30/06/2019
Nesta edição do City Tour trazemos para você, leitor amigo, um passeio pela histórica cidade de Serro, que produz um dos melhores queijos mineiros e fica quase no topo da Estrada Real.
COMO CHEGAR
Para quem partir de Belo Horizonte o caminho mais curto será pela MG-010 (227km), que passa bem no meio da Serra do Cipó. Mas o aventureiro poderá encontrar parte do trajeto, após Conceição do Mato Dentro, em terra batida e com muitos trechos em obras.
Já para o paulistano o trajeto é bem maior (820km), pois terá de passar primeiro por Belo Horizonte antes de seguir viagem como acima descrito.
Quem partir do Distrito Federal rodará um pouco menos que o paulistano para chegar em Serro (760km), sendo os primeiros 560km pela BR-040, até Felixlândia, e depois seguindo pela BR 259, em direção de Diamantina.
HISTÓRIA
O povoamento que deu início a cidade começou a se formar em 1701, com o nome de Arraial do Ribeirão das Minas de Santo Antonio do Bom Retiro do Serro Frio, na Serra do Espinhaço.
Sua elevação à condição de Vila é bem antiga, datando de 1714 e com o nome de Vila do Príncipe. Sua elevação à categoria de cidade, com o atual nome de Serro, se deu em 1838, mas desde 1714 já era sede da comarca de Serro Frio.
A localização da cidade está junto da cabeceira do Rio Jequetinhonha, que nasce como um “fio d´água” nas proximidades do Distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras, na comunidade chamada Capivari.
A cidade se formou por causa da extração do ouro encontrado em abundância na região, o que ocorria com fartura nessas Minas Gerais do passado, estendendo até nossos dias, embora com extração mecanizada.
Só depois de sua fundação foi descoberta novas jazidas minerais mais ao norte, na região de Milho Verde, São Gonçalo do Rio das Pedras e Diamantina, causando na época grandes preocupações da Coroa Portuguesa, que impôs severas restrições à sua mineração com receio do desvio das riquezas para o contrabando.
JACINTA SIQUEIRA
A história de Serro Frio poderia ser diferente sem o aparecimento dessa personagem histórica, sendo ela a principal responsável pela fundação da cidade, antes mesmo dos primeiros moradores chegarem ao local, em 1701.
Escrava africana com conhecimento em mineração, veio já alforriada para a região do Serro a partir da Bahia, especialmente para exploração de minérios, trazendo consigo escravos de sua propriedade (??!!).
Como se disse, sua fama remonta ao ano de 1700, quando encontrou muito ouro na sua primeira “bateiada”, o que mudou sua vida, transformando-a numa das maiores mineradoras das Minas Gerais, passando a ser grande proprietária de terras e… de “escravos”.
Como uma mulher rica e de muito prestígio, teve vários filhos de pais diferentes, tidos com os homens de maior prestígio social da Vila. Foi ela quem mandou construir a primeira Igreja da Purificação na cidade, hoje demolida, além de deixar muitos descendentes na região.
O “reinado” de Jacinta de Siqueira estendeu-se até sua morte em 15 de abril de 1751, quando deixou um testamento manuscrito em onze páginas, que ainda se encontra no cartório da cidade.
Pelos anais de sua vida, nota-se que o final de seu “reinado” no Serro, como a “Rainha do Ouro”, coincidiu com o início do “reinado” de Chica da Silva em Diamantina, a poucos km dali, que foi chamada de “Rainha do Diamante”.
A história completa dessa personagem de nossa história pode ser pesquisada no Guia do Serro, bem como no livro de Gilberto Freyre: Casa Grande & Senzala, facilmente encontrado nas livrarias.
A CIDADE
Fixada no Caminho dos Diamantes da Estrada Real, o Serro é uma das mais belas e antigas cidades históricas de Minas Gerais, e não tem como estar no Serro sem conhecer seu maior patrimônio atual: O Queijo do Serro.
Seu processo artesanal e único é reconhecido nacionalmente por registro especial. É um crime não experimenta-lo por lá.
O município tem uma topografia bastante irregular, com ladeiras íngremes e muitos morros e serras ao seu redor, o que torna difícil rodar pelas suas ruas, mais ainda por causa de seu calçamento em pedras rústicas.
Aproximadamente 25mil habitantes dividem-se entre os Distritos de Milho Verde, São Gonçalo e áreas rurais, e pouco menos da metade usufruem da área urbana do Serro.
Entre seus casarões antigos e ladeiras estreitas existem vários pontos de interesse ao turista, tais como confortáveis e acolhedoras pousadas; alguns hotéis comerciais; e uma vasta quantidade de lugares para degustarmos as iguarias da cidade e das Minas Gerais.
O comércio é relativamente acanhado, dependendo muito de Diamantina e até mesmo de Belo Horizonte para produtos mais específicos.
VÍDEO TOUR PELA CIDADE
ECOTURISMO
O Serro dispõe, além das atrações históricas, um turismo ecológico rico em cachoeiras, piscinas naturais e trilhas, abrigando parte do Parque Estadual do Pico do Itambé, berço de vegetação do cerrado.
Para se chegar ao ponto mais alto de lá o candidato deve se dirigir à portaria do Parque, que fica a 20km da cidade pela MG-010, e subir por trilhas demarcadas até o cume, num trajeto aproximado de 8km.
Segundo consta, são mais de 100 cachoeiras ou quedas d´água espalhadas no Serro, principalmente nos Distritos de Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras, como já apresentamos ao leitor em outras matérias. As mais procuradas são: a Cachoeira do Moinho, do Lajeado, a Cachoeira do Carijó e a Cachoeira do Tempo Perdido, localizada aos pés do Pico do Itambé.
IGREJA DE SANTA RITA
É o maior cartão postal da cidade. Está localizada na parte alta do município e ostenta uma imponente torre central. Em sua frente o visitante vai encontrar a escadaria que o levará até o centro da cidade, na parte baixa. Pela sua localização privilegiada, pode ser vista por quase todos os moradores.
Trata-se de uma das mais antigas igrejas da localidade, sem data precisa de sua construção, mas que se presume ser no início do século 18, vez que em 1745 já se fazia referência à ela em campanhas para sua ornamentação.
O acesso principal é mesmo pela bela e longa escadaria de pedras, com seus 57 degraus largos, que proporciona uma das paisagens coloniais mais bonitas e originais de Minas Gerais.
Por mais bela, antiga e original que seja, a edificação ainda não está amparada por medida direta de tombamento, mas é assim considerada no acervo arquitetônico e paisagístico da cidade.
IGREJA DO CARMO
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo foi construída pela Irmandade de mesmo nome e suas obras foram executadas de 1767 a 1781.
Nota-se no frontispício uma tarja talhada em madeira representando a figura de N. S. do Carmo entregando os escapulários a São Simão Stock. Os altares são de estilo rococó cujo autor é desconhecido.
A edificação da igreja é sustentada por enormes muros de pedras cobertos por vegetação, e o acesso principal se dá por uma escada fronteiriça, em forma de cálice.
Foi tombada pelo IPHAN em 24 de novembro de 1949. Juntamente com a Praça João Pinheiro (antigo Largo da Cavalhada), a Igreja de Santa Rita, belas casas e palmeiras imperiais e a grande escadaria (escadinha) forma o conjunto arquitetônico mais expressivo da cidade.
IGREJA MATRIZ
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição é a principal igreja da cidade e uma das maiores igrejas barrocas de Minas Gerais, possuindo as torres em madeira mais altas entre as igrejas coloniais mineiras.
Tem-se, nos registros da cidade, que foi possivelmente neste templo que o Maestro Lobo de Mesquita ensaiou seus primeiros acordes musicais, antes de se tornar a celebridade na música nacional.
Como particularidade tem o altar-mor desenhado em talha rococó, de autoria do entalhador Bartolomeu Pereira Diniz, mas também outros profissionais trabalharam no retábulo, na pintura, no douramento, etc.
Na pintura do forro da nave vemos a imagem de Nossa Senhora cercada de nuvens, anjos e ornatos, cuja data de confecção é tida como 1828. A obra é atribuída à Manuel Antonio Fonseca.
A igreja é cercada por uma paisagem urbana composta de escadarias; de uma majestosa muralha de pedra sabão; de ladeiras laterais e gramados sobre belas ondulações do terreno.
NOSSA ESTADIA
Chegamos ao Serro pela manhãzinha, vindo de Conceição do Mato Dentro e com destino em Diamantina, no topo da Estrada Real. Na época da viagem boa parte desse trajeto foi feito em terra batida, mas verificamos muitas máquinas na pista, demonstrando que em breve seria pavimentada.
A princípio só passaríamos pela cidade rapidamente para não atrasarmos nosso roteiro, mas sua impressionante beleza nos fez esticar a parada, para curtirmos cada cantinho de lá antes de partirmos no final da tarde.
Mas a parada teve um outro motivo: Entramos na cidade para pedir auxílio para um casal de motociclistas que sofreu um acidente na estrada e, embora não tivessem se machucado, a moto estava sem condições de rodar e precisavam de ajuda para reboca-la.
ESTRADA RUMO AO SERRO
Mesmo tendo tomado um bom café da manhã antes de sairmos de Conceição do Mato Dentro, entramos num estabelecimento da cidade para curtirmos um petisco extra, evidentemente com os famosos queijos do Serro. Delícia.
Em seguida era vez de conhecermos as ruazinhas estreitas, com suas pedras grandes irregulares ou com os tradicionais “pés de moleque”, dificultando muito a pilotagem já que os escorregões costumam ser constantes.
E lá fomos nós conhecer a Igreja do Carmo, a da Matriz e a Igreja de Santa Rita, com sua imensa escadaria (que eles chamam de escadinha) que liga dois templos.
Para curtirmos melhor as ruas principais e as do comércio local, o jeito mais simples foi estacionarmos a motocicleta nas adjacências da Estação Rodoviária e circularmos a pé.
Nesse sobe e desce passamos boa parte do dia e a tarde já começava despontar. Aproveitamos, então, para experimentarmos os pratos do mais tradicional restaurante do Serro e não nos enganamos mesmo.
Além do ambiente aconchegante e de muito bom gosto, o espaço era bastante amplo e bem próximo da Praça principal.
Infelizmente nessas viagens não podemos abusar das gostosuras, ou seguramente não teremos ânimo de seguir em frente com uma moto pesando 300kg quando carregada.
DEIXANDO O SERRO
Por volta das 15h30m deixamos Serro com destino à Diamantina, mas evidentemente e como é nosso costume, não seguiríamos pela rodovia principal (BR-259), mas sim pela via vicinal que seguia em direção de Três Barras, Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras, paralelamente com a nascente do Rio Jequetinhonha.
A primeira parada foi em Três Barras, que por coincidência também é a primeira comunidade por onde passa o Rio Jequetinhonha depois que nasce. Por falar no rio, temos que depois de desfilar por mais de mil quilômetros, seu destino é desembocar no Oceano Atlântico, na cidade de Belmonte/BA, nas proximidades de Porto Seguro.
Três Barras é uma comunidade acolhedora e minúscula, tendo como pano de fundo o maciço rochoso da Serra do Espinhaço, todo brilhante pela iluminação oblíqua que o sol irradiava naquelas horas do dia.
Aliás, seguindo nossa viagem até Diamantina fomos acompanhados de perto pelas montanhas cintilantes da Serra, que desenhava aos nossos olhos, momento a momento, paisagens lúdicas de rara beleza.
UM LINDO VÍDEO TOUR ATÉ TRÊS BARRAS
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
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