11/06/2018
Margeando a Lagoa Mirim, na altura do Saco da Felizarda, também faz divisa com o Uruguai e com a cidade de Chuí. É em suas terras que está verdadeiramente o marco zero do ponto extremo sul do Brasil. Vamos ver?
Também chamada de Terra dos Campos Neutrais, dos Verdes Palmares e do Butiá, abriga, juntamente com o município de Rio Grande, a mais importante Reserva Ecológica do Rio Grande do Sul, além de fazer parte do maior complexo de geração de energia eólica da América Latina.
HISTÓRIA
Depois do tratado de Santo Idelfonso entabulado por portugueses e espanhóis, trocando terras entre si, essa estreita faixa de terra que abriga Santa Vitória a partir de Rio Grande, dividindo o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim, passou a ser considerada “sem dono”, “neutra”, vindo daí o termo Campos Neutrais.
Somente com o tratado de Tordesilhas essa área passou a fazer parte das terras portuguesas, permanecendo ao Brasil mesmo depois de sua independência, mas apenas em meados do século XIX foi autorizada a criação da povoação que hoje é Santa Vitória.
Inicialmente chamada de Povoação de Andrea, demorou três décadas para ter o nome da santa de devoção da família do Marechal Andrea, cuja imagem lá chegou em 1858, vindo da Itália. Como cidade devidamente emancipada Santa Vitória do Palmar existe desde 24 de dezembro de 1888.
Já o termo “Palmar” acrescido a Santa Vitória se deve (ou devia) a grande quantidade de butiás (palmeiras) existentes na região, hoje quase extintas por causa das grandes plantações de arroz.
No censo populacional de 1900, segundo o sexo e a nacionalidade, encontravam-se lá 166 italianos e 66 italianas, sobre um total de 8.970 pessoas, sendo 80% destes, brasileiros.
A CIDADE
Se hoje quem nasce ou vive em Santa Vitória são chamados de vitorienses, no passado o gentílico de lá era “mergulhão”, nome pelo qual ainda se tratam com orgulho (com exceções), lembrando a ave abundante por lá.
O título se deve ao fato dos vitorienses se esconderem no passado como a ave, “mergulhando” para dentro dos matos para protegerem a si e a família de forasteiros e bandidos, comuns naquelas épocas.
Pouco mais de 31mil pessoas vivem atualmente em Santa Vitória, localizados especificamente em dois núcleos distintos e bem delineados: o centro e os balneários de Barra do Chuí e Hermenegildo.
A cidade tem uma área territorial interessante, com mais de 5.250km2 de extensão e fica a 500km de Porto Alegre, pela BR-471. Sua sede concentra um centro comercial muito bem montado e variado, com bons hotéis e uma estrutura digna de cidade de maior porte.
BARRA DO CHUÍ e HERMENEGILDO
É no balneário de Barra do Chuí onde verdadeiramente se encontra o “marco extremo” do sul do Brasil, na curva que o Arroio do Chuí faz a 2,7 km antes de sua foz.
Para se chegar da sede do município até lá o aventureiro deve rodar pouco mais de 32km, passando antes pela cidade de Chuí. Todo esse percurso é asfaltado.
Outra opção para se chegar até a Barra é pelo balneário “Hermenegildo”, a 20km de Santa Vitória. Mas essa opção é mais indicada para os aventureiros de motos ou carros off-road, pois a partir dali e por mais de 12km até a Barra o percurso é um misto de terra batida e areia fofa.
Uma coisa tem de bom rodar pela cidade e suas adjacências, vez que é quase tudo plano e numa média de 22m de altitude acima do nível do mar.
Mas rodar em vias rústicas sem asfalto tem seus problemas, pois lá também não faltam charcos e superfícies alagadas que podem estragar um passeio, principalmente se o aventureiro for sozinho.
Esses dois balneários, Barra e Hermenegindo, são responsáveis diretos pelo turismo na cidade, já que neles se concentram gente de várias partes do país e de países vizinhos para veraneio, contando ambos com casas bem montadas, além de hotéis e pousadas típicos para tal.
Se a sede do município tem uma população fixa o ano todo, nesses núcleos oscila durante as temporadas de férias, já que o mar, mesmo naquele frio todo, ainda agrada a muitos.
O farol da Barra, juntamente com os dois molhes da foz do Arroio do Chuí, marcam a divisa entre o Brasil e o Uruguai e atraem turistas o ano todo.
NA BARRA DO CHUI
NO SACO DA FELIZARDA
Para quem tem outros planos de diversão que não a praia de água salgada, a Lagoa Mirim, que faz a divisa entre o Brasil e o Uruguai é medida certa.
Formada somente com água doce é protegida da contaminação de água salgada que entra pela Lagoa dos Patos vindo do mar, por um dispositivo construído no Canal de São Gonçalo, nas imediações de Rio Grande. E um convite para a pesca, mergulhos e passeios bucólicos.
O acesso até o “Saco da Felizarda”, a última enseada do sudeste da Lagoa Mirim, é feito por embargações e principalmente pelo Porto Pindorama, já que por terra é muito difícil e há que se adentrar em propriedades particulares.
Para se chegar ao porto segue-se a partir do centro da cidade pela Avenida Getúlio Vargas, num percurso aproximado de 6km entre asfalto e terra batida. Um passeio imperdível.
Existe no entorno do Porto uma acanhada mas eficiente orla lacustre com quiosques e churrasqueiras para o lazer, que faz a alegria de muitos nas épocas de inverno menos rigoroso.
LAGOA MANGUEIRA
A lagoa de água doce tem 123km de extensão e uma área total de 800km2. Como não tem concentrações urbanas por perto é tida como um excelente local para a prática de mergulho, pesca e esportes aquáticos.
É uma das formações geológicas mais jovens da Terra, com apenas 4,5 mil anos e já foi mar um dia. É uma imensidão de água sobre um leito de conchas fósseis, povoada de muitos peixes e, especialmente, muitas capivaras.
Tida como uma das mais límpidas do mundo, localiza-se toda ela ao longo do município. A lagoa é protegida das águas do mar por dunas junto a Praia do Cassino e nenhum rio ou fonte d´água desemboca em suas águas.
Hoje protegida e com legislação específica, conta-se que o seu entorno já foi cenário de ralis e trilhas feitas por jipeiros de várias partes do Brasil, do Uruguai e da Argentina.
PRAIA DO CASSINO
A praia do Cassino, que banha toda a costa de Santa Vitória e de Rio Grande, com 230km de extensão, é considerada a maior do mundo e alvo de aventureiros em grandes caminhadas por toda ela.
Em sua extremidade norte, junto a cidade de Rio Grande, tem o agito das grandes cidades com aglomeração e gente com suas tendas e guarda sóis colocados em sua orla. Esse balneário é considerado o mais antigo do Brasil, com mais de 125 anos de existência.

Mas para quem busca aventura em sua areias vai encontra-la mais ao sul, margeando a Reserva Ecológica do Taim e, depois, na Lagoa Mangueira em Santa Vitória do Palmar.
A bela visão de seus vários faróis faz valer a pena as imensas caminhadas que os aventureiros mais ávidos pelo esporte empregam, para cobrir toda sua extensão.
O Farol Verga e o Sarita não são habitados, ao contrário do Albardão e Chuí, que são mantidos com efetivos da Marinha do Brasil. Os mais belos são o Sarita e o Albardão.

Outra imagem lúdica que nunca foge das lentes dos aventureiros, tampouco de suas retinas quando retornam para suas casas, é a da visão do navio Altair, naufragado na praia no ano de 1976 depois de sofrer uma tormenta no mar.
FAROL ALBARDÃO
Esse Farol da Marinha do Brasil está disposto em área remota da praia do Cassino, de dificilíssimo acesso e é de grande utilidade para a navegação marítima na região e até para os corajosos aventureiros que caminham pelo Cassino.
O acesso ao farol é feito quase que exclusivamente pela praia ou por picadas nas dunas desertas entre o Mar e a Lagoa Mangueira, ideal apenas para grandes aventureiros em seus off-roads.
Mas antes de se aventurar por lá com suas motos ou gaiolas é bom colher informações atualizadas junto a Marinha do Brasil para não perder a viagem.
Inaugurado em 3 de maio de 1909, foi o primeiro de vários na costa entre a cidade de Rio Grande e a divisa com o Uruguai, exatamente na Praia do Cassino, que tinha uma média de um naufrágio por ano. Só mais tarde foi criada a Estação Ecológica do Taim, o “pantanal gaúcho”.
Muito dificilmente o turista ou mesmo o aventureiro ocasional conseguirá chegar até ele, já que longe de qualquer rota terrestre. As opções são o percurso pela praia do Cassino, quer partindo de Rio Grande, quer partindo de Santa Vitória.
COMPLEXO CAMPOS NEUTRAIS
Embora não tenha sido concebido para o turismo, encanta a todos que se aventuram no extremo sul do Brasil, contaminando nossas fotos da região com as imensas e inumeráveis torres eólicas distribuídas ao longo do município.
Por onde nossa vista alcança vemos esses gigantescos “cataventos” distribuidos na área rural e na orla marítima, produzindo energia elétrica que é utilizada por lá e encaminhada para o outras áreas do país.
Segundo as empresas que exploram o vento, buscam transformar a energia eólica em desenvolvimento sustentável, contribuindo para o crescimento da sociedade e respeitando o meio ambiente.
Com grande capacidade de geração de energia elétrica, as usinas eólicas são fontes de renda a princípio inesgotáveis para os municípios, sem prejudicar a outra fonte de renda da cidade (agricultura e a pecuária), já que se harmonizam perfeitamente.
São vários parque eólicos distribuídos em Santa Vitória, assim como no Chuí, em Osório e em outras cidades sulinas, com ventos suficientes para mover esse empreendimento “de vento em popa”.
RESERVA DO TAIM
A Estação Ecológica do Taim é uma reserva de proteção integral da natureza localizada no sul do Estado do Rio Grande do Sul, com cerca de 70% de sua área distribuída na cidade de Santa Vitória e o resto em Rio Grande.
Sua administração está a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, com outras reservas e parques pelo Brasil todo.
A reserva é caminho obrigatório aos aventureiros que se destinam ao extremo sul do Brasil, a menos que decidam dar a volta e entrar pelo Uruguai.
Sua superfície apresentam ecossistemas representados por praias lagunares e marinhas, lagoas, pântanos, campos, cordões e campos de dunas.
No Taim vivem mais de 30 espécies diferentes de mamíferos e 250 aves, onde destacam o joão-de-barro, o biguá, o maçarico-preto, a garça-moura, o cisne-de-pescoço-preto, o marrecão e muito mais.
Entre os animais de maior porte estão: a tartaruga, a capivara, o ratão-do-banhado,o cachorro do mato, a lontra e o temido jacaré-de-papo-amarelo, sempre a espreita de uma refeição a beira da pista.
Com a visita feita em Santa Vitória do Palmar deixamos de vez o extremo sul do Brasil, retornando para São Paulo com uma bagagem de vivencias inesquecíveis, aproveitando também para matar toda a curiosidade que a região nos despertava desde a meninice.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
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