26/03/2019
Tiradentes, em Minas Gerais, é cidade que já visitamos por mais uma vez, sem que nunca tivéssemos perdido os encantos por ela, tanto que será nossa anfitriã nesta edição do City Tour.
COMO CHEGAR
Existem várias maneiras para se chegar em Tiradentes a partir de Belo Horizonte, Brasília ou do Rio de Janeiro.
Para quem parte de Belô a opção mais prática é pela BR-040, até a cidade de Barbacena, e só 50km pela BR-265, entre Barbacena e Tiradentes, num total de 230km.
Mas o aventureiro poderá cortar caminho pouco antes de Conselheiro Lafaiete, passando então a rodar pela BR-383 e passando por São Brás do Suaçuí, Lagoa Dourada e São João del Rei, num percurso total de 192km.
Com essas duas mesmas sugestões e viajando a maior parte do tempo pela BR-040, o brasiliense rodará 920km ou 955km para chegar até Tiradentes.
O carioca também enfrentará a maior parte do caminho até Tiradentes pela BR-040, até a cidade de Barbacena, embora em sentido inverso. Percorrerá ao todo cerca de 330km para cumprir a empreitada.
Já para o paulista que partir da capital o trajeto total será de 475km, sendo 365km pela Rodovia Fernão Dias (BR-381), até o município de Lavras, e o restante pela BR-256.
HISTÓRIA
As primeiras notícias que temos do povoamento que deu origem a cidade data do ano de 1702, com a descoberta de ouro nas encostas da Serra de São José pelos bandeirantes paulistas.
O primeiro arraial fundado foi batizado como Santo Antonio do Rio da Mortes, até sua elevação à condição de vila, quando em 1718 passou a se chamar São José del Rei.
Elevada à condição de cidade em 1860, foi um dos mais importantes centros produtores de ouro das Minas Gerais.
Somente no período pós monarquia que os republicamos redescobriram um dos pontos da trama da inconfidência mineira e do seu personagem principal, Joaquim José da Silva Xavier. Daí advém o nome atual da cidade.
Depois disso a cidade ficou novamente relegada ao abandono, até que o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o tombasse em data sugestiva: 20 de abril de 1938, mantendo-o quase intacto.
Hoje é considerada um “cenário a céu aberto” ou um “presépio” para os habitantes locais, dada a beleza que exala em cada janelão de madeira, em cada telhado de barro.
Muitas construções daqueles idos tempos ainda guarnecem as estreitas ladeiras pavimentadas com pedras, seguindo em direção da imponente Igreja de Santo Antônio, tida como a segunda mais dourada do Brasil, com quase 500kg de ouro em suas paredes e ornamentos.
Com o passar do tempo Tiradentes tem se tornado um dos centros históricos de arte barroca mais preservados do país, o que lhe garante o título de patrimônio histórico nacional e a presença constante de turistas em todas as épocas do ano.
A CIDADE
Estar em Tiradentes é um feito à ser comemorado. Passar vários dias e noites em Tiradentes, então, não tem preço que pague e podemos dizer isso com conhecimento de causa, já que muitas vezes ficamos nesse encantador município, tanto no verão como no inverno.
A cidade praticamente se divide em duas partes: a parte histórica e preservadíssima até mesmo por seus moradores; e a parte moderna, onde ocorre o dia-a-dia dos munícipes nos bancos, comércio, setores públicos, etc.
Mesmo nessa área moderna temos visto o cuidado em suas construções e reformas, para que elas não destoem do todo e acresçam beleza à uma área bem maior que o próprio centro histórico.
UM VÍDEO TOUR PELA CIDADE
MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO
A Igreja Matriz de Santo Antônio é seguramente uma das mais antigas igrejas barrocas do Brasil e referência na arte barroca e rococó.
A capela que deu origem à atual igreja foi construída com a fundação do primeiro núcleo de moradores, sem data precisa mas certamente nos primeiros anos do século 18.
Os esboços iniciais para a construção da atual igreja se deram em 1710, com a fundação da irmandade do Santíssimo Sacramento e da paróquia de Santo Antônio.
O prédio já podia ser usado em 1732, mas incompleto. Somente no ano de 1788, com a instalação dos relógios das torres, a obra foi tida como concluída, embora o relógio de sol que enfeita o pátio da igreja já tivesse sido instalado em 1785.
Depois dessas datas a igreja sofreu outras reformas e entre os anos 1807 a 1810 uma mudança significativa, com desenho rococó anteriormente criado pelo gênio Aleijadinho e só aplicado nessa época.
Depois dessas épocas a igreja incrementou outras melhorias, com acréscimo do adro com balaústres de pedra, cancelas de ferro e restaurações de rotina que a mantém em pé em todo seu esplendor nos dias atuais.
De fachada larga, tem sua porta principal com moldura em pedra feita por Aleijadinho, seguindo uma planta do barroco padrão básico, com uma nave única e altares enfileirados nas laterais, e uma capela-mor ao fundo.
O douramento foi feito em várias etapas divergindo nos estilos dentro do que classificamos como barroco. A pintura dos forros da capela-mor e da nave provavelmente foram creditadas à Antonio Caldas, mas sem a certeza absoluta da informação.
Estima-se que em seus douramentos foram utilizados 482kg de ouro, o que a torna a segunda igreja mais rica em ouro do Brasil, perdendo o título apenas para a Igreja Matriz de Salvador/BA.
CÂMARA MUNICIPAL
O imponente prédio que abriga a Câmara Municipal de Tiradentes é datado de 1717 e chama a atenção pela ampla varanda na frente da construção.
Para quem sobe a íngreme ladeira em direção da Igreja da Matriz pode ver toda sua beleza quase no topo da viela, junto à uma pracinha com o busto de Tiradentes e uma capela dos passos, utilizada nas procissões da via sacra.
Como diferencial da cidade de Tiradentes, o prédio da Câmara foi construído longe do prédio da Cadeia pública, coisa incomum na época, já que os prisioneiros ficavam sempre no mesmo prédio e sob guarda ferrenha.
O prédio só recebeu presos de forma improvisada quando um incêndio destruiu a cadeia da cidade, matando muitos presos.
ANTIGA CADEIA
O prédio que hoje abriga o museu de arte sacra da cidade foi construído para ser a cadeia pública em meados do século 19, no local onde existia a velha cadeia incendiada.
É um edifício bastante sólido como deveria ser, com janelas de cantaria com pesadas grades de ferro, como forma de evitar a fuga dos presos.
Apesar de hoje abrigar um museu sacro, ainda há relatos de funcionários sobre alguns casos misteriosos que acontecem por lá, como aparições de vultos, vozes, movimento de objetos, etc. O Lugar é tido como assombrado.
LARGO DAS FORRAS
No Largo das Forras você estará no ponto principal de Tiradentes, no coração da cidade. É ali que todas as novidades acontecem e local de encontro dos munícipes mais antigos o ano todo.
Para quem visita a cidade, o Largo é ponto de partida para qualquer lugar que se pretenda ir por lá.
Além dos atrativos naturais da praça, seu calçamento peculiar e suas árvores frondosas, é nele e em seu entorno que estão os casarões mais antigos e clássicos; as principais pousadas, bares, restaurantes, lojas de produtos típicos e artesanatos; tanto faz se durante o dia ou durante a noite.
Durante o dia se reúnem na praça as charretes enfeitadas para levarem os turistas pelos recantos da cidade, com passagem obrigatória sobre a ponte de pedra sobre o Ribeirão Santo Antônio.
Por ser plano e no passado um pouco distante do ponto central da cidade, ao contrário de hoje era relegado aos eventos abertos, estadia de animais de tração, de tropeiros e congêneres.
Por ocasião da libertação dos escravos foi aí que os cativos foram recebendo suas cartas de alforria, razão pela qual seu nome relembra esses momentos: Largo das Forras.
Não tem como ir a Tiradentes e não tirar um tempo relativamente longo para passear pelo seu jardim sempre com sombras refrescantes, ou não curtir, ainda, nos inúmeros barzinhos e restaurantes dispostos ao seu lado.
Mesmo nesta viagem que fizemos pela cidade não deixamos de curtir uma mesa na calçada com um bom caldo quente e uma taça de vinho, com a motocicleta estacionada ao lado e sob uma chuva fria.
É bom não esquecer que o largo tem também suas particularidades. É tombado pelo patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) e na última intervenção urbana, em 1938, ganhou formato poligonal e jardim geométrico desenhados por Burle Marx.
CAPELA DO BOM JESUS DA POBREZA
Datada do século 18, foi construída no estilo barroco-rococó e também é tombada pelo IPHAN. Pouco se sabe da sua construção, salvo que terminou em 1786
Na reforma ocorrida em 1940 cuidou-se de restaura-la de forma a recuperar toda sua aparência original.
É a única igreja no contorno do Largo das Forras e, de tão pequena, muitas vezes passa desapercebida dos turistas, ou confundida como uma capela dos passos, que são usadas na semana santa.
IGREJA DAS MERCÊS
A Igreja N. S. das Mercês dos Pretos Crioulos fica no Largo das Mercês, bem perto do Largo das Forras. Para se chegar lá basta atravessar a ponte de pedra sobre o Riacho Santo Antônio. Não é necessário veículos para isso, uma curta caminhada liga as duas praças.
Construída na segunda metade do século 18, tem suas linhas no estilo rococó com pinturas, esculturas e adornos menos intensos do que as obras barrocas.
A capela mor, de muita beleza, é coberta de dourado e a nave é coberta de pinturas relacionadas a Nossa Senhora das Mercês.
IGREJA DO ROSÁRIO
A igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos tem uma história toda particular, porém, sem dados precisos já que os livros de registro da irmandade foram perdidos.
Sua construção é simples, com uma nave única seguindo o estilo barroco da época e estima-se que tenha sido construída entre os anos de 1740 a 1770. Também foi tombada pelo IPHAN.
A decoração interna contém muitos detalhes em estilo rococó, com pinturas e douramentos nos altares principais e pintura no teto da capela mor, representando Nossa Senhora do Rosário
Embora com os significativos entalhes em ouro da igreja, ela era frequentada exclusivamente por escravos negros, tendo seu interior mantido em segredo, já que as pessoas costumavam entrar pelas portas laterais e homens brancos não se metiam por lá.
Outra fonte dos segredos poderia ser por causa dos símbolos apostos em sua ornamentação, não só da igreja católica, mas com muitas fragmentações africanas oriundas principalmente do candomblé.
Essa igreja fica exatamente na frente da antiga Cadeia Pública de Tiradentes, na confluência da Rua da Cadeia com a Rua Direita, bem no centro histórico da cidade.
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
Talvez a mais antiga Estação Ferroviária do Brasil em funcionamento nos dias atuais, nunca deixou suas atividades na locomoção de pessoas e coisas, desde sua fundação em 1880.
Hoje mantém um tráfego ferroviário de 12km entre as cidades de Tiradentes e São João del Rei, recebendo muitos turistas para trafegar por seus trilhos num comboio igual ao dos tempos passados e puxado por veneranda Maria Fumaça, com mais de cem anos de existência.
Mas antes de se aventurar no cadenciado dos vagões, é bom conferir os horários de funcionamento dos passeios para que não ocorra nenhum imprevisto.
Nesta viagem pegamos o trem à unha quando chegávamos em Tiradentes sob chuva ainda fina. Muitas pessoas apinhavam-se ao lado da fervente e fumegante locomotiva, sendo necessário vários funcionários e guardas de trânsito para garantir a segurança de todos.
Ao lado da ferrovia percebíamos várias charretes que levariam turistas a passeios pela cidade, ou de volta para suas pousadas ou hotéis. Nenhuma voltou vazia.
A atração principal desse verdadeiro show ferroviário a céu aberto é a mudança de direção da locomotiva na rotunda, quando é movimentada somente pelos braços dos condutores e foguistas.
CHAFARIZ DE SÃO JOSÉ DE BOTAS
Realmente Tiradentes nasceu para ser uma cidade cenário, um autêntico presépio a céu aberto, e o Chafariz de São José de Botas, construído 1749, contribui e muito para essa assertiva.
Com fachada similar a de uma igreja barroca, ostenta um nicho na parte superior com um pequeno altar exibindo uma imagem de São José; um brasão da coroa portuguesa no topo; e três cabeças esculpidas na pedra, jorrando água pela boca para ser utilizada pela população.
Na parte de trás e dos dois lados também há outras bicas d´água, mas estas reservadas aos animais, aos escravos e para se lavar roupas e coisas do tipo.
A fonte e seu sistema de filtragem em dutos de pedras funcionam perfeitamente desde sua construção, e a água que ele distribui vem de uma fonte existente no Bosque Mãe D´água, a 1km dali.
BICHINHO
Um dos passeios mais procurados por lá é até o Distrito de Bichinho, que fica a 7km de Tiradentes e pertencente a cidade de Prados. O percurso até lá é todo em pedras do tipo pé de moleque e a estradinha segue ladeando a imponente Serra de São José.
Para saber mais sobre essa meca do artesanato mineiro o leitor poderá conferir na matéria especial que fizemos por lá. – clique aqui
CACHOEIRA DO BOM DESPACHO
Outro atrativo preferido dos visitantes é curtir um lazer sem igual na Cachoeira do Bom Despacho e suas adjacências, que fica na Estrada Real em direção de São João Del Rei, a 3km do centro de Tiradentes.
No entanto, o que muita gente não sabe é que a cachoeira e o Parque que a abriga estão dentro dos limites da cidade de Santa Cruz de Minas, e não em Tiradentes, conforme você poderá ver com detalhes na matéria especial que fizemos por lá – clique aqui
Seja como for, não é demais curtir essa maravilha de lugar, pertença ela a quem pertencer.
POUSADA QUATRO CORAÇÕES
Nesta viagem ficamos apenas dois dias na cidade, convidados pela proprietária da Pousada 4 Corações, toda reestilizada depois da sua aquisição, há um ano atrás.
Pequena, aconchegante e a 500m do Largo das Forras, é uma opção mais em conta para quem quer curtir a cidade sem privar-se de uma boa qualidade hoteleira.
Sua localização é bem fácil. Para quem chega pela via principal (Av. Gov. Israel Pinheiro) é só seguir em direção a Estação Ferroviária e depois transpor a ponte sobre o Rio das Mortes.
Na pracinha que fica a 200m da ponte vire a direita e já estará lá. O endereço é R. Joaquim Ramalho, 190 e seu telefone fixo é o (32) 3355-1281. Mas o interessado poderá também se comunicar pelo aplicativo Whatsapp, com o número (32)99978-71-80. É só falar com a Kátia e fazer sua reserva.
São 13 suítes, algumas só com camas de solteiros, distribuídas nos dois pavimentos da pousada. Seus preços variam entre R$100 a R$200 fora das temporadas especiais. Mas é bom certificar-se antes.
O café da manhã é no estilo mineiro e nem poderia ser diferente, sempre recheado de guloseimas e com o gostinho de quero mais. Para quem quer descansar a pequena piscina pode ajudar bastante, até porque fica num jardim harmonioso, na parte posterior do casarão.
Nos dias que lá ficamos aproveitamos para transformar nossa suíte no quartel general de trabalho, podendo manipular com sossego nossas imagens para a publicação que o leitor vê agora.
Nossa estadia foi providencial já que estivemos em Minas Gerais num período de muitas chuvas, o que pedia muitas idas e vindas até a pousada entre os diversos passeios que fizemos pela cidade. FOTOS DA POUSADA
SEGUINDO VIAGEM
Depois dessa nova passagem pela cidade deixamos Tiradentes numa manhã ainda chuvosa, com destino à São João del Rei pela Estrada Real, passando antes por Santa Cruz de Minas, quase no fim do trajeto.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
Fotos especiais = César Reis
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