Nesta segunda matéria sobre o Rastro da Serpente, trouxemos ao leitor a conclusão do percurso desde São Paulo até Curitiba, no Paraná. Acompanhe esta aventura repleta de muita beleza natural e centenas de fotos dos lugares mais lindos do trajeto.
Na primeira parte da matéria sobre o Rastro da Serpente dissemos que deixamos São Paulo pela Rodovia Raposo Tavares rumo a Capão Bonito, que fica a 230km de distancia, e que foi lá que realmente tivemos o início de nossa jornada.
Partindo de Capão Bonito demos uma pequena parada em Guapiara, para conhecê-la, e encerramos o percurso da primeira etapa da matéria em Apiaí. Aproveitamos os dias para dar uma “esticadinha” até Iporanga, para conhecer o trecho em pleno PETAR.
O motivo dessa divisão da matéria em duas etapas não foi por medo de enfrentar as mais de 1200 curvas da “Serpente” de uma só vez, mas para mostrar que o percurso, se bem explorado, pode levar tempo para sua conclusão, dado as belezas naturais encravadas em cada montanha da região.
Por falar em região, cumprindo o que prometemos na matéria anterior trouxemos uma reportagem especial sobre as “Luzes de Iporanga”, que tem assombrado a muitos e encantado a outros tantos. Fenômenos naturais? OVNIs? Espíritos? Acompanhe conosco.
Nessas duas empreitadas pela “Serpente” pudemos contar com o apoio de membros do Motoclube 100 Limites, de Apiaí. Seu presidente, Fernando Lages, nos recebeu com bastante cortesia e chegamos a conhecer até o local onde se reúnem. À esses irmãos, nosso muito obrigado.
Os pernoites na região foram intercalados entre o Hotel Burkner, no centro de Apiaí, e a Pousada da Diva, no caminho de Iporanga, em plena região cavernosa, onde existem tantos boatos e notícias sobre seres de outros planetas, discos voadores e profundezas da terra. Com certeza Júlio Verne e Von Daniken ficariam encantados.
VEJA MATÉRIA ESPECIAL SOBRE AS LUZES DE IPORANGA
AINDA DOMANDO A SERPENTE
Tanque cheio, dedo na ignição e o ronco da Drag Star se fez ouvir forte mais uma vez. Em poucos minutos já deixávamos Apiaí, “serpenteando” agora pela BR-476, nome oficial do Rastro da Serpente até a cidade de Curitiba.
Nesse trecho também há movimento intenso de caminhões como no primeiro percurso, muito embora seu piso seja muito melhor conservado. Assim, certo que encontraremos muito trânsito pelo caminho, já que trata-se de rota natural entre dois Estados.
Logo após deixarmos Apiaí já pudemos constatar que estávamos no alto de uma Serra imensa. A emoção era forte ante a grandeza do espetáculo da natureza.
Chovia bastante e precisamos usar nossa capa de chuva, no entanto as sinalizações bem projetadas dava-nos a garantia de tranquilidade para pilotarmos com segurança naquelas condições. Até Curitiba ainda rodaríamos 170 km.
Com a pista molhada não era possível “deitar” a moto nas curvas mais acentuadas, mais ainda pelo fato da Drag Star não ser tão boa nisso em qualquer situação. Nesse quesito prudência e calma eram nossas melhores aliadas. Por outro lado o ritmo mais vagaroso nos proporcionou curtir cada km percorrido.
CHEGANDO EM RIBEIRA
A última cidade paulista estava a nossa frente, bem num dos contornos do Rio Ribeira do Iguape que, aliás, acompanhara-nos há mais de dois quilômetros ao lado da estrada. Pequenina, bonita, nem se pode dizer que a estrada passa pelo meio da cidade, pois na verdade Ribeira está postada 90% do lado direito da rodovia para quem vai ao Paraná, sendo só montanhas do outro lado.
Fizemos uma pequena parada na Praça da Matriz, mas não havia muito mais à ser visto na parte urbana da cidade. Por outro lado os inúmeros atrativos naturais ficariam para outra oportunidade.
Alguns metros a frente encontramos a Ponte da Amizade, que divide o Estado de São Paulo com o Paraná. A primeira cidade paranaense, Adrianópolis, está situada exatamente ao “pé da ponte”, como que emendada com Ribeira.
ADRIANÓPOLIS/PR
Estávamos num dos pontos mais baixo da nossa jornada, a apenas 160m do nível do mar. Daí para frente seria só subida e das boas. Prepare o ânimo que tem muita aventura pela frente.
Adrianópolis é minúscula, mesmo assim tem o dobro da população de Ribeira. Eles tem em comum tudo, nem parecendo que são duas cidades em Estados diferentes.
O nome é em homenagem ao minerador português Adriano Seabra da Fonseca, que foi um dos primeiros a fixar moradia na região, construindo casas, comércio e indústria. Por falar em minerador, a economia local está fundada especialmente na extração mineral. Da mesma forma que em Ribeira, as usinas extratoras de minérios dominam a cidade.
SUBINDO A SERRA
Deixamos a cidade de lado começamos a subir indefinidamente pela BR-476. A pista era muito bem conservada, mas as “pinhas” das Araucárias espalhadas no asfalto, por causa da chuva que ainda caia, exigia cuidado extra. Com a subida da serra o fenômeno da neblina também passou a ser constante.
Em alguns trechos a neblina tapava toda nossa visão, e em outros mostrava imagens surreais, de beleza única. A estrada é escavada na pedra em muitos trechos e não permitia qualquer tipo de erro na condução da motocicleta. Quase resvalávamos nas paredes rochosas, nas curvas mais acentuadas.
Marcas de deslizamentos antigos podem ser vistas em todo o trajeto de subida, já protegidos por paredes em pedra. No entanto haviam alguns pontos com deslizamentos atuais, que estavam sendo contidos com máquinas na pista e cones de segurança.
Nesse trecho da aventura cruzamos com muitos motociclistas que faziam o percurso inverso, vindo do Paraná em direção de São Paulo. Dava para sentir que desciam felizes pela “Serpente”, quase sempre em grupos de duas ou três motos.
A chuva forte deu uma trégua, mas uma garoa fina persistiu por algum tempo durante a subida. Alguns carros amargavam defeito ou pneu furado e era possível vê-los parados no meio da rodovia. O pior era ver a “confraternização em família” no meio da pista, colocando a eles próprios e aos outros em sérios riscos.
TUNAS DO PARANÁ
Saímos de Ribeira, a 160m de altitude, e chegávamos agora em Tunas do Paraná, a quase 900m acima do nível do mar. Depois de mais de 600 metros morro acima e com o clima ainda bastante instável, o cenário visto em Tunas convidou-nos a parar.
Tunas do Paraná é um ponto estratégico para quem percorre a Serra do Rastro da Serpente, vindo de São Paulo. Por questões logísticas, muitos aventureiros pernoitam nessa cidade para não enfrentarem o caos do trânsito em Curitiba, sempre no fim de tarde.
Também é em Tunas que muitos aventureiros abastecem suas motos e se alimentam, contando com isso como Posto e Restaurante Straub. Os que pernoitam costumam usar do Hotel Straub, com mais de 50 anos de tradição.
SEGUINDO A VIAGEM
Os quilômetros foram ficando para trás sob as rodas da valente Drag Star. A chuva definitivamente parou e o sol deu o ar da graça no resto do trajeto. Pilotar estava mais gostoso. A altitude era por volta dos 900m, porém sempre subindo e descendo, estrada afora. As curvas, cada vez mais imponentes, nos acompanhariam ainda por muitos quilômetros.
Esse trecho entre Tunas do Paraná e Bocaiuva do Sul tem cerca de 35 kms. A pista era boa, mas ora tinha muitos remendos, ora estava em processo de recapeamento quando passamos.
Nessa fase final da jornada o glamour do passeio estava ficando desgastado: Ainda bem que pernoitamos em Tunas do Paraná conforme contamos ao amigo leitor na matéria que fizemos sobre a cidade. Como Curitiba já estava próxima, o trânsito ficava cada vez mais intenso e nervoso.
EM BOCAIUVA DO SUL
Bocaiuva do Sul está a quase 1000m de altitude e, sediada perto de Curitiba, acaba sendo uma autêntica cidade satélite ca capital paranaense, como temos nas adjacências das principais capitais e cidades grandes. A BR-476 passa exatamente em sua parte central.
São pouco mais de 11 mil habitantes concentrados em algumas ruas, já que sua economia está basicamente centrada na área rural. A exploração de minérios como o chumbo, prata, pedra, ferro, mármore, argila, cobre, cal e barita; assim coma a madeireira e a agropecuária, predominam no município. A parte industrial é ainda incipiente.
Pelo que se percebe o comércio do local depende muito dos usuários da BR-476, chamada na parte urbana da cidade como “Estrada do Ribeira”. Proliferam, no perímetro urbano da BR, muitos postos de combustíveis, borracharias, mecânicas de autos e caminhões, etc, bem como lojas de artigos diversos.
A Matriz de Santo Antonio de Pádua fica numa bonita praça na região central da cidade e é um convite para visitarmos, já que acoplada a um ginásio de esportes, a um pequeno parque arborizado e a um playground.
A Igreja é bastante ampla, ostentando duas torres com dois relógios. A pena é que ambos não funcionam corretamente e cada qual marcava as horas ao seu tempo. Como dizem por lá: “Mais valeria um relógio funcionando, que dois quebrados!”.
O ÚLTIMO TRECHO
Deixamos Bocaiuva do Sul e retomamos à BR-476, agora já com ares de periferia de cidade grande. Embora persistissem as curvas da “Serpente”, estávamos próximo de seu “rabo”, logo, com muita agitação. A tranquilidade da viagem passou a ceder espaço a tensão. Habitações a beira da estrada, indústrias e saída de bairros passaram a despejar na pista motoristas e veículos de todo tipo.
Evidente que já conhecemos bem isso aqui em São Paulo, mas ficamos desacostumados durante a viagem, até então calma e sossegada. Aqui era um que entrava com o caminhão na pista sem avisar, ali um “chevetinho envenenado” queria ultrapassar-nos a toda velocidade; lá na frente era um “busão” com uma fila de pessoas atravessando a pista sem olhar…
Ufa! Colombo está a vista e a aventura estava terminando. Ainda bem que não passamos por isso no final da tarde: seria trágico. Colombo é uma cidade anexa a Curitiba, uma espécie de Osasco em relação a São Paulo.
A “estradinha” de outrora, com pista única encravada na pedra, dava lugar agora a avenidas imensas, com várias pistas em cada direção. Colombo, em si, fica um tanto retraída mas um de seus “braços” faz parte da grande metrópole, com a qual existe conurbação.
Demos uma paradinha básica para repor (e depor) líquidos em nosso organismo e seguimos viagem, agora nos corredores entre os carros. Ufa! Há quanto tempo não fazíamos isso mesmo?
A BR-476 tem seu fim exatamente na confluência com a BR-116, na rotatória de Atuba, já na cidade de Curitiba. Agora era percorrer as imensas avenidas da grande metrópole a procura dos atrativos que a cidade oferece.
Em Curitiba parece não se dar o devido valor à essa rota fantástica. Se tivemos uma boa acolhida em Capão Bonito, no início do trajeto, o mesmo acontecendo em Apiaí, onde a cidade respira ares da “Serpente”, a recepção em Curitiba é praticamente inexistente. Não conhecemos um só lugar que ouvissem falar do Rastro da Serpente, a não ser alguns boatos equivocados.
CONCLUSÃO
01-A avaliação final sobre Projeto Serpente, desde a primeira parte, foi bastante positiva. É plenamente possível cumprir o percurso total num bate e fica de final de semana, embora nós tenhamos usado muitos dias para completarmos as matérias que pretendíamos trazer à você.
02-Como sugestão àqueles que partem de São Paulo, a dica é sair bem cedo. O início do roteiro fica em Capão Bonito (230 km de SP) e, dependendo de sua moto e estilo de pilotagem, pode levar quase 3 horas para chegar.
03-Em Capão Bonito você poderá esperar amigos se recompor para a viagem. Lá se colhe as informações que precisam para a aventura que se inicia; se dá um check-up na moto, abastece, etc. Até Apiaí serão mais 100 km de muitas curvas e, se for muito rápido perderá a beleza do lugar e estará sujeito a algum acidente.
04-Em Apiaí não esqueça da foto tradicional na placa da “Serpente”, no Morro do Ouro. Aproveite para conhecer a Casa do Artesão, do outro lado da pista e recheie os alforjes de guloseimas. O figo cristalizado coberto com chocolate é divino.
05-A rodovia passa pelo centro da cidade, uma boa hora para fazer as pazes com o estômago e de maneira bastante satisfatória. Há o Grego, em frente da antiga placa da Serpente. Procure pela Helena.
06-Se resolver passar a noite na cidade de Apiaí, você poderá curtir momentos incríveis na Tuk’ s Cantina, com um ambiente aconchegante e um serviço de primeira, sem falar na comida deliciosa.
07-A partir de Apiaí a rodovia fica mais interessante e, consequentemente, mais perigosa. Até Ribeira você encontrará muitas curvas e pista quase sempre úmida ou com neblina. Essa região serrana costuma ser assim. Todo cuidado ao pilotar.
08-Numa tocada tranquila você provavelmente chegará em Ribeira por volta das 14 as 15 horas. Atravessar a fronteira com o Paraná são “dois palitos”. Agora será só subida, 600m morro acima. Curvas e mais curvas, paisagens lindíssimas e, possivelmente, neblina.
09-No alto da serra está a cidade de Tunas do Paraná. Uma parada para esticar as pernas, abastecer, comer algo, etc. sempre vem a calhar. Levando em conta que faltam apenas 70 km para Curitiba, em trecho mais tenso, pode ser conveniente pernoitar aqui.
10-Aproveite para explorar o local e se instale no Hotel Straub. Vá acostumando com esse nome, os Straubs são tradicionais há mais de 50 anos em Tunas. Cuide agora de guardar a moto, tomar um banho, curtir um bom jantar e descansar para o dia seguinte, que vai ser fatigante.
11-O trecho seguinte da aventura parece perder um pouco do seu encanto e o piloto deve se preocupar mais com a condução da moto que com a paisagem. Qualquer erro pode ser fatal, ainda mais que esse trecho é mais movimentado e tenso.
12-Se recomeçar o trajeto bem cedo poderá estar em Curitiba pouco depois das 8 horas da manhã, suficiente para uma visitinha no Jardim Botânico ou outro lugar qualquer e tratar do trajeto de volta. É conveniente não voltar depois das 11h da manhã.
13-O retorno pode ser feito rapidamente pela BR-116 e, seguindo este roteiro, você poderá estar em Sampa no finalzinho da tarde ou começo da noite, com previsão para paradas para almoço e descanso pelo caminho.
14-Essa sugestão, evidentemente, pode variar de acordo com a disposição de cada um, com o tipo e o tamanho da moto que se usa, ou se está com ou sem garupa. Adapte-o ao seu modo e dome a “Serpente” do seu jeito.
15-O Certificado Oficial de conclusão do trajeto pode ser adquirido no Posto BR, em Apiaí. Trata-se de um lindo diploma, em papel especial, que certamente lhe trará boas recordações dessa magnífica aventura.
Com esta matéria exclusiva o Portal D Moto deseja à você todas as alegrias que tivemos durante esse percurso da Serra do Rastro da Serpente, especialmente da simpatia dos amigos que fizemos nesses dias todos de jornada, que com certeza passarão a serem seus amigos também.
VÍDEO DO TRAJETO APAÍ / CURITIBA
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
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POUSADA DIVA – PETAR – Iporanga
HOTEL STRAUB – Tunas do Paraná
Marcos, obrigado pelas dicas, depois de passar alguns meses paquerando sua pagina, criei coragem, chamei um amigo e fomos de XL250r. O Rastro da Serpente é sem dúvida o sonho de qualquer motociclista! Grande abraço!
Em primeiro lugar agradecemos por curtir o nosso Portal D Moto. Quanto ao passeio o lugar é mesmo fantástico. Passamos mais uma vez pelo Rastro da Serpente há dez dias atrás (16/06/17) e existem muitas obras entre Capão Bonito e Apiaí, e várias outras já no estado do Paraná, obrigando aquele famoso rodízio do SIGA/PARE. Pelo menos fizemos boas amizades em todas essas paradas.
Esse site é nota dez. Descobri a pouco.
Sou gaúcho ora residente em Indaiatuba-SP, e conheço quase nada sobre o estado de SP.
As dicas aqui são fundamentais para um bom passeio.
Parabéns.
Bom dia Lauro. Ficamos felizes por você ter gostado de nosso Portal e esperamos que também goste de nossas imagens e vídeos que estão distribuídos pelas matérias que publicamos.
Olá. Parabéns pelo capricho dos posts, com tanta informação, vídeos e fotos. Estou planejando uma visita a Nova Campina e o blog de vocês foi fundamental. Continuem divulgando os belos cânions do Brasil.
Agradecemos os elogios. São eles que nos motivam à irmos em frente, longe dos modismos e trivialidades que o mundo atual nos oferece.
Parabéns pela “leveza” da matéria…dá vontade de subir na moto imediatamente…rsrs.. pretendo, semana que vem, conhecer esse paraíso…há alguma notícia mais atualizada sobre as condições das estradas por lá? costumo fazer esse tipo de viagem solo para relaxar bastante, de modo que deverei sair de SP as 4 da manhã para chegar em Apiá bem cedo, por isso a curiosidade sobre a estrada…. muito obrigado. forte abraço.
Valeu pelo comentário Fernando e desculpe a demora, pois tivemos problemas com o servidor. Quanto a viagem fique sossegado. Para nós motociclistas não há tempo ruim e uma viagem desse porte sempre (sempre mesmo) tem seus imprevistos, o que é sempre esperado por aqueles que amam as estradas, principalmente pilotando, pois aumenta a aventura que nos faz vivos. Como muito tempo já passou, acredito que você já cumpriu sua meta e gostaríamos que pudesse relatar um pouco dela por aqui.