08/03/2019
Esta edição de nosso City Tour foi feita como uma homenagem especial à cidade de Grão Pará, no sopé da Serra do Corvo Branco, em Santa Catarina. Vamos ver?
COMO CHEGAR
Para quem parte de Porto Alegre, embora tenha que rodar 370km para chegar na cidade, pode começar o percurso pela Freeway (BR-290). Serão 100km até a cidade de Osório, e mais 220km pela BR-101, até a cidade catarinense de Tubarão.
Dali até Grão Pará serão mais 50km, metade deles à ser rodados pela SC-370, até Gravatal, e a outra metade pela BR-475, passando por Braço do Norte.
Já o catarinense que parta de Florianópolis terá várias opções de trajetos. O mais rápido, embora mais longo (190km), poderá ser feito pela BR-101, até a cidade de Tubarão, e o resto como narrado anteriormente.
Mas poderá também seguir serra acima a partir da cidade de Palhoça, devendo então rodar pela BR-282, até Santo Amaro da Imperatriz, e depois pela SC-435, passando por José Bonifácio, Rio Fortuna e Braço do Norte. O total à ser percorrido nessa hipótese será de 158km.
Para os demais aventureiros que desejem chegar à Grão Pará, a melhor opção será seguir viagem levando em conta as duas capitais mencionadas.
HISTÓRIA
Como narramos na matéria que fizemos em Orleans e Lauro Muller, a origem de suas terras está na doação que D. Pedro II fez à sua filha D. Izabel, por ocasião de seu matrimônio com o Conde D´Eu.
Essa imensa gleba de terras, de 98 léguas, abrangia todo o atual Parque Nacional de São Joaquim e, com o passar dos tempos, as cidades formadas em seu entorno foram-se emancipando e ganhando nomes e administrações próprias.
O início do povoamento que deu origem a cidade de Grão Pará tem como marco o dia 02/12/1882, quando foi escolhida como sede central da Colônia Imperial, recebendo o nome de Grão Pará em homenagem à Dom Pedro de Alcântara de Orleans e Bragança, príncipe do Grão-Pará, filho da princesa Isabel e o Conde D´Eu.
Sua emancipação política ocorreu somente em 21/06/1958, tendo o município se instalado oficialmente em 20 de julho de 1958, com a nomeação de um prefeito provisório.
A CIDADE
Circundada pelas Serras do Corvo Branco e Serra Furada, é composta pela sede e mais dois Distritos: Invernada e Aiurê, esse último no pé da Serra do Corvo Branco. Sua área urbana é bastante diminuta e banhada pelo Rio Pequeno.
A população é composta predominantemente por descendentes de imigrantes italianos, alemães, poloneses e portugueses, que mal somam 7mil pessoas.
Com economia singela, baseada principalmente na produção agropecuária, com farta produção leiteira, também aufere receita na cultura do fumo, milho, feijão e na apicultura.
O comércio é extremamente acanhado, sendo suficiente só para o consumo básico de seus munícipes, que buscam o excedente na vizinha cidade de Braço do Norte.
A indústria segue as mesmas diretrizes do comércio e suas industrias se fixam, majoritariamente, no setor madeireiro.
Fábricas de urnas mortuárias e molduras, além de algumas outras voltadas ao ramo dos produtos de alumínios, confecções, engenhos e abatedouros de aves, formam o acervo industrial de Grão Pará.
NOSSA IMPRESSÃO
Infelizmente passamos muito rapidamente por Grão Pará, vindo pela SC-370, estrada que cruza a Serra do Corvo Branco com quase todo seu percurso em terra batida.
Como deixamos o Morro da Igreja por volta das 15h30m e seguimos direto pela Serra do Corvo Branco, começamos descer a serra já no finalzinho de tarde e com o sol se escondendo, justamente do lado oposto da cidade. Chegamos em Grão Pará bem depois do crepúsculo e com a noite fechada, embora mal passasse das 18h.
Nossa primeira ideia era pernoitarmos na cidade, já que nos atrasamos muito em nossa jornada daquele dia, mas as informações foram uníssonas no sentido de que ali não havia hotéis ou pousadas para que ficássemos.
O jeito era seguir em frente rumo a Braço do Norte, que dista 15km dali, mas antes decidimos dar umas voltas pelo centro da cidade em busca de algum lugar para um lanche, já que estávamos sem comer desde Urubici.
Depois de contornarmos suas poucas ruas paramos nossa motocicleta em frente da Igreja Matriz de São João Batista, cujos sinos repicavam alegremente, marcando as sete badaladas noturnas.
Pelas circunstâncias do momento decidimos seguir em frente, mesmo sem o lanche esperado, já que as opções eram precárias e não tínhamos tempo para pesquisarmos mais.
AIURÊ
Não se pode falar em Grão Pará sem falar o nome “Aiurê”. Trata-se de um dos Distritos da cidade, colonizado a partir do ano de 1910.
Quando descemos ou subimos a Serra do Corvo Branco, e são poucos os que se aventuram nessa empreitada como você poderá conferir em nossa matéria especial, logo vamos encontrar a pequena Vila, ladeando a imponente Igreja do Bom Jesus.
Na bem cuidada Praça vamos encontrar, além do suntuoso templo católico, a estátua da índia Aiurê, majestosamente esculpida sobre uma base monolítica e envolta em muitas lendas, que fizeram daquele lugar um destino obrigatório para todos que vão à Grão Pará.
Embora a dramática história esteja grafada no pedestal da pequena estátua, não é demais resumi-la aqui, lembrando que toda a “bravura e feitos” dos colonos que se fixaram nas mais remotas partes do nosso país, nem sempre estiveram ligadas à benevolência, ao amor ao próximo e à elevação do ser humano à Deus, como querem fazer crer as suntuosas construções religiosas que levantaram.
Reza a lenda que nos tempos passados os colonos, muitos radicados no país fugindo de guerras em seus países de origem, perseguiam e capturavam os índios (homens, mulheres e crianças) com a finalidade de servirem-se deles como escravos em suas lavouras.
Segundo essas lembranças regionais, a pequena índia Aiurê e seu irmão menor foram capturados e, tentando se esquivar de seus agressores e proteger o irmãozinho, Aiurê mordeu um deles e acabou morta a golpes de facão.
O garoto fugiu depois da covarde cena e foi posteriormente adotado e batizado por família piedosa, com o nome de Ercílio Aiurê. Porém dizem que nunca esqueceu a barbárie sofrida na infância, e que durante todos os dias do resto de sua vida postou-se nos finais da tarde em direção do lugar onde tudo se passou, gritando o nome da irmã: Aiurê! Aiurê!
Em nossa jornada através do Corvo Branco passamos pelo Distrito de Aiurê quase ao escurecer, exatamente como ocorrera com o casalzinho de índios, e realmente uma angustia no peito inspirava-nos a ouvir o canto de Ercílio, ainda ecoando nos dias atuais. Aiurê! Aiurê!
Por essa e muitas outras histórias que são contadas em todos os rincões do Brasil, que é necessário que aprimoremos nossas viagens turísticas, seja ela de moto, de carro, de bike, de jipe ou mesmo à pé.
Não há cidade esquecida da providência e não há lugarejo abandonado, que não tenha tido seus momentos bons ou ruins e que fazem deles, hoje, verdadeiras fortalezas da moral humana.
SEGUINDO VIAGEM
Sob as estrelas de uma noite escura seguimos viagem para a cidade vizinha de Braço do Norte, com um aperto no coração pela sorte de Aiurê, e um vazio no estômago por falta de comida, desde a hora do almoço.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
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Muito bacana as informações sobre o lugar!
Agradecemos pelos comentários elogiosos sobre nossa matéria e a convidamos para curtir tantas outras de várias cidades do Brasil. Aproveite, também, para se inscrever em nosso canal do youtube, onde está o vídeo feito em Grão Pará e de todas as outras cidades de nossas matérias.
É triste a ganância do homem branco matar e escravisar os indígenas , é revoltante saber dessas e outras histórias como essa.
Valeu pelo comentário Frank, porém, infelizmente tais fatos não são apenas histórias antigas, tem existido frequentemente casos parecidos, até em nossos dias.