A igreja Matriz N. S. da Candelária, no centro de Itu, foi construída em 1780 pelo Padre João Leite Ferraz. O artista José Patrício da Silva, autor do forro e do douramento, trouxe de Santos o auxiliar Jesuíno Francisco de Paula Gusmão, que só mais tarde, depois de viúvo, se tornaria o Padre Jesuíno do Monte Carmelo.
Jesuíno se encarregou de pintar as telas e as paredes da capela-mor, além da construção geral. A criação e confecção dos altares de São Miguel e N. S. do Rosário, que ficam instalados diagonalmente, logo a frente do altar mor, ficaram a cargo de um mulato da Paraíba, de nome Guilherme, que lhes concebeu o desenho e todo o detalhamento.
A fachada da igreja é bastante original, diferindo bastante em termos de arte barroca, e só foi terminada cinquenta anos depois, em 1831. Foi nessa época que a matriz recebeu a torre central e seus quatro sinos, um deles gigantesco, pesando quase uma tonelada, formando assim o “carrilhão” que já voltou a repicar magnificamente na cidade.
A Igreja é o maior patrimônio da arte barroca paulista. A grande quantidade de entalhes banhados em ouro, patrocinadas pelo Barão de Itaim; as imagens de grande plasticidade e beleza; as pinturas de óleo sobre tela; os magníficos afrescos e o próprio conjunto arquitetônico, conferem ao local um riquíssimo valor histórico e cultural.
SEU INTERIOR
As telas do teto da sacristia, datadas de 1878, são da artista italiana Lavínia Cereda, seguindo uma linha árabe; numa faixa retrata-se os objetos utilizados durante a via Sacra, em 14 painéis, que contrastam com seus móveis, de características alemãs.
Um belíssimo retrato pintado por Almeida Jr. destaca-se nessa sala.
Mais uma vez a igreja está em reforma e desta vez é para valer. Além da estrutura do prédio, que já conta com 230 anos, suas obras de arte correm sério risco de sucumbirem.
É possível imaginar que o que vai se revelar durante a reforma seja um mistério. Ao fotografa-la com todo cuidado pudemos constatar a destruição por cupins de muitas de suas paredes, molduras e entalhes. Pudemos ver obras “escondidas” pelo tempo e pintura sobre pintura, podendo acontecer que o que está escondido não seja do mesmo artista.
Se hoje existem muitas preocupações nas restaurações, para que a obra original se mantenha inalterada, ao que percebemos os artistas mais novos de outrora não tiveram a ética e o comprometimento de poupar as obras de inestimável valor e simplesmente “pintaram por cima”, sem qualquer cuidado de preservação.
FASES DA CONSTRUÇÃO
Segundo algumas informações o construtor da Igreja (Pe. João Leite) contratou outro padre de Sorocaba para a empreitada e este trouxe consigo, ferramentas, bois, carros e escravos para o trabalho. As telhas foram fabricadas pelo próprio Pe. João Leite, numa olaria que montou as margens do Rio Tietê. Aos domingos, após a missa, convidava os fieis para ajudarem no transporte dessas peças.
A primeira reforma da torre aconteceu no ano de 1845, em virtude dos danos causados por um raio em 1843. Na aquarela de Miguelzinho Dutra pode-se ver uma panorâmica da cidade em 1851. Nova reforma ocorreu somente em 1888, essa realizada por pessoas de renome como: Ramos de Azevedo e Paula Souza, ante o perigo de seu desabamento.
O RELÓGIO DA TORRE
Numa Igreja da época, principalmente na que era designada Matriz, não podia faltar o relógio frontal e Itu não fez por menos. O célebre artista plástico de Itu, Almeida Junior, trouxe de Paris essa peça de suma importância, que passaria comandar o tempo em toda a cidade pela precisão, conjugado com o potente carrilhão, instalado na mesma época.
Entre os anos de 1888/89 o impressionante relógio da marca “Cartier”, fabricado em 1874, foi instalado no frontispício da Igreja e, segundo consta, nunca deu problemas e raramente era aferido. Ainda hoje, depois de uma boa revisão e restauro, ele atende a cidade com precisão absoluta.
OS SINOS DA CANDELÁRIA
Os sinos da Igreja, que por vários anos ficaram mudos, já voltaram a funcionar a plena força neste mês de agosto, com algumas novidades. Para não acordar os dorminhocos de plantão, ele só funcionará das 7 as 22hs. O campanário ficará silencioso na madrugada e não haverão mais “as doze badaladas noturnas”.
Hoje, de forma mais “computadorizada”, os sinos voltam a se ligar ao famoso relógio de maneira harmoniosa, para que o povo de Itu possa não só ouvir o som característico das potentes badaladas, mas, “nas horas certas”.
Subir as íngremes e estreitas escadinhas que levam ao relógio e aos sinos gela nossas partes mais íntimas. Por outro lado, o encantamento de estar ao lado desses objetos construídos com perfeição, vale o medo.
Com a restauração “das badaladas” ganhou o relógio compartimento próprio e protegido contra poeira e pássaros desocupados, que invadem o campanário e acabam danificando suas peças, ainda que robustíssimas.
Estar ao lado do imenso sino não tem preço. Sentir aquele ambiente a muitos metros de altura e perceber a vibração de um deles no tempo certo enche o peito de satisfação.
O SINO EM AÇÃO
O ÓRGÃO
O imenso conjunto de tubos em forma de flautas, dispostos caprichadamente num suntuoso “armário” com detalhes góticos, quando “soprado” pelo teclado complexo e antigo do órgão da Matriz, enche a Nave principal com um som verdadeiramente impressionante, impossível de ser reproduzido por qualquer outro equipamento.
O instrumento é um Cavaillé-Coll, fabricado em Paris e que tocou pela primeira vez na Igreja em 22 de abril de 1883, numa missa celebrada por seu doador, o Pe. Miguel C. Pacheco. O órgão possui dois manuais de 56 teclas e uma pedaleira em tirasse reta, com 30 notas musicais. Originalmente funcionava com uma espécie de fole que era “pedalado” pelo músico.
ALTARES DIAGONAIS
Os dois altares diagonais, dispostos à frente do altar mor são devotados a S. Miguel e N. S. do Rosário e guardam história sem fim. A Imagem da Santa foi doada por D. Carlota Joaquina, esposa de D. João VI. A peça veio de Portugal quando da fuga da família imperial do velho continente, por conta da campanha hostil de Napoleão Bonaparte.
ALTAR MOR
Se a nave principal da Igreja da Matriz é majestosa, o altar principal segue-lhe a realeza. Todo entalhado em madeira nobre é gravado em ouro amarelo e confere uma imagem impressionante ao recinto. As inúmeras obras de arte fixadas nas paredes laterais complementam o toque de uma riqueza sem fim.
Nessas mesmas paredes laterais, confeccionadas em tábuas justapostas, foram realizadas dezenas de pinturas monocromáticas desde o rodapé, até a parte mais alta do altar. Esses afrescos azulados intercalam com as pinturas, vidraças, entalhes e balaústres dos nichos superiores, até bem perto do precioso teto ornamentado e impressionam pela quantidade e diversividade dos temas .
Nas mesmas paredes são afixadas imensas pinturas em óleo sobre tela com passagens do evangelho. São doze telas gigantes todas emolduradas com beleza singela: Seis delas estão dispostas ao nível dos olhos e as outras seis nas partes mais altas.
Tentamos pesquisar sites a respeito das obras artísticas da Matriz como um todo, para trazer à você, leitor amigo, mas ao que percebemos quase todos repetem, letra por letra o que já foi escrito, sem um trabalho mais elaborado de pesquisa que pudesse trazer alguma novidade ou originalidade ao assunto tratado..
Para complementar com bom êxito o que nos propusemos, ainda que de forma despretensiosa, consultamos pessoalmente vários padres, funcionários e fiéis antigos de todas essas Igrejas por onde passamos. Assim, ainda que este trabalho não tenha o cunho científico da precisão, trouxemos exatamente o que vimos e sentimos.
A pintura do teto do altar mor é de uma sutileza marcante. Seus tons ocres/amarelados combinam com o dourado dos entalhes e adornos, numa simbiose maravilhosa.
ALTARES LATERAIS
Outros seis altares, todos ricamente entalhados e banhados à ouro e dedicados a diversos santos da igreja católica, disputam as paredes laterais da Nave principal e são espaços de adoração de muitos fieis. Nesses nichos especiais também há várias pinturas à óleo, inéditas, além de imagens das mais diversas. Num deles está uma, em tamanho natural, de “Jesus morto”.
O teto da Nave principal, recentemente reformado, apresenta um aspecto com ares contemporâneos e de certa modernidade, dado ao verniz quase incolor que protege a madeira, destoando do resto do santuário. Nesse particular não se pode acrescentar desenhos ou pinturas, sob pena de descaracterizar, mais ainda, o conjunto.
Duas obras primas do pintor Almeida Júnior (Sto. Elias e Jesus no horto) estão literalmente penduradas por cordões nas paredes laterais da grande Nave, bem ao lado do público, em exposição contínua. Essas obras, anteriormente, eram reservadas e guarneciam a Sacristia da Igreja.
DANOS AO PATRIMÔNIO
A Igreja passa por sérias reformas e não é só na parte estrutural. As obras de arte, os altares, as paredes em madeira do interior, os bancos laterais do altar e muitas outras peças e mobílias estão completamente “bichados”. O cupim tomou conta, apesar das precauções.
Boa parte do retábulo, do sacrário e dos entalhes do altar mor estão terrivelmente destruídos pelos insetos. Nosso trabalho fotográfico para esta matéria constatou muitos dos danos existentes, que não só prejudicam a estrutura do altar, mas muitas obras de arte.
Diversos afrescos pintados sobre essas paredes do altar estão praticamente inutilizados para sempre, sendo uma verdadeira façanha sua recuperação.
As molduras de obras artísticas do Pe, Jesuíno, dispostas no altar, estão corroídas pelos cupins, que ameaçam destruírem as telas.
Ao longo da pesquisa que fizemos para esta matéria realizamos mais de 300 fotografias em alta resolução que, com certeza, serão parâmetros para a restauração que se inicia, aferindo o momento de seu início.
Será um grande júbilo, daqui algum tempo, se pudermos refazer nosso trabalho fotográfico no interior da Matriz, aí então já restaurada, para trazer à você particularidades da reforma efetuada, comparando os dois momentos.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
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Agradecimentos especiais à Irmandade da Igreja Matriz N. S. da Candelária, na pessoa de seu pároco, o Pe. Francisco Rossi, pela permissão deste trabalho fotográfico dentro do maior expoente do barroco paulista. VER MAIS
Bibliografia:
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