25/03/2017
Rio Espera é o atrativo desta matéria especial do seu Portal D Moto. Para realiza-la, tivemos mais uma vez o privilégio de galgar outro trecho da Estrada Real, em Minas Gerais.
A cidade está localizada na Zona da Mata mineira, a 160 km de Belo Horizonte e a meio caminho entre Ouro Preto e Barbacena. Para quem vem da capital mineira chega-se a Rio Espera pela BR 040 até a altura da cidade de Conselheiro Lafaiete, seguindo daí para Itaverava e Catas Altas da Noruega pela BR 482, e Lamim pela MG 132.
Conta-se que o nome da cidade se deu por ter sido lá o lugar onde o bandeirante Manoel de Melo resolveu montar acampamento para “esperar” seus chefiados, outros bandeirantes paulistas que exploravam a região a seu mando, integrantes de expedições em busca das riquezas minerais como o ouro, a prata e as pedras preciosas comum na região.
RODANDO EM RIO ESPERA
Diz a história, ainda, que Manoel de Melo fincou base no local, nele fundando uma fazenda que produzia cereais e hortaliças, já que mesmo depois de muitas pesquisas não encontrou ouro suficiente para ser lucrativa a empreitada de sua extração.
Com o progresso do local os habitantes de Rio Espera pediram permissão ao Bispo para construírem uma capela em homenagem a N. S. da Piedade, mas cujo documento foi perdido por causa de desavenças com outro fazendeiro, Francisco de Souza Rego, que queria que a capela ficasse em suas terras, hoje a cidade de Lamim.
Rio Espera tem hoje cerca de 7mil habitantes que se dividem entre a sede principal da cidade e outros bairros distantes, como Rio Melo, nome dado em homenagem ao fundador de Rio Espera.
Constam dos anais históricos da cidade que figuras importantes do cenário cultural brasileiro teriam morado em Rio Espera, podendo destacar como o mais importante o artista Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho). Para atestarem essa assertiva a cidade dispõe de vários documentos assinados por ele que se encontram no Museu Municipal.
Nos tempos passados Rio Espera teve um importante papel no abastecimento de produtos alimentícios de Ouro Preto, que era a capital do Estado, tendo passado por muitas transformações ao longo do tempo.
Chegamos em Rio Espera pela MG132, vindo de Lamim. O aventureiro que percorrer esses trechos deve se ater aos mapas, pois frequentemente as estradas são nominadas de uma forma e logo em seguida de outra. Logo na entrada percorremos a Rua Salim Jorge com casas pequenas e antigas, e depois seguimos por mais uns duzentos metros por outra ruazinha estreita, quando chegamos na Praça principal.
Aproveitamos para abastecer no único posto de combustíveis de lá, sem bandeira e espremido na Rua José Rodrigues Miranda, logo atrás da Igreja Matriz.
Por falar em Igreja Matriz, bom saber que ela é imensa e bem cuidada, contrastando em tamanho e beleza com o resto da cidade, de feitio acanhado e com raras construções mais elaboradas. Não perdemos tempo e fomos tirar um descanso merecido nos jardins, aproveitando para degustar um sorvete e apreciar a magnifica vista do templo católico.
Como estar em Minas Gerais significa contato franco com as pessoas, não deixamos por menos e passamos a prosear aqui e ali, principalmente tentando saber mais do município e sobre rotas alternativas para a viagem que logo seguiríamos.
Não deu outra e um jovem senhor a moda de “D. Quixote de La Mancha” surgiu numa motocicleta, ostentando novíssimo casaco de couro com jeito de nunca ter sido usado antes, e sugeriu que fossemos até Capela Nova rumando por uma estrada secundária, pelo Distrito de Rio Melo, tudo por estrada de terra.
RUMO A RIO MELO
Só para avisar aos desavisados, para se chegar dali até Capela Nova só poderíamos mesmo fazê-lo por terra, porém pretendíamos percorrer a MG 275, num percurso de aproximadamente 22km.
Mas como todo bom motociclista gosta de “cortar caminho” aumentando o percurso, seguimos a rota então sugerida, percorrendo assim mais de 26km.
Uma fina garoa ameaçou abortar (ou pelo menos ) nosso trajeto daquele dia, justamente na hora que deixávamos a cidade pela Estrada Real. Ainda que não déssemos atenção às lagrimas celestes derramadas, cuidamos de colocar nossa capa de chuva e acelerar o passo com o cuidado devido, principalmente entre aquelas estradas ermas de terra vermelha por onde passaríamos.
Já no primeiro km de terra presenciamos uma discussão entre um pequeno comerciante de uma vendinha de sítio, com uma pessoa de meia idade, visivelmente embriagado e valente. Era para rir se não nos desse pena a situação. Seguimos sem intervir.
Na estradinha não haviam grandes bifurcações ou situações que pudessem tirar nossa atenção ou alterar nosso destino, mas sempre parávamos para “puxar assunto” com as pessoas do local, que nos recebiam com uma cordialidade desusada nas grandes cidades. E tome estrada.
EM RIO MELO
Percorridos uns 10 km entre grandes e pequenas fazendas e mata nativa, encontramos a pequena Rio Melo, Distrito bem arrumadinho e pavimentado esperando por nós. Três ou quatro dezenas de casas compõem o vilarejo que ostenta uma bela igreja instalada numa praça arborizada, e uma pequena capela, na “outra ponta da vila”.
Bem defronte da pracinha havia um grande mercado, com jeito de ter de tudo um pouco e de atender bem os moradores de lá. Por falar em moradores, ao que nos deu a entender o interesse e curiosidade maior naquele momento era este forasteiro que acabava de chegar com a motocicleta cheia de baús e tralhas amarradas.
Um garoto veio sorridente oferecer ajuda, muito embora não soubesse nenhuma das respostas de nossas perguntas. Outra garota veio em nossa direção, impecavelmente vestida e produzida, como se tivesse num grande shopping de cidade grande, mas também não soube a resposta de nossas indagações.
Depois desses e outros contatos seguimos o curso que já tínhamos em mente, pois não existiam outras alternativas que não fosse a mesma estradinha que estávamos desde momentos atrás.
VOLTA AO CAMINHO
Aproximadamente 3km depois de deixarmos Rio Melo reencontramos a “estrada oficial” para Capela Nova, a MG 275. Não, não se impressione com o nome, nem dava para notar a diferença, era terra do mesmo jeito.
Rodamos mais um pouquinho e tivemos que estancar nossa motocicleta no meio da “pista”. Dois bois de largos chifres pontudos e com cara de poucos amigos seguiam em nossa direção, guiados por um garoto num cavalo. Como não entendemos nada de bois, a não ser na churrasqueira, preferimos ficar imóveis até que aquelas “meias toneladas” passassem por nós.
Alguns metros depois desse episódio estacionamos nossa motocicleta na divisa com a cidade de Capela Nova, em frente a uma igrejinha e uma escola infantil.
Sentado sob uma árvore frondosa, tomando uma água que trouxemos e fotografando a capela, ouvíamos o lindo som de uma professorinha ensinando seus tenros alunos. A ingenuidade das crianças que não podiam ser vistas por nós era transmitida por suas vozes doces e cantadas, perguntando coisas novas à “tia” que, provavelmente, estava em frente de uma lousa.
Em momentos como esse percebemos como nosso Brasil poderia ser muito melhor com um pequeno investimento nesses seres de luz, almas de nossas almas, que se atrevem a ensinar muitas vezes aquilo que mesmo lhes faltam.
O peito chegava a apertar de vontade de entrar naquela escola e agradecer imensamente aquela “professorinha”, por tudo quanto significa e significará para essas e outras crianças no curso de suas vidas e toda a atenção que ela dispensava à eles.
Devidamente reidratados deixamos a localidade levando conosco outra bagagem emocional, da qual não nos livraremos jamais, e seguimos ao nosso destino daquele dia, rumo a cidade de Capela Nova.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
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Boa tarde Marcos Duarte.Amei a matéria, era tudo que eu precisa saber. Além de com conhecer o que eu queria conhecer. Me deliciei com o texto que aprecie como poema, poesia sei lá! Foi um encanto quase como ver todos os ipés juntntos, cada um com sua cor nos convidando a poesiar. Abraços e obrigada.
Bom dia Rosa. Em primeiro lugar, agradecemos muito pelo seu comentário em nossa matéria. Em segundo, informamos que essa viagem que relatamos também foi muito significativa para nós. Local muito simpático e com um astral que nos remete as alturas. Por coincidência acabamos conhecendo aqui onde moramos uma pessoa que é da cidade e trocamos muitas informações a respeito de Rio Espera.