07/06/2017
A equipe do Portal D Moto desta vez esteve na mística São Thomé das Letras, cidade mineira construída sobre uma imensa jazida de quartzito do período neoproterozoico, ocorrido há quase um bilhão de anos atrás.
Literalmente a cidade tem uma única “porta de entrada”, pela bem cuidada e graciosa estrada de ligação LMG-862, vindo de Três Corações; e também uma única “porta de saída”, essa em terra e que liga a cidades como Luminárias, Carrancas e Minduri, já num dos trechos da Estrada Real que passa próximo a São Thomé.
Como ela está situada no topo de uma grande montanha, outro particular da cidade é que todas as suas ruas necessariamente não tem prolongamento natural, terminando no “nada”, a não ser as que dão acesso às duas “portas” já mencionadas.
Chegamos pela “porta principal” e logo depois do imenso Pórtico, com a Imagem do santo protetor, pudemos perceber o desaparecimento do bom asfalto, substituído doravante pelas imensas placas de pedras e, pior, com muitas falhas que por ironia nem se percebiam, dado a irregularidade de seu assentamento, mas fazendo lama nos dias chuvosos.
A cidade não é grande e dificilmente crescerá, dado as suas características geológicas já comentadas, a não ser em bairros mais afastados do seu centro histórico. Menos de 10mil pessoas vivem oficialmente na localidade.
SUA HISTÓRIA
Como quase todas as cidades mineiras, São Thomé não foge à regra. Seu nome vem da lenda do encontro de uma estátua do santo numa gruta por um escravo fugido de nome João Antão, juntamente com uma carta em perfeita gramática, que certamente não pôde ser creditada ao serviçal, pois analfabeto que era.
Outra versão da lenda diz que a carta foi entregue na gruta por um ser de vestes brancas. De qualquer forma João Antão ganhou sua alforria e seu antigo senhor, impressionado com os dizeres da carta (cujo conteúdo não sabemos) teria ordenado a construção de uma igreja no local.
Se “São Thomé” foi dado como nome da cidade pelo que diz a lenda, o topônimo “das Letras” foi acrescentado em homenagem às inscrições rupestres ainda encontradas na gruta, no centro da cidade.
A localidade passou a ser habitada oficialmente pelo homem branco (bandeirantes) a partir da metade do século XVI, quando expulsaram os índios cataguás que aí residiam. A Matriz, em estilo barroco e com pinturas em rococó creditadas à Joaquim José da Natividade, começou a ser construída em 1785.
A cidade era pouco habitada até o início do século XX, usada apenas esporadicamente pelos fazendeiros em épocas de lazer. A extração das pedras locais para serem usadas em piscinas e pavimentação deu novo rumo à economia local e tornou-se a fonte de renda principal da cidade.
TURISMO
Não há como negar. São Thomé vive e respira o turismo de forma natural e assim seria com ou sem incentivos oficiais. Localizada a 1440 metros acima do nível do mar, permite uma observação limpa em todas as direções de vasta área das Minas Gerais.
Mas nem só de contempladores vive o turismo local. Pessoas ligadas às artes em toda sua extensão, além de curiosos e crentes nas aparições de OVNIS e atividades paranormais, tem se apinhado no município criando, inclusive, um comércio todo especial ligado à magia, superstições, crendices e pretensas visitas de alienígenas no local.
Como há suposições que a cidade seja um dos sete pontos energéticos do planeta Terra, para lá são atraídos, quase que por encanto, místicos de todos os tipos, bem como variadas sociedades espiritualistas, científicas e alternativas, o que impõe ao município também a alcunha de “Cidade Mística”.
Por outro lado, se a sede do município atrai esse tipo de público, os arredores atraem um outro, extremamente diferente: o campista, o naturista, os praticantes de motocross, os adeptos dos off road, os bikers, os trilheiros e os mochileiros de todos os gêneros.
O que buscam? Buscam um dos lugares mais aprazíveis das “Gerais”, com grande número de grutas, cavernas, cachoeiras, riachos e corredeiras límpidas, além de mata nativa bem conservada e formações rochosas imponentes à serem “conquistadas”.
O centro histórico, embora adulterado do seu contexto primitivo, é tombado pelo Patrimônio Histórico de Minas Gerais desde 1996, pois mantém grande significado cultural e ecológico.
Se a igreja da Matriz é um desses patrimônios à serem protegidos, a Igreja Nossa Senhora do Rosário, também conhecida como “Igreja de Pedra”, também tem seu valor reconhecido, pois foi confeccionada pelos escravos no século XVIII, com pedras da região sobrepostas umas às outras, sem uso de argamassa.
VISITANDO SÃO THOMÉ
Como todo turista que se dirige à São Thomé tomamos inicialmente o rumo da Praça da Matriz, ao lado da qual está a famosa gruta que deu origem a cidade e ponto de encontro de todos os experts nas belezas e misticismo do lugar.
Comprar um turbante, uma bola de cristal ou uma roupa completa de bruxo ou bruxa são “dois palitos”. Qualquer loja central estará categorizada a consagra-lo como um grande cavaleiro do “Santo Gral”, ou dar-lhes poder de um “Merlim”. Se preferir poderá se converter na bruxa má dos sete anões ou no Smeagol do Senhor dos Anéis. É só escolher.
Deixamos a praça depois de um “dedo de prosa” diferenciado da normalidade do resto de Minas Gerais e seguimos para a “pirâmide”, pois o pôr do sol estava para acontecer.
CHICO TAQUARA
Impossível estar em São Thomé não travar conhecimento sobre Chico Taquara e o caminho subterrâneo para Machu Picchu. Segundo a lenda, a gruta do Carimbado, ponto turístico quase obrigatório por lá, não é toda natural, mas incrementada por civilizações Incas por intermédio de mapeamento astral.
Ainda não se sabe sua extensão e as várias tentativas de incursão em seu seio foram abortadas, depois de vários kms montanha adentro, por falta de recursos técnicos para a sobrevivência em seu interior. Mas por lá se diz ser tal o percurso mágico até o Peru.
Segundo a lenda Chico Taquara, nascido por volta de 1840, foi morar na Gruta do Carimbado quando maior de idade, desaparecendo misteriosamente da cidade em 1916, supostamente pela caminho subterrâneo da gruta.
Tido por alguns como sendo enviado de alguma civilização alienígena, teria ele nessa época retornado aos seus depois de sua tarefa entre nós. Conta-se que em vida fazia curas milagrosas e salvava todos os animais que podia.
Em sua homenagem a cidade fez construir uma pequena praça, toda estilizada em pedra e com sua imagem de pessoa já de idade avançada, sentado junto ao seu cãozinho. Várias histórias sobre Chico podem ser pesquisadas na internet e, acreditar nelas ou não cabe à cada um de nós.
NA PIRÂMIDE
Seguimos com nossa motocicleta toda carregada para a parte mais alta da cidade, caminhando sempre por ruas pavimentadas precariamente com as famosas “pedras de São Thomé”, tomando o cuidado para não cair com a baixa velocidade impingida, por causa das pedras soltas e dos pedestres que transitam habitualmente pelo meio das ruas.
Conseguimos a façanha de estacionarmos a Big Trail exatamente ao pé da Pirâmide, que na verdade é uma construção hibrida. Não é casa, mas parece com uma. A preocupação maior em sua construção parece ter sido o telhado forte, para aguentar multidões sobre ele, embora nada exista para ser “coberto” por esse telhado. Também não é pirâmide e muito pouco faz para lembrar uma.
Seja casa ou pirâmide, o que faz convergir para ela centenas de pessoas todos os dias é a visão do pôr do sol conseguida sobre seu teto. Sem a menor segurança, sem qualquer alça de acesso ou grade de proteção, apinham-se sobre a construção inúmeras pessoas, ávidas por compartilharem a despedida do sol no final do dia.
O entorno da pirâmide constitui o Parque Municipal Antônio Rosa. Uma mistura do psicodélico da era hippie com os usos e costumes atuais, faz mais uma vez a hibridicidade do lugar, “protegido” por vários gurus de plantão, prontos a darem as “melhores” respostas, inclusive aos mais esdrúxulos questionamentos.
IMPRESSÕES
Se é certo que cada lugar imprime em nosso ser suas impressões mais intrínsecas, podemos dizer que em São Thomé essas impressões são únicas, não tendo qualquer outro lugar a mesma intensidade.
É certo, também, que cada um de nós recebe os eflúvios de um determinado lugar, dominado pelo seu modo de ser, de agir, de pensar, de conhecimentos adquiridos, de modo de vida, etc.
Ao nosso ver, cada vez que estivemos na região urbana de São Thomé das Letras sentimos uma espécie de “nó na garganta” de difícil explicação. Sentimos o “peso” de todo o misticismo latente na atmosfera da cidade mexer negativamente em nosso organismo, não obstante a beleza reinante.
Jamais deixamos de passar por essa cidade maravilhosa em nossas incursões nas Minas Gerais, mas dispensamos o mínimo tempo possível ao centro de São Thomé, preferindo suas adjacências com as estradinhas de terra, cachoeiras e mata.
Por isso mesmo o título dessa matéria sugere que é preciso realmente VER PARA CRER e, no caso de São Thomé, acreditamos que cada um de nós, particularmente, terá sua própria experiência com a cidade.
UM TOUR POR SÃO THOMÉ
COMO CHEGAR
A cidade está praticamente a meio caminho entre São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, distando em média de cada uma delas cerca de 370kms, dependendo do caminho traçado.
Rodando 300km a partir de São Paulo pela Rodovia Fernão Dias ou a mesma distância partindo de Belo Horizonte pela mesma Rodovia, o aventureiro chegará a Três Corações e dali serão menos de 45kms até São Thomé.
Já o mototurista que venha do Rio de Janeiro terá que rodar um pouquinho mais, se não quiser trechos de terra para chegar na cidade. Deverá seguir pela Via Dutra até Queluz, contornar o Parque de Itatiaia até Caxambu pela BR 354, e depois seguir para Três Corações por vias secundárias. Serão cerca de 360km nesse percurso e mais 45 até São Thomé.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
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Muito bacana seu blog! Sou do Espírito Santo e gosto demais de rodar pelas terras de Minas Gerais.
Agradecemos por curtir nossas publicações do Portal D Moto e esperamos ainda neste ano fazer uma série de roteiros em terras capixabas.