Uma visita especial no Convento e Igreja do Carmo, na cidade de Itu, é o ponto alto desta matéria que trazemos especialmente para você, leitor amigo.
Se perguntarmos para algum Ituano onde fica a Praça da Independência, com certeza teremos muitas respostas negativas. Mas, se perguntarmos pela Praça do Carmo (que é a mesma) com certeza não há quem não a conheça. Com suas imponentes palmeiras imperiais, bosque de árvores centenárias, fonte com chafariz musicado, a praça é vista de longe.
O imenso largo abriga num de seus extremos o Seminário N. Sra. do Carmo, construído para ser Convento em 1719, por ordem de D. João V. A atual Igreja, anexa ao convento, é de 1774 e é uma das poucas que mantem praticamente todas as características originais. O Seminário, que completou o conjunto arquitetônico, muito rico, só foi concluído em 1782.
O desenho da igreja partiu de Miguel Francisco, que também edificou os seis altares para as imagens do “triunfo” em tamanho natural. Porém os nichos ficaram pequenos demais para as obras de arte e o artista precisou fazer alterações, “aumentando” os espaços, remendos esses que duram até os dias atuais.
Ainda assim todo o conjunto se destaca pela riqueza artística de seus monumentos e imagens barrocas vindo do Rio de Janeiro, de autoria de Pedro da Cunha, entre elas o “Jesus crucificado”, que é tida como uma das grandes representações do barroco no Brasil e está fixada bem na entrada da Igreja, ao lado da porta principal.
O teto do altar-mor, em estilo mariano (em curva), teria sido pintado(*) pelo Padre Jesuíno do Monte Carmelo que, segundo Mario de Andrade, quis representar uma festa no céu. Entre os anjos retratados por Jesuíno estaria um de cor mulata, origem do autor, o que na época teria causado grande alvoroço em uma sociedade branca. Agora restou claro que a pintura original era outra.
Houve restaurações na Igreja em 1861 e em 1918. Essa última contou com colaboração de Demétrio Blackman, pintor e gravador e Fernando Frich, escultor. Após 1960, com a obrigação legal de se rezar missa em língua local (era só em latim) a igreja passou a ter bancos em seu interior. Os fiéis até então ficavam em pé, salvo os da alta sociedade, que tinham camarotes ou cadeiras especiais junto ao altar.
(*)Quem leu ou viu vídeos históricos sobre as obras sacras no Brasil, especialmente sobre o teto do altar mor desta Igreja do Carmo, certamente percebeu alguma malícia sobre a alegoria pintada por Jesuíno do Monte Carmelo, como sendo algo “um tanto aquém de sua capacidade artística”, mesmo assim criaram mil artifícios para julgarem a obra como espetacular, tendo em vista o autor também o ser.
No entanto, num trabalho preliminar realizado por uma equipe de restauração em 2009, coordenada pelo historiador Carlos Gutierrez Cerqueira, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), concluiu-se que “aquilo que se vê não é exatamente o que ali se pintou”.
Pasmou? Sim, é isso mesmo!.
Cadê a cara dos críticos agora?
Cerqueira, que há muitos anos pesquisa os forros pintados pelo padre Jesuíno do Monte Carmelo, também estudou a obra de Mário de Andrade e percebeu que a maior parte da pintura original do forro da Igreja da Ordem Terceira do Carmo de São Paulo, na capital paulista, estava oculta sob uma pintura mais nova, que tentava imitá-la, mas a descaracterizava completamente.
E, aplicando as técnicas usuais na Igreja de Itu, constatou-se que ali quase 100% da pintura original (outrora com fundo rosa que agora já é possível perceber) “estão recobertos por pinturas espúrias, bem mais novas e muito diferentes da original”. Ao nosso ver uma espécie de: “pinta por cima, imita o que ficou embaixo e seja o que Deus quiser”.
O assunto aborda muitas discussões das mais polêmicas e acaloradas, assim como vai dar muito o que falar e como agir num caso desses, que requer muitos estudos. Mas com certeza o bom senso e a justiça ao artista reinará, com a restauração necessária em todo o patrimônio, trazendo de volta sua originalidade. É o que esperamos.
“PRETO E POBRE”
Quando falamos em obras sacras no Brasil, a figura do grande Padre Jesuíno não pode ser esquecida e deve ser uma lição para todos nós. Jesuíno Francisco de Paula Gusmão nasceu em Santos em 25/03/1764. Foi pintor, arquiteto, escultor, encanador, mestre de obra, dourador, entalhador, mestre em torêutica, músico e poeta. Morreu em Itu em 01 de julho de 1819.
Filho de escrava com pai branco, sempre gostou do barroco e sonhava em ser Frei da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo, tendo sido acolhido por essa irmandade desde tenra idade. Aprendeu, sob os auspícios dos freis, o gosto pelas artes (e serviços gerais de manutenção). Seus primeiros contatos com as tintas artísticas foi ainda em Santos.
Como não possuía recursos financeiros não pôde estudar o latim e ingressar num seminário como sempre sonhou e acabou se casando, já na cidade de Itu. Em Itu continuou ajudando os carmelitas locais na construção da Igreja do Carmo, como outras na capital. Antes teve que dar duro para manter-se na profissão, sendo ajudante nas obras da Igreja da Candelária, que estava em construção na mesma época.
Com o passar dos anos acabou enviuvando e seu sonho antigo de ser padre carmelita retornou. Com o estímulo de tantos frades, bem como de seus cinco filhos (dois foram padres) voltou aos estudos de latim recebendo a ordenação em 1797, porém, por ser mulato, com a ressalva do ex defectu natalium. (traduzindo? padre meia boca) . Foi o que ganhou pela dedicação de uma vida inteira.
Sua produção artística diminui após o recebimento das ordens e então começou a terceira fase de sua vida. Mesmo como padre jamais foi aceito na Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo, a qual se dedicou a vida toda, pelo simples fato de ser “preto e pobre”.
Certamente desgostoso e frustrado, no fim de sua vida concebeu, junto com outros sacerdotes, inclusive seus filhos já ordenados, aquele que foi o seu maior projeto: a Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio de Itu. Para materializá-lo, esmolou como mendicante, tendo ido à Corte no Rio de Janeiro, para conseguir levantar fundos.
Veja um pouquinho do interior da Igreja
Nossa história é nosso maior patrimônio. Precisamos preservar o passado, visando as gerações do futuro. Analisem isto.
Gostou da matéria? Faça um comentário e envie-a aos seus amigos.
Não gostou? Envie-nos então suas críticas ou sugestões.
CLIQUE AQUI PARA VER TODAS AS FOTOS
CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
conheça também:
fontes de pesquisas:
VEJA TAMBÉM
Gostei muito da matéria, aprendi coisas novas de minha cidade
Procurei encontrar a história do seminário N.Sra. do Carmo, e não encontrei. Início, começo e fim do seminário. É uma pena!!!. Um instituto tão importante para cidade de Itú, e a sua lembrança é esquecida. Assim, tudo no Brasil que é cultura, história e passado fica no esquecimento. Eu estudei no seminário do ano de 1958 a 1965. Nesta época nós éramos em 120 seminaristas, mais os freis carmelitas, professores e irmãs também carmelitas. Muitos mestres, padres, doutores saíram para divulgar a fé católica e os ensinamentos religiosos. Obrigado!!……
Boa noite Sebastião. Também nós, do Portal D Moto, pesquisamos muito para fazermos a matéria, mas pouca coisa autêntica. A maior parte das publicações são repetições de outras publicações, estendendo-se numa malha de informações de pouca utilidade. Se desejar podemos passar o contato dos atuais administradores do Seminário do Carmo. Quem sabe você tem mais êxito? nosso contato é “contato-pdm@portaldmoto.com.br”