18/03/2017
Não importa de que forma olhemos as civilizações atuais, pois uma coisa é certa: Há muito ou pouco tempo atrás nossos ancestrais foram indígenas e esse sangue ainda circula em nossas veias. Feliz dia do Índio.
Mas não podemos generalizar no contexto da palavra “indígena”, já que entre seus muitos povos reconhecemos diferenças substancias na cultura, tradições, práticas e conhecimentos. Cada um desses povos tem sua própria história que preservam das maneiras mais diversas, porém quase sempre são passadas oralmente, de geração a geração.
Quando destruímos aldeias indígenas, como aconteceu no passado de forma brutal e hoje de forma “politicamente correta”, destruímos sua história, suas referencias e, consequentemente, seus futuros.
Não é incomum taxarmos os indígenas contemporâneos de “atrasados”, “ignorantes”, “sujos”, “preguiçosos”, “introspectos” e outros adjetivos congêneres, sem entendermos que a realidade deles é outra que não a nossa.
Eles não tem a ilusão de acumular bens materiais, mas cultivam a conversa franca; eles não tem a vaidade por títulos, mas cada um sabe reconhecer a liderança dentre eles; eles se contentam com o que tem e que a natureza dá, sem provocar inveja e cobiça nos demais, ao contrário do homem “civilizado” que cada vez mais vive para mostrar-se aos outros.
Talvez por tal motivo são sempre alvo da nossa sociedade educada: não tem que representar papel algum que não seja o dele próprio.
Estivemos no começo do mês de março pp. mais uma vez na Aldeia Tupi “Nhamandu Mirim”, no litoral paulista, onde fomos recepcionados pelos seus membros de maneira afetiva e alegre, tendo várias aldeias se unido para a comemoração do dia internacional da mulher, desta feita sob o cunho indígena.
À essa aldeia, colada na Rodovia Manoel da Nóbrega, afluem muitas pessoas durante todo o ano, o que representa um troca de ensinamentos e aprendizados de ambos os lados, fazendo com que todos se interajam de maneira muito natural. Toda a semana a aldeia costuma receber visitas externas para conversas e ajudas humanitárias.
Mesmo com toda essa proximidade entre o homem “branco” e o índio, o preconceito ainda é muito grande e gera insegurança para a aldeia com invasões constantes na reserva destinada à eles e, se não se sacudirem convenientemente, acabarão perdendo suas terras para as construções de veraneio que pipocam nas suas fronteiras.
Não bastassem os invasores triviais, as aldeias do litoral sul de São Paulo estão mais uma vez as voltas com projetos mirabolantes dos governos estadual e federal para a construção de uma usina termoelétrica, um passo para a colocação em prática dos planos hoje engavetados para construção de um porto nas terras indígenas.
Mas se algumas aldeias estão em constante contato com a civilização que conhecemos, outras existem que a distancia dos centros urbanos torna quase inviável a aproximação. A mais distante no litoral de São Paulo é a Aldeia Rio Branco, que fica a 30km do centro de Itanhaém, exatamente no sopé da Serra do Mar.
Essa é uma aldeia Guarani, com costumes bem mais fechados em relação as Tupi, sendo que seus moradores só falam entre si a linguagem indígena, o que resultou dificuldades ao falarem conosco.
Anotamos o nome do cacique e resolvemos arriscar, seguindo viagem no rumo dessa nova comunidade indígena. Deixamos Peruíbe e já em Itanhaém nos dirigimos em direção do aeroporto da cidade, donde começaria propriamente o percurso até a aldeia.
A princípio com piso de bom asfalto, esse desaparece na altura da Sabesp para se transformar numa pista de cascalho e, mais a frente, de seixos rolados de tamanhos variados. Para variar o tempo estava fechando e já nos primeiros kms tivemos uma chuva fraca que nos acompanhou até bem próximo da aldeia.
Na aldeia Rio Branco fomos recebidos pelo cacique Arlindo que, embora um tanto tímido e arredio quando de nossa chegada, com o passar do tempo passou a ser bastante solícito e nos convidou para passarmos alguns dias na aldeia, para melhor entendermos seu povo.
Por óbvio aceitamos o convite e prometemos voltar em breve e com o tempo mais estável. Varias crianças da aldeia vieram ao nosso encontro, a princípio receosos e esperando “autorização” de Arlindo para aproximarem de nós, mas depois se soltaram e até usaram nossa câmera fotográfica para brincarem pela redondeza.
Assim, desta vez o crédito das fotos apresentadas nesta matéria não pode ser só nosso, mas em muitos casos vamos ter que admitir que as imagens são dos pequenos “curumins” da aldeia Rio Branco.
A chuva começava a cair mais forte e tivemos que deixar a aldeia em seguida, pois fatalmente inviabilizaria ou ao menos prejudicaria bastante nosso retorno, pois teríamos que atravessar dois pequenos riachos também na volta.
Durante o período que ficamos na aldeia pudemos observar um grupo de seis pessoas que acabaram de descer a montanha caminhando, vindo de São Paulo (Marsilac) e com destino a Itanhaém. Depois de travarem contato conosco seguiram a caminhada sem perderem o ritmo.
Despedimos de todos trazendo conosco uma boa impressão no imo d´alma, como também uma folha de papel impressa de sulfite, como presente de Arlindo para nós, contendo uma espécie de dicionário das palavras guarani para o Português, que ele retirou da secretaria da escola que funciona dentro da aldeia para alunos do ciclo básico.
De volta pelo caminho que viemos, levamos pouco mais de meia hora para percorrermos o trecho de volta, já com vontade de voltarmos para aquele lugar mágico.
Com essa matéria homenageamos todo o povo indígena do nosso Brasil e do mundo, baluarte indestrutível da conservação do nosso planeta em todos os seus aspectos. Que esse 19 de abril possa ser comemorado todos os dias do ano.
CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e Vídeo: Celso Spinardi Jr.
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