05/12/2018
Dezembro começou bem e com um mega passeio ciclístico que partiu de São Paulo, com destino à cidade de Santos, num percurso de mais de 55km. Nós estávamos lá.
40mil participantes foi a estimativa mais próxima da realidade, vez que além dos mais de 33mil inscritos, milhares de ciclistas “de última hora” e sem inscrição se aventuraram pela Via Anchieta neste primeiro domingo do mês.
O projeto já é antigo e polêmico, com muitos a favor, mas com também muitos outros contra, tendo causado muito aborrecimento e até riscos aos ciclistas que se aventuraram em anos anteriores, com forte repressão policial.
Passada o período das tempestades, o “Pedal Anchieta 2018” parece ter se firmado oficialmente no calendário de eventos do Estado de São Paulo, particularmente das cidades de São Paulo, São Bernardo, Cubatão e Santos, por onde passam os ciclistas do evento.
Para este primeiro ano do passeio os organizadores aguardavam cerca de 15mil participantes, mas essa cifra quase que triplicou, causando até lentidão no site oficial para as inscrições de última hora.
O percurso estabelecido previa a largada no km 12,6 da Rodovia Anchieta, entre as 6h e as 8h30, mas teve que ser prorrogada pela quantidade de participantes.
Por precaução a concessionária Ecovias implantou operação especial entre as vias Anchieta e Imigrantes, liberando exclusivamente para o passeio a pista de “subida” da Via Anchieta, até as 13h30.
Para segurança do evento em todo o trajeto, a organização fez instalar postos de atendimento médico e mecânico, banheiros químicos, distribuição de água e espaços de paradas.
Com a larga divulgação obtida pelas redes sociais, em pouquíssimo tempo inúmeros grupos de ciclistas se cotizaram para desenvolverem a logística necessária para o percurso, e a manhã do dia 02 de dezembro de 2018 marcou o alvorecer de São Paulo de forma diferenciada.
Como pequenas formigas em busca do mel, milhares de ciclistas eram vistos migrando de suas residências, sozinhos ou em grupos, rumo a região sul paulistana, singrando com suas bikes no fim da madrugada, ruas, metrô, trem, avenidas e alamedas, de forma ordeira e silenciosa.
Porém o evento foi muito maior, com representantes de quase todas as cidades do Estado de São Paulo e muitos de outros estados, que fretaram ônibus, vans e até caminhões para o transporte de pessoas e das bicicletas.
VÍDEO MELHORES MOMENTOS
NOSSA EXPERIÊNCIA
O Portal D Moto não ficaria fora desse evento e, como muitas pessoas, aderiu a um grupo formado por ciclistas da cidade de Itu, a 90km da capital paulista, que fretaram um ônibus para transporta-los para São Paulo.
Horário marcado, horário cumprido com exatidão. Nenhuma falha, nenhum furo, nenhum atraso na programação. Hora de encontro: 3h30; hora de partida: 4h15. Tudo como o planejado.
Conforme os ciclistas iam chegando as bikes eram carregadas no bagageiro, sem a roda dianteira. Ao todo partimos com 31 bikes no bagageiro e 5 no corredor do ônibus.
Com o trânsito livre rodamos pela Rodovia Castelo Branco, marginal Pinheiros, Av. dos Bandeirantes e, as 5h40, estávamos estacionando na Avenida Tancredo Neves, no início da Via Anchieta, em seu trecho urbano.
Em processo inverso descarregamos e remontamos as bicicletas e, com todos prontos partimos para o evento, cada ciclista com seu projeto próprio, embora alguns tenham permanecidos juntos durante todo o tempo.
Se nossa missão doravante seria chegar ao ponto de largada, que estava a mais de 10km a nossa frente, a do motorista do ônibus seria conduzi-lo até a cidade de Santos, para nos aguardar. Por experiência do condutor a “nave” foi estacionada a menos de 100m da faixa de chegada, em frente ao Museu Pelé. “É nóis”.
No trecho urbano da via Anchieta tivemos uma faixa estreita para conduzir nossas bikes, faixa essa que rapidamente estendeu-se a pista toda, dado a quantidade de participantes que chegavam de todos os lados.
Enfim deixamos a área urbana e passamos a rodar com exclusividade na rodovia, salvo em alguns pontos curtos, onde haviam faixas especiais para outros veículos, por questões de logística de trânsito.
Estávamos agora num mar imenso de “amigos desconhecidos”, trocando risos e afetos com pessoas que não conhecíamos e que certamente nunca mais veríamos. Uma irmandade inigualável.
Se o trecho previsto do evento seria de 55km, nós pedalaríamos 65km, já que rodamos mais de 10km até o marco de largada.
Homens, mulheres, crianças, adolescentes, jovens, velhos, portadores de necessidades especiais, cadeirantes, além dos “artistas” que nos fizeram lembrar da corrida de São Silvestre, compunham o impressionante séquito.
Pessoalmente nos desgarramos dos demais companheiros de excursão minutos depois de termos deixado o ônibus, mas não faltou companhia durante todo o dia, sempre com alto astral e boas risadas, pedalada após pedalada.
Segundo informações colhidas dos organizadores, houve mais de 20km de congestionamento na via Anchieta, tomada estava ela de bicicletas naquela manhã. Mas também houve alguns registros de acidentes, dois deles graves, com traumatismo craniano dos ciclistas.
Nesse particular vale uma nota negativa e não é para os Organizadores, nem para a segurança local, mas para alguns (alguns poucos mesmos) ciclistas que brincaram no meio de um público bastante calmo, tranquilo, pacífico, ordeiro, solidário e divertido.
Esses poucos, com alta velocidade, manobras arriscadas e empinando suas bikes entre milhares de pessoas, certamente colocou muita gente em risco, provocando muitos tombos e sustos, alguns presenciados por nós.
Bom lembrar que esses acidentes mais graves ocorreram logo no início do passeio, com os mais apressadinhos sempre nos primeiros pelotões, o que fez com que a polícia rodoviária passasse a promover a liberação pontual dos ciclistas, para que partissem com espaço de tempo.
Com isso o atraso foi geral e nós mesmos ficamos com a bike quase parada, na altura da Represa Billings, por mais de duas horas consecutivas, retardando, em muito, nosso passeio.
REGULAMENTO
Todo o regulamento para que o ciclista participasse do evento estava no site oficial.
Lá constava o objetivo, o trajeto, a inscrição, a identificação do participante, os recursos disponíveis e até os equipamentos obrigatórios de segurança, principalmente o capacete.
Também houve grande ênfase em descrever o caráter aventureiro do evento e das possibilidades de acidentes, dos mais corriqueiros até casos fatais, de modo a que todos tivessem prudência na condução de suas bikes.
Também restou claro para todos a obrigação individual de cada participante em retornar para suas casas por conta própria, sugerindo opções, como contato com empresa de ônibus, etc.
DESCENDO A ANCHIETA
Depois de muito tempo, enfim, chegamos na cabeceira da Serra do Mar. Se já passamos pelo local inúmeras vezes rumo ao litoral, estar ali de bicicleta é por demais excitante. Dá até um geladinho na barriga.
Da mesma forma que anteriormente, a Policia Rodoviária foi liberando a descida em grupos de bikers, com intervalos de tempo, evitando-se aglomeração e acidentes desnecessários.
Se foi feio para o evento não podermos ver uma massa compacta de ciclistas deslizando pela Serra do Mar, foi perfeito para a segurança, já que nem todos ainda estão preparados para viver em sociedade, preferindo abusar na condução de suas bikes, mesmo que cause mal à outras pessoas.
Chegou a nossa vez de partir e a sensação foi mesmo compensadora, tanto que era possível ouvir expressões de alegria espontânea de muitos ciclistas, extasiados com a beleza da serra.
Um porém nos preocupava, principalmente por estarmos acostumados com motos a vida toda. A descida da serra prenunciava chuva forte e haviam muitas “faixas brancas” de marcação da pista, recém pintadas.
Por precaução colocamos a parte de cima de nossa capa de chuva e descemos com ela. Realmente foi útil. Quanto as faixas brancas… sim, muita gente caiu ao frear sobre elas, no molhado, e até flagramos alguns em nosso vídeo, que você vai poder conferir.
Em vários trechos da descida, principalmente naqueles em que era possível ter uma vista magnífica da baixada santista, podíamos ver dezenas de braços estendidos ao ar para as famosas “selfies”, tanto que em trechos mais perigosos policiais estavam postados para que o ciclista não se detivesse ali.
Mesmo com chuva todos desceram tranquilamente a serra, passando com grandes algazarras e barulhos nos três túneis do percurso (e alguém acha que seria diferente???), até chegarmos ao fim da descida.
Podemos dizer que o passeio passou para a sua fase final a partir dali, mas restariam, ainda, quase 20km até seu marco de chegada, que estava na Praça Marques de Herval, em frente ao ponto final do bondinho turístico.
Não diríamos que o passeio perdeu a graça, mas ficou mais frio. A frieza era pelo fato de estar para acabar um passeio maravilhoso, mas também pelo tempo chuvoso da chegada, coisa que não aconteceu com os participantes que chegaram antes do meio dia. Nós chegamos as 13h.
Vencido o trecho final aguardávamos para transpor a placa da chegada, mas esta tinha caído momentos antes com as chuvas e literalmente ficamos a ver navios junto ao Porto de Santos.
Como planejado desde o início, nosso ônibus deixou a cidade de Santos exatamente as 15h, com todos os participantes devidamente acomodados (salvo um casal, mas essa é uma longa história e que vai gerar anos de risos) e as 17h30 estávamos de volta em nossa cidade, vislumbrando a possibilidade de inúmeros outros projetos iguais.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
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