04/07/2019
Vacaria, uma das cidades mais frias do país e considerada a “Porteira do Rio Grande do Sul, é a nossa escolhida para abrilhantar esta edição do City Tour.
COMO CHEGAR
Para quem partir de Porto Alegre ou de Curitiba o trajeto poderá ser feito totalmente pela BR-116. No primeiro caso passando por Novo Hamburgo e Caxias do Sul, num percurso de 240km; e no segundo caso seguindo em direção de Mafra e Lages, rodando 460km.
Já para quem partir de Florianópolis o percurso será de 335km, sendo o melhor caminho pela BR-282, em direção a Lages, e depois pela BR-116, até Vacaria.
Os aventureiros das outras regiões do Brasil poderão chegar em Vacaria levando em conta as três capitais acima.
HISTÓRIA
A colonização da região onde está sediada a cidade iniciou com os missionários jesuítas, que espalhavam o gado trazido da região das Missões nos lugares conhecidos como Vaquería de los piñares, ou seja: Vacaria dos pinhais.
Com isso é fácil concluir a origem do nome da cidade e, mais ainda, sua vocação para sediar o Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria, considerada a maior festa tradicionalista da América Latina.
Se durante seus primeiros tempos houve duras disputas com os índios kaingangs, que praticamente foram dizimados, em tempos imperiais a guerra dos farroupilhas teve em Vacaria um de seus grandes palcos.
A CIDADE
Estivemos na cidade por dois dias e vimos por lá um lugar agradável, limpo, organizado e bonito, sem contar com o frio congelante do auge do inverno.
Por falar em frio, há registros de uma rara nevasca ocorrida em agosto de 1879, com recorde de acumulação de neve no Brasil: 2m de espessura.
Fora isso é comum, nos períodos mais frios do ano, as temperaturas mínimas caírem em torno dos -2 a 16 graus, com ocasionais quedas de neve, o que se justifica, ainda, pela altitude da cidade em relação a linha do mar: 971m.
Em nossa estadia a temperatura beirava a zero grau, o que pudemos constatar na pele quando saímos para jantar na região da praça principal da cidade.
Economicamente falando Vacaria vive da pecuária, da agricultura, mas também da produção de flores e frutos, contando com o título de maior produtor de maças do pais.
Suas ruas bem delineadas, com boa pavimentação e apresentando uma arquitetura contemporânea, traduzem conforto aos quase 70mil vacarienses espalhados pela área urbana da cidade, assim como aos ruralistas, que se servem do município para compras, lazer, etc.
TURISMO
O ecoturismo tem lá o seus encantos e atraem turistas de todas as regiões do país, ainda nos tempos frios do inverno. Brrrrrr!
A 25km ao sul da cidade, no lugarejo chamado Capela do Rosário e nas margens do Rio Quebra Dentes, o aventureiro encontrará o Parque das Cachoeiras, um lugar agradável onde poderá curtir uma boa ducha natural (geladíssima).
Se o objetivo for de unir a aventura e a contemplação, a Rota dos Campos de Cima da Serra estende-se por várias cidades da região, com muitos trechos em terra batida, onde o aventureiro poderá conhecer de perto obras-primas da natureza, como os cânions dos Aparados da Serra.
A região é ótima para aventuras e no trajeto poderemos praticar vários tipos de esportes, desde os mais radicais, como o rapel e o rafting, como os moderados e lights, como a contemplação dos cânions, passeios de jipes e cavalos ou passeios pelas cachoeiras.
Nesses períodos de inverno a atração maior de lá é o frio. Pernoitar numa das pousadas, ou mais radicalmente numa barraca, certamente ensejará temperaturas abaixo de zero e tetos cobertos de branco pelas geadas da madrugada.
Mas não fica só nisso: Vacaria é pródiga com suas belezas naturais. Na parte norte da cidade, a 50km de sua sede, vamos encontrar o Distrito de Coxilha Grande e, em suas adjacências, o Vale da Capitulina.
Nos locais denominados Rincão do Itacolomi, Porteirinha e Rodeio Fundo, nas margens do Rio Pelotas, encontraremos, ainda, o Cânion dos Encanados, nome advindo do estreitamento do rio que possui cerca de 70 metros de largura, estreitando até 3 metros no cânion, por isso o nome ‘Encanados’.
Caminhar pelos 2,5 km de extensão do cânion é descobrir pequenos detalhes que a natureza esculpiu nos paredões de pedra de 25 metros de altura, além de grutas de formatos diferenciados e pequenos recuos com piscinas naturais. O acesso ao cânion é feito por uma trilha de 400 metros na mata fechada, sem dificuldades para se caminhar.
RODEIO CRIOULO
Não se pode falar de Vacaria sem falar do Rodeio Crioulo.
Muito embora não gostemos de nenhum tipo de esporte envolvendo animais, principalmente quando estão sujeitos a riscos de ferimentos ou até de morte, a cidade de Vacaria é a meca latina desse “esporte cultural”.
O Rodeio é uma festa bienal realizada entre os meses de janeiro e fevereiro dos anos pares, num parque especial com 75 hectares destinado ao evento: o Parque Nicanor Kramer da Luz.
O primeiro rodeio aconteceu em 1958 e foi programado para ter caráter anual, só vindo a ser bienal a partir de sua quarta edição.
Atualmente o Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria é considerado a maior festa Tradicionalista da América Latina, onde peões e prendas de todo o Brasil e exterior se reúnem para cultivar as tradições do Estado, com disputa de provas artísticas e campeiras, além de diversos shows e bailes.
IGREJA DE PEDRA
O imponente templo feito em pedra ocupa a Praça principal da cidade e é o mais conhecido “cartão postal” de Vacaria.
Consagrado à Nossa Senhora da Oliveira, sua construção teve início em 1904, porém, concebida como uma singela igreja à ser feita em madeira.
Como seus idealizadores, os freis capuchinhos, queriam uma igreja mais imponente, com tendências europeias dos grandes templos e em estilo gótico, outro projeto foi encomendado na Europa e essa nova etapa teve seu início em 1912, sob a tutela de um engenheiro alemão.
Seu desenho foi concebido nos moldes da Catedral de Notre Dame, em Paris, e em sua alvenaria empregou-se a pedra basáltica, tida como pedra moura, com duas torres externas que suportam três sinos de bronze.
O interior tem rara beleza, com colunas cilíndricas e capiteis ricamente trabalhados. A abóboda do altar é decorada com medalhões que simbolizam as ladainhas de Nossa Senhora.
Como relíquia maior a igreja guarda a imagem original, em madeira, de Nossa senhora da Imaculada Conceição da Oliveira, em estilo português, encontrada por um camponês em 1750. Porém, a imagem da santa que se encontra fixa no altar-mor é de origem judaica.
Durante a noite podemos contemplar a Catedral sempre magnificamente iluminada, demonstrando ainda mais sua beleza e imponência.
SANTUÁRIO
Mas a cidade ganhou recentemente (2002) um novo espaço para orações: O Santuário Nossa Senhora da Oliveira, construído no local onde se acredita que a imagem de Nossa Senhora tenha sido encontrada em 1750 e a poucos metros da Catedral.
Também inspirada na arquitetura europeia, notadamente na cúpula da Casa-geral dos Irmãos Maristas, de Roma, o Santuário é cuidado por leigos e tem reuniões diárias dos fiéis para rezarem o terço.
VERGONHA E ARREPENDIMENTO
Como ficamos hospedados nas imediações da Praça principal de Vacaria, saímos no começo da noite para jantarmos, mas sem distanciarmos muito de nosso hotel. A temperatura já se aproximava do zero e com possibilidade de diminuir ainda mais ao longo da madrugada que logo viria.
Deixamos a motocicleta de lado e saímos “encapotados” pelas ruas de Vacaria para comermos uma pizza (sempre a pizza!) e, por óbvio, regada com um bom vinho tinto feito na região.
Depois do regalo gastronômico vivenciamos uma situação da qual nos envergonhamos muito e que nos causou forte arrependimento. Se aqui narramos o episódio é para que nós mesmos, no futuro, não façamos de novo algo semelhante.
Saindo da cantina por volta das 20h, deparamos com um jovem de roupas singelas aparentando idade entre 35 anos de idade, nos pedindo ajuda, etc.
Como estamos habituados com a violência cotidiana aqui de São Paulo, com mil abordagens desse tipo com segundas intenções, fizemos de conta que não era conosco, demos a tradicional evasiva e deixamos o lugar rapidinho.
“O cara é forte, novo e saudável. Logo, pode trabalhar”. Foi isso que nos passou pela cabeça e tal pensamento era até trivial.
Atravessamos a rua em direção da praça principal com a finalidade de fotografarmos a Igreja de Pedra durante a noite e, para isso, estávamos com nosso equipamento foto/vídeo e tripé reforçado.
Por mais que tentássemos concentrar na atividade de fotografar, ficamos preocupados com nossa segurança pessoal por estarmos com todo aquele equipamento, que representava expressivo valor econômico, em meio a “desocupados” cuja intensão desconhecíamos.
A tranquilidade só voltou quando um vigia da prefeitura interagiu conosco, fazendo perguntas do nosso trabalho, das viagens, etc, o que nos deu o sossego necessário para o que estávamos fazendo.
Nesse espaço de tempo vimos de novo aquele mesmo homem que nos pediu ajuda momentos atrás, entrando e saindo da cantina onde estivemos há pouco, carregando consigo várias embalagens tipo “marmitex” para algum lugar.
Curiosos com a situação voltamos para a cantina e conversamos com seu proprietário, que nos contou que toda uma leva de aproximadamente 15 pessoas, parentes e conhecidos entre si, incluindo o rapaz, estavam “acampados” num espaço aberto nas proximidades.
Eles vinham de fora e estavam aguardando o capataz de uma fazenda que os levariam, ainda na madrugada, para uma colheita que demoraria muitos dias.
Disse que eram pessoas simples e pobres, mas conhecidos na cidade por serem trabalhadores e honestos, vivendo dos assalariamentos dados por fazendeiros durante as colheitas, e que sempre receberam espontaneamente ajuda dos comerciantes e moradores dali.
Foi então que, envergonhados, compramos algumas garrafas de refrigerante e levamos à eles, nos desculpando sinceramente pelo ocorrido. O rapaz disse que só nos pediu algo achando que éramos de lá, já que as pessoas estão acostumadas a ajudarem.
A noite foi bem gelada mesmo e, embora estivéssemos no aconchego de um bom hotel e com o ar quente ligado, cismávamos com aquele grupo trabalhadores no relento, esperando o momento de serem levados ao campo para o início da jornada de trabalho.
UM VÍDEO PELA CIDADE
O dia seguinte amanheceu ensolarado, apesar do frio que fazia. Como já tínhamos cumprido nossa meta em Vacaria, depois do café da manhã reforçado deixamos a cidade, cruzando em pouco tempo a fronteira com o Estado de Santa Catarina.
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CRÉDITOS
Texto e Edição: Marcos Duarte
Fotos e vídeos: Marcos Duarte
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