24/02/2023
Vila Rica de N. S. do Pilar de Ouro Preto, atual Ouro Preto, é a cidade que apresentamos com satisfação no encerramento deste mês de fevereiro, junto com todo o material que temos recolhido dedicadamente ao longo desses últimos anos, em várias viagens feitas até lá. Esperamos que gostem.
HISTÓRIA
Vila Rica foi fundada em 1711, a partir da fusão de vários arraiais das imediações, tendo como fundadores oficiais os bandeirantes paulistas Antônio Dias de Oliveira e João de Faria Fialho, este último também padre, ao darem início ao Arraial Padre Farias, que se tornou posteriormente a sede do município, agregando os demais arraiais que ora são os muitos distritos da cidade.
Mais de trezentos anos se passaram e nenhum outro município brasileiro acumulou tantos feitos históricos e relevantes à construção da memória nacional como este, conforme tentaremos narrar da melhor forma possível nesta pequena matéria jornalística.
Compõe atualmente o município de Ouro Preto, além da conhecidíssima sede, outros doze distritos igualmente conhecidos e recheados de feitos históricos, quais sejam: Amarantina, Rodrigo Silva, Antônio Pereira, Cachoeira do Campo, Engenheiro Correia, Glaura, Lavras Novas, Miguel Burnier, Santa Rita de Ouro Preto, Santo Antônio do Leite, Santo Antônio do Salto e São Bartolomeu.
Ouro Preto foi a cidade mais populosa da América Latina no ano de 1730, com população estimada em 40 mil pessoas, contingente esse dobrado na segunda metade daquele mesmo século, passando a ser a mais populosa das Américas, vez que Nova York manteve nesses tempos os mesmos 40 mil habitantes, e São Paulo menos de 8 mil.
Em 1933 foi considerada patrimônio estadual das Minas Gerais, recebendo título de monumento nacional em 1938 e, também recebendo a honra de ser considerada patrimônio mundial em 1980, condecoração essa feita pela UNESCO.
Com a fusão dos diversos arraiais a localidade passou a se chamar Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto.
Durante sua existência como Vila Rica a cidade participou ativamente em vários movimentos históricos nacionalistas, como a Revolta de Vila Rica, ocorrida pelos anos de 1720, que culminou com a morte em praça pública do líder Felipe dos Santos, seguida da execução de pessoas e incêndio de casas, decretada pelo Conde de Assumar, incluindo as de Pascoal da Silva Guimarães e dos participantes da Sedição de 1720, todos queimados vivos no Morro do Ouro Podre, que só posteriormente veio a se chamar Morro da Queimada.
Foi lá mesmo em Ouro Preto que se deu, anos depois, a revolta intitulada Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira, que foi um movimento iniciado por volta de 1785, com objetivo de separar o Brasil de Portugal, debelado em 1789 por causa da delação de Joaquim Silvério dos Reis.
Os objetivos principais da conjuração eram: proclamar uma República independente; criar universidades e industrias; promover e abolição das dívidas junto a Fazenda Real Portuguesa; e incrementar a política nacional, inexistente até então.
A abolição dos escravos estava em segundo plano, pois os inconfidentes precisavam deles para o levante e tinham medo que se debandassem uma vez libertos de pronto, prejudicando os planos do levante.
Com o passar do tempo e após a independência do Brasil, a cidade recebeu em 1823 o título de Imperial Cidade, passando a ser a capital da província das Minas Gerais, com o nome de Ouro Preto.
Entretanto, nos anos finais do século 19 Belo Horizonte, antiga Curral del Rei, passou a ter a primazia de sediar a capital mineira, provocando um esvaziamento rápido na antiga Vila Rica, que perdeu quase metade de seus habitantes, fato que acabou por inibir seu crescimento nas décadas seguintes.
Tal esvaziamento de pessoas, que se imaginava um problema sério para Ouro Preto, acabou contribuindo para a preservação de todo seu patrimônio arquitetônico, coisa que certamente não ocorreria se persistissem as necessárias modernizações que uma capital de estado precisa.
A história completa de Ouro Preto, entretanto, não deve se prender nas singelezas das linhas que aqui traçamos e, para ser bem compreendida, muitos estudos e dedicação no seu aprendizado são necessários, incluindo visitas in loco, que são de suma importância para o avultamento desses conhecimentos novos que desejamos conquistar.
Que nossa pequena matéria possa trazer luz ao amigo leitor e incentivo no desbravamento de mais essa aventura no rumo do aperfeiçoamento cultural, sendo certo que cidade de Ouro Preto deve ocupar lugar de destaque nessa empreitada.
RODANDO NAS RUAS DE OURO PRETO
A MINERAÇÃO
A mineração na cidade de Ouro Preto foi mesmo a causa de sua fundação e, obviamente, está implícita em seu DNA.
Povoada já nas duas últimas décadas dos anos 1600, teve na picareta afiada o sinal de seu nascimento, com a missão de, desde o período embrionário, ser autossuficiente em termos de produção mineral.
Considerada uma das principais fontes do ciclo do ouro da colônia, chegou a enviar oficialmente 800 toneladas desse minério para Portugal, somente no século 18, sem contarmos com os envios provenientes de inúmeras outras cidades brasileiras e lembrando que apenas 1/5 da produção nacional era mandada além mar.
Se formos mencionar, ainda, o quanto foi produzido nos séculos 17, 19 e 20, e o que tem sido produzido no século atual e do montante representado pelos desvios e contrabandos realizados por mineradores e pela igreja desde aqueles áureos tempos, dá para imaginar a fortuna que estava enterrada sob nossos pés e o quanto ainda existe para ser explorado.
Vale aqui relembrar, também, os vários garimpos contemporâneos no Brasil, que enriquecem absurdamente uma pequena porção de empresários, levando para a miséria, para a morte e para as doenças incuráveis a esmagadora maioria dos garimpeiros artesanais, nos moldes do que hoje acontece em terras indígenas, no norte do país.
A designação de “Ouro Preto” para a localidade que estamos estudando era devido a uma característica especial do mineral lá encontrado na época, já que o ouro tinha aspecto escurecido, dado a uma camada de óxido de ferro comum na região, que dava essa tonalidade escura ao minério.
No caso de Ouro Preto a febre do ouro praticamente se avolumou a partir do ano de 1710, estimulando muitos a deixarem suas terras, suas cidades e seus afazeres, para se embrenharem nos ásperos caminhos para Vila Rica sem darem conta do contingente de pessoas lá já acumuladas, assim como das precárias condições oferecidas e da carestia das despesas, típicas dessas regiões de garimpos.
Acrescenta-se a tais martírios “naturais” do empreendimento, outros enfrentados pelos milhares de mineradores que lá estiveram cavando a cidade em ramificações mil, a maneira dos ratos em seus covis na busca do precioso metal, que atraiam para si os predadores também “naturais”: ladrões, assassinos, índios descontentes, pestes, fiscalização corrupta que sempre existiu, traição, guerras pelos espaços e assim por diante.
O declínio da mineração artesanal, como se vinha fazendo então em todo o Brasil, começou dar ar das graças em meados do século 18, fazendo com que a Coroa Portuguesa arrochasse o cerco contra os mineradores, em busca de maior produção e impostos, o que aumentou a pressão fazendo eclodir muitas revoltas e punições bárbaras, que se estenderam até próximo da independência do Brasil, em 1822.
CHEGANDO EM OURO PRETO DE 4X4
Nos dias atuais Ouro Preto ainda depende muito as indústrias metalúrgicas e das mineradoras instaladas no município, que continuam escarafunchando seu subsolo em busca de reservas minerais consistentes em ferro, bauxita, manganês, talco, mármore, hematita, dolomita, turmalina, pirita, muscovita, topázio, topázio imperial e….ouro, ainda o ouro, e basta dar uma olhada via satélite na cidade e em seus distritos, para termos uma visão mais exata.
O TURISMO
Deixando de lado os metais preciosos, temos que Ouro Preto é um verdadeiro museu a céu aberto e o turismo tem alavancado as economias municipais, não só com os milhares visitantes que a cidade recebe anualmente, mas também com os estudantes oriundos de todas as partes da federação, que cursam grau principalmente na importante Universidade Federal de Ouro Preto ou no Instituto Federal de Minas Gerais, sediados na área urbana da cidade.
O ecoturismo também tem papel importante na economia local, vez possuir o município complexo ecossistema em seu entorno, representado por belas cachoeiras, trilhas seculares, florestas de mata atlântica nativa, parques estaduais, quase tudo interligado pelos caminhos do empreendimento intitulado Estrada Real, que durante o ano todo faz convergir para Ouro Preto e para boa parte das Minas Gerais, visitantes do Brasil e do mundo.
MINAS DE OURO
É comum ao turista tradicional se instalar primeiramente no centro histórico de cada cidade que visita e, desse ponto, rumar gradativamente para a periferia, passando então a conhecer melhor a localidade, seus pontos turísticos, seus parques, seus atrativos naturais e por aí vai.
Estar em Ouro Preto é diferente de tudo isso e é nesse ponto que o turista se espanta e chega até a perder a referência, principalmente quando um guia local oferece para os levar em uma ou duas minas de ouro.
A primeira impressão é deixar isso para depois e conhecer primeiro a cidade, seu perímetro urbano, etc., achando para tal empreitada precisará se deslocar talvez o dia todo, numa demorada ida e volta dessas tais minas, sem se aperceberem que as minas mais famosas estão exatamente ali mesmo, entre uma esquina e outra, embaixo de uma casa ou na garagem de outra.
Impressionado? Porém, é isso mesmo. Vejamos assim: casa, casa, sobrado, casa, casa, MINA, casa, sobrado, casa… e por aí vai, na muvuca do centro histórico mesmo.
Acha que é uma “minazinha” qualquer de meio metro terra adentro? Que nada! Experimente visitar as Minas de Chico Rei ou a do Palácio Velho, que estão quase ao lado da Matriz da Conceição; as Minas do JeJe, na Rua Chico Rei, Alto da Cruz; as Minas Santa Rita, na Rua Santa Rita, ou uma das 170 outras catalogadas na cidade, e descobrirão um verdadeiro mundo novo, exatamente sob seus pés.
Dias atrás (09/01/23) um morador foi surpreendido com uma mina de ouro exatamente embaixo de sua casa, depois de um desmoronamento provocado pelas chuvas. O local fica no bairro Alto da Cruz, nas imediações da Mina Felipe dos Santos.
CENTRO HISTÓRICO
O que o turista pode apreciar no centro histórico de Ouro Preto? Tudo, absolutamente tudo. Aliás, Ouro Preto é uma cidade sui generis e “não tem um centro histórico delimitado“, já que ela é toda histórica.
Desde a praça principal (Praça Tiradentes), até a periferia, toda cidade é histórica e podemos encontrar em todos os bairros, ainda que distantes, casarões dos tempos coloniais, assim como chafarizes diversos, muitos ricamente ornamentados por artistas famosos, incluindo alguns de Aleijadinho.
Em todos os lugares vamos encontrar graciosas pontes de pedras, sempre com um crucifixo fixado numa das bordas, transpondo algum fio d´água e embelezando ainda mais a cidade.
A cada curva encontraremos um casario histórico que pertenceu a alguma personalidade ilustre de nossa história, na certeza que como nós pelo menos passaram por eles ou os visitaram inúmeras vezes.
Não se perde de ver as belezas nem mesmo nos calçamentos públicos, muitos ainda intocados, fazendo-nos imaginar o dia a dia daquele povo culto e endinheirado que vivia naqueles ricos casarões, tendo que se locomover a pé para os lugares de agrado, de bengala em mãos, fraque e cartola (no caso o usual tricórnio) .
E tais passeios para lá e para cá eram constantes da nobreza local, posto não existirem entretenimentos naqueles tempos que não fossem os saraus nas casas dos amigos ou, raramente, as peças teatrais apresentadas na Casa da Ópera, em frente da Igreja do Carmo e o mais antigo da América Latina ainda em atividade.
Bom lembrar que essas tertúlias, tão comuns e necessárias naquelas épocas, muitas vezes ocorriam longe da Vila Rica cheia de requintes, mas em cidades e localidades diferentes, no caso em fazendas em São João Del Rei, Diamantina, etc., e era quase uma obrigação dos nobres se dirigirem para tais eventos e lá permanecerem por alguns dias.
Assim, quando olhamos demoradamente a topografia extremamente acidentada de Ouro Preto, e o tipo do piso que poderia existir no passado, principalmente nas estradas ainda em terra, passamos melhor a entender a história daqueles tempos, desfraldada agora em nossa frente.
Somente depois do esvaziamento da cidade, com a mudança da sede da capital para Belo Horizonte, é que as igrejas, concebidas sob a égide da arte barroca e rococó, assim como o típico casario colonial, voltaram a ter evidência positiva em nossa cultura, reapresentadas que foram ao público a partir do movimento modernista de 1922.
Foi a partir dessa época que as obras de Mestre Lisboa (Aleijadinho) e de Mestre Ataíde passaram a ser vistas como o despertar de artes culturais genuinamente brasileiras, que culminou com o tombamento da cidade tempos depois, como monumento nacional e patrimônio estadual.
Mais recentemente, no ano de 2005, a cidade alterou o lema inscrito na sua bandeira original e que dizia: PROETIOSVM TAMEM NIGRVM (Precioso, ainda que negro), se referindo a tonalidade do ouro local, mas, de forma a coibir qualquer insinuação racista que pudesse ensejar a frase, substituindo o texto para: PROETIOSVM AVRVM NIGRVM (Precioso Ouro Negro)
A preocupação da gestão pública desde o começo da década de 2010 tem sido a conservação do patrimônio, dado ao grande número de turistas e das atividades de mineração ainda em curso na cidade ao que completamos de nossa parte dizendo que o nosso turista ainda é majoritariamente predador e, de maneira geral, não gosta de colaborar com a preservação de nada, descuidados que estamos desse tipo de educação em nossos lares e centros de ensino. (Pronto, falei)
NAS RUAS ESTREITAS DE OURO PRETO
Há estudos sérios e atualíssimos apontando que há mais de trezentas áreas de riscos geológicos na cidade e que quase mil domicílios estão em risco, evidentemente pondo em polvorosa a administração pública.
Vide o exemplo do belo casarão (Solar Baeta Neves), nas proximidades da Estação Ferroviário, cujo fundo do Morro da Forca desabou sobre ele em 13/01/2022, que ainda aparece em nossos vídeos, e da mina que mencionamos a pouco.
TRILHA DO HORTO DOS CONTOS
É no centro histórico, ainda, que vamos encontrar um dos pontos de ecoturismo frequentado por turistas e moradores, desde os idos 1799, quando foi inaugurado.
Trata-se do Horto dos Contos, parque que foi o segundo Jardim Botânico criado no Brasil, numa área de 32 hectares de extensão e oferecendo 2,5 km de trilha em pleno centro histórico.
O percurso tem como extremo sul a Igreja Matriz do Pilar, com uma entrada ao seu lado direito, e como extremo oposto, agora na parte alta de Ouro Preto, a entrada que fica na Rua Padre Rolim, nas imediações da Estação Rodoviária.
A trilha que percorre toda a extensão do Parque Horto dos Contos tem uma entrada/saída central, bem ao lado da Casa dos Contos.
PALÁCIO DO GOVERNADOR
Localizado na ala norte da Praça Tiradentes, o palácio foi erguido sobre a antiga Casa da Fundição, encomendado em 1741 pelo então Governador Gomes Freire de Andrade ao arquiteto português Manuel Francisco Lisboa, pai do conhecidíssimo Aleijadinho.
O preço negociado para a obra foi de 40 mil cruzados e foi a primeira de Vila Rica construída em pedra e cal, materiais abundantes na região.
Ficou conhecido na época como Palácio Novo e, apesar de ter um caráter civil, o palácio apresentava vieses de uma verdadeira fortificação militar, com torres de vigias em seus extremos, paredes altas e reforçadas, etc.
O imóvel está tombado desde 1950 e abriga, atualmente, o Museu da Mineralogia da Universidade Federal de Ouro Preto.
MUSEU DA INCONFIDÊNCIA
O prédio onde hoje funciona o Museu da Inconfidência está sediado na ala sul da Praça Tiradentes e foi edificado entre os anos de 1785 e 1855, para ser a Câmara e a Cadeia de Ouro Preto.
Idealizada pelo então Governador Geral Luís da Cunha Meneses, a cadeia chegou abrigar muitos prisioneiros da coroa portuguesa, incluindo vários inconfidentes.
O museu, em si, foi inaugurado depois das adaptações feitas no prédio em 1944, com o objetivo de preservar, pesquisar e divulgar objetos e documentos relacionados a Inconfidência Mineira, que culminou com o banimento dos inconfidentes, a exceção de Tiradentes que foi enforcado no Rio de janeiro, em 21 de abril de 1792.
O acervo do museu contém mais de 4 mil itens, reunindo peças históricas e artísticas que formam um conjunto articulado de testemunhos culturais do período, refletindo a relação de Vila Rica com a conspiração.
No Panteão dos Inconfidentes podemos ver as lápides contendo os restos mortais de muitos inconfidentes, trasladados dos seus lugares de exílio para o Brasil, entre eles a do Desembargador, Inconfidente e Poeta Tomás Antônio Gonzaga, sobre o qual mencionaremos mais detalhes nesta matéria.
CASA DOS CONTOS
O casarão é a primeira edificação da Rua São José, identificado com os números 2 e 12, e foi construído entre os anos de 1782 a 1787 para ser a residência do contratador e cobrador de impostos João Rodrigues de Macedo.
Construído rígido como uma fortaleza, tem dois pavimentos acima do leito da rua e um no subsolo, que tem acesso ao lado da Ponte de São José, que cruza a Trilha do Horto como já mencionamos.
Serviu durante o ciclo do ouro não só como residência dos Macedo, mas como sede da Administração dos Contratos nas duas salas da entrada principal do prédio e, também, como cárcere para os inconfidentes, dentre eles Álvares Maciel, Luiz Vieira da Silva, Padre Rolim e Cláudio Manuel da Costa, este encontrado morto em sua cela, fato que gera muita especulação até os dias atuais.
Nos últimos anos do Brasil Colônia, especificamente nos anos de 1820 e 1821, houve uma reforma substancial em sua estruturação, passando então a funcionar nela a Casa de Fundição, que funcionava nas dependências do Palácio Novo.
Finalmente serviu para a Administração Pública da Capitania das Minas Gerais nos idos tempos, abrigando hoje o Centro de Estudos do Ciclo do Ouro; o Museu da Moeda e do Fisco; várias salas de exposições; além de ser acesso central ao Parque Horto dos Contos.
IGREJA MATRIZ DO PILAR
A mais rica, a mais bela, a mais ornamentada e a mais elegante igreja de Ouro Preto, era destinada exclusivamente a elite dominante da cidade e aos seus cidadãos mais destacados, desde que fossem brancos, sendo impedidos os negros, mulatos e mestiços de entrarem no templo, salvo na condição de zeladores ou serviçais, mesmo assim nunca durante uma missa.
A igreja fica um pouco mais recuada do que hoje chamamos de centro da cidade, sediada na sua parte baixa e no mesmo nível da linha férrea, encravada entre o casario sofisticado que impossibilita uma visão total de sua fachada.
A Basílica Nossa Senhora do Pilar é uma das edificações católicas mais conhecidas entre as que foram erguidas durante o ciclo do ouro, cuja construção foi iniciada pela nave principal, ao contrário do costume da época, quando se iniciava pela capela mor, de forma a preservar a capela original até sua conclusão.
A decoração levou mais vinte anos para ser terminada e, periodicamente, ocorreram obras necessárias para a manutenção da estrutura física do templo, as quais devem ser destacadas: o reparo urgente de uma torre, em 1781; a substituição de uma parede de taipa em 1825, já que desde 1818 ela ameaçava ruir; e o término do frontispício e torre do Evangelho, em 1848.
Seu interior é ornamentado com o trabalho de carpintaria creditado a Antônio da Silva e Antonio Francisco Pombal, irmão do pai de Aleijadinho, e dos trabalhos nos altares de São Miguel, dos Passos, do Rosário dos Pretos e de Sant’Anna, feitos entre 1733 e 1735, creditados a Manoel de Brito.
É indiscutível a beleza no interior do templo, principalmente nos entalhes e douramento impecável e grandioso e, no que tange especialmente ao altar de São Miguel, há de se aferir a intenção do artista na inclusão de um ser negro sob os pés e espada do arcanjo, principalmente numa época escravagista.
IGREJA MATRIZ DA CONCEIÇÃO
A Igreja Matriz e Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias está situada entre as ruas Conceição e Bernardo Vasconcelos, a quatro quadras em direção da Ponte de Antonio Dias, a partir da Praça Tiradentes.
O templo é um expressivo exemplar de arte e arquitetura sacra do período barroco e foi edificado a partir de 1726 pelo mestre Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho, sendo certo que ambos estão enterrados sob o altar dessa igreja.
A planta é de aspecto típico dessa época e foi concebida com corredores laterais e sacristia na transversal, ostentando um belo jardim, ornamentado com roseiras e disposto na parte frontal do templo.
Hoje está totalmente restaurada e pode receber visitas segundo o cronograma escolhido pelos responsáveis pelo templo.
IGREJA MATRIZ DE SANTA IFIGÊNIA
Outrora nomeada como Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da Capela da Cruz do Alto do Padre Faria, é de grande importância para o barroco mineiro, principalmente pelos acréscimos introduzidos da cultura afro brasileira.
Idealizada por membros negros libertos e cativos, que confraternizavam na Matriz da Conceição, deveria ser consagrada a Nossa Senhora do Rosário, mas acabou sendo mais conhecida pela sua segunda padroeira, Santa Ifigênia.
Sua construção teve início por volta de 1734 e foi finalizada cinquenta anos depois, dela participando vários artistas, o que resulta em soluções técnicas e ornamentais distintas ao longo da obra.
Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho), Manuel Francisco Lisboa (pai de Aleijadinho, Francisco Branco, Francisco Xavier de Brito, Manuel Gomes, Henrique Gomes de Brito, João Rocha e tantos outros fizeram parte da conclusão dos trabalhos.
A imagem de N. S. do Rosário na portada principal é da lavra de Aleijadinho, e o teto da capela mor foi adornado com a representação de um papa negro.
Ao longo do século 20 passou por inúmeras reformas, algumas até a descaracterizaram, pois não havia esse cuidado de hoje nas restaurações antigas, sem prejudicar a originalidade das obras.
Porém, a partir da década de 1960 foram realizadas algumas restaurações parciais pelo IPHAN, de forma a reajustar a sua originalidade.
IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Obra prima elaborada pelo Mestre Aleijadinho, a igreja de São Francisco é um marco a parte nas visitas a Ouro Preto e uma afronta seria não lhe dedicarmos mais espaço nesta matéria.
É mais que uma igreja, é um dos mais significativos monumentos da arte colonial do Brasil, construída no estilo barroco, mas com elementos decorativos em puro rococó.
Seu risco (projeto) é de Aleijadinho, que também trabalhou na fachada, nos relevos e na talha dourada, realizando pessoalmente muito do que lá existe, não obstante o trabalho de inúmeros outros artistas.
Na ornamentação encontramos, ainda, os trabalhos de Mestre Ataíde, o maior nome da pintura colonial brasileira, que decorou o teto da nave criando aquela que se tornou sua composição mais famosa, além de pintar outros painéis e dourar o altar mor.
Com tudo isso a igreja foi tombada pelo IPHAN e classificada como uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo e considerada patrimônio da humanidade.
Idealizada por membros da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, suas obras iniciaram por volta de 1765, arrematadas pelo mestre pedreiro Domingos Moreira de Oliveira, seguindo o projeto feito por Aleijadinho, que começou a trabalhar na ornamentação a partir de 1774, quando parte do templo já estava coberto. Note-se que a alvenaria completa só terminaria em 1794.
Oficialmente temos que a construção do templo, seus altares, arcadas e telhado, assim como todo o douramento e pinturas, foram encerradas por volta de 1812, a tempo de Mestre Lisboa ver a conclusão de sua obra prima, vez que desencarnou em Ouro Preto no ano de 1814.
As artes mais famosas do templo são: o frontispício, incluindo a escultura da portada e o escudo de São Francisco; o altar mor; o lavabo da sacristia; a pintura do teto da nave mãe; e o douramento.
O frontispício da Igreja de São Francisco de Assis é composto de um escudo sobre a portada da Igreja em formato esférico e emoldurado, seccionando o tema central como se fossem ladrilhos esculpidos, montando a imagem do santo de joelhos e com os braços voltados ao céu angélico, com os detalhes de seus estigmas da paixão.
Logo abaixo está a escultura da portada e, da mesma forma que o escudo, é feito com excelência, se harmonizando perfeitamente ao frontispício, considerado pelo historiador Germain Gazin como “surpreendente que a realização de uma perfeita obra em rococó português seja realizada no Brasil, e não em Portugal, e que venha de um mestiço”, referência a Aleijadinho por ser ele mulato e filho de escrava com português.
O lavabo que está na sacristia da igreja só é visitado por quem já sabe de sua existência, ou instado pelos guias turísticos mais ilustrados, pois, a princípio, parece uma peça nova instalada na sala.
E é exatamente aí que está o diferencial. Por não estar ao tempo como as demais obras do mestre, a peça parece intacta e recém esculpida, sem os sinais tradicionais do tempo, dos “registros das aves”, das quebras, etc., dando-nos a oportunidade única de analisarmos o trabalho de Aleijadinho, como se estivéssemos em seu ateliê.
A pintura do teto da nave mãe, da autoria de Mestre Ataíde, é simplesmente divina e nos concita a ficarmos ali por horas, divagando sobre cada um de seus detalhes.
Em tons pastéis destacando ao fundo um azul claro contundente, a representar o céu, impregna-nos em sentimento de paz e meditação as outras cores ocres amareladas da obra, como se estendêssemos ao infinito as dimensões físicas do espaço em que nos encontramos, numa trama que nos eleva ao firmamento.
O douramento nos entalhes é pontual e discreto, assim como as pinturas são suaves e alegres, deixando o aspecto barroco da estrutura externa do templo ser substituído pelo rococó de grande beleza e criatividade.
O ponto mais marcante é o altar mor com a imagem em primeiro plano de São Francisco de Assis, que parece planar sobre os fiéis, dado a tridimensionalidade conferido ao espaço, destacando a imagem de Nossa Senhora no alto e ao fundo do nicho principal.
O conjunto da obra criada no interior da igreja pode hoje ser melhor analisada pelos visitantes, já que a igreja disponibiliza luzes especiais em led, que não prejudicam a decoração e destacam cada detalhe, antes de difícil visualização.
IGREJA DO CARMO
Sua localização é de costas para o Museu dos Inconfidentes e bem próxima da Praça Tiradentes.
Tem sua entrada principal em frente ao Teatro de Ópera, na confluência das Ruas Brigadeiro Musqueira com Rua Costa Sena, e uma escadaria suplementar aos fundos, ao lado do Museu, de forma a facilitar o acesso aos fiéis e visitantes do templo.
Idealizada pelos irmãos da Ordem Terceira do Carmo do Rio de Janeiro, que passaram a morar em Vila Rica, sua construção teve início no ano de 1756, porém, até o ano de 1767 nem o terreno estava preparado para os alicerces.
Mesmo com a contratação de outro construtor a obra seguiu lentamente, tendo por finda somente em 1909.
Os trabalhos de cantaria ocorreram entre os anos de 1767 e 1769; os da carpintaria em 1771; e as obras da nave e cantaria da portada em 1779/1780.
O frontispício é atribuído a Aleijadinho; o risco e a decoração do altar mor são de Mestre Ataíde e os púlpitos de João Gomes. A decoração interna começou a ser feita em 1784, seguindo até o começo do século 20, quando foi dada por encerrada a obra.
Ao longo do século 20 a igreja passou por várias obras de conservação e restauro, como a substituição do muro do cemitério por grades e ajardinamento novo.
O interior é dividido em uma nave única e uma capela mor, destacando na fachada o grande frontispício entalhado em pedra sabão, com o Brasão da Ordem do Carmo.
Numa de nossas viagens tivemos a oportunidade de hospedarmos exatamente em frente dessa igreja, tendo ela como cenário especial na sala principal do Pouso do Chico Rei.
IGREJA DE SÃO JOSÉ
Também chamada de Capela Imperial, teve sua construção iniciada em 1753 e conclusão em 1811.
Os riscos do retábulo da capela mor são de autoria de Aleijadinho, que era juiz da irmandade naquela época. A fachada permaneceu a mesma até 1856, quando a irmandade decidiu reformá-la.
Para a reforma foram trazidas pedras do Pico do Itacolomi, utilizadas para os cunhais da torre e enquadramentos das janelas, aproveitando-se para também fazer a troca do telhado.
Depois de ter ficado fechada por longos vinte anos, o templo está novamente aberto para celebração de missas e novenas, desde o final do ano de 2012.
IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE PAULA
A igreja é tida como a construção (de igrejas) mais recente da cidade e, ante a existência da Igreja de São Francisco de Assis, na área central da cidade, é popularmente chamada de “São Chico de Cima”.
O início de sua construção se deu no ano de 1804, demorando noventa e quatro anos para ficar pronta. A autoria do projeto é do sargento mor Francisco Machado da Cruz.
A arquitetura segue o padrão do barroco mineiro e do rococó, onde vamos encontrar no altar mor a figura de São Francisco de Paula, em escultura feita por Aleijadinho.
Sua localização fica nas proximidades da Estação Rodoviária e está voltada para a cidade. O cemitério, diferentemente do convencional, fica ao lado oposto da rua onde está sediada.
Pela topografia acentuada do município, a partir dela pode-se ter uma vista panorâmica de toda a Ouro Preto e, principalmente, da pequena Igreja de São José, exatamente localizada ao fim da rampa de acesso para sua escadaria principal.
IGREJA DAS MERCÊS E MISERICÓRDIA
Estrategicamente instalada no início da Rua Padre Rolim, ao lado das muralhas do antigo Palácio do Governador (Palácio Novo), também é chamada de Mercês de Cima, tendo em vista existir outra igreja das Mercês, logo atrás da Igreja de São Francisco de Assis.
O amigo não se impressione com a quantidade de igrejas que desfilaremos nesta matéria e aproveitamos para informar que declinamos somente de parte das existentes em Ouro Preto e em seus doze distritos.
Sua construção foi relativamente rápida em vista a outras na cidade, porém, sua arquitetura é bem menos onerosa que as demais, iniciando as obras em 1771 e terminando em 1.793.
Idealizada pela irmandade das Mercês e Misericórdia, que se reuniam na Capela de São José, por motivos de controvérsias se desentenderam, acabando os dissidentes a construírem sua própria igreja, intitulada Igreja das Mercês e Perdões, ou “Mercês de Baixo”, como é chamada.
De nossa parte entendemos que os nomes são verdadeiramente lindos e santos, mas, de perdão e de misericórdia os membros da confraria pareciam estar realmente esvaziados… porém…
A fachada é marcada por um frontão triangular, destacando o medalhão que representa a Virgem com os braços abertos, estendendo seu manto de proteção aos cativos dos mouros, segundo o sonho do fundador da Ordem.
Ao lado do templo pequeno cemitério é circundado por um muro de arrimo que o protege de um declive intenso.
IGREJA DAS MERCÊS E PERDÕES
Rebelado que foram da irmandade das Mercês e Misericórdia, e agora ostentando o título de Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos Crioulos e Pretos, fizeram construir sua igreja, também chamada de “Mercês de Baixo”, entre os anos de 1740 e 1772, sendo concluída praticamente no mesmo tempo que “Mercês de Cima” começou as suas obras.
O templo foi erigido sobre a antiga Capela de Bom Jesus dos Perdões, motivo pelo qual a diferencia da outra igreja das Mercês, que tem também como padroeira N. S. da Misericórdia.
O risco (projeto) da capela mor é de autoria de Aleijadinho, porém, em seu interior existem quatro altares laterais, coro e dois púlpitos esculpidos em madeira e de autoria desconhecida.
A construção ostenta originalmente paredes grossas feitas em pedras com cunhais de cantaria, sabendo-se que nos anos de 1775, 1805 e 1890 foram feitas várias alterações no desenho primitivo, sem que haja registros precisos de quais seriam essas mudanças.
Sua localização é na parte alta da cidade, exatamente atrás e de costas para a Igreja de São Francisco de Assis. Do seu Adro temos uma bela visão panorâmica de parte da cidade.
ROTA PELAS IGREJAS DE OURO PRETO
IGREJA DO ROSÁRIO
O templo foi fundado pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, constituída em 1715 e que funcionava provisoriamente na Matriz do Pilar.
Com terreno doado pela Câmara de Ouro Preto e sob os trabalhos da obra possivelmente atribuídos a José Pereira dos Santos, temos que no ano de 1762 já se encontrava em bom andamento.
Sua decoração interna já ia adiantada desde 1784, com a construção de seu altar mor e dos seis altares laterais, pintura e douramento, sendo que a execução da empena e do frontispício terminou em 1793.
Por sua vez o adro foi construído apenas em 1829, dando-se por concluída entre os anos de 1822 e 1823, já com a colocação do coro, do tapavento e das portas da capela mor.
Na consideração de muitos especialistas a Igreja do Rosário é tida como a expressão máxima do barroco colonial mineiro, composta por planta elíptica, corredores em torno da capela mor e sacristia quadrangular na extremidade, porém, o autor do risco é ainda desconhecido.
O frontispício cilíndrico apresenta três arcos no primeiro pavimento, três portas sacadas no segundo e, como coroamento, um frontão trilobado.
O uso da cantaria se manifesta nas arcadas, entablamento, frontão, consoles e coruchéis que, em contraste com o branco do frontão e da cimalha que arremata o entablamento, proporciona um efeito imponente ao frontispício.
Disposto de forma transversal em relação a rua de grande inclinação, tem pequeno adro ajardinado em sua parte frontal e outro espaço na área posterior, sem um cemitério próprio como era comum na época.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS DORES
A pequenina Capela de Nossa Senhora das Dores, com seu também pequenino cemitério ao lado, foi idealizada pela Irmandade de Nossa Senhora das Dores do Calvário, constituída em 1768 na Matriz de Antônio Dias por membros da Irmandade Dolorosa de Braga, que residiam em Vila Rica.
O terreno foi doado pela Irmandade do Santíssimo Sacramento de Antonio Dias e a primeira capela foi erigida a partir de 1775, sendo desconhecido seu arquiteto. A atual capela, feita em pedra, é datada de 1835.
Com acesso original apenas para pedestres, a escadaria que leva ao adro do templo é estreita e parte da Rua Coronel Serafim.
Tal acesso é bem pouco usado atualmente, porém, havia seu uso constante nos velhos tempos do Brasil Colônia, principalmente por Marília e Dirceu, criptônimos criados por Tomás Antonio Gonzaga para designar a si mesmo e a jovem Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, que morava a três quadras dali.
Na atualidade chegamos ao templo por acesso mais difícil e complicado, necessitando de um bom mapa para se chegar até ele, tendo como referência, a Ponte de Antonio Dias (Ponte Marília e Dirceu).
CAPELA DO PADRE FARIA
Seu nome correto é Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, tratando-se de um dos mais antigos templos erguidos em Minas Gerais, consequentemente tombado nacionalmente pelo IPHAN
A designação do Padre Farias para a capela vem dos primeiros tempos da localidade, cofundada pelo bandeirante e ao mesmo tempo padre João Faria Fialho, e devotada inicialmente a nossa Senhora do Carmo.
A história mostra, ainda que com pequena parcela de dúvida, que por volta do ano de 1723 a administração do templo passou para a Irmandade de Nossa Senhora do Parto, integrado por homens pardos e mamelucos, que mudaram a padroeira, fato esse novamente mudado em 1740, quando a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, desta vez composta de irmãos brancos, assumiu o local.
Quem apenas viu o pequenino e acanhado templo por fora, jamais poderia imaginar a riqueza e a beleza de seu interior.
A documentação relativa a sua construção é bem escassa e resta aos historiadores a busca constante por indicativos mais precisos, por ora entendendo que dois de seus altares já estavam prontos em 1750, enquanto o terceiro ainda estaria em obras nesse ano.
O sino do campanário e a cruz de seu adro são datadas de 1756, mostrando que aparentemente nesta época os trabalhos de conclusão foram encerrados.
Ao longo dos anos seguintes e até a atualidade o templo vem sendo regularmente conservado, em alguns casos restaurando modificações não originais.
A edificação é bem singela, com fachada plana, porta central com pequena moldura em pedra lavrada, duas janelas com balaústres no nível superior e um frontão triangular sem adornos, com um óculo inscrito e uma cruz de coroamento.
Na parte interna há uma nave única com teto abobadado, assim como o altar mor e dois altares no arco do cruzeiro. O campanário fica numa construção a parte e a decoração é ricamente composta de pintura e talha dourada no estilo barroco.
CAPELA SANTANA
A Capela de Santana está situada na Praça Santana, rente a Rua Vinte e Quatro de Junho, no Morro da Queimada que mencionamos no começo desta matéria, e é tombado pelo IPHAN.
Sua idealização e construção é atribuída aos moradores do próprio morro, não se precisando a data de sua fundação, mas confirmando período anterior a 1720, já existindo por ocasião da chacina realizada a mando do Conde de Assumar.
Durante sua existência a capela sofreu várias reformas e melhorias de pinturas, revestimentos, cobertura e estruturas, quase tudo documentado nos relatórios da atividade pública desde os tempos do Brasil Colônia.
Tecnicamente falando a construção foi feita em canga, contendo uma nave, capela mor e sacristia, possuindo um campanário isolado do corpo da igreja.
Apresenta frontão triangular arrematado nas extremidades por duas pilastras de canto, encimadas por coruchéus e óculo recortado ao centro. Os portais exteriores, de cantaria, apresentam vergas em arco abatido.
O interior é pobremente decorado com tábuas largas, seteiras (espaço para se atirar flechas) no lugar de janelas e portas almofadadas. A nave e o coro apresentam grades em jacarandá torneado. Nos nichos podem ser vistas as imagens de São José de Botas e de São Joaquim.
Por estar num grande declive, um muro de arrimo nivela a base de sustentação do templo, formando um pequeno jardim a sua frente, ensejando uma visão panorâmica e privilegiada de toda a Ouro Preto.
CAPELA SÃO JOÃO BATISTA
Sediada no extremo norte da área urbana da cidade, logo acima das Minas de Ouro Felipe dos Santos e a meio caminho do Parque Municipal das Andorinhas, tem-se ideia que quele seja o templo mais antigo de Ouro Preto.
A primeira construção da capela que a precede é datada de 1698, erguida por membros da bandeira de Antonio Dias.
A atual é construída em canga e há nela uma cruz com a marca comemorativa de 24/06/1698, dia de São João, lembrando que a primeira missa feita na capela (na anterior) foi realizada pelo padre/bandeirante João de Faria Fialho (Padre Faria), data essa lembrada anualmente pelos moradores do morro.
Bom lembrar que o atual Morro da Queimada já foi conhecido como Morro do Paschoal ou do Ouro Podre, um dos primeiros arraiais mineradores que deram origem à então Vila Rica, constituindo Sítio Arqueológico de inestimável valor, por ser um testemunho material das primeiras tipologias arquitetônicas da cidade e por guardar registros da exploração de ouro no início do século XVIII: bocas de minas, mundéus, sarilhos, fornos e objetos de uso cotidiano.
A capela atual foi construída por volta de 1740, com algumas reformas em 1761 por ordem do Padre Visitador José dos Santos. Outras reformas para restauração, pinturas e consertos têm sido realizadas ao longo dos anos.
A edificação apresenta fachada bem simples, com frontão triangular arrematado por uma cruz e dois elementos piramidais em pedra, nas extremidades. A porta principal tem batentes almofadados e é encimada por duas janelas altas e óculo central.
O sino encontra-se colocado numa sineira simples e ao nível do corpo, ao lado do templo, num pequeno adro pavimentado e cercado por mureta baixa e portões de ferro.
Na parte interna temos o altar mor sem qualquer ornamentação e o retábulo, com uma pintura dos doze apóstolos, existindo a imagem de N. S. da Conceição em destaque e, logo abaixo, a imagem principal de São João Batista.
PARQUE NATURAL DAS ANDORINHAS
Administrado pelo município, está localizado no encontro da Mata Atlântica com o Cerrado e é um oásis em área ameaçada pelas atividades humanas, no caso atividades mineradoras.
O objetivo principal é a proteção das nascentes mais altas do Rio das Velhas, um importante afluente do Rio São Francisco, bem como para manter a biodiversidade da fauna e da flora local.
Criado em 1968, o Parque tem proporcionado passeios incríveis para turistas e serve de base para estudos científicos.
São várias as possibilidades para se chegar até lá, no nosso caso acessamos a reserva ecológica através do Morro da Queimada, seguindo direto pela Rua 15 de agosto e 24 de junho, até a capela de São João Batista, e de lá seguimos a esquerda até o começo da trilha que nos leva ao Parque.
Um grande salão com sanitários e alguma infraestrutura, somado a quadras poliesportivas aguardam o visitante.
Pequenas trilhas para se fazer a pé partem desse ponto comum em direção de cachoeiras, piscinas naturais, mirantes e muita contemplação.
A Cachoeira das Andorinhas é a mais disputada. De beleza natural singular, esta cachoeira tem uma queda d’água de cerca de 10 metros de altura, situada no interior de uma formação rochosa que se assemelha a uma gruta. O nome é uma referência às andorinhas de coleira, que na primavera e no verão buscam abrigo no local. Levaremos menos de 10 minutos para chegarmos lá.
A Pedra do Jacaré é outro lugar que não podemos perder e fica bem pertinho, a menos de 10 minutos numa caminhada leve. Trata-se de uma formação rochosa de coloração esbranquiçada com o formato da cabeça de um jacaré, mas é possível imaginar muito mais que isso.
Desse mirante observarmos boa parte da paisagem natural do Parque, lembrando sempre ao visitante não se aventurar sobre a famosa pedra, já que uma possível queda seria fatal.
ENTRANDO EM OURO PRETO DE TRANSALP 700
PONTE, CHAFARIZ E CASA
Aqui não se trata de um dos Contos de Nárnia, mas esse trio mencionado se refere a um período de nossa história, também cheio de reis e rainhas, mas que ao invés de heróis, foram os vilões de nosso passado.
Ponte: Situada logo a frente da Igreja Matriz da Conceição e sobre o Córrego da Sobreira, sua construção foi encomendada a Manoel Francisco Lisboa (pai de Aleijadinho) em 11 de outubro de 1755.
A planta e risco cobravam parapeito com pedras aparelhadas; cruz de cantaria complexa; arcos de itacolomito; paredes de pedras e cal; e que fosse segura e maciça, devendo ser composta por dois paredões interrompidos por arcos plenos, tendo ao centro um pequeno terreno circular.
A ponte permanece lá até hoje, soberba como sempre deve ter sido, encantando desde aqueles tempos tantos quantos por ela passaram a pé, a cavalo, em coches e, atualmente, em carros, em motocicletas, em ônibus, etc.
Chafariz: Fica em frente ao Passo de Antonio Dias (Passo=aqueles locais de paradas de uma procissão da Semana Santa), que fica logo além da Ponte de Antonio Dias, que por sua vez fica logo depois da Igreja da Conceição de Antonio Dias. Como se vê, Antonio Dias continua bem lembrado até os dias atuais.
É um dos mais antigos da cidade, mas se desconhece detalhes de sua construção, acreditando ter sido por volta do ano de 1752/53. A primeira reforma para conserto de encanamento de água ocorreu cem anos depois, em 1852 e a segunda reforma, quase cem anos ainda depois, em 1936, também referente a encanamentos.
De grandes dimensões e considerado um dos mais importantes e bem compostos do Brasil, tem o corpo principal amparado por pilastras com volutas laterais.
O Chafariz está inserido num paredão composto por duas falsas janelas e guarnecidos por quatro carrancas com suas bicas, dispostas paralelamente numa moldura de aspecto conchóide e que derramam suas águas num tanque retangular em pedra.
Casa: Neste caso falamos da Casa de Gonzaga, que é um edifício que costumava ser cedido aos Ouvidores que vinham ocupar esse cargo em Vila Rica.
Sólido e bonito, tem dois pavimentos, duas entradas e um jardim suspenso na sua parte posterior, e foi ali que residiu Tomás António Gonzaga entre os anos de 1782 e 1786, enquanto era Ouvidor de Ouro Preto, tendo como vizinho de frente nada menos que a imponente Igreja de São Francisco de Assis.
Pontos de interesse: Todos esses monumentos são frequentemente visitados por aqueles que curtem a cidade, somente pelo fato de serem vistosos e bem representarem a época áurea da antiga Vila Rica.
Porém, há uma razão particularmente mais interessante a atrair turistas especiais para esses lugares, bem menos interessados nos aspectos técnicos dessas edificações, mas na história de amor ali vivida por Marília e Dirceu, que encantou o Brasil e o mundo com suas famosas liras.
O romance entre Dr. Tomás e D. Joaquina (Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão) teve início ao lado do Chafariz, que ficava em frente da casa da tia da jovem, e a corte (namoro tímido) muitas vezes era feita na primorosa ponte, local de rara beleza.
Dirceu morava na casa em frente da Igreja de São Francisco de Assis (Casa de Gonzaga) e, naquela época, de lá era possível avistar a casa onde morava Marília, permitindo que se comunicassem a distância por meio de contatos visuais com lenços acenados das janelas, (whatsapp da época) fechando o trio de edificações do título apresentado.
Assim, não temos como ir para Ouro Preto sem dedicarmos alguns momentos para ficarmos nesses locais, absortos e pensativos como se o passado romântico de ambos nos impregnasse a alma, trazendo novos alentos às nossas vidas.
A casa onde morou Marília não existe mais, e no local foi construída uma escola para as primeiras idades, como era o sonho de nossa encantadora heroína.
MARÍLIA E DIRCEU
(Thomás Antonio Gonzaga)
LIRA I, 4º estrofe
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Narra-se, nas famosas liras, o amor quase impossível da jovem D. Maria Dorotéia, Marília na imagem poética de seu amado, com o Dr. Tomás Antonio Gonzaga, Ouvidor (Juiz) da Coroa Portuguesa em terras de Vila Rica, poeta por devoção e inconfidente por opção, o que quase lhe mantinha uma corda em volta do pescoço.
As liras de Marília de Dirceu, publicadas em Lisboa a partir de 1792, exploram o tema do amor entre dois pastores de ovelhas e, no decorrer da obra, Dirceu expressa seu amor pela pastora Marília e fala sobre suas expectativas futuras que, dentro do contexto do arcadismo, demonstra a ambição de uma vida simples e bucólica ao lado da amada, muito mais jovem que ele.
Ao todo são oitenta liras e treze sonetos, dividas em três partes: 33 liras publicadas em 1792; 38 liras em 1799; e as demais 9 liras e 13 sonetos, em 1812.
Dos reflexos da Inconfidência, da qual Dr. Tomás era um dos maiorais, somente Joaquim José foi enforcado, sendo os demais desterrados para as longínquas terras africanas, poucos deles retornando com vida.
Quem Foi Dirceu?
Tomás Antonio Gonzaga nasceu em Miragaia, em Portugal, em 11 de agosto de 1744. Embora tenha morado no Brasil boa parte de sua infância, se formou em Portugal e retornou ao Brasil na condição de Ouvidor em Ouro Preto, em 1782.
Ficou preso no Rio de Janeiro entre 1789 e 1792, acusado de conspirador, quando foi desterrado para Moçambique, onde acabou por ocupar cargos públicos da Coroa Portuguesa, inclusive o de Desembargador. Faleceu naquele país em fevereiro de 1810, aos 66 anos de idade.
Seus restos mortais foram trasladados para o Brasil no início do século 20 e repousam no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto.
Quem foi Marilia?
Dona Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, mundialmente conhecida como Marília, nasceu em Vila Rica (Ouro Preto) em 08 de novembro de 1767. Filha de Baltazar João Mayrink, capitão do Regimento de Cavalaria, tinha uma vida opulenta ao lado de suas irmãs.
Em tenra idade conheceu o Dr. Tomás e passaram de um relacionamento acanhado para um noivado que nunca se findava, dado as preocupações com o cargo e as atividades da conjura em andamento, que o impedia de casar de pronto.
Com o degredo do amado Marília se retirou para a fazenda da família, Fundão das Goiabas, no município de Itaverava, retornando para Ouro Preto somente em 1815, com a morte do pai.
Sem Dirceu Maria Dorotéia tornou-se reclusa, pouco saindo de casa e vindo a morrer em 9 de fevereiro de 1853, aos 85 anos, sempre morando na mesma casa onde nasceu.
Em 1955 os restos mortais de D. Maria Doroteia foram retirados da Matriz de Nossa Senhora da Conceição e levados para o Museu da Inconfidência, onde hoje estão juntos aos restos mortais de Tomás Antonio Gonzaga.
NOSSAS VIAGENS
Como dissemos no início desta matéria, o conteúdo que aqui apresentamos foi adquirido ao longo dos últimos anos, em muitas viagens que fizemos até a antiga Vila Rica, planejando outras futuras para seus doze distritos, com exceção de Santa Rita de Ouro Preto, que já apresentamos, tempos atrás.
Para quem já ouviu notícias sobre a cidade ou a conhece-a somente por filmes, fotos ou textos jornalísticos, temos a informar que todos são extremamente simplórios, exatamente como esta matéria que apresentamos, pois, se é possível descrever suas ruas, seus monumentos, seu casario e sua organização, é impossível descrever a sensação de estar presente na cidade.
A impressão é que somos uma espécie de “Marquês de Sabugosa” dos contos do Sítio do Pica Pau Amarelo, emaranhado corpo a corpo com os livros originais da história do Brasil, já que podemos sentir com as mãos, com os pés, com os olhos, com o olfato e até com a saliva os principais e mais marcantes episódios do nascimento e desenvolvimento, ainda que lento, de nossa nação.
Durante esses anos rodamos pelos calçamentos irregulares e ruas absurdamente íngremes com pequenas motocicletas de 125cc e com grandes e pesadas Big-trails, da mesma forma que o fizemos com pequenos veículos mille e potentes 4×4.
Não é vergonha alguma dizer dos apuros que passamos com a Transalp 700 naquelas ruas íngremes e escorregadias, que não estamos acostumados a trilhar, principalmente ao estacionarmos ou manobrarmos a motocicleta, tendo que aumentar o trajeto até que fosse possível uma parada, as vezes bem longe de onde pretendíamos ir.
Melhor foi os roteiros efetuados a bordo da Pajero 4×4, pequena e forte, mesmo assim nas primeiras vezes parecia que estávamos no alto de uma montanha russa e pronto para despencarmos, quando pretendíamos galgar por algumas ruas centrais de Ouro Preto.
Várias foram as pousadas e hotéis que nos servimos para essas viagens, cada qual com suas características, mas a que nos marcou foi o Pouso do Chico Rei, exatamente em frente da Igreja do Carmo.
O Casarão é rico em história e o pouso parece mais um museu que uma pousada. Repousamos por alguns dias observando a bela igreja em nossa frente, tendo o Teatro de Ópera como vizinho.
Por falar em pousos, pousadas, pensões, hostels e hotéis, saibam que a cidade é riquíssima nesses quesitos, mas muito dificilmente você verá placas chamativas para eles, pois normalmente são pequenos, aconchegantes e sempre estão lotados.
A dica é pesquisar bastante antes da viagem e procurar um local onde facilite a ida nos atrativos mais desejados, já que trafegar por Ouro Preto é um trabalho de paciência, dificilmente treinado por nós que vivemos em grandes metrópoles.
Da mesma forma são inúmeros os locais destinados aos nossos almoços e jantares, muitos deles de alto nível, porém, também não vamos ver cartazes reluzentes em seus portais, valendo sempre das indicações dos amigos e dos recepcionistas dos hotéis.
Se precisar de algumas compras lembre-se, todos os mercados são discretos e estarão aparentemente escondidos das nossas vistas em casarões antigos.
Então, não espere encontrar nenhum Banco, Supermercado, Shopping, ou coisas do gênero de forma ostensiva e modifique seus hábitos, procurando-os em casarões com decoração dos séculos 18 ou 19.
Já para os adeptos do campismo Ouro Preto, em si, pode não ser uma boa opção, a menos que tenham muita sorte e, ao fincar uma estaca no chão, depare-se com uma bela pepita dourada.
Pela concentração da cidade, áreas de campings ficam bem longe do centro histórico ou nos seus distritos, servindo bem para aqueles que não gostam de muito movimento. De qualquer forma vale a pena pesquisar.
COMO CHEGAR
Para o aventureiro que partir de Belo Horizonte o percurso é de apenas 110 km, ensejando sempre um bate-e-volta bem legal. O início do trajeto pode ser feito pela Rod. Fernão Dias, mas derivando de pronto para as cidades de Itabirito e Ouro Preto, pela BR 356.
Já para o aventureiro que partir da capital paulista o trecho é bem mais longo, com um percurso aproximado de 730 km. O trecho inicial poderá ser feito pela Rod. Fernão Dias, até a cidade de Carmópolis de Minas, completando até esse ponto apenas 560 km do percurso integral.
Daí em diante deverá rodar mais 170 km pelas MG-270 e MG-155, rumo a Congonhas; pelas MG-030, MG-443 e MG-129, até Ouro Preto.
Para aventureiros de outras localidades a sugestão é a utilização de um bom guia rodoviário, na certeza que não encontrarão quaisquer dificuldades para se chegar em Ouro Preto.
Se você já conhece a região, tem alguma crítica ou sugestão para fazer, envie-nos um comentário a respeito. Será muito útil para nós.
EDITORIAL
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Jornalista responsável: Marcos Duarte– MTB 77539/SP
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