10/12/2016
Com uma placa contendo essa mensagem, o Sítio da Pedra Pintada recebe seus visitantes em Cocais, ansiosos por verem a imensa “tela de pintura” rochosa, com 122 desenhos rupestres.
O sítio arqueológico em questão foi o móvel maior dessa nova jornada por terras mineiras, no projeto que intitulamos “Pedra Pintada”. Foram dez dias e mais de 2,3mil quilômetros de aventuras por Minas Gerais, boa parte nas vias de terras da Estrada Real.
COCAIS
Cocais é um bucólico Distrito da cidade de Barão de Cocais, que fica a 90km de Belo Horizonte rodando pela BR 381, a mesma Fernão Dias que fomos até a capital Mineira. Na altura do trevo do “Gauchão II derivamos à direita pela MG 436 e não mudamos mais. Sua área urbana mescla o asfalto, os “pés de moleque” e casarões característicos do Brasil colônia.
Também chamada de Vila Colonial de Cocais, tem uma história própria que atrai mais turistas que a sede do município, a oito quilômetros dali. Seu filho mais ilustre e que dá o nome da cidade foi About José Feliciano Pinto Coelho da Cunha, o Barão de Cocais, nascido ali mesmo na Vila em dezembro de 1792. Sua vida foi permeada de particularidades, mas acabou reconhecido.
A pequena comunidade está sediada no sopé do Maciço rochoso da Cambota, que corta boa parte de Minas Gerais, proporcionando aos aventureiros e aos adeptos do ecoturismo, preciosos locais para caminhada, ciclismo de montanha e escalada, sempre entre uma vegetação onde predominam os “campos rupestres” e as centenárias “Canelas de Ema”.
UM TOUR POR COCAIS
RUMO AO SÍTIO ARQUEOLÓGICO
Por falar em campos rupestres, nosso destino da vez estava a 3,5km da sede do Distrito de Cocais: O Sítio Arqueológico da Pedra Pintada, programa imperdível para quem busca história, conhecimento e um lugar agradabilíssimo na Serra da Conceição.
Depois de fazermos um pequeno tour no Distrito de Cocais, tomamos o rumo pretendido, começando nosso trajeto sobre um “mata-burro” mineiro e seguindo por um gracioso trecho da Estrada Real, todo em terra vermelha em sua maior parte. A beleza e sinuosidade do percurso é uma maravilha a parte, que por si só já coroaria nosso passeio por essa região mineira.
Subir e descer pelas colinas serpenteadas rejuvenescia-nos e alegrava-nos. Uma parada seria inevitável à contemplação. Estacionamos a motocicleta num pequeno oásis beira pista, onde estava fincado um dos preciosos e conhecidos marcos “ER”. Não esticamos as pernas, mas os olhares para o infinito, buscando não perder uma única partícula daquele esplendor de lugar.
Trafegávamos pelo “Caminho dos Diamantes”, no trecho da Estrada Real que ligava Diamantina a Ouro Preto (Vila Rica) e nas imediações da Pedra da Cambota e do córrego São Miguel. A vista panorâmica que já era percebida há séculos pelos primeiros mineradores, podia agora ser sentida por nós, nos tempos modernos, como a mesma beleza dos tempos antigos.
NA “PEDRA PINTADA”
E assim chegamos ao Sítio Arqueológico, localizado a 1250m de altitude, numa área de preservação tombada pela UNESCO como reserva da biosfera. Uma bonita porteira, seguida por uma bem pavimentada alameda, nos levou ao interior da propriedade.
A área é particular e administrada pela família Diniz, hoje composta por aproximadamente 40 descendentes do patriarca que em 1830 adquiriu o local e, mesmo sem uma vasta cultura pessoal, cuidou imediatamente de conservar as pinturas para a posteridade, não deixando que ninguém chegasse perto ou tocasse nas obras, como se fosse um sacerdócio.
Só a partir de 1945 que o lugar veio ser estudado pelo dinamarquês Peter Lund, que encetava várias pesquisas arqueológicas em Minas Gerais. Hoje o Sítio é objeto de estudos permanentes da UFMG e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Segundo consta, mais de 70% dos visitantes da Pedra Pintada são estudantes brasileiros e do exterior.
No sítio fomos recebidos por Elisabete, tataraneta do primeiro Diniz que nos deu toda a atenção devida ao lado de seu pai José Roberto, e nos conduziu-nos pessoalmente até os imensos paredões de pedra com os desenhos rupestres, sempre mostrando as particularidades do local que não conseguíamos ver por conta própria.
Nesse lugar o turista ou o estudante acaba viajando no tempo e no espaço, especialmente quando analisa e tenta interpretar as obras de arte estampadas na rocha dura. Em muitas dessas pinturas percebe-se uma grande “resolução gráfica” daquilo que pretendia mostrar o “blogueiro das cavernas”. Um roteiro de viagens? Uma publicidade gastronômica?
Pelo que ficamos sabendo, desenhos com as características e semelhanças aos aqui encontrados só são possíveis de ver na Espanha e na França. No sítio da Pedra Pintada estão registrados quatro estilos de grafismos, sobrepostos uns aos outros em alguns casos, e feitos com pigmentos minerais que podem explicar a cronologia da pintura do paredão.
Os compêndios dizem que o local não serviu de moradia, por possuir registros possivelmente ritualísticos ou estratégicos. Entretanto, em nossa observação profana entendemos que o sujeito do canto inferior esquerdo gesticulava para que seu amigo do outro lado, não deixasse a caça fugir como no dia anterior. Especular não custa nada e que nos perdoem os especialistas.
ASSISTA AO VÍDEO
MAIS PEDRA PINTADA
Também apuramos que são mais de 780 sítios arqueológicos com esse tipo de arte rupestre em rochas e grutas em todo o Brasil. Para o bem da verdade, esses “pintores brasileiros natos” deixaram um rastro retratando sua forma de vida.
Se deixarmos de lado a imposição acadêmica do que quer dizer isso ou aquilo, nossa mente viajaria às alturas na interpretação dos desenhos da parede e de outros “rabiscos” periféricos, que quase sempre estão presentes. São milhares de sinais simétricos, iguais aos de presos marcando os dias nas paredes. Serão mesmo crenças e rituais ou a expressão do artista de passado?
Saibamos ou não as intensões de nossos ancestrais, numa análise simples dos paredões podemos obter algumas respostas:
Os paredões são originais, ou a erosão teria destruído as pinturas que estão intactas; Os animais existentes há pelo menos seis mil anos são os mesmos da atualidade, com exceção da mutação natural de cada espécie; Os homens eram os únicos seres que manipulavam instrumentos e viviam em grupos; Havia um senso de proteção entre os humanos e os animais.
O resto? O resto é objeto de estudos, de análises e, quando nada der certo, especulações.
AS DELÍCIAS DE JABOTICABA
A hora já ia alta e estávamos prontos para deixar o sítio arqueológico, quando ouvimos Elisabete nos alertando: Já vão assim? Sem experimentarem nossas guloseimas de jaboticaba?
Acedemos a sugestão da anfitriã, pois além das maravilhas naturais o lugar possui centenas de jabuticabeiras que estavam em plena produção quando lá estivemos. É com seu fruto que produzem ali mesmo inúmeras delícias. Vinhos, licores, compotas, geleias e farinhas de jabuticaba desfilaram a nossa vista (e principalmente ao nosso paladar) na lojinha da recepção.
Evidentemente deixamos tudo de lado para saborear aquelas iguarias, só sentido não poder levar nenhum conosco, pois não havia um único lugar para acondicionar esses produtos na motocicleta. A ideia foi despachá-los para nossa casa, mas parece que não deu certo: O correio não aceitou e a exceção era muito cara. Sobraram as lembranças.
QUER PROVAR?
A CACHOEIRA DE COCAIS
Ao lado do sítio existe a famosa cachoeira de Cocais (ou da Pedra Pintada), com queda d´água de 30m, que atrai muita gente nas épocas mais quentes do ano, além de muitas outras pela redondeza. Não foi possível chegar nas cachoeiras neste dia, já que o tempo ameaçava chuvas fortes que já tinham ocorrido nos dias anteriores
O acesso é por uma estradinha de terra que parte ao lado da entrada do sítio, num percurso de menos de um km. No dia de nossa visita o volume de água era intenso, o que não permitiria uma visita segura. Depois da calorosa acolhida, deixamos definitivamente o Sítio, retornando pela Estrada Real até o Distrito de Cocais, para dali seguirmos viagem.
O RETORNO POR COCAIS
Retornamos ao centro de Cocais por caminho diferente da ida, e fomos direto para a Igreja da Matriz do Rosário, construída por um grupo de negros forros e senhores mestiços, na época da mineração. Situa-se numa bonita Praça arborizada, toda em estilo colonial, com seu típico jardim bem cuidado e as pedras redondas servindo de piso tradicional.
Aproveitamos para “puxar prosa” com pessoas da região e acabamos adentrando na igreja para conhecê-la. Feita para ser uma opção aos negros e desvalidos, superou a Igreja Santana e se tornou a Matriz. Realmente uma pérola barroca encravada no meio do que eles chamam: “Entre Serras”, um espaço montanhoso entre as Serras da Piedade e da Serra do Caraça.
Finalmente deixamos o Distrito de Cocais, percorrendo novamente suas ruazinhas calmas e aconchegantes com nossa motocicleta, e contornando a Igreja Santana, com seu cemitério sem muro que faz parte do conjunto arquitetônico original. Em poucos minutos ganhávamos a rodovia, rumo a Barão de Cocais. Mas essa é uma outra história.
Via de regra o Sítio da Pedra Pintada funciona todos os dias entre as 9h as 16h. Aos sábados e domingos começam um pouco antes, as 8h. Não é permitida a entrada de produtos que possam degradar as paredes e as visitas são sempre monitoradas, sem exceção. O preço por pessoa é de R$ 7,00. Há estacionamento e pequena lanchonete no lugar. Melhor ligar se desejar refeições ou para outras informações (31) 99718-2923 ou 99998-9419 – e-mail: sitiopedrapintada@yahoo.com.br
Gostou da matéria? Faça um comentário e envie-a aos seus amigos.
Não gostou? Envie-nos então suas críticas ou sugestões.
CLIQUE AQUI E VEJA TODAS AS FOTOS
CRÉDITOS
Texto e edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos – Marcos Duarte
conheçam também:
https://skfb.ly/6woIT
Modelo 3D do Sítio Arqueológico Pedra Pintada
Distrito de Cocais – Barão de Cocais – MG
© Rolling Drone Geotecnologias 2018
Maravilhosa essa imagem em três dimensões da Pedra Pintada. Quando estivemos lá não tivemos toda essa visão, porém fizemos muitas fotos em altíssima resolução e em RAW. obrigado por compartilhar conosco sua imagem.