05/04/2019
São João del Rei, a cidade que seria a capital do Brasil se Tiradentes e outros tivessem obtido êxito na inconfidência mineira, é a que apresentamos nesta edição do City Tour.
COMO CHEGAR
Partindo de Belo Horizonte, Brasília ou do Rio de Janeiro, o aventureiro rodará a maior parte do tempo pela BR-040, até a cidade de Barbacena, e só 60km pela BR-265, entre Barbacena e São João del Rei.
Com essa regra o brasiliense rodará pela BR-040 aproximadamente 900km; o belo-horizontino, 175km; e o carioca, 275km, em qualquer caso acrescido dos 60km narrados anteriormente.
Para o paulista que partir da capital o trajeto total será de 475km, sendo 365km pela Rodovia Fernão Dias (BR-381) e o restante pela BR-256.
HISTÓRIA
A fundação dessa cidade brasileira tem suas origens junto com a de Tiradentes e de Santa Cruz de Minas, a partir das incursões dos bandeirantes paulistas na região, em buscas das riquezas minerais de seu solo.
No início do século 18 era chamada de Arraial Novo do Rio das Mortes e foi palco da sangrenta Guerra dos Emboabas, que atingiu vastas regiões das Minas Gerais. O antigo povoado alcançou o status de vila e o nome atual apenas em 1713.
O interesse na região era primordialmente o ouro, mas na sua cola vieram a pecuária e a agricultura, o que permitiu todo seu desenvolvimento e sua elevação à categoria de cidade, em dezembro de 1838.
Em suas terras (ou na vizinha Tiradentes) nasceu um das pessoas mais ilustres e icônicas do Brasil: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. A divergência se seve a disputas por áreas territoriais desde aqueles tempos, e cada cidade tem para si como o berço do inconfidente mor.
Mas não se pode falar do herói da inconfidência sem falarmos da maior heroína dessa insurreição: Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, essa sim nascida e batizada incontestavelmente na cidade, mas que teve seu passamento em São Gonçalo do Sapucaí.
Pelo que se consta de vários documentos da inconfidência, era objetivo dos conjuras que a nova capital do Brasil, depois de sua independência, fosse São João Del Rei.
A CIDADE
Situada entre a Serra de São José e a do Lenheiro, é banhada pelos rios Elvas, Das Mortes Pequeno e Das Mortes.
Com uma área territorial bastante avantajada, tem na pecuária uma das principais fontes de renda, mas a indústria também não fica atrás, pelo menos nos últimos anos.
Industrias multinacionais tem na cidade um vasto campo para mão de obra especializada, cada vez mais incrementada com o Campus da Universidade Federal de São João Del Rei, entre outras tantas instituições, como a fazenda experimental Risoleta Neves.
A cidade comporta hoje uma das principais áreas comerciais de toda Minas Gerais, dividindo o casario centenário com grandes edifícios modernos.
O aeroporto de São João del Rei é o principal da região dos Campos das Vertentes, operando com administração terceirizada mas com aeronaves para vários destinos de Minas Gerais e São Paulo.
A cidade é grande e com ruas mais largas na parte moderna, contrastando com as ruazinhas e vielas do centro histórico, essas pavimentadas com pé de moleque ou paralelepípedo. Entre umas e outras vivem mais de 90mil são-joanenses.
Porém, o excesso de veículos; a “qualidade” dos condutores; e a falta de fiscalização adequada; faz de São João del Rei uma das piores (se não a pior) cidade para se trafegar em Minas Gerais.
O jeito é ir com calma e deixar acontecer, sem se estressar, pois realmente não vai valer a pena.
Já no quesito religiosidade suas igrejas são referência do barroco nacional e grandes templos setecentistas disputam as ruelas estreitas e becos do seu centro histórico.
Com certeza não conseguiremos elencar nestas poucas linhas, todas as igrejas barrocas levantadas na cidade, mas faremos menção às mais tradicionais.
MATRIZ DO PILAR
A Catedral fica disposta no meio da Rua Getúlio Vargas, sem uma típica pracinha à sua frente.
Foi erigida pela Irmandade do Santíssimo Sacramento e era reservada aos homens brancos mais abastados da cidade.
Sua construção substituiu a antiga capela levantada em 1703 e incendiada na guerra dos emboabas, e já em 1732 estava com as paredes principais levantadas, bem como os portais, altares e capela-mor prontos.
Em 1750 a Igreja foi tica como concluída, já com suas torres, ornamentos do forro da nave, pinturas, painéis e douramento.
IGREJA DO CARMO
Sua construção teve início por volta de 1750, no auge do rococó. Embora tenha uma fachada tradicional para a época, cheia de esculturas em pedra sabão, seu interior é mais suave e de uma delicadeza incrível.
Sem o dourado característico de uma época, transmite ao devoto a paz de espírito necessária para suas orações.
Por falar em orações, a igreja fica aberta quase todo o dia e é visitada constantemente por fieis em busca de suas blandícias
Sua localização é no final da Rua Getúlio Vargas, com a qual fica exatamente de frente, num pequeno largo (Largo do Carmo) sem mais atrativos que o próprio piso de paralelepípedo.
IGREJA DO ROSÁRIO
Na ponta oposta da mesma Rua Getúlio Vargas e em frente ao Solar dos Neves, está sediada a Igreja do Rosário, fundada pela Irmandade Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, essas compostas exclusivamente por negros.
Também essa igreja substitui a capela antiga, construída na fundação da cidade, e teve seu início por volta do ano de 1751.
A capela-mor é bem espaçosa e tem iluminação natural através de quatro óculos de forma ovalada, dois de cada lado.
Sua talha é de autoria do artista Luís Pinheiro de Sousa, o mesmo que serviu de mestre do serviço do retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco de Assis.
Quatro colunas de fustes estriados, base de canelura em espiral e capitéis da ordem compósita, formam como que nichos ladeando a abertura do trono e sustentam o entablamento que corre pelos lados.
Em nossa visita tomamos a liberdade de ver um registro de obituário de antigo confrade da Ordem, falecido naquele dia.
IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS
A Igreja é tida como uma dos principais expoentes do barroco brasileiro e sua construção foi iniciada em 1774. Com projeto de Aleijadinho, que também participou das obras, o trabalho de alvenaria coube ao mestre Francisco Cerqueira, que impôs severas modificações ao projeto original.
Construída pelos membros da venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis, foi concluída nos primeiros anos do século 19 e hoje é tombada como patrimônio histórico nacional.
Ao contrário da capela-mor, os altares da nave aparentemente nunca foram dourados e em algum momento foram pintados de branco. O forro da nave também não foi decorado, e só apresenta um medalhão central em relevo de onde pende uma luminária.
A fachada é uma obra prima a parte, e por si só vale a pena ser visitada. Esculpida e adornada em pedra sabão, o frontispício da igreja guarda beleza ímpar.
A despeito das modificações introduzidas ao longo dos anos, a decoração da fachada segue o projeto original de Aleijadinho, mesclando barroco e rococó.
Existem muitas lendas agregadas à Igreja, quiçá fruto da imaginação fértil dos moradores da cidade, fundido com alguns costumes da época.
A imagem mais impactante é de São Francisco de Assis recebendo sua ordenação como sacerdote pelo papa, com seus pés desnudos, caracterizados com a irreverencia do mestre Aleijadinho.
Nos fundos da igreja existe um pequeno e bem seguro cemitério para os membros da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, no qual um dos túmulos mais famosos é o do presidente Tancredo Neves e sua esposa, D. Risoleta Neves.
OS SINOS QUE FALAM
São João del-Rei é também denominada como “Terra onde os sinos falam”: É a única cidade no Brasil onde os sinos ainda são ouvidos de dia e de noite com tantas variedades de toques.
Muitos desses toques vieram de Portugal trazidos pelos colonos, um deles, em especial trazido do Vaticano.
Porém, a maior parte dos toques lá existentes foram criados pelos próprios sineiros e funcionavam bem antes da existência dos meios de comunicações atuais.
Bom saber que cada sino tem um nome, uma história e um som, bem como existem variadas modalidades de toques: dobre simples, dobre duplo, repique, etc.
No caso de aviso de missas a fórmula é essa: meia hora antes da hora da missa é dado o toque no sino pequeno, em pancadas seguidas (18 ou mais). No final do toque de entrada as pancadas espaçadas indicam quem será o celebrante: · 3 pancadas – o coadjutor · 4 pancadas – o vigário · 5 pancadas – o bispo · 7 pancadas – o arcebispo metropolitano |
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Mas há inúmeras situações distintas com suas regras próprias: Missas festivas, novenas, chamada de irmãos, finados, homenagens, enterros, Natal, ano novo, quaresma, etc.
Ou seja: se você se familiarizar com os toques, certamente saberá o que acontece em cada uma das igrejas da cidade, sem precisar sair de casa para isso.
SOLAR DOS NEVES
O bonito e bem conservado casarão pertence à família Neves. Foi a residência do presidente Tancredo de Almeida Neves entre os anos de 1957 e 1985.
Depois do falecimento de Tancredo sua esposa, Dona Risoleta Guimarães Tolentino Neves, utilizou-se do casarão até a sua morte, no ano de 2003.
Atualmente é utilizado como residência do ex-governador e senador Aécio Neves em suas visitas à cidade. Fica situado na Praça Embaixador Gastão da Cunha (Largo do Rosário), bem em frente da Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
É ponto de visitação de muitos turistas e de excursões escolares.
MEMORIAL TANCREDO NEVES
O memorial fica em frente a Ponte de Pedra do Rosário, voltada ao córrego do lenheiro, e fica a meio caminho entre o Solar dos Neves e a Igreja de São Francisco de Assis.
Lá podemos ter uma ideia bem exata da vida pessoal e política do ex-presidente Tancredo Neves, mas também uma visão da história recente do país
O casarão que abriga o memorial foi construído do século 18 e remete-nos totalmente ao passado, posto ficar numa esquina e sem a pompa tradicional desse tipo de atividade.
Para quem gosta do tema político, poderá contar com um grande acervo da luta desse brasileiro são-joanense no cenário político do Brasil, dispostos em salas contíguas que relembram o homem e o político.
Independente de nossa formação política, temos que Minas Gerais está para Tancredo Neves assim como o Sul está para Getúlio Vargas, cada um com sua postura, cada um com seus projetos.
Fato inconteste em todo o interior das Minas Gerais é vermos com frequência, nas salas das mais simples residências, uma imagem de Jesus, outra de Maria e uma terceira: a de Tancredo.
TEATRO MUNICIPAL
Com todo o glamour que se espera de um prédio destinado à ser o Teatro Municipal de uma cidade, São João del-Rei não fez por menos e o edifício é, sem sombra de dúvidas, um dos mais importantes do interior brasileiro.
Sua imponente fachada, em estilo greco-romano e com três majestosas portas, precede de uma escadaria guarnecida por balaustradas semicirculares.
Sua localização é bem fácil: fica à margem esquerda do Córrego do Lenheiro, no centro histórico da cidade.
NOSSA VIAGEM
Nossa viagem à São João del Rei começou nas imediações da cidade de Capela Nova, também em trecho da Estrada Real, num dia bastante nublado.
TOUR EM PALMITAL
Seguimos pela estreita MG-275 em direção da BR-040 sem chuvas e gastamos algum tempo conhecendo o simpático Distrito de Palmital, pertencente a cidade mineira de Senhora dos Remédios.
Continuando nosso roteiro cruzamos as cercanias de Carandaí e a chuva veio a nos pegar de jeito na BR-040 e não nos abandonou mais por vários dias.
Nossa primeira parada foi na cidade de Ressaquinha e mais uma vez repetimos a sina de tomar chuva quando lá estamos. A parada foi breve e apertamos o passo para chegarmos logo em Tiradentes, pois nossos óculos tinham quebrado e precisávamos conserta-lo.
Assim, rodamos rapidamente pela BR até a cidade de Barbacena, na qual não entramos, e seguimos direto para Tiradentes, ainda sob chuvas que teimavam cair forte em alguns trechos.
Antes de chegarmos em São João del Rei ficamos hospedados em Tiradentes, não só para consertarmos nossos óculos, mas para concluirmos mais uma matéria que você já pôde conferir em nosso Portal D Moto – clique aqui
Aliás, nesse link o leitor poderá conferir, também, como foi nossa ida até a cidade de São João del Rei.
VISITANDO A CIDADE
Nossa estadia na cidade desta vez foi um pouco mais longa que das vezes anteriores, o que nos proporcionou muito mais contato com sua população sui generis, vivendo ora na modernidade de uma cidade movimentada, ora no bucolismo da era colonial.
Chegamos em São João del Rei ainda com chuva fina e fomos em primeiro lugar nas cercanias da Igreja de São Francisco de Assis, já que pernoitaríamos numa pousada em suas imediações.
Aproveitamos para conhecer a simpática Letícia e sua mãe, vendendo doces caseiros ao lado da Igreja. Não pudemos resistir nem aos doces e muito menos as duas vendedoras. Gente finíssima e com uma dedicação esmerada para com os clientes habituais, da mesma fora que para com os turistas que por lá transitam.
Depois da visita tradicional àquele templo religioso seguimos direto para nossa pousada, afinal a tarde já estava em seu final e tínhamos que colocar toda nossa roupa para secar antes de usa-las novamente.
Curtimos a noite numa cantina próxima da Igreja de São Francisco e nos recolhemos cedo, para que o dia seguinte fosse bem proveitoso.
Embora sem chuvas nas primeiras horas do dia seguinte, o ambiente prenunciava que águas cairiam durante boa parte daquele dia, o que nos fez pilotarmos com cuidado, principalmente no paralelepípedo molhado.
Não perdemos tempo e fomos visitar novamente o centro histórico da cidade, com paradas especiais na Igreja do Carmo e na do Rosário.
Nessa última fomos liberado pelo sacristão para fotografarmos o que desejássemos e, como já o dissemos, acabamos acompanhando os procedimentos para enterro de membro da irmandade, falecido naquele dia.
Tínhamos projetos para almoçarmos num sítio da região, mas soubemos que a estrada estava intransitável por causa das chuvas daqueles dias, inclusive com uma ponte de madeira quebrada. Abortamos o passeio e almoçamos à beira do Lenheiro.
Naquela tarde contemplamos boa parte do centro histórico, porém, mais uma vez não pudemos curtir a Estação Ferroviária, ou melhor: o passeio da Maria Fumaça.
Parece que as chuvas estragaram não só o nosso intento mas o de muita gente, pois o passeio estava suspenso e não haveria a programação do trem para Tiradentes.
O jeito foi continuar visitando as belezas de São João del Rei naquela tarde, já que no dia seguinte retomaríamos o caminho das estradas.
Como não poderíamos deixar passar em branco, acabamos fazendo algumas compras extras com o tempo encoberto e, são João del Rei é pródiga nos trabalhos artesanais com estanho.
Taças, copos, vasos, cálices, jarras, talheres, ornamentos, enfim, todo o tipo de material de estanho pode ser comprado e, em alguns casos, o cliente pode até ver sua fundição, ali mesmo, nos casarões que os vendem.
Não deixaríamos de visitar a fundição artesanal que fica em frente da Igreja do Rosário e na qual já tivemos outras oportunidades de visita-la.
Findo mais um dia a noite chegaria rápido e, depois do banho quente e da roupa trocada, iríamos abusar um pouco no quesito gastronomia, seguindo orientação de amigos para um dos pontos mais chiques da cidade, referência em comida mineira refinada.
Bem próximo do Memorial do Tancredo Neves curtimos um bom tutu de feijão com as iguarias de praxe (torresmo, couve, costelinha, ovo frito e farofa), acompanhado de um vinho local muito bom.
UM VÍDEO TOUR POR SÃO JOÃO DEL REI
Depois foi só voltar à pousada e esperar o raiar do dia seguinte para retornarmos as estradas, em busca de novas aventuras. Boa noite
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
Fotos especiais = César Reis
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