Foi mesmo um “passeio de rei” pelas águas calmas da Represa de Jurumirim, que banha dez cidades no centro-sul do Estado de São Paulo. A Poderosa B. King foi conferir seu volume de água, que chega a quatro vezes o da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro.
Num trocadilho poderíamos dizer que o final de semana prolongado foi a “gota d´água” para o início desta aventura em duas rodas, ao imenso mar de água doce construído pelo homem como garantia de sua sobrevivência e de boa parte da natureza que o envolve.
A moto escolhida foi um verdadeiro rei: a imensa Suzuki B-King. O roteiro começou pela Rodovia Castelo Branco e logo deixamos a capital paulista sob muita chuva, que foi diminuindo gradativamente até nossa primeira parada: a cidade de Torre de Pedra/SP.
Por causa da chuva tivemos que regular a moto na configuração “B”, evitando eventuais escorregões com sua tração forte e com a falta de um freio ABS, que cairia como uma luva naquela máquina potente e pesada.
A ideia era conhecer a famosa formação rochosa em forma de torre, antes de seguirmos a viagem programada. A dúvida seria chegar até o local, já que fica na área rural da cidade e a B. King não tem a menor vocação para ser conduzida na lama. Não tinha, pois acabou tendo.
TORRE DE PEDRA/SP
A cidade é minúscula e tem menos de 2.500 habitantes, embora se situe praticamente na beira da Castelo Brando, a menos de 40 km de Tatuí. A baixa população, por sua vez, faz com que todos os habitantes se conheçam e recebam o turista com bastante alegria e atenção especial.
O que não nos faltou por lá foi “orientadores”. Embora não se entendessem muito entre eles mesmos no melhor caminho que deveríamos seguir, o certo é que queriam de toda forma ajudar e, se tivéssemos espaço na moto, certamente nos guiariam pessoalmente.
Seguimos o “melhor conselho” desenhado num saquinho de compras rasgado, escrito com lápis de cera. Parecia um “mapa do tesouro”, mas chegamos até lá. Passamos pelo cemitério, entremos na bifurcação à esquerda, já em caminho de terra….
Estávamos certo quanto ao piso escorregadio e a lama. Felizmente foram poucos os trechos com esses empecilhos, já que boa parte do caminho estava coberto com cascalho. Depois do “mata-burros” a pista melhorou e chegamos.
Se a visão já era magnífica antes de chegarmos lá, no pé da torre tudo se intensificou, fazendo contrastar a beleza natural da rocha com a grandiosidade das linhas generosas da gigante B King, com suas 1.340cc.
Uma garoa fina nos tirou do êxtase e nos fez retornar com urgência. Tudo que não queríamos naquela hora era chuva. Certamente não conseguiríamos voltar com aquela moto ao centro da cidade, sob o aguaceiro que estava se formando.
Voltamos ligeiros e em poucos minutos já estávamos na praça principal, de onde saímos, em busca de uma torneira com mangueira para “lavarmos” a lama grudada na moto, antes que endurecesse e, em seguida, um lugar para que pudéssemos almoçar com sossego.
Encontrar como lavar a moto foi fácil, mas o local para almoço estamos ainda aguardando. O que nos salvou foi a única e bem montada padaria. Misto quente com água de coco de caixinha foi nossa refeição. A chuva anunciada felizmente não caiu.
Estomago cheio deixamos a cidade conduzindo a motocicleta pelo trânsito caótico do centro de Torre de Pedra. Como assim??? Isso mesmo. Dividíamos a única rua principal com cavalos, galinhas, cachorros, gatos, charretes, pick-ups, caminhões, tratores…e gente. Tudo isso exatamente em frente da Igreja Matriz.
O local é simples, com pouca estrutura, mas existem algumas pousadas rústicas e campings que atendem ao turista de aventura para as escaladas, montanhismo, trekking, rapel e outros esportes radicais que pretenda junto da natureza.
Já se passava das 14h quando retomamos o curso de nossa viagem. Deixamos Torre de Pedra rumo a Paranapanema e o faríamos, agora, pela Raposo Tavares. Ao invés de seguirmos em frente, retornamos alguns km pela Castelo Branco em direção de Guareí e Tupi, para então chegarmos ao nosso destino.
PARANAPANEMA/SP
Por volta das 16 horas chegamos em Paranapanema sem nenhuma pressa, aproveitando para uma paradinha rápida nessas duas localidades. Até Torre de Pedra rodamos cerca de 170 Km. e agora mas 130km. A média de consumo girou em torno de 16k/l na posição “B” e com velocidade moderada.
Paranapanema também é uma cidade pequena, porém tem uma população maior que Torre de Pedra, com pouco mais de 19mil habitantes e é muito bem desenhada, com ruas bem esquadrejadas, largas e limpas. O Portal da cidade é uma beleza à parte, mas um tanto abandonado.
É um dos poucos municípios paulistas considerados estâncias turísticas, muito embora o turismo local se restrinja mais aos esportes na represa que propriamente na cidade, que pouco tem de atrativa ao turista.
O que realmente impera na região é a lavoura e a “plantação de condomínios”, o que é facilitado com a legislação permissiva, já que todos eles estão às margens da grande represa, obstando cada vez mais o acesso aos agricultores. De suas luxuosas casas, muitos ancoradouros se destacam.
Nunca devemos esquecer que a própria São Paulo já foi tida como a cidade onde jamais faltaria água, com suas reservas da Cantareira, nascente do Tietê e, posteriormente com as represas Billings e Guarapiranga. A fartura do lugar vem do represamento, mas a “produção da água” depende do Rio Paranapanema que, se não cuidado, poderá levar a região a enfrentar uma seca sem precedentes.
São poucas as pousadas no centro da cidade e todas elas dão ênfase ao turista-trabalhador. Não entendeu? A maioria delas mantem convênios com os colhedores de melancia e outras safras da região e estão quase sempre lotadas. Porém são acolhedoras com todos os hospedes.
O maior hotel da cidade é do tipo clássico, mas esse não tem nenhuma afinidade com o turista propriamente dito. Há outro hotel junto ao Posto de Gasolina, mas não é o que esperávamos para aquela viagem, pois é mais indicado para caminhoneiros e viajantes em trabalho.
Embora preferíssemos a estrutura do hotel no centro, optamos pelo calor humano de uma pequena pousada próximo da represa que nos acolheu com bastante carinho. O final da tarde, agora com algum sol, nos fez cair na pequena piscina do lugar com bastante vontade.
Para quem quiser desfrutar de melhores acomodações para pernoite, o melhor é seguir pela Raposo Tavares até o Sta. Cristina, ou achar algum bom hotel em Holambra II, um paraíso que fica a poucos km da cidade. Nesses lugares não há como não se sentir em casa.
O sábado amanheceu ensolarado e fomos ligeiro conhecer o que nos interessava por lá: a represa. Com quase 100km de comprimento e algumas dezenas de Km de largura, fácil perceber que existem muito mais de 250km de costas à serem exploradas. Paranapanema retém sozinha 1/5 de sua área, o que confere à cidade grande atrativo turístico no campo dos esportes aquáticos.
A ILHA DO SOL
Prova de tudo disso é a atraente praia fluvial “Ilha do Sol”. A ilha, que não é ilha, fica a 7km do centro da cidade e mantém uma estrutura eficiente, embora um pouco abandonada. Nela foi erguido banheiro público com chuveiros quentes, assim como campos de futebol, vôlei e rampa para embarcações.
O amanhecer e o pôr do sol por lá são de tirar o fôlego. Algumas marinas dividem o lugar e hospedam embarcações de diversos tamanhos. Nas épocas de férias e de verão é comum vermos as águas repletas de lanchas, veleiros, jet-ski, canoas, etc.
Nessas ocasiões o turista pode até alugar um barco, ou mesmo garantir um espaço num desses veículos aquáticos, e desfrutar um pouco da beleza do lugar. A pesca não é das melhores opções, afinal a palavra “paranapanema”, em tupy, significa “rio sem peixe.
Embora a beleza da cidade, poucos são os lugares ideais para um bom almoço ou jantar, restando apenas alguns pontos isolados na Ilha para um suco ou petiscos. Achamos pela região um barzinho que nos serviu uma deliciosa “parmegiana de tilápia”. Divina.
Passamos todo o sábado curtindo as praias de água doce e indo e vindo com a B-king até a cidade, para almoço, lanches, etc., e mesmo durante o anoitecer ficamos em volta da represa vendo o sol se por suavemente.
A VOLTA
Ao amanhecer arrumamos a pouca tralha sobre a moto e deixamos a pousada rumo a Ilha do Sol. Calma, não é que ficamos viciados na ilha, mas ela era, agora, o início do nosso caminho de volta, já que dela parte uma balsa com destino a outra margem da represa, onde temos acesso direto à Rod. Castelo Branco e viajaremos bem mais rápido que na nossa vinda.
No entanto não vá esperando encontrar um ancoradouro, bilheteria ou coisa que o valha, já que a balsa encosta no terrão mesmo. Tem que subir “na raça”, bobeou a moto afunda n´água. Ela parte da Ilha sempre nas “meia horas” (12:30,14:30, 15:30, etc.). O trajeto oposto ocorre nas horas cheias. São cerca de 20 minutos de uma travessia que realmente nos encanta. .
Um trecho estreito e sinuoso liga a represa a Castelo Branco, passando antes quase por dentro de Itatinga. É preciso tomar muito cuidado nos primeiros kms depois da balsa. Uma vez que o acesso é quase exclusivo para o ferry boat, as pessoas abusam na velocidade de maneira absurda. Se puder seja o último a deixar a balsa, e nunca o primeiro.
Já pela Castelo Branco e em tarde ensolarada, a B King mostrou seu valor. Embora não tenhamos ultrapassado os limites de velocidades de uma maneira geral, em alguns trechos específicos fizemos questão de verificar sua potência. Espantosa!
Agora configurada no modo “A” e viajando “com as rodas soltas”, o consumo da gigantesca moto despencou de vez, atingindo 11/k/l. Se o alto desempenho tem seu preço, curtir um bólido desses numa das estradas mais equipadas do país, com pistas largas e bem pavimentadas, não tem preço que pague.
O ruim era pensar que algumas horas mais tarde estaríamos respirando fumaça por todo lado em SP, o que aconteceu em pouco tempo, com a moto contornando o “cebolão”, toda imponente. Sob o capacete mil projetos de viagens futuras por esse nosso imenso Brasil fervilhavam em nossas mentes.
Que venham outros feriados! Que venham outras aventuras!
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
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sou de paranapanema-sp, agora moro na cidade vizinha avaré-sp, estive la esse final de semana, é uma pena os prefeitos não investir na ilha do sol, daria um bom lugar pra descanso e lazer já que a cidade não oferece isso
Realmente é uma pena, o lugar é fantástico.