Primeira localidade do Caminho Novo da Estrada Real, a partir de Ouro Preto, Lavras Novas é o décimo Distrito que visitamos neste projeto por terras mineiras, e tem muito mais a oferecer que podemos imaginar. Artesanatos, gastronomia requintada, lazer, história e beleza se concentram nesse lugar, considerado por muitos como o mais belo Distrito da cidade.
HISTÓRIA
Como o próprio nome sugere, a localidade teve sua origem com o princípio do esgotamento das jazidas minerais em atividade na região, quando os mineradores passaram a explorar “novas lavras” na para manterem seu trabalho.
Nota: Diga-se de passagem, que o esgotamento das riquezas minerais da região se deu pelo trabalho artesanal e rudimentar da época, tanto que hoje em dia a mineração de grandes empresas recolhem muito mais que no passado, sem que o percebamos.
O marco inicial da criação da localidade foi a construção da Capela de Nossa Senhora dos Prazeres, substituída pela atual Igreja Matriz, um dos poucos edifícios que ainda mantém a originalidade daquela época.
Se é certo que a mineração da forma que era empregada em Lavras Novas não foi muito além do ano de 1780, o que se especula de forma incerta, é que os mineradores ali sediados foram gradativamente deixando o local, que era de difícil acesso, lá permanecendo muitos negros e mulatos que já não eram escravizados, razão pela qual predominou até a pouco tempo a permanência pessoas negras na localidade.
Dessa maneira e ainda aguardando novos estudos nesse sentido, temos que a comunidade remanescente viveu isolada por todo século 19, num tipo de organização que lembra a de um quilombo, com subsistência coletiva, curas com ervas e festejos compartilhados com todos.
Apesar de isolados não eram ermitões, mantendo contado com as civilizações lindeiras esporadicamente, dado as dificuldades de locomoção na época, tanto que para auferirem alguma renda produziam trabalhos diversos em bambu e cortavam lenha, que eram vendidos em Ouro Preto, sendo que o dinheiro auferido era revertido para a comunidade.
Sabe-se, ainda que por via verbal, que a autoridade máxima da comunidade era exercida pelo mais sábio e capaz, como acontece nas aldeias indígenas.
As mudanças que transformaram aquela localidade isolada na Lavras Novas de hoje, ocorreram a partir da segunda metade do século 20, quando da instalação da rede elétrica, que precedeu ao “boom” do desenvolvimento local.
O turismo veio na esteira e já nas duas últimas décadas do século passado ingressou de vez no cotidiano da comunidade, que via no turista além de um intercâmbio cultural necessário, uma fonte de renda mais expressiva.
Pela beleza do lugar e sua natureza ainda preservada, aos poucos o local foi recebendo novos moradores; foram criadas as primeiras pousadas; foram construídas muitas casas de veraneio, lojas e restaurantes; culminando com o pequeno complexo cultural de Lavras Novas.
Convenhamos: Embora as construções lindas e esmeradas de aspecto colonial que adornam o Distrito atualmente, nada tem eles de históricos ou nativos, restando do passado quase nada da arquitetura original.
Embora desde meados do século 20 Lavras Novas já se encontrava inserida novamente no contexto populacional de Ouro Preto, só foi definitivamente elevada à condição de Distrito no ano de 2005.
RODANDO EM LAVRAS NOVAS
O DISTRITO
Pode-se comparar Lavras Novas com o Distrito de Bichinho, na cidade de Prados, embora em menor escala dado as suas características e objetivos semelhantes, qual seja: oferecer ao turista arte, cultura, diversão, gastronomia, história, beleza, natureza, etc.
Sua localização é no topo da Serra do Buieié (Espinhaço), ao sul da cidade sede de Ouro Preto e com um acesso extremamente complicado, só melhorado ultimamente com a pavimentação em blocos de cimento nesse trecho.
O trecho entre a Rodovia MG-129 (Ouro Preto/Ouro Branco) e o Distrito tem exatos 8 km. Em nossa viagem em maio deste ano, a primeira metade desse percurso e ainda no plano, foi feito num asfalto horrível e esburacado.
Já a segunda metade, que antigamente era em terra batida e de dificílimo acesso, estava com pavimentação recente com blocos de cimento intertravado e ainda sem marcas de uso, porém, com muitos lugares já danificados, possivelmente por fios de água, chuvas, etc.
Não há como negar que a subida até Lavras Novas nos mostra um cenário absolutamente lindo e majestoso, porém, como fizemos esse percurso num domingo por volta das dez horas da manhã, o imenso fluxo de veículos congestionou a pequena e estreita estradinha, necessitando de alguns malabarismos no volante para conseguirmos chegar ao destino.
Vira daqui, dá ré logo mais, para, acelera, freia de novo e em pouco tempo estávamos chegando em Lavras Novas.
Lá em cima o acesso difícil se torna coisa do passado. As ruas são firmes, bem pavimentadas, limpas, organizadas e belas.
Não sabemos como é o lugar durante os dias de semana, mas no domingo é espetacular para quem gosta de gente, de muvuca, de alegria, de diversão e de viver intensamente.
São muitas as pousadas, os chalés e as casas de temporada; são muitos os barzinhos, barzões, restaurantes, lanchonetes, docerias, adegas; e são muitas as lojas de artesanato, as oficinas de artes e os comercinhos em geral.
Nossa primeira disputa foi encontrar um lugar para estacionar, não sem antes darmos uma volta inteira pelas ruas principais.
Eureka! Achamos uma vaga logo na entrada da cidade, ou seja, retornamos até no ponto onde entramos no Distrito, sendo necessário caminhar a pé para curtir o local.
A rua principal está convertida numa grande praça de alimentação, com centenas de guarda-sóis armados e mesinhas apinhadas de gente, nos amplos jardins que guarnecem os restaurantes e points de lá.
Deixamos o veículo estacionado e seguimos adiante, desviando das inúmeras pessoas que tinham as mesmas propostas que a nossa.
Como o horário pedia, o almoço na grama, guarnecida por imenso guarda sol, foi a pedida da hora, antes de seguirmos nosso projeto daquele dia.
Refeitos e ainda sob um sol escaldante que, ao contrário dos primeiros dias de estadia em Ouro Preto, conseguimos levantar o nosso drone e fizemos imagens espetaculares de Lavras Novas.
IGREJA MATRIZ
Embora sem dados precisos, estima-se que tenha sido construída em meados do século 18, no auge da mineração e dedicada à Nossa Senhora dos Prazeres, que tinha como devotos a imensa colônia de antigos escravizados, sendo referência nas religiões afro-brasileiras.
Sua arquitetura é do período barroco, com fachada de duas torres sineiras e com telhadinhos de quatro águas. Um pequeno adro de alvenaria baixa e portão de ferro contorna o templo, em frente do qual ergue-se um cruzeiro em pedra de cantaria.
Sobre a portada há um pequeno escudo em pedra sabão e outros adornos enfeitam o frontispício da pequena igreja.
Não conseguimos informações precisas, mas, ao que parece, havia um pequeno cemitério nos fundos da Igreja Matriz, que era comum naquela época e que foi mudado para as cercanias do lugar, agora com características bem modernas.
De belo e que pode ser notado pelas imagens aéreas que fizemos, é que o templo tem grande valor paisagístico, já que está disposto na parte mais alta da então cidadela que foi construída em sua volta.
Essa devoção de Nossa Senhora dos Prazeres vem de Portugal e, para os católicos, faz referência das sete alegrias de Maria: a anunciação; a saudação de Isabel; o nascimento de Jesus; a visitação dos Reis Magos; o encontro com Jesus no Templo aos 12 anos; a aparição de Jesus Ressuscitado; e a coroação de Maria no céu.
LENDAS LOCAIS
A homenagem à Nossa Senhora dos Prazeres naquelas plagas teve seu fundo místico explorado pelos seus antigos moradores, refletindo até hoje em seus descendentes.
Numa delas o vulgo reporta a um Portão Dourado que levava a Ouro Preto em meia hora, mas que desapareceu numa tempestade. Depois disso pessoas o tem visto as vezes, porém, há muitos morcegos impedindo a passagem por ele e os que insistiram não voltaram mais.
Noutra, acredita-se na aparição da Virgem Maria para adultos e crianças desde sempre por lá, fato que se intensificou a partir da segunda metade do século passado, quando fizeram uma pequena ermida para a santa na gruta onde ela teria feito algumas aparições.
Há outras tantas lendas e crendices populares espalhadas pelo Distrito que ficou isolado por muito tempo, que precisaríamos de muita paciência e prosa com os mais antigos de lá para conhece-las melhor.
TURISMO
O ponto alto do turismo em Lavras Novas não está somente na bela vila cheia de atrativos a nos proporcionar “prazeres” (num trocadilho com o nome da santa padroeira), mas também no seu entorno, o que percebemos antes mesmo de chegarmos até lá.
Se o aventureiro passou batido e não parou na Pedra do Equilíbrio, na subida da serra até o Distrito, com certeza terá outros tantos mirantes para contemplar a natureza, alguns até quando estamos sentado na mesa de um restaurante de lá.
Fora isso são inúmeras as trilhas, as cachoeiras, os lugares de rapel, as atividades off-road de motos ou 4×4, os voos livres, que fica impossível descreve-los todos aqui.
COMO CHEGAR
Para o aventureiro que partir do centro da cidade de Ouro Preto o trajeto inicial será feito pela MG-129, “Rodovia Ouro Branco/Ouro Preto”, devendo seguir por aproximadamente 10 km, derivando então à esquerda (há placas indicativas) por mais 8 km. O percurso integral será de aproximadamente 18 km.
Já para o visitante que começar a viagem de BH o percurso total será de aproximadamente 134 km, com início pela BR-356, até a cidade de Ouro Preto, e o resto como mencionamos anteriormente.
Para visitantes de outras localidades o ideal é a busca por um bom guia rodoviário, mantendo como referência a cidade de Ouro Preto.
fonte de pesquisa :
A evolução da rede urbana de Lavras Novas e a transformação do seu patrimônio construído – DOI 10.5752/p.2316.2013V20N26P111 = (veja aqui)
Se você já conhece a região, tem alguma crítica ou sugestão para fazer, envie-nos um comentário a respeito. Será muito útil para nós.
EDITORIAL
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Jornalista responsável: Marcos Duarte– MTB 77539/SP
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Parabéns e Obrigado para contribuir com a nossa cultura e aventura, divulgando para o Mundo oque temos de bom e de melhor para desfrutar e aventurar cada pedacinho de chão.
Muito legal seu trabalho.
Valeu meu caro Hudson. A matéria completa foi de Ouro Preto e seus doze Distritos. Assim, percorremos cada um desses doze pedaços encantados da bela e antiga Vila Rica de Ouro Preto para nos deliciarmos mais uma vez nas Minas Gerais, e para levarmos ao público esse lugar encravado intrinsicamente em nossa história. A pena é que matérias assim não são tão populares como os “Tic Tocs” da vida, mas ficamos imensamente felizes quando alguém como você as comenta. Esperamos que tenha apreciado não apenas o que fizemos em Lavras Novas, mas em toda Ouro Preto. Abraços.