Acordamos cedo para nosso terceiro dia do Projeto: Cânions paulistas. A manhã estava linda e ensolarada, apesar da época de inverno. Hoje faríamos o circuito “das águas” e teríamos outro guia conosco. Vamos ver?
Logo após o café da manhã no centro da cidade, preparamos a Transalp para mais um dia de aventura entre os cânions de Nova Campina. Já tínhamos visitado o Mirante do Cedro, os Fornos da Fracarolli, o Mirante do Estreito, e os Mirantes da Borda e do Macaco. Que nos reservaria Juliano e Galdino para aquele domingo?
Juliano Camargo, nosso guia e professor de dois dias consecutivos, não quis ir na garupa da Transalp, tampouco na da Bros 125, preferindo seguir com seu Ford Ka até o local do passeio. Como Galdino Júnior fosse esperar próximo do primeiro destino daquele dia, seguimos o carro de Juliano pela estrada, até o lugar combinado.
Depois de dois dias percorrendo as entranhas dos vales e chapadas, por cerca de 150km por estradas de terra, picadas no mato e algumas trilhas, agora tínhamos que aguentar o asfalto ruim (pior que terra) e os (maus) motoristas de plantão, que abusavam de seus veículos, ultrapassando em lugares impróprios e podendo causar acidentes em cada curva.
Como a maior parte da frota de caminhões e utilitários utilizados pelas empresas da cidade estavam guardados naquele final de semana, as vias de trafego ficavam em sua maioria por conta dos “sabadeiros e domingueiros”, desacostumados de conduzir veículos automotores, e era o que nos causava uma certa apreensão ao pilotar.
O consolo é que não rodaríamos mais de 10kms naquele trecho de estrada. De qualquer forma, em pouco tempo avistamos nosso amigo Galdino às margens da rodovia, nos aguardando. Só com um breve aceno de mãos e nenhuma palavra trocada, mantivemos um contato rápido e seguimos direto para nosso primeiro passeio do dia, e que nós ignorávamos por completo onde seria.
Rodamos menos de 1km a mais por asfalto e derivamos por dentro de um conjunto de casas isoladas do “Barreiro”. O trecho consistia praticamente numa única rua em blocos de cimento, com casas e chácaras simples dos dois lados, porém muito limpas, bem conservadas e bonitas. O final da rua convergia numa estradinha de terra.
Seguimos outros 1km por esse caminho sob pinheiros frondosos, quase sem conseguir ver o chão puro, que deveria ser de terra vermelha, dado a quantidade de folhas e galhetos espalhados pelo piso, tirando a aderência dos pneus das motos, se fosse necessário usar para valer. Enquanto isso Juliano tentava acesso com seu Ford Ka.
Nossa jornada desta vez logo teve um fim, algumas curvas abaixo de onde começamos, e não pudemos mais continuar a bordo de nossas motos, menos ainda com o Juliano com o carro que estava. Arrumamos um espaço seguro entre as árvores e seguimos o resto do caminho a pé. Mesmo ao longe já pudemos imaginar o que viria pela frente.
A caminho do Barreiro
NA CACHOEIRA DO BARREIRO
O Barulho de águas era intenso, prenunciando alguma cachoeira de porte pelas imediações. E não é que tínhamos razão? Para chegarmos até ela caminhamos pelo meio da plantação de pinus e depois pela mata fechada em declive acentuado. Em minutos estávamos na cabeceira da Cachoeira do Barreiro, ou Cachoeira do Sguario, para quem assim desejar.
O nome “Barreiro” foi dado à cachoeira em homenagem ao fato da referida queda d´água estar situada no bairro desse nome; já o título de Cachoeira do “Sguario” provém do nome da empresa Agro Florestal Sguario, proprietária das terras onde está localizada a cachoeira. De nossa parte vamos denomina-la como “Cachoeira do Barreiro”, em homenagem aos nossos amigos
Chegamos e logo percebemos que a queda d´água iniciava-se bem aos nossos pés e precipitava-se pedra abaixo, por cerca de 30 metros de um véu branco e espumante. Segundo consta, em época de chuvas a cachoeira praticamente desaparece, dando lugar a um fluxo gigante de água, dado ao volume imenso de líquidos concentrados em sua cabeceira.
Aproximamos do topo da cachoeira e logo percebemos que o espaço que a precede tem o aspecto de uma pequena “viela de pedra”, com cerca de quatro metros de largura e o mesmo tanto de altura. Todo o rio Taquari Guaçu, antes de chegar à esse ponto, converge incontinenti para esse estreitamento natural na rocha sólida.
Nos esgueiramos cuidadosos para bem próximo daquele lugar inusitado e, quase dentro desse pequeno estreitamento, bem no ângulo que as águas se precipitam, conseguimos gravar imagens para que você, amigo leitor, tenha uma ideia exata das belezas encontradas em Nova Campina, e que até hoje estão escondidas do público naquele paraíso.
Enquanto estávamos explorando na cabeceira da cachoeira com o Galdino, que nos orientava, Juliano já tinha se desvencilhado de nós e se aventurado na parte baixa do rio, buscando colher imagens por um ângulo mais dinâmico. E não é que deu certo? Assim que o percebemos na manobra tratamos logo de mandar abraços para todo mundo, lá de cima.
A força das águas
Galdino contou-nos que trabalha durante a semana como operador de máquinas na empresa ORSA e que somente nas horas de folga, juntamente com Juliano, seu amigo de infância e sócio na empreitada, se inflamam pelas florestas e mirantes, levando visitantes e aventureiros de várias cidades para conhecerem essas belezas.
Ambos são autodidatas como “monitores”, porém já participaram e ministraram cursos dessa especialidade na sua cidade, escassa dessa qualificação profissional. Como são considerados “autoridades no assunto”, pela administração pública, ambos se empenham na regulamentação da atividade no município, em busca da incrementação do turismo.
Entre essas conversas e questionamentos fomos nós também descendo “montanha abaixo”, em busca de um outro ponto de vista daquela cachoeira fantástica. Nosso terceiro dia de viagem estava tranquilo e dispúnhamos de mais tempo, não só para fotografar e filmar, mas para curtir um pouco mais daquela natureza exuberante, em que fazíamos parte naquele momento.
Na “picada” da mata fechada que descíamos, Galdino foi explicando as características de algumas espécies de plantas que mostravam marcas vermelhas, como se tivessem sido pintadas. Disse que esse líquido agora seco era expelido pela própria árvore, e que em alguns momentos aquelas “tinturas” ganham características fosforescentes.
Descemos uma pedra aqui, escorregamos em outra ali e em pouco tempo chegamos na parte baixa da cachoeira para juntarmos ao Juliano. Aproveitamos a magnífica visão das águas caindo, que formava um cenário estupendo, para conversarmos melhor com o Galdino sobre seu trabalho como monitor, como motociclista e como cidadão de Nova Campina.
Entrevistando o Galdino
Mais acanhado e extrovertido que o Juliano, Galdino guiava-nos com bastante competência e entusiasmo. Ao que nos pareceu a primeira vista, Galdino tinha muito mais intimidade com as “coisas do floresta”, enquanto Juliano, mais jovem, demonstrava um conhecimento técnico-cientifico espetacular. Um completando o outro, com certeza.
A visão frontal da queda d´água principal é fantástica daquele ponto onde estávamos. Na verdade poderíamos dizer “quedas d´águas”, no plural, dado a quantidade de outras minúsculas precipitações logo em seguida da queda maior. Não poderíamos perder essa imagem tão representativa da cachoeira e recorremos, de pronto, ao utilíssimo “pau de selfie”.
Sabemos que tal acessório está na moda, mas infelizmente não tínhamos um em nossas mãos naquela hora. O que fazer então? Improvisar, é claro. Um galho forte retirado da mata foi nossa salvação. Nele prendemos e amarramos nossa micro câmera de ação. O medo maior era do galho se partir e perdermos a filmadora. Mesmo assim, arriscamos.
As imagens ficaram fantásticas, como era de se esperar numa situação daquelas. Logo depois nos alojamos ao lado de umas pedras próximas, para fazer um pequeno lanche, tomando água fresca diretamente da nascente, porém recolhemos tudo antes de voltarmos, afinal, temos que colaborar para que outros possam ter a mesma boa impressão que tivemos de lá.
Já se aproximava das 13 horas quando deixamos a Cachoeira. Por se tratar de domingo, dia dos pais, Galdino e Juliano teriam suas obrigações familiares e evidentemente não impediríamos. Aos festejos da data se dedicariam a partir desse horário e cabia a nós agradecer-lhes a companhia e desejar sucesso na empreitada esposada.
A dupla de guias retornou aos seus afazeres e nós, com a vontade de explorar outros sítios e talvez para almoçar em algum lugar, já que havia a possibilidade de existir algum restaurante ou lanchonete na beira da estrada, seguimos para ver até onde ela iria dar. E não é que deu? Um restaurante simples nos convidou pelo visual, porém estava fechado. E agora?
NA ORSA
O melhor conselho veio de alguns motoristas de caminhão que se reuniam ali. “Vá almoçar no restaurante da ORSA, é ali mesmo”. E apontaram com o dedo. Chegamos lá meio desconfiados, afinal: Almoçar numa fábrica? Isso mesmo, o refeitório serve também ao público em geral, quase inexistente por lá, assim como os restaurantes. O lugar, entretanto, era um sonho.
Por que falarmos da ORSA nesta matéria? Simples. Pelo mesmo motivo que falamos do Baden Baden em Campos do Jordão; do Shopping Serra Azul, ou ainda de um Rockefeller Center ou da Disney nos EUA. A empresa, com três polos industriais no Brasil, mantem um dos maiores em Nova Campina e chega a produzir 1 milhão de toneladas de papel ao ano.
Só isso? Não. Em suas terras, na cidade de Nova Campina, estão confiadas muitas belezas naturais que a empresa preserva, sempre admitindo visitas, desde que devidamente monitoradas, de modo a manter a sustentabilidade de suas atividades, sem prejuízo do planeta. É incrível parar na estrada e ver a Cachoeira da Orsa “cair… dentro da fábrica”.
Na frente do restaurante/refeitório há um imenso jardim público, com cachoeiras artificiais e lagos em vários níveis, onde vivem carpas e peixes ornamentais de muita beleza. Ao analisarmos a decoração esmerada, as “pontinhas” graciosas, a iluminação especial e outros ornamentos, imaginamos que a empresa fosse de origem japonesa.
Ledo engano. A ORSA, antiga empresa nacional, hoje pertence a americana International Paper. Como a fome já estava apertando, deixamos para curtir o jardim e tirar fotos depois do almoço. Alguns funcionários estavam por lá naquele dia e todos nos recepcionaram com bastante cortesia, questionando sobre a moto, nosso projeto, etc.
Com as informações que nos prestaram chegamos ao salão de refeições. Imenso, arejado, claro, limpo. Um buffet completo nos aguardava a um canto e fomos servidos por funcionário especializado, de modo a garantir a higiene e organização. Optamos provar o Capeletti ao molho, carne assada e um “escondidinho” de carne seca”. Para acompanhar, um suco de uva.
Poderíamos repetir quantas vezes quiséssemos, já que havia mais opções de cardápio, mas ficamos no trivial mesmo. Só o suco de uva repetimos algumas vezes e era possível servirmos dele pessoalmente. De sobremesa nos ofereceram uma paçoquinha naquele dia, mas no cotidiano servem outros doces. O preço final? De tudo? R$ 8,00. Saímos satisfeitíssimos.
Podemos garantir, sem a menor dúvida de errar, que o Restaurante/refeitório da Orsa é um dos melhores lugares para uma boa refeição na cidade de Nova Campina, sentido, apenas, de não estar próximo da cidade e de não ser possível fazer nele aquele “happy hour” das sextas feiras. Mas vale a pena, é um oásis no meio de tanta areia branca da região.
Com a barriga cheia voltamos ao “Jardim” para o devido descanso, afinal, também nós não somos de ferro. Espreguiçamos molemente no gramado ouvindo o barulho suave das águas do parque, bem como o ruído mais longínquo do Rio Taquari Guacu e das caldeiras da fábrica. Se ficássemos mais, certamente dormiríamos sobre a grama verde.
Rumo à ORSA
Findo nosso passeio dominical, voltamos à Nova Campina no meio da tarde. O cansaço já tinha batido forte e aproveitaríamos a tarde para conhecer melhor a cidade, em pleno domingo do dia dos pais.
ACOMPANHE AQUI TODAS AS AVENTURAS DO NOSSO PROJETO:
CÂNIONS PAULISTAS
TODA A SAGA DOS CÂNIONS (em quadrinhos) AQUI
Gostou da matéria? Faça um comentário e envie-a aos seus amigos.
Não gostou? Envie-nos então suas críticas ou sugestões.
CLIQUE AQUI PARA VER TODAS AS FOTOS
CRÉDITOS
FOTOS: Marcos Duarte, Juliano Camargo e Galdino Júnior
VÍDEOS/EDIÇÃO: Marcos Duarte
CONSULTORES TÉCNICOS: Juliano Camargo e Galdino Júnior
Texto e Edição: Marcos Duarte
conheça também:
Bibliografia de suporte:
BLOG DO JULIANO – http://julianocamargo.blogspot.com.br/
SITE OFICIAL NOVA CAMPINA = http://www.novacampina.sp.gov.br/
Agradecimentos especiais
Juliano Camargo e Galdino Júnior por toda a assistência técnica no Projeto Cânions paulistas
Sra. Marisa Bernardo de Freitas = Secretária de Cultura e Turismo de Nova Campina
Sr. Nilton Ferreira da Silva = Prefeito de Nova Campina
Aos proprietários das terras e áreas onde fizemos nossa matéria, que gentilmente autorizaram nossa entrada de forma a contribuir com a divulgação das belezas naturais de nosso país.
QUER SE AVENTURAR?
sObRe RoChAs? Contate antes o grupo de apoio de Juliano e Galdino e tenha uma estadia perfeita em Nova Campina (15) 9-9606-3441