20/06/2016
Acordamos bem cedo naquele domingo de maio e nos preparamos rapidamente para sairmos, já que aquele dia seria bastante trabalhoso para nossa equipe. Antes das 7h da manhã já tínhamos tomado o café e as motos já estavam em ordem de marcha.
Como tínhamos a esperança de rodar muito nesse dia, saímos bem equipados da Pousada Victor. Em pouco tempo já estávamos no sopé da serra, logo depois do Mirante, em direção ao Distrito da Cachoeira do Espírito Santo, aquela mesma que já conhecíamos do dia anterior.
Chegamos com bastante antecipação para aquele evento religioso que aconteceria nas águas da Represa Chavantes. Chegamos até mesmo antes do vigário que presidiria aquela procissão do Divino sobre as águas, que deu o ar da graça depois de nós, trazendo consigo alguns assistentes.
Estacionamos as nossas motocicletas ali mesmo na rua principal, em frente ao mercado do Odair do Prado, vereador da cidade, e fomos acompanhar a chegada de algumas embarcações que vieram especialmente para o evento, enfeitadas com flores e ornamentos em tons vermelhos e brancos.
Esses preparativos todos aconteciam a todo momento em nossa volta, enquanto na pequena Capela do Espírito Santo era rezada uma missa especial, com a participação de membros da comunidade católica do lugar e de muitos turistas que vieram para prestigiar tão significativo acontecimento.
Não era só a capela que estava toda enfeitada. Para os peregrinos e devotos que ficassem por lá depois da chegada da procissão pelas águas da represa, era reservado o tradicional almoço, que já podia ser percebido nos salões anexos da igreja, que exalavam cheiros característicos de boa comida.
O INÍCIO DA PROCISSÃO
Na hora aprazada todos começaram a deixar o pequeno templo religioso com seus paramentos característicos, que destacavam as cores carmim e branco, e com alegria festiva passaram a caminhar em direção dos ancoradouros do lugar, de onde partiria em breve a procissão tão esperada.
Os sinos repicaram no campanário enquanto fogos de artifício pipocavam nos céus em júbilos de felicidade, aguardando a chegada dos fiéis devotos aos barcos ancorados, enquanto animais e pássaros, em pânico, voavam desorientadamente em fuga espetacular ante aos perigosos estampidos.
Infelizmente o ser humano ainda não deu conta de que não é o único ser vivo neste planeta, e que nossa alegria e devoção não pode causar prejuízos às demais “obras de Deus”. São fartas as notícias de dizimações de ninhos de aves; desespero de cães, cavalos, etc. Mesmo sendo essa atividade legalmente restrita é totalmente desprezada por quem teria o dever de dar o exemplo.
Ideologias de lado, uma coisa restou incontestável: As pessoas que se aventurariam na grande procissão aquática em louvor ao Divino Espírito Santo tinham fé, muita fé mesmo, ou não se lançariam sobre aquele mesmo ancoradouro que estivemos ontem e que estava se desfazendo aos pedaços.
Aos poucos o padre com seu auxiliares se acomodaram na lancha principal que “puxaria” a longa procissão pelas águas da represa. Não se podia deixar de notar a beleza desse barco, todo enfeitado com flores e arranjos, ostentando em sua proa o andor com a típica pombinha, simbolizando o Espírito Santo.
Lanchas “cabinadas” acompanhariam toda a procissão juntamente com frágeis caiaques, tripulados por membros da equipe de canoagem da cidade e também os barcos pesqueiros, canoas e até jet-sky, num ambiente de muita harmonia e respeito, normalmente reinante num evento dessa natureza.
A FESTA DO DIVINO
Aventa-se que tal evento teve início com a Rainha D. Isabel, por volta do ano de 1320, com sua promessa feita ao Espírito Santo de peregrinar com uma imagem da pomba, arrecadando donativos em benefício da população. Esse costume teria se alastrado pelas demais coloniais portuguesas, chegando até aqui.
Os festejos do Espírito Santo no Brasil teriam aqui aportados durante a estadia da Coroa Portuguesa, e tenha se disseminado com D. Pedro I na época da proclamação da independência, trazida pelos costumes portugueses já em prática em outras colônias desde o século XIV, principalmente nos Açores.
Na tradição original a procissão precedia aos banquetes coletivos com distribuição de muita comida e esmola aos pobres, hábito ainda utilizado em algumas regiões portuguesas. Por nossas terras brasileiras esses costumes se estenderam em todos os Estados, praticados a pé, em cavalos, carros de bois, barcos, etc.
O CORTEJO NAS ÁGUAS
Com todos a bordo a procissão teve seu início às margens da Represa de Chavantes, com o barco-andor na frente, secundado por outra embarcação de suporte cheia de músicos entoando cânticos de louvor ao Divino, com o acompanhamento de violões e coro de crianças vestidas de branco.
Acompanhamos o desenvolvimento de toda a procissão na proa da lancha “Morro do Gavião”, a mesma que tínhamos pilotado no dia anterior, quando o Domingos Brambilla nos proporcionou um grande passeio por aquelas águas mansas, até as cachoeiras “Gummy” e “cachoeirinha”.
Nosso companheiro de viagem, o Celso, embarcou no pequeno bote que seguiam as pessoas encarregadas de entoarem os cânticos litúrgicos. Como músico que também é, tocando Rock´n roll em festas de motociclistas, deve ter aprendido um repertório bastante novo durante todo o tempo de convívio com eles.
Esses dois “barcos satélites” onde estávamos acompanharam, um de cada lado, toda a movimentação da lancha que levava o padre que presidia a procissão e o florido andor com a pombinha que representava o Divino. Ao todo cerca de 40 outras embarcações seguiam-nos naquele evento.
As músicas e as rezas predominaram durante todo o percurso realizado, que navegou por um trecho aproximado de 10km, fazendo o retorno na altura da Rampa do Índio, ao lado do Morro do Gavião, quando víamos muitos parapentes coloridos voando sobre nossas cabeças.
A procissão parecia que não era apenas para colocar em dia as obrigações religiosas dos devotos ali presentes, mas também para para colocar a alma em contato com a natureza. Pudemos ver pessoas absortas ao contemplarem as águas com tanta compenetração, que mereceriam um quadro com tal imagem.
Muitos esportistas e alunos aplicados da forte equipe de canoagem de Ribeirão Claro, campeões nacionais e internacionais em varias modalidades, deram o ar da graça no culto religioso em andamento, navegando imponentes com seus aparelhos especiais, unindo o treino com a devoção.
A CHEGADA DO ANDOR
O retorno da procissão se deu com a mesma alegria até que aportassem novamente. Como a maioria dos “fiéis” tenham ficado em terra firme por motivos dos mais diversos possíveis, a chegada do cortejo na pequena vila foi motivo de contentamento de todos aqueles que estavam aguardando sua chegada.
Grande confraternização entre todos se deu ali mesmo, na beira da grande represa e nos verdes gramados do jardim da casa do Domingos Brambilla. Lá, entre os cumprimentos gerais, o sacerdote atendia pessoalmente todos os que queriam ter suas embarcações benzidas por ele.
Com a chegada em terra firme o andor do Divino seguiu novamente em direção da capela do bairro, sempre acompanhado de todos os fiéis presentes num cortejo organizado pelas pequenas ruas ali existentes. Em poucos minutos a imagem e os fiéis transpuseram os pórticos da Igreja.
Embora a maioria dos participantes estivessem ali por causa de seu credo, muitos outros de religiões distintas também vieram à essa representação de louvor ao Espírito Santo, com um caráter de conhecimento, instrução e admiração por uma tradição pura que transcendeu continentes e perdura por vários séculos.
CORTEJO NAS ÁGUAS
A BENÇÃO DAS MOTOS
De forma ordeira e sincronizada, assim que o padre depositou o andor na capela do Distrito da Cachoeira do Espírito Santo, um grupo de aproximadamente 200 motociclistas, liderados pela escolta da Polícia Militar do Paraná, passavam calmamente com suas motos em frente a igreja, sendo abençoadas pelo sacerdote.
Os motivos dessa bênção aos motociclistas podem ser vistos na matéria especial que fizemos com esses irmãos motociclistas, que vieram desde a vizinha cidade de Jacarezinho, para o Primeiro Encontro de Motocicletas promovida pelo 2º BPMP.
Como não ficamos para o grandioso almoço que seria em seguir servido nos galpões da Igreja, mas seguimos com esses motociclistas para o evento que aconteceria naquela cidade, somente ficamos sabendo da grandiosidade completa da festa no final do dia, já em Ribeirão Claro.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Texto e Edição: Marcos Duarte e Celso Elez
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BIBLIOGRAFIA DE APOIO
Fogos de artifício
http://www.focinhoonline.com.br/noticiasartigos_fogos.html
http://www.pea.org.br/cuidados/fogos.htm
http://muralanimal.blogspot.com.br/2014/06/por-mais-luzes-e-menos-fogos-de.html
Espírito Santo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_do_Divino_Esp%C3%ADrito_Santo
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832008000100004