Esta viagem foi feita em 10 dias, percorrendo cerca de 2.100 km. Visitamos 60 cidades mineiras com uma pequena Kansas 150cc, que foi uma brava guerreira sob o sol escaldante nas terras da inconfidência. Acompanhe a aventura.
A notícia nos jornais era de frente fria. Isso nos fez modificar um pouco as roupas de viagem. Ao invés da tradicional calça jeans, uma de couro. Ao invés de uma jaqueta mais arejada, uma impermeável. No entanto a previsão climática não se sustentou e o sol nos acompanhou em quase todos os segundos da viagem, o que poderia desanimar a muita gente, menos a nós.
Uma Yes 125cc também participou de todo o percurso e, igualmente a Kansas, deu conta do recado. Não esperávamos grande desempenho das motos, afinal teríamos 10 dias de viagem, numa média de 200km diários. Tranquilidade total. O início do percurso se deu em São Paulo, pela Via Anhanguera. Até lembramos a música sertaneja…
1º DIA
O destino do primeiro dia era perto: São João da Boa Vista, ainda em São Paulo. Passamos por Jundiaí, Campinas, Mogi Mirim, Mogi Guaçu, Estiva Gerbi e Aguaí, dando uma paradinha básica em alguns desses lugares, já que o interesse era Minas Gerais.
2º DIA
No segundo dia de nossa viagem partimos pela hora do almoço de São João da Boa Vista, sem pressa alguma. Em pouco tempo desfrutávamos de Águas da Prata e logo depois estávamos em Poços de Caldas(1), já em Minas Gerais. Essa famosa cidade hoje não mais lembra os tempos antigos.
Passamos pelos jardins floridos, mas sem o cuidado de outrora. O lendário trenzinho suspenso hoje não existe mais e seu monotrilho estende-se como um fantasma pela cidade. Há ainda a beleza de alguns Parques, mas seu tempo de glamour decididamente se foi.
Apertamos o passo em direção a Botelhos(2), mas pouco antes de chegarmos o pneu da Kansas furou. Bela hora para perceber que ele tinha câmara, felizmente o carinho do mineiro se fez presente e em pouco tempo a moto tinha sido socorrida por um motorista, que fez questão de leva-la para o seu borracheiro preferido, no centro da cidade.
Ficamos meio apreensivos, mas a toa. Em menos de uma hora a moto estava prontinha, com câmera nova e tudo mais. O preço? Menos que o valor para encher o tanque da Kansas. Despedimos e voltamos ao roteiro original, agora em direção de Cabo Verde(3), assim aproveitaríamos para conhece-la e abastecer a moto pela primeira vez na viagem. Constatamos que a Kansas “roubava” kms” em relação a Yes, marcando distância sempre maiores. A verdade estava com a Suzuki, que sempre marcou corretamente.
Já era finalzinho de tarde quando chegamos em Muzambinho(4), loucos de vontade de experimentar o doce de leite de lá, famoso no Brasil inteiro. Passamos pelo centro da cidade que não tem grandes atrativos e fomos em busca de do Hotel onde ficaríamos.
Uma noite bem dormida, mas não sem antes um gostoso lanche na praça. Nossa rotina de toda a noite era a seguinte: Chegar no destino, colocar para carregar o equipamento eletrônico, descartar a roupa usada, preparar a roupa do dia seguinte, etc. Dez dias de viagem significavam: 10 cuecas/calcinhas; 10 camisetas, 3 pares de meia e um par de tênis extra, para cada um de nós, fora as roupas de proteção de viagem.
3º DIA
Os sonhos dessa noite foram um tanto agitados, afinal a próxima seria em Varginha, na terra do tão falado “ET”. Que nos reservaria esse local? Deixamos Muzambinho em direção a Monte Belo(5), onde paramos para algumas fotos. A cidade é pequena, mas cativante. Não podíamos demorar muito já que estrada nos aguardava, ainda mais naquele dia.
Seguimos viagem e paramos em Areado(6), não só para descansar e esticar as pernas, como para tomar um suco e nos reidratarmos. Cidade pequena e aconchegante, lá pudemos aproveitar de sua praça para um pequeno passeio. O registro negativo ficou por conta da excessiva quantidade de chicletes grudados no chão. Um terror para o calçado.
Tomamos nossa refeição diária em Alfenas(7), cidade grande que é, dispõe de um mega centro universitário com estudantes de todo o país. Com seus prédios de muitos andares, não era ainda o que desejávamos em nossa viagem “sob o céu da inconfidência”, mas já estávamos chegando perto. Almoçamos bem e descansamos um pouco antes de continuarmos.
Já de volva à estrada encontramos a placa indicativa da cidade de Fama(8) a 10 km e não perdemos tempo. Derivamos à esquerda e fomos conhece-la. Extremamente pequena e simpática, fica ao lado da represa de Furnas. De seu pier partem inúmeras embarcações o dia todo. Impossível não se encantar com a localidade.
Deixando Fama para trás fomos parar em Paraguaçu(9). Cidade limpa, ordeira e principalmente bonita. Tomamos um sorvete na imensa praça, que recepciona a todos com muita simpatia. Foi a localidade mais organizada que encontramos em nossa viagem. Muitas pessoas participavam de jogos de tabuleiro em lugares reservados à esse fim e havia muita harmonia entre todos.
A menos de 20 km dali desponta a vizinha Elói Mendes(10). Ao contrário de Paraguaçu, o caos parecia imperar nas ruas cheias de terra e buracos, assim como no transito caótico e desorganizado. Só salvou mesmo, ao nosso sucinto e rápido olhar de quem passa as pressas, a Praça da Matriz, bonita e muito bem cuidada.
A tarde já estava findando quando chegamos em Varginha(11). Cidade de porte médio, tem muitos prédios e movimento nas ruas. Fomos primeiramente na “Praça da Nave”, no centro da cidade. Só depois nos aconchegaríamos no hotel e iríamos em busca do jantar.
Para nossa surpresa adultos e jovens se reuniam numa mesma lanchonete, perto do “Alienígena Verdinho”. Várias gerações num único lugar, saboreando comidas idênticas. Difícil de ver isso acontecendo. Deve ser os ventos dos “outros planetas”.
A noite é uma criança e criança deve estar na cama durante a noite. Foi exatamente o que fizemos numa confortável suíte com vista para o “disco voador”, não sem antes abastecermos as motos pela segunda vez na viagem, para que não precisássemos fazer isso no dia seguinte. Boa noite! Zzzzzz
4º DIA
Esse quarto dia de nossa aventura foi o mais longo e o mais cansativo de todos. Acordamos de madrugada e saímos de Varginha antes do sol nascer. Seguimos em direção a Três Pontas(12) onde vimos os primeiros raios do sol. Seriam 400km à serem percorridos naquele dia, que nos tomariam perto de 12 horas de viagem por causa das inúmeras paradas que teríamos e pela baixa velocidade empregada. (máx. 90km/h.)
A kansas com seu top case, alforjes, para-brisa, faróis auxiliares, GPS e bagagem sobre o banco traseiro rodava imponente. As estradas eram galgadas e ainda com o sol nascendo visitamos Santana da Vargem(13), com uma paradinha básica para o café da manhã, que não pudemos tomar em Varginha, por causa do horário.
Demos uma esticadinha rápida até a cidade de Coqueiral(14) mas não chegamos a parar muito tempo. Os próximos destinos seriam: Nepomuceno(15), Perdões(16) e Santo Antonio do Amparo(17), com as quais também pouco contato tivemos. Chegamos dar uma paradinha maior em Santo Antonio, para esticar as pernas.
Como trafegávamos desde Perdões pela Fernão Dias, estávamos mais tensos dado ao vento lateral constante e ao grande número de caminhões, cada um mais veloz e abusado que outro. O perigo era constante, mas a prudência no pilotar foi decisiva. Só os pedágios incomodaram um pouco, embora seus valores fossem baratos.
Enfim Carmópolis de Minas(18)! Deixávamos a BR 116 e a Minas Gerais contemporânea, para nos aprofundarmos na Terra da Inconfidência, como era de nossa programação. Carmópolis já nos dava mostras do que esperaríamos, já que o projeto da viagem foi feita com bastante antecedência e de forma pormenorizada. Sabíamos, de antemão, o caminho à tomar, o tempo a ficar em cada cidade, os locais de alimentação e descanso, etc. Só não contávamos com um longo “trecho de terra” a partir dali, que iria até a cidade de Desterro de Entre Rios.
Ao deixamos Carmópolis a poluição desapareceu, o tumulto desapareceu, mas o asfalto também. Os kms rodados na terra vermelha eram sem fim para nós e traduziam em muita poeira a nossa frente. Estaríamos errados no trajeto? Não, o caminho era esse mesmo, conferimos. A saída era “relaxar e tocar”. Foi a solução correta, afinal já estávamos na Estrada Real.
No meio daquela terra toda chegamos em Passa Tempo(19). Cidade com “meia dúzia de habitantes”, era como uma ilha seca: cercada de terra por todos os lados. A cidade? Linda, limpa, aconchegante, amável. Um detalhe? As mulheres. Todas arrumadas, bem vestidas, maquiadas como se fossem à uma festa ou estivessem esperando o príncipe encantado… numa “Kansas????”. Vai saber…
A hora do almoço tinha chegado mas o único restaurante era num posto de gasolina suspeito, que não nos inspirava confiança. Procuramos a padaria ao lado da igreja e entendemos que foi a melhor opção.
Atendimento? Absurdamente cordial. Alimento? Pãozinho de queijo, que mais!? Sabor? Inigualavelmente gostoso. Nunca provamos outro tão gostoso. Preço? Alguns centavos cada um, afinal vendem por quilo e é coisa corriqueira por lá.
E para beber? Guara-couro. O que é isso? Oras, é um refrigerante gasoso, nos moldes da coca cola ou guaraná, que é feito com uma mistura de guaraná com a semente da árvore “Chapéu de Couro”, aquelas árvores comuns nas regiões litorâneas por causa de sua imensa sombra.
Seguimos viagem por longos kms em terra vermelha. Algum tempo depois chegávamos em Desterro de Entre Rios(20). Perto da entrada da pequena cidade o asfalto voltou e não sumiu mais naquele dia. Desterro também é minúscula e o que mais surpreendeu foi ver nela um prédio de apartamentos de muitos andares. Que coisa!! Continuamos nossa viagem por asfalto até São Brás do Suaçuí, passando antes pela pequenina Pereirinhas(21) e Entre Rios de Minas(22), essa última já com uma boa estrutura e com largas avenidas.
São Brás de Suaçuí(23) é uma cidade pequena e aconchegante. A nota pitoresca ficou por conta do cemitério, no centro da cidade e com um muro de um metro de altura. É lá que ocorrem muitos encontros entre jovens, sendo uma espécie de “point”. Macabro!!. Se bem pensarmos os defuntos enterrados lá não devem se importar, pois não há relatos de “aparições”. Mas fiquem atentos.
Lá abastecemos nossas motos pela terceira vez e seguimos viagem ligeiro, afinal a próxima cidade era esperada com bastante ansiedade: Congonhas(24). Ver a Basílica com os profetas de “Aleijadinho” e as obras perfeitas da Via Sacra dos mestres Lisboa, pintadas por Ataíde, não tem preço que pague.
A cidade em si não prima pela beleza. É mal sinalizada, ruas estreitas e com trânsito desorganizado. Porém, no centro de informações ao turista, no Portal de Congonhas, os funcionários nos atenderam com a maior presteza, dando-nos todas as informações que precisávamos, com a maior precisão possível.
Entra daqui, vira dali, sobe acolá e em algum tempo pudemos contemplar uma das mais importantes obras de arte a céu aberto do Mundo: A Basílica de Bom Jesus de Matosinhos e sua colossal Praça, com imagens da Via Sacra em tamanho natural. Ver os profetas na escadaria da Basílica nos causou forte comoção. Imagina-los em outros tempos, quando foram colocados ali e a cidade era incipiente, nos remeteu a pensamentos dispares, que só eram quebrados quando outras pessoas chegavam para também admira-las.
Os doze profetas de Aleijadinho são: Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Abdias, Amós, Jonas, Habacuque e Naum. Todos estão dispostos na entrada principal da Basílica. Há muitas histórias sobre o significado de cada um delas. Confira aqui
As mais belas obras do conjunto artístico de Congonhas, inegavelmente, são as imagens feitas em madeira por Aleijadinho e pintadas por mestre Ataíde, que dividem seis capelas da Via Sacra, todas em tamanho natural. O destaque fica pela imagem de Jesus “enforcado” carregando a cruz, numa alusão à Tiradentes na Inconfidência Mineira. Ao que parece na época não despertou suspeita sobre tal intensão do artista, senão…
Há grande preocupação com o estado de conservação das obras expostas ao tempo. Por serem feitas em pedra sabão, já apresentam o desgaste natural ao longo dos anos. Além disso, carecem de cuidados e vigilância, já que antigamente era costume fixar nas estátuas fogos-de-artifício para serem disparados, durante dias festivos, danificando-as.
Mesmo hoje as peças ao ar livre sofrem constantes vandalismos. O resultado são obras marcadas por inscrições, rachaduras e mesmo partes perdidas. Já se cogitou a hipótese de levá-las para um museu e instalar réplicas na Igreja dos Matosinhos, mas sempre que o projeto é suscitado a população local manifesta-se contra, visando o turismo gerado pelas obras. É esperar para ver, mas não podemos esperar muito.
Deixamos Congonhas por volta das 15 horas, levando conosco a vontade efetiva de voltar com mais tempo disponível, de modo a poder esmiuçar tudo aquilo que a cidade tem a oferecer e que não pudemos ver no pouco tempo que lá estivemos.
Seguimos viagem e em alguns minutos estávamos em Lobo Leite(25) e sua estação Ferroviária. O tempo não permitia explorar melhor o lugarejo e seguimos em direção à Ouro Branco. Logo anoiteceria e não desejávamos viajar no escuro.
Os raios solares já estavam oblíquos quando chegamos ao centro de Ouro Branco(26), cidadezinha formosa por natureza. Em sua Matriz de Santo Antonio, construída em 1724 e restaurada por Aleijadinho em 1779, pode se vislumbrar a riqueza daquelas plagas em tempos coloniais.
O mais triste de estar em Ouro Branco é sentir que hoje está tomada por grande empresa mineradora, que cava as adjacências da cidade sem piedade. A grande multinacional tem sua sede na periferia, e dispõe para isso de uma área superior que a própria Ouro Branco.
A “Serra do Espinhaço” pode ser vista logo atrás da Igreja e é por ela que subiríamos até nosso destino daquele dia: Mariana, a primeira capital mineira. Passaríamos às portas de Ouro Preto mas nela não entraríamos, deixando para conhece-la na volta.
A subida da serra foi magnífica. O sol do fim do dia batia lateralmente nas montanhas, fazendo cintilar miríades de partículas metálicas e cristalinas de seu solo, refletindo com bastante intensidade sobre nossos olhos. Era impressionante transpor aquela aura resplandecente, onde minúsculos raios prateados cruzavam nossa visão vindo dos mais recônditos cantos daquelas rochas, ainda ricas em metais preciosos.
Entre as muralhas brilhantes e o céu de um azul marcante, as pequenas motos rodavam valentes, aumentando nossas expectativas a cada metro avançado. Firmamos o passo e aceleramos um pouco mais as motinhas, afinal, Mariana estava quase ali e Apolo já ia levando o sol para outros cantos da Terra.
Ao crepúsculo chegamos em Mariana(27). Procuramos a pousada que nos receberia por duas noites seguidas, afinal de contas, merecíamos um “descanso” extra. A duas quadras da Basílica de Mariana, “Contos de Minas” acolheria a nós em suas suítes e as nossas fiéis companheiras em seu espaçoso estacionamento.
O descanso foi praticamente inexistente naquela noite, já que nem bem acomodados já saímos para curtir a noite da cidade. Nesse passeio pudemos perceber que, apesar das ruas e calçadas serem pavimentadas com os tradicionais “pés de moleque” ou de paralelepípedo em precárias condições, não eram obstáculos para que as mulheres usassem salto alto e se vestissem com esmero.
Como a cidade não tem Shopping ou outro local para encontros de amigos, namoros ou passeios, as praças fazem as vezes e os inúmeros barzinhos e cantinas recebem a todos com bastante alegria. Muitas pessoas passeavam pelas ruas da cidade, aí acrescentando famílias de todas as classes sociais. Há quanto não vemos isso por aqui!!!
Evidentemente não poderíamos por nada a oportunidade de contemplar a visão noturna da cidade, com suas igrejas fantásticas e seu casario, iluminadas pelas arandelas dos postes e das casas. Aliás, durante a noite a cidade apresenta um aspecto ainda mais agradável ao turista.
O cansaço bateu, enfim, e voltamos ao aconchego da pousada onde nos hospedávamos. O sono veio pesado depois de um dia cansativo de viagem e dos quitutes mineiros que não deixamos de degustar em cantina especializada.
NOITE EM MARIANA
5º DIA
Acordamos bem cedo pois havia muitos lugares para conhecermos e só teríamos aquele dia para tanto. Mal tomamos o delicioso café e partimos para a vizinha cidade de Antonio Pereira(28), em busca da maior mina de Topázio Imperial do mundo, e de uma mina de ouro abandonada, que hoje ostenta uma capela.
Nas imensas cavernas sob a terra podíamos ver a textura das rochas, com veios distintos de minerais em camadas. Como a esperança é a última que morre, também ficamos a procura daquela pepita grandiosa, que só nós acharíamos. Só que não.
Conhecemos um garimpeiro da região que nos convidou para conhecermos um garimpo clandestino e topamos, alheios aos perigos. A área pertence a grande Mineradora e se fossemos “pegos” lá dentro poderíamos ser presos ou levarmos um tiro, que é mais fácil de acontecer.
Disse que como não tem emprego fixo, quando “dá em sua teia”, junta alguns amigos e invadem o local que já conhecem, dele trazendo para casa pesados sacos de terra lodosa. Vão acumulando esses sacos até não poderem mais. Depois “garimpam em casa: “Sempre sobram alguns gramas de ouro e dá para viver, imagine quanto ouro deve ter lá nos esperando.”
Voltamos para Mariana e no caminho aproveitamos para conhecer a Estação Ferroviária. Um trem turístico, do tipo “Maria Fumaça”, leva e traz pessoas todos os finais de semana. Artistas caracterizados com roupas do passado recepcionam os turistas, recriando um ambiente similar ao tempo que tais composições eram o que havia de mais moderno, em termos de locomoção.
Na Estação também encontramos a “Praça lúdico-musical”, onde é possível extrair os mais variados sons em todos os brinquedos e objetos. O local é público e não se paga nada para entrar. Entre tubos de aço com batutas metálicas, fizemos alguns “acordes”, mas acho que não agradamos, pois não merecemos um único elogio.
Como não poderia deixar de acontecer, fomos em seguida conhecer as famosas Igrejas de Mariana, que foi a primeira Vila, a primeira cidade e a primeira capital do estado de Minas Gerais, uma das maiores produtoras de ouro para a coroa Portuguesa no século XVII. A quantidade de templos católicos do período barroco é impressionante. Há praticamente uma igreja em cada esquina.
A Basílica da Sé, consagrada à N. S. da Assunção, é de beleza rara. Uma verdadeira obra de arte que podemos tocar e usa-la todos os dias, pois funciona normalmente para missas que, aliás, é coisa obrigatória entre mineiros.
A Basílica foi o alvo de nossa primeira visita às igrejas famosas, mas foi meio por acaso, já que não vimos nela atrativos como nas demais. Como parecia estar vazia e sossegada naquele momento, aproveitamos para entrar.
Pura ilusão. A Catedral regurgitava de gente participando da missa dominical. O aparente sossego narrado por nós se deve ao fato de por lá não existir o costume das pessoas ficarem perambulando fora da igreja, assistindo a missa de “soslaio”.
O impacto ao transpor o átrio e o pórtico frontal foi imenso. O silencio dos fiéis era absoluto, quebrado apenas pela suave sinfonia dos cânticos religiosos. A lotação era completa e não se podia mexer lá dentro, por falta de espaço.
Nossa impressão foi mais forte ainda. O altar parecia que iria cair. Aliás, a Igreja toda parecia que iria ruir a qualquer momento. Construída por escravos, ela não prima por boa dosimetria das medidas. Seus arcos são “tortos” e o altar parece estar cedendo de um lado. Outra coisa que muito nos impressionou foi a quantidade de ouro que revestia os altares, paredes, objetos, imagens, detalhes, etc.
Se a cor dourada predominava em seu interior, a imensa tela pintada no altar mor impressionava ainda mais. Foi com custo que o torpor causado com tanta beleza foi cedendo espaço em nosso íntimo. O coração, que parecia sair pela boca com a magnitude daquilo tudo, começava a se acalmar.
Como são muitas as Igrejas espalhadas pela cidade, num único dia não seria possível visitar todas, assim fizemos o possível e pelo menos tentamos visitar as principais, ainda que estivessem fechadas.
A Igreja Nossa Senhora do Carmo é cartão postal da cidade e sua história recente é triste, pois quase sucumbiu num incêndio em 1999, dias antes de completarem sua restauração. As fotos da tragédia estão expostas no seu átrio e chocam os que as veem, já que ficou destruído todo o acervo. Outra particularidade é que divide a mesma praça com a Igreja de São Francisco.
São Francisco de Assis e o patrono dessa igreja, que guarda os restos mortais de mestre Ataíde, responsável pelas pinturas da nave e da sacristia, e mais três imagens da paixão de cristo. A fachada, surpreendentemente bela, é atribuída ao mestre Aleijadinho. De triste há o pelourinho grandioso, que faz lembrar os tenebrosos tempos da escravidão.
Sente-se no ar os idos tempos quando, depois de uma missa cheia de cânticos e louvores, os fiéis vinham apreciar o “espancamento de escravos”, tudo sob a tutela da Lei e aquiescência do clero e dos ricos da época.
Já a igreja de São Pedro dos Cléricos fica um pouco mais afastada dessas que visitamos. A subida até lá é forte pelas ruas centrais, começando por um paralelepípedo regular, seguindo por um paralelepípedo ruim e, finalmente, terminando num piso “pé de moleque”.
Esse piso era um verdadeiro martírio para as suspensões das nossas pequenas motos, que com muita garra cumpriram a missão. Lá do alto tem-se uma vista panorâmica de toda a cidade de Mariana.
Outra Igreja afastada é a de Nossa Senhora do Rosário, que fica do outro lado do riacho que corta Mariana, nas imediações da Estação Ferroviária.
Para se chegar até ela basta contornar o riozinho e atravessar a ponte antiga. São ruas íngremes em paralelepípedo até sua porta. Do alto também se tem uma bonita vista panorâmica da cidade.
De atração em atração e de Igreja em igreja o dia passou ligeiro e o cansaço físico aumentou, ainda que a leveza da alma se fizesse presente,
Porque não viemos antes? Era a pergunta que fazíamos a todo momento. O sol já iria se por e retornamos à pousada para um bom banho e para prepararmos tudo para a viagem de retorno, que teria início logo pela manhã seguinte.
Com tudo preparado saímos mais uma vez para jantar e despedir da cidade, não sem antes fazermos uma pequena revisão básica nas motos, conferindo pneus, freios e luzes, já que não queríamos surpresas na estrada.
A última noite em Mariana foi silenciosa para nós, já que um aperto no coração já exprimia nossas saudades.
UM POUCO DE MARIANA
Esperamos que tenham gostado dessa aventura em sua primeira parte. Em breve apresentaremos o desfecho deste projeto, que ainda tem muita surpresa pela frente.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte e Bruna Scavacini
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