arquitetura um toque misto de modernidade.
O INCÊNDIO DO CARAÇA
Sem a menor dúvida o dia 28 de maio de 1968 é o mais triste da história do Santuário. Um pequeno fogareiro, usado para derreter cola para encadernação, ficou ligado transformando em cinzas cerca 15 mil livros. O aparelho ainda está lá para ser visto no museu.
Sabe-se que na referida madrugada um aluno acordou assustado com o forte cheiro de queimado e deu o alerta, dando tempo para que todos fossem retirados sãos e salvos. No entanto o fogo durou oito horas seguidas para ser debelado, por causa da dificuldade de comunicação com os Bombeiros de BH, que acabaram demorando para chegar.
O fogo teria começado às 3 horas da madrugada, mas só foi extinto com o concurso de 100 homens do Corpo de Bombeiros.
A imprensa mineira noticiou que dentre os prejuízos materiais, a coleção de livros da biblioteca do educandário estava avaliada, na época, em mais de um bilhão de cruzeiros antigos. Laboratórios, dormitórios e salas de aula também foram destruídos na catástrofe, restando a salvo apenas a ala de residência dos padres, o refeitório e a igreja.
Toda a saga dessa tragédia pode ser pesquisada pelo interessado no site oficial do Santuário do Caraça, mas nada melhor que sendo in loco, numa eventual visita que você faça por lá.
É O LOBO…É O LOBO
O Guará está para o Caraça assim como o Caraça está para o Guará. Esse animal dourado de rabo curto (chrysocyon brachyurus), chamado de Guará em tupi guarani por significar “vermelho”, é o dono da festa em quase todas as noites ou madrugadas no Caraça.
O maior canídeo da América do Sul é o visitante mais esperado de todos que se hospedam por lá, pois costuma dar o ar da graça na presença das pessoas, para comer os produtos da bandeja de alimentos ofertada pelos padres do santuário.
Esse evento tem se firmado de tal maneira que praticamente todas as noites dezenas de pessoas ficam a sua espreita no pátio da igreja N. S. Mãe dos Homens, com suas câmeras fotográficas e filmadoras, no aguardo que ele venha ao repasto servido. E não é que o bichinho quase não falha?
Se estamos insistindo na palavra “quase” é porque são animais silvestres que não perderam totalmente o instinto de caça, e que enfrentam os olhares humanos em suas ceias noturnas para se alimentarem quando não o fazem na natureza.
Nós mesmos, se fôssemos Lobos Guarás e pudéssemos ter tal oportunidade de cear sem tem que caçar, economizaríamos os cerca de 30km que caminharíamos todas as noites para tal fim e, de quebra, arrumaríamos uma toca pelas redondezas para não termos que caminhar muito.
Tal observação é pertinente pois o chrysocyon brachyurus tem uma expectativa de vida de 16 anos, pesa aproximadamente 25kg e anda 30Km por noite caçando. É um animal de hábitos noturnos, mais ágil ao entardecer e ao amanhecer, e que durante o dia fica descansando sobre a relva, deitando-se cada dia em um lugar, sem manter uma toca fixa.
Segundo informações contidas no site do santuário, “o Guará come pequenos animais e aves e continua caçando, independente da comida que nós oferecemos à ele. Esta comida não o deixa dependente dos padres. Dos pequenos animais, ele come rato, gambá, coelho, coelho-do-mato, preá, cobra, sapo; das aves, come jacu, saracura e outras.”
Complementa: “Por sinal, o guará precisa dos pelos dos animais e das penas das aves para facilitar os movimentos peristálticos da digestão. Come também frutas como a fruta-do-lobo, pêssego, maracujá, goiaba, etc. bem como é atraído por cheiros fortes, como o de frutas e comida apodrecendo, motivo pelo qual costuma revirar as lixeiras”.
Segundo, ainda, as informações do santuário, “o Guará tem hábitos solitários; não vive em alcateia nem uiva. Ele late. Aqui no Caraça nós temos apenas um casal de lobos. Não cabem mais porque são territorialistas, demarcando todo seu espaço com a urina. O casal precisa de 2.500 hectares (2.500 campos de futebol) para viverem. Aqui no Caraça temos 11.233 hectares, mas não podemos contar isso para eles”.
Essa prática de alimentar os lobos no Caraça existe desde 1982, mas eles não tem hora de aparecer nem compromisso com tal. O momento de esperar a aparição do animal é conhecida como “a hora do lobo”, todos os dias a partir das 18h30m. Enquanto o seu lobo não vem, o Caraça proporciona aos hóspedes o momento da informação e da educação ambiental.
Infelizmente não pernoitamos por lá para assistirmos esse espetáculo, mas certamente não faltarão outras oportunidades a nós e aos leitores para uma visita ao Caraça e ao lobo.
AVISO IMPORTANTE
Para visitar não esqueça: As regras de Catas Altas/MG, onde fica o Caraça, exigem a carteira de vacinação em dia, que comprove que o visitante tenha tomado a dose da vacina de febre amarela há pelo menos dez dias antes da visita.
ESTRADA REAL
O Santuário do Caraça faz parte do roteiro da Estrada Real e como tal sua área é abundante em atrativos naturais que o visitante pode fazer sozinho, e outros que só consegue com guias especializados.
Dentre as aventuras sem necessidade de guias estão as várias trilhas para diversas cachoeiras, uma para a prainha encantadora as margens do Ribeirão Caraça, piscina natural e assim por diante. Existem muitas trilhas montanha acima e abaixo, dependendo só da disposição do aventureiro.
Já as que dependem de guia especializado são para as trilhas ao Pico da Carapuça, ao Pico do Sol, do Inficionado, à Gruta da Bocaina e muitos outros. Ao todo são sete os picos que podem ser visitados no Caraça.
Não é permitido ao visitante acampar na propriedade, porém, em qualquer caso o visitante poderá justificar uma necessidade e conseguir uma autorização especial. Não custa tentar e no site do Santuário você poderá ter as informações necessárias.
VEJA O VÍDEO QUE FIZEMOS LÁ
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
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