Partimos da capital paulista pela Rod. dos Bandeirantes, numa madrugada fria, rumo a cidade de Fernandópolis, noroeste do Estado de São Paulo, para dali seguirmos para São Simão, Goiás, para mais uma viagem de mototurismo.
PRIMEIRO TRECHO DA IDA
Esse primeiro trecho até Fernandópolis era de aproximadamente 600km, que percorremos em seis horas consecutivas de viagem, com as devidas paradas para abastecimento da moto e descanso do piloto. Na região de Limeira derivamos pela Rod. Washington Luís e em Santa Cruz do Rio Pardo derivamos novamente, agora pela Rod. Euclides da Cunha
Chegamos por volta das 11h para algumas atividades profissionais já programadas na cidade, que demorou cerca de 3 horas para sua conclusão. Dali rodaríamos menos de 200 km até São Simão, cidade goiana que pretenderíamos visitar naquele final de semana, viajando pelo percurso que preparamos com antecipação por Iturama, União de Minas e São Simão.
VIAGEM DE IDA
RETOMADA DA VIAGEM
Pouco depois das 14h já estávamos novamente na estrada, rumando agora pela Rod. Percy Waldir Semeguini até a divisa com Minas Gerais, passando por Indiaporã e Ouroeste. Dali seguiríamos pela MG426 até a cidade de Iturama, e depois por cerca de 8km pela BR497, para adentrarmos uma via vicinal por mais 100 km até Goiás.
Percorremos cerca de 22 kms por essa estradinha e chegamos em União de Minas, cidade encravada na mata mineira, com pouquíssimas ruas e gente hospitaleira com a qual interagimos por alguns minutos, quando paramos para tomar um sorvete e conversar com algumas crianças curiosas, que vieram sorridentes saber mais sobre a Transalp na qual viajávamos.
Dali em diante o percurso seria só em terra, nada mal para a Transalp 700, ainda que toda carregada, já que esse é seu habitat quase que natural. Deixamos a pequena comunidade e seguimos em frente num final de tarde, aguardando o anoitecer naquelas plagas por volta das 18h 30m. Teríamos ainda mais de duas horas para essa empreitada, tempo mais que suficiente.
Por capricho do destino não se tratava de uma simples “estrada de terra batida” de mais de 80 kms, mas de uma estrada que alternava muita terra fofa, solta, poeirenta, que fazia a motocicleta pesada diminuir seu ritmo de viagem. Depois de cerca de 20kms rodados eis que a uma malfadada ponte de paus estava danificada, e não seria possível transpô-la sozinho. Solução? Retornar.
Esses quase 40 km na terra (20 de ida e outros de volta) levou mais de uma hora e meia para ser percorrido. Chegamos de volta à Iturama com o sol quase se pondo e teríamos agora mais de 250 km para percorrer durante a noite, de forma a livrar de outros trechos em terra. Felizmente todos nos indicaram o melhor caminho para seguirmos naquelas circunstâncias.
Deixamos Iturama próximo do crepúsculo e rumamos novamente pela BR497 até Campina Verde, com uma paradinha em Honorópolis, para dali seguirmos pela BR364 até o acesso para a cidade de Gurinhatã, com destino ao Distrito de Flor de Minas, já na BR365, por onde continuaríamos nossa viagem até São Simão, em Goiás.
Infelizmente nesse trecho de serra tivemos um imprevisto infeliz, pois acabamos atropelando uma Siriema que voou em direção da motocicleta e se chocou contra um dos baús da moto. Para minimizarmos o problema arrastamos a ave para a beirada da estrada, para que ela não causasse mais problemas, principalmente com outros motociclistas.
A CHEGADA NO DESTINO
Chegamos em São Simão por volta das 22h30m, com o odômetro da Transalp marcando 1050kms percorridos naquele dia. O cansaço já estava batendo forte e rumamos incontinenti ao recanto que nos foi reservado naquela cidade do Brasil Central, exatamente na beira da grande represa que era iluminada pelas lampadas da orla da “prainha” do Lago Azul.
Moto devidamente estacionada; malas (baús) levadas ao nosso chalé, agora era desfazer da roupa pesada, esvaziar e arrumar a tralha no aposento de apoio; colocar os equipamentos nas tomadas e curtir uma ducha quente, forte e demorada, para depois poder tomar um bom caldo quente, num dos lugares mais especiais de São Simão: o Hotel Mágica Visão.
Nossa estadia foi bastante curta, mas suficiente para conhecer o lugar e poder apreciar o conforto numa das hospedagens mais grandiosas de Goiás, onde o hospede é realmente bem tratado, num clima de muito respeito e camaradagem, sem contar com a estrutura muito bem montada. Saiba mais…
UMA HISTÓRIA DE ARREPIAR
O amanhecer em São Simão é magnífico, principalmente nas margens do Lago Azul, onde a brisa daquele mar de água doce inunda nosso corpo, e onde pássaros dos mais variados sobrevoam todos os chalés com seus cantos estridentes e agradáveis. Já refeitos da viagem, tratamos de acordar cedo para conhecer tudo sobre a cidade, a represa (Lago Azul) e seus pontos turísticos.
Os primeiros habitantes (garimpeiros, boiadeiros e caçadores) chegaram por volta do ano de 1920. O atrativo era o gigantesco canal no Rio Paranaíba, e da imensa força de suas águas, que durante milhões de anos esculpiu a rocha sólida, abrindo nela um canal de aproximadamente 50m de largura, e mais de 13km de extensão, cujo estrondo das águas se ouvia ao longe.
Outra peculiaridade desse imenso valo, aberto pelas águas revoltas no Basalto duro, rocha que predomina naquela região, são os entalhes das pedras do seu entorno, delicadamente esculpidas em formas geométricas inusitadas, o que desde aqueles idos tempos já intrigava os cientistas de outrora. Hoje tudo isso está submerso, longe da visão de leigos e sábios.
Em 1935 o então povoado de São Simão fez construir sobre o canal uma ponte de concreto, que durou até o ano de 1957, quando foi engolida pelas águas. É dessa época que encontramos imagens de habitantes que, para se locomoverem entre os dois lados do canal, improvisavam um “caixote de madeira” pendurado num cabo de aço, onde poderiam viajar perigosamente.
Entre os fins dos anos 60 até meados dos anos 70 a CEMIG, objetivando a construção de uma usina hidroelétrica na região, represou o Rio Paranaíba na altura do Canal de São Simão, fazendo-o desaparecer da vista humana por completo. Assim, a primitiva cidade de São Simão viu-se obrigada a mudar sua sede para a área que usa hoje.
A cidade, hoje moderna e com uma infraestrutura invejável, ainda guarda muito de seu bonito passado, a ponto da pessoa natural de lá ser chamada de “canalense”, lembrando do enigmático Canal de São Simão, que está adormecido sob o Lago Azul, mas que ficará para sempre na memória de todos, como uma das grandes maravilhas da natureza.
Para sabermos mais sobre essa região do nosso Brasil, o Portal D Moto pesquisou bastante e trouxe a você uma série de indicadores bibliográficos para eventuais pesquisas, que podem ser conferidos no rodapé desta matéria. Vá fundo. Nosso Brasil é muito mais lindo do que imaginamos.
UM TOUR EM SÃO SIMÃO
Depois do delicioso café da manhã tomado no restaurante do Hotel Mágica Visão, tratamos de correr para conhecer a famosa Prainha do Lago Azul; o badalado Pier; e as ruas principais da cidade. Ruas?!, Que ruas meu amigo? Lá existem avenidas, grandes avenidas arborizadas, asfaltadas, limpas, belas e bem cuidadas.
O Pier é realmente o um dos lugares mais badalados da cidade e é lá que as coisas acontecem, principalmente durante a noite. Lugar de encontro dos jovens, é o ponto alto da cidade, onde há diversão para todos, com música ao vivo, muitos quiosques e alegria contagiante. É quase impossível dizer que conheceu São Simão, ser ter ido ao Pier.
Apesar de toda beleza, há um “senão”: Você ouvirá música sertaneja 30 horas por dia, de cantores e letras que você nunca ouviu falar. Para tudo que fizer vão dizer que você deve “estar apaixonado”, e vai ouvir voz melosa de todos que fizerem uso de algum microfone. Mas com certeza você sobreviverá, principalmente com Born to be wild no fone de ouvido.
A prainha do Lago Azul é impressionante. Pena que não fosse alta temporada, pois a estrutura montada é de primeira. Pistas para caminhada e bikes; areia branca; gramado bem cuidado; calçamento impecável; quiosques padronizados e belos; além de muitos sanitários, áreas especiais para camping e esportes em geral. A cidade é moderna e bem projetada.
Seu planejamento urbano é bem definido e suas ruas mantém simetria de quem pensa no futuro. Na praça principal, ao lado da Igreja Matriz, há uma espécie de “maquete” de São Simão antiga, que mantém uma uma réplica em miniatura da primeira ponte de concreto que foi destruída em 1957 e do canal, além de muitas pinturas alusivas ao inicio da cidade.
Percorremos também a área comercial e residencial de São Simão e demos uma “chegadinha” em seu Aeroporto. Sim, um dos mais importantes aeroportos de Goiás está ali, precisamente a algumas quadras do centro de da bela cidade, capaz de receber aeronaves de relativo porte. Construído pela CEMIG como suporte na construção da Usina, hoje pertence ao município.
NAS CATARATAS DE ITAGUAÇU
Perguntando aqui e ali, descobrimos o caminho para o Distrito de Itaguaçu, onde formosas quedas d´água ainda fazem o deleite dos “canalenses”, de modo que eles nunca se esqueçam que a origem da cidade se deu graças as forças das suas águas. Vamos conhecer? VEJA MAIS AQUI…
A NOITE EM SÃO SIMÃO
Voltamos para a cidade no finalzinho da tarde. Depois de um dia de muitas atividades nas magníficas cataratas de Itaguacu, buscávamos colocar em dia nosso estomago e o faríamos dessa vez numa das inúmeras “jantinhas” (?!?!) dessa região de Minas e Goiás. Depois de um bom banho e roupa trocada, deixamos nosso hotel em busca da “noite canalense”.
Escolher o melhor lugar para esse inusitado repasto não foi nada fácil, pois todos os estabelecimentos da cidade preparam uma “jantinha a seu modo”. A rigor as opções são os alimentos do tipo Self Service e os espetinhos de carne, frango, etc. são acompanhamentos mais que obrigatórios. Escolhemos na sorte um desses estabelecimentos e lá fomos nós, curiosos e famintos.
O descanso depois da refeição feita “na sarjeta” se deu na Praça principal, repleta de gente de todos os tipos, idades e ideais, intercalando adolescentes com seus Smartfones conectados aos ouvidos, tábuas de skates e coisas do gênero, com pessoas idosas bem vestidas e casais com suas crianças brincando entre os bancos e jardins daquele logradouro.
Um ar nostálgico e mágico parecia inundar aquele ambiente, já que nós, moradores de grandes cidades sufocadas por violências de todos os gêneros, há muito não podemos frequentar esses espaços públicos por causa da precária segurança, quanto mais levarmos ou permitirmos que nossas crianças brinquem neles.
A noite já se fazia alta, pelo menos para os moradores de São Simão, e por volta das 22h nos recolhemos aos nossos aposentos no Mágica Visão, afinal o dia seguinte seria destinado ao nosso retorno. A caminho do Hotel fomos abordados por amigos motociclistas, que aproveitaram para se despedirem antecipadamente ante nossa partida na manhã seguinte.
O BALANÇO DA VIAGEM
Para o leitor amigo que se ateve aos detalhes narrados no começo desta aventura, repetimos que o estranho caminho que tomamos para nossa chegada à São Simão se deu por outros motivos profissionais, e que nosso retorno seria bem mais simples, o mesmo que você poderá usar numa visita ao Lago Azul de Goiás.
Partindo de São Paulo o caminho mais curto é por Campinas, Ribeirão Preto, Frutal e São Simão, num percurso de aproximadamente 800km, mas que pode ser feito perfeitamente num único dia, já que a maioria do trajeto é realizado por estradas em boas condições, exceção feita a região de Prata e Gurinhantã/MG.
São Simão dista 370km de Goiânia; 800km de Cuiabá ou Belo Horizonte, e 600km de Campo Grande. O melhor é que para lá se pode ir também por ar, utilizando-se do bem estruturado Aeroporto.
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CRÉDITOS
Texto, imagens e edição: Marcos Duarte
conheçam também:
Bibliografia utilizada:
http://www2.saosimao.go.gov.br/fotos-historicas/
http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?codmun=522040
http://saosimao.go.leg.br/site/historia/
https://www.youtube.com/watch?v=ZrJ1e5iFBr8
http://horadoangelook.blogspot.com.br/2013/11/o-milagre-de-sao-simao.html
http://www.tipoalfa.com.br/ara/editorial/9/545/geografia-economia-historia-de-goias
Salve salve meu querido,sempre que você postar,eu estarei procurando acompanhar suas matérias são bastante interessantes e esclarecedoras… Uhuh moto abraço
Valeu irmão. é bom saber que pelo menos uma pessoa lê o que escrevemos. ahahhahaah