PRADOS/MG

21/02/2021

Rota do circuito turístico da Trilha dos Inconfidentes, Prados é uma encantadora cidade mineira ao norte da Serra de São José, tendo como principal atrativo o Distrito de Bichinho. 

HISTÓRIA

Prados, assim como suas vizinhas São João del Rei e Tiradentes, tem sua origem por conta da ocupação sistemática de mineradores, instalados pela região em busca do rico minério dourado e pedras preciosas no vale do Rio das Mortes.

A história dá conta que sua formação se deu na primeira década do século 18, com a chegada de uma “bandeira” paulista chefiada pela família Prado.

Começando com um pequeno núcleo de mineração, em pouco tempo o lugarejo se tornou o Arraial de N. S. da Conceição de Prados, crescendo muito com a passagem de tropeiros e vindo a se tornar cidade emancipada em 1892.

A CIDADE

Riquíssima em seu potencial histórico, a bela Prados ostenta hoje um raro conjunto arquitetônico preservado, porém, extremamente gasto pelo passar do tempo.

Ao contrário da vizinha Tiradentes, linda, mas com uma arquitetura urbana bastante adulterara, já que lá prevalece o “antigo feito agora”, com construções moderníssimas de aspecto colonial, Prados é toda Prados mesmo: antiga, gasta, original, complicada e… autêntica.

Difícil explicar ao leitor a sensação exata de estar no centro histórico de Prados, com suas ruas estreitas, tortas e íngremes, bem como com o seu córrego semicoberto, que passa na área central do município, embelezando-o, sem ser belo.

Podemos esboçar, a princípio, um aperto no coração ao vermos tanta beleza latente, ou seja: pronta para ser demolida pelo tempo ou a espera pela restauração do homem.

Note-se, porém, que as considerações que faremos a seguir tem a ver com nosso ponto de vista exclusivo, não nos atendo aos programas oficiais oferecidos pelo governo pradense para alavancar o turismo e a administração pública.

Adoraríamos ver Prados reconduzida à sua resplandecência primitiva, com seus prédios restaurados e com suas ruas melhoradas, já que essas não primam nem um pouco pela beleza original.

No entanto, não gostaríamos de vê-la reformada comercialmente falando, mostrando somente uma fachada superficial, que lhe ateste os predicativos históricos, descurando da manutenção de sua autenticidade, reclamada pelos vultos históricos que lá viveram e que ainda velam pela cidade.

Rodando na rua que margeia o pequeno curso d´água, que cruza o centro histórico, semicoberto para acesso aos edifícios que estão voltados para seu leito, vislumbramos um enorme potencial histórico/turístico ali relegado ao ostracismo, nem enfeitando e nem enfeando a cidade.

UM VÍDEO TOUR EM PRADOS

A par disso, os incríveis aclives e declives do centro histórico nos relembram, ainda que em menor escala, as ruas principais de Ouro Preto, esperando dos seus administradores mais energia no uso da máquina pública, para que Prados não definhe para uma cidade fantasma.

DA MATRIZ DA CONCEIÇÃO

Embora o início de sua construção se tenha dado na mesma época da formação da cidade, a conclusão das obras só se deu nas últimas décadas do século 18.

A arquitetura do templo apresenta duas torres ornadas de colunas em pedra, assim como a grande portada. No entanto, segue um modelo raro em Minas Gerais, que a distingue de tantos outros existentes no estado.

O interior é bem clássico e rico, com altar-mor e seis altares laterais em estilo rococó, tendo o forro com pinturas representando os evangelistas e os doutores da igreja, decoração essa bem típica da época em que foi concebida.

O templo é tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) desde o ano de 1995, mais de cinquenta anos depois da catalogação de construções históricas congêneres, mostrando, mais uma vez, como Prados se mantém afastada no meio turístico/histórico nacional.

O acesso a igreja é simplesmente dificílimo e estranho, o que, certamente, é a marca registrada e característica principal do período colonial brasileiro, do ciclo do ouro e da inconfidência mineira, que entendemos deveria ser explorado à exaustão.

DA IGREJA DO ROSÁRIO

Repetimos aqui parte do que dissemos sobre a Igreja Matriz, principalmente no que tange a sua acessibilidade e a exploração cultural dessa característica histórica pelo município.

A capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos fica a duas quadras da Igreja Matriz e é a mais conhecida na cidade.

Sua construção se deu por iniciativa da Irmandade do Rosário dos Pretos, composta por escravos cativos e libertos, tendo suas obras concluídas concomitantemente com as da Matriz, por volta do ano de 1770.

Em sua arquitetura predomina a simplicidade e o tamanho reduzido, com torre lateral única que não constava de seu projeto original.

O acesso ao templo nos fez lembrar a chegada na Igreja de Santa Ifigênia, em Ouro Preto, dada a elevação e escadarias, guardadas, evidentemente, as devidas proporções.

HIPÓLITA JACINTA

Ao que percebemos, analisando nossa história, é que as mulheres sempre tiveram papel imprescindível no manejo dos acontecimentos que, de alguma forma, mudaram nossos destinos.

Em nossas matérias já enaltecemos Bárbara Heliodora, de São João del Rei; Jacinta Siqueira, do Serro; Chica da Silva, de Diamantina, entre outras tantas e, evidentemente, Prados também conta com sua heroína valente, a nobre Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, batizada inicialmente com o nome de Theodozia, só retificado posteriormente.

Filha de portugueses, com vasta cultura e rica, foi casada com o coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes e é tida como uma das mulheres de valor que integraram a Inconfidência Mineira, como o foi D. Bárbara Heliodora, esposa do também Coronel Alvarenga Peixoto.

Soube-se, posteriormente, ser de sua autoria uma das cartas que denunciou Joaquim Silvério dos Reis como traidor dos Inconfidentes, bem como outras, dando conta da prisão de Tiradentes no Rio de Janeiro, fatos esses de seu conhecimento dado ao alto grau de envolvimento com as tratativas dos conjurados.

Escreveu assim ao Padre Toledo, um dos inconfidentes, em missiva enviada por seu compadre Vitoriano Gonçalves Veloso, o “Bichinho”.

“Dou-vos parte, com certeza, de que se acham presos, no Rio de Janeiro, Joaquim Silvério dos Reis e o alferes Tiradentes, para que vos sirva ou se ponham em cautela; e quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que viver com desonra.”

Com a prisão e degredo de seu marido inconfidente, enviado perpetuamente para Moçambique, teve muitos de seus bens sequestrados pela Coroa Portuguesa, só conseguindo reaver parte de seu patrimônio depois de difícil e longo processo judicial, em 1808.

Faleceu em 1828 e foi sepultada na capela mor da Igreja Matriz de Prados. Em 1999 foi condecorada pelo governo mineiro com a Medalha da Inconfidência.

TURISMO

Visitar o centro turístico de Prados já é, por si só, um grande e proveitoso roteiro turístico, entretanto, a cidade dispõe de muito mais.

Semana Santa

As tradições de religiosidade da Semana Santa são bem conservadas na cultura do município, sendo uma das poucas cidades mineiras a executar nesses acontecimentos obras musicais de grandes compositores sacros do barroco mineiro.

Festival da Música

Há, também, o Festival da Música, que acontece há décadas no mês de julho e que faz convergir para a cidade inúmeros visitantes afeitos a esse tipo de entretenimento.

O evento lembra o interesse do público em torno dos acervos de manuscritos musicais, existentes nas antigas corporações mineiras, como a Lira Ceciliana, e destina parte das apresentações para reviver sonoramente o repertório mineiro, guardado nos arquivos musicais nos últimos três séculos.

Piquenique na Serra

Outro evento importante é o passeio centenário pela Serra de São José, reunindo famílias inteiras para um piquenique lá no alto. É considerado o mais antigo passeio ecológico do país, existindo desde 1868.

Distrito de Bichinho

O local é de grande beleza e converge nele grandes artistas e intelectuais. No entanto, lembramos ao leitor amigo que já fizemos MATÉRIA ESPECIAL nesse distrito, apresentando não só suas características, mas parte da história do inconfidente que deu nome ao local: Vitoriano Gonçalves Veloso, o único que, além do desterro, recebeu chicotadas em via pública por ser negro.

NOSSA ESTADIA

Bem que tentamos pernoitar na cidade nas duas vezes que lá estivemos, porém, com os afazeres e o tempo escasso, acabamos seguindo em ambas as oportunidades viagem em direção de Tiradentes, pelo trecho de terra da Estrada Real. 

Para sermos mais exatos, nas dezenas de vezes que estivemos na região, inclusive em Bichinho, somente nessas duas ocasiões visitamos Prados, ficando devendo uma visita mais longa e formal em breve.

Foi somente no curto espaço de tempo, entre os meses de agosto e novembro de 2020, que recolhemos em Prados todo o material e informações necessárias para a elaboração desta matéria.

Nesse vídeo que apresentamos abaixo, mostramos parte do nosso trajeto de Prados até o Distrito de Bichinho, acompanhando de perto a Serra de São José. 

RUMO A BICHINHO

Que esta matéria possa aguçar a curiosidade do leitor amigo para com essa cidade maravilhosa e que, com isso, a cidade possa dar um UP em sua apresentação, atraindo cada vez mais gente interessada em conhecê-la.

COMO CHEGAR

O aventureiro que partir de Belo Horizonte rodará aproximadamente 200km para chegar em Prados, trafegando pela BR-040, até a cidade de Congonhas, derivando então a direita pelas cidades de Entre Rios de Minas e Lagoa Dourada.

Já o paulista da capital poderá chegar em Prados seguindo pela Rodovia Fernão Dias, até a cidade de Lavras, derivando então para a direita rumo a São João del Rei e, posteriormente, Prados. O percurso será de 540km.

Para visitantes de outras localidade o conselho é utilizar-se de um bom guia rodoviário.

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Marcos Duarte

Jornalista, advogado, motociclista desde 1970 e editor do Portal Aventuras desde agosto de 2014, já foi colaborador da Revista Moto Adventure e do Portal Damas Aladas, trazendo notícias do mundo das aventuras nos mais diversos segmentos.