Em comemoração ao 10º aniversário do Portal Aventuras, que ocorre hoje (08/08/2024), trouxemos para você um roteiro a pé pela Reserva Ecológica da Juréia, num percurso de aproximadamente 40 km onde veículos não chegam e a beleza é extraordinária.
O EVENTO
A Travessia da Juréia pode ser considerada “trekking” para uns, oportunidade de estudos para outros, curiosidade para muita gente, mas, em nosso caso, significou principalmente devoção para um grupo de pessoas ligadas ao Santuário de Bom Jesus de Iguape, ao qual nos agregamos para esta matéria especial.
O PERCURSO
O trajeto a ser percorrido pelos aventureiros tem início oficial na foz do Rio Una do Prelado, que faz a divisa geográfica entre as cidades de Peruíbe e Iguape, ambas em São Paulo.
Na manhã nebulosa de 27 de julho de 2024, um grupo de 193 pessoas se alinharam em fila indiana na praia da Barra do Una, na cidade de Peruíbe, esperando alguns pequenos barcos vindos do mar envolto em bruma espessa, que providenciariam a transposição de todos para a praia da Juréia, levando oito pessoas de cada vez.
Neste dia em particular a travessia do Rio Una pareceu mais tenso que em outras épocas, segundo nos informaram alguns participantes que já realizaram o evento várias vezes.
Sacos plásticos eram colocados nos pés de algumas pessoas que atravessariam, evitando molhar os calçados no mar justamente no início da jornada, com certeza evitando os incômodos atritos e bolhas nos pés no auge da caminhada.
Como se tratava de um evento religioso, alguns participantes se compenetravam em orações no início e ao longo do trajeto, ou carregavam consigo pequenas imagens de santos, tercinhos, bentinhos e outras relíquias de suas crenças, e logo que chegavam na margem oposta iam se deslocando vagarosamente na praia infinita, margeando a parte mais úmida da areia (ou a mais dura), para que a caminhada rendesse melhor, proporcionando-nos um visual lúdico de rara beleza.
Neste ano de 2024 os participantes se surpreenderam com um mar mais revolto e uma maré bem mais alta que o normal nesta época do ano, fazendo que todos tivessem dificuldades para caminhar, já que em alguns trechos os pés afundavam muito na areia.
Normalmente iam se formado pequenos grupos de caminhantes, unidos por afinidades ou pelo ritmo das passadas, e nessa toada iam seguindo firmes entre pequenas e curtas conversas, de modo a minimizar os desgastes de uma jornada tão longa para um único dia.
O que se pôde verificar é que os participantes eram distintos entre si, mesclando exímios praticantes do trekking com outros, com pouca ou quase nenhuma noção de uma aventura como essa, tida como difícil para os especialistas.
No início da jornada a organização distribuiu uma camiseta comemorativa do evento, que foi orgulhosamente vestida pela maioria dos participantes, e uma pequena mochila de tecido para ser usado na caminhada por aqueles que desejassem.
Nesse interim pudemos também notar que, apesar da distância e dificuldade do caminho em alguns trechos, muitos usavam apenas essa pequena bolsinha de pano oferecida pela organização, ou algo igualmente simples, coisa completamente estranha ao mundo dos tradicionais praticantes de trekking.
Após algum tempo de caminhada pudemos ver as areias brancas da Juréia sendo cortadas por uma fila imensa de pessoas, todas caminhando com passos cadenciados e decididos, reservando poucas paradas para descanso, lanches ou hidratação, mas não medindo esforços para aqui e ali colherem imagens de recordação, única coisa permitida para se levar de lá.
Cerca de oito km depois do início do nosso percurso fomos encontrar a pequena ermida construída em alvenaria e com um nicho revestido em vidro e no exato lugar onde foi encontrada a imagem do Bom Jesus, abrigando uma pequenina réplica dessa imagem original.
Foi nesse lugar que aconteceu a primeira parada oficial da romaria e onde os devotos/peregrinos se adensaram para a missa que seria rezada em louvor ao Bom Jesus, e em agradecimento por estarem todos bem.
A participação da missa foi obrigação assumida de cada participante no momento da inscrição no evento, que por natureza é religioso, evitando que muitos disparassem na frente, fazendo perder o sentido do evento.
A parada também teve como objetivo um descanso merecido aos participantes, já que é a mais demorada. Mas há de se convir que ainda havia muito caminho para ser andado naquele dia.
A partir da ermida o grupo deixou definitivamente as areias da praia e passou a caminhar pela Trilha do Imperador, uma espécie de estrada aberta na mata nos tempos passados, buscando interligar a capital do Império com o sul do Brasil, mais tarde fazendo instalar nela os famosos postes e linhas de telégrafo, que acrescentou um outro nome ao caminho: “Trilha do Telégrafo”.
Pelos projetos oficiais e que podemos conferir pelos mapas do Google, era previsto que esse caminho recebesse pavimentação asfáltica e agregasse o belo título de BR-101, dando continuidade ao trecho interrompido oficialmente desde Santos/SP, até Joinville, em Santa Catarina.
Felizmente o bom senso “imperou” (ou a falta de verba, quem sabe?) e hoje podemos desfrutar desse paraíso ecológico que se desfralda no extremo sul do Estado de São Paulo, sendo uma das maiores reservas de Mata Atlântica do país.
Finda a missa retomamos nossa caminhada com destino a base Grajaúna da Estação Ecológica da Juréia, onde pudemos fazer uma segunda parada com direito a um lanche frugal oferecido pelos organizadores. Foi oportunidade, também, para completarmos nossas garrafinhas de água antes de prosseguirmos.
Nessa oportunidade que estivemos Base Ecológica, pudemos visitar uma pequena Escola Infantil sediada num cubículo de madeira, montada para atender algumas crianças (quatro ao todo), filhos das pouquíssimas famílias que ainda relutam para continuar morando naquele paraíso indomado.
Adentrando ao acanhado recinto, pudemos ver a disposição e brilho nos olhos da responsável pela educação desses petizes, quase que implorando ajuda de pessoas para incrementar seu humilde trabalho, mostrando-nos com orgulho a pequena, acolhedora e bem montada “sala de aula na floresta”.
Por força do destino, pudemos notar, também, que esse pleito da professora estava sendo dirigido diretamente ao vice-prefeito da cidade de Iguape, que se fazia presente na romaria e é candidato a prefeitura ainda neste ano. Quem sabe o coração do político seja tocado mais que seus lábios e a ajuda realmente desponte.
Deixando Grajaúna seguimos novamente pela Trilha do Imperador, que se nos apresenta como um imenso túnel todo pavimentado de relva e folhas caídas, coberta quase que integralmente pela copa das árvores.
A partir daí percebemos que para conseguirmos a façanha de terminarmos bem a caminhada, precisávamos apertar (apertar mesmo) os passos, na tentativa de chegarmos ao Rio Verde por volta das 15h.
Mesmo estando na retaguarda do pelotão principal, que sumiu na frente sem que vislumbrássemos seus rastros, o grupo em que estávamos acabou chegando no destino pretendido somente por volta das 15h30m.
Por sorte de todos o Rio Verde estava bem baixo e foi fácil atravessá-lo, ainda que de barco. Do lado oposto reservamos alguns minutos para um pequeno descanso, hidratação e lanche, dessa vez reforçado com alguns doces pois o paredão mais temido da jornada estava ali mesmo, a uma dezena de metros de nós.
A subida do temido “Costão” pela sua face norte foi trilhada por nós em fila indiana. De um a um fomos subindo pedra a pedra, rampa a rampa, barranco a barranco, desviando de riachos que cortavam o caminho, de pedras e precipícios a nossa volta e do piso cheio de limbo e extremamente escorregadio.
Nem podíamos dar ao luxo de pararmos. A cada momento de descanso pessoas nos passavam e íamos ficando para o fim da fila. A luz extra das lanternas logo se fez necessária, quer pela escuridão natural do caminho, quer pelo tempo fechado que predominou no dia todo, quer, finalmente, pelo horário que já se estendia.
A subida era realmente bruta e longa, muito longa. Contornávamos todo o maciço rochoso chamado de “Costão”, num percurso aproximado de 6 km levando-se em conta as intermináveis subidas e descidas do trajeto e lembrando que nada era plano por lá.
Mas foi exatamente nesse trecho que pudemos visualizar os postes remanescentes do tempo do telégrafo, que também deu origem ao nome da Trilha. Alguns postes metálicos ainda permanecem quase intactos, outros partidos ao meio ou com apenas a base mantida.
Esse foi um dos momentos mais mágicos da caminhada, permitindo-nos voltar ao passado e garantindo-nos uma paradinha extra que aproveitamos para colher recordações, no que fomos secundados por outras pessoas que seguiam ao nosso lado.
“Quando minhas pernas não puderem mais aguentar…” Não, não se trata de samba enredo de escola de samba carioca. Enfim chegava o trecho da descida, porém, nada tão animador como se poderia imaginar. Descer por um trecho exatamente igual ao que subimos tem suas dificuldades e não foram poucas.
As dificuldades não eram só pelo fato de já estarmos cansados da jornada até então percorrida, mas pelo trecho atual com pedras grandes e cheias de limbo, fazendo que a descida fosse tão ou mais perigosa que a subida.
Escorregão daqui, rala bunda dali e vislumbramos uma das paisagens mais lindas de toda a caminhada: os dois paredões de pedra com cortina d´água escorrendo em cada um deles.
As exclamações de admiração vertiam não só dos principiantes no roteiro, mas também dos mais veteranos, afinal, as imagens descortinadas em nossa frente eram realmente expendidas.
Mais alguns escorregões a frente e o sol se pôs de vez e enxergar aquele percurso inalterado, apenas com as lanternas, era bem complicado.
De qualquer forma transpusemos a contento o trecho final e, quando mal percebemos, vislumbramos uma luz seguindo em direção oposta à nossa.
Ufa! Já estávamos a poucos metros da Base da Estação Ecológica da Juréia/Prelado, onde seríamos recepcionados e identificados, dando fim ao temido trecho do “Costão” e praticamente a todo o evento, pois restariam apenas uns 3 ou 4 quilômetros de praia plana para chegarmos fim oficial da caminhada.
Soubemos, depois, que a última pessoa que deixaria a trilha, consequentemente o “Costão”, seria uma bombeiro voluntária de plantão que faria o rescaldo do evento, de modo a não deixar ninguém perdido.
Enfim, alçávamos a praia novamente! O escuro da noite já era total e com mais alguns quilômetros de caminhada chegaríamos ao ponto de encontro no Porto do Prelado, onde os ônibus de resgate nos levariam até o centro da cidade de Iguape, pondo fim ao nosso evento.
A frase “chegaríamos ao ponto de encontro…” infelizmente não se fez valer. Sem sinal de telefonia, somente chegando nesse “ponto de encontro”, soubemos que não haveria ônibus algum para nos resgatar, já que os dois enviados ficaram atolados na areia do mar, sendo que um deles acabou até danificado e retirado da areia por um trator.
A solução de muitos foi seguir a pé até a Vila da Barra do Ribeira, onde teriam sinal de telefonia para pedirem ajuda a amigos e parentes, caminhando numa fila interminável e surreal pela praia noite adentro.
Durante essa doida caminhada algumas pessoas foram socorridas por veículos menores, que se atreveram a chegar o mais próximo possível do Costão, ou com ajuda de alguns Buggys, que também participaram desse socorro.
Até mesmo a pessoa que nos resgataria em Iguape e nos levaria em Peruíbe, onde estávamos sediados, precisou socorrer outras pessoas que caminhavam, mitigando-lhes o desgaste físico.
De saldo temos que pelo menos esse pequeno grupo de três romeiros foram os primeiros a chegar no destino outrora programado: A Praça de São Benedito, em frente da Igreja de mesmo nome.
Que fique registrado, ainda, que a organização do evento deu provas de eficiência em todos os momentos da travessia, restando fatos isolados e imprevisíveis a maré alta e a quebra dos ônibus, fatos que não podemos creditar aos organizadores.
Soubemos que a equipe de organizadores continuou firme no controle da Juréia, devido a maré alta e ao atolamento dos ônibus, mas conseguiram tempos depois levar boa parte dos romeiros para a Praça de São Benedito.
VÍDEOS DO EVENTO
O MOTIVO DA ROMARIA
A romaria em homenagem ao Senhor Bom Jesus de Iguape ocorre há 27 anos, iniciada no aniversário de 350 anos do encontro da imagem de Bom Jesus em 1647, por dois indígenas que percorriam a Praia da Juréia a mando de um sitiante da região.
Conta-nos a tradição que tais silvícolas, incumbidos de irem até a Vila de Itanhaém em busca de mercadorias, vislumbraram um vulto rolando nas ondas que quebravam na areia da praia e, chegando próximo, viram a imagem de um santo que já tinham visto antes nas igrejas “dos brancos”.
A partir de então as teorias são muitas sobre o que realmente ocorreu, mas uma das versões mais utilizadas é que que os índios levantaram a imagem e fincaram-na na areia pelos pés, deixando-a virada em direção de onde iriam (Itanhaém). Teriam avistado, também, uma caixa de madeira que continha cera, azeite e outras coisas, colocando tudo em volta do santo e seguindo seu caminho.
Reza essa mesma versão que, quando os indígenas retornaram com a compra que fizeram em Itanhaém, depararam com a imagem do santo agora virado do lado oposto, qual seja: Na direção da Vila de Iguape.
Tendo a notícia circulada, uma pessoa com sua família decidiu ir até o local para constatar a veracidade e depois levou a imagem até a Vila de Iguape, para colocá-la na igreja matriz de Nossa Senhora das Neves. Assim, lavaram a imagem numa cachoeira e a entronizaram em novembro do mesmo ano.
Há especulação de que a escultura teria sido feita em Portugal para um senhor de engenho de Pernambuco, mas, ao chegar próximo do Brasil a embarcação teria sido atacada por piratas e, para que a imagem não fosse destruída jogaram-na no mar, vindo posteriormente se instalar na Praia da Juréia.
Várias outras histórias miraculosas são contadas a respeito dessa imagem, com episódios de luminescência nos mares na Juréia e em lugares distintos desde essa época, o que fez difundir mais ainda o culto em louvor ao Bom Jesus em todo o país, sempre com romarias em sua homenagem.
Sinais como os que teriam ocorrido naqueles tempos ainda são reconhecidos nos tempos atuais, não sendo à toa que a região atrai ufologistas de toda a parte do mundo, sendo Peruíbe, especialmente a região da Juréia que começa por lá e termina em Iguape, pontos preferidos desses estudiosos.
Sendo verídicos ou não esses fatos sobre a origem da imagem de Bom Jesus, das luminescências ou qualquer outro fator, o certo é que Iguape teve um “up” de desenvolvimento naqueles tempos, durando até o fim do ciclo do arroz, conforme já mencionamos na matéria especial que fizemos sobre Iguape (saiba mais)
ORGANIZAÇÃO DA ROMARIA
A organização do evento é realizada por um grupo de pessoas devotas de Bom Jesus, e que desenvolvem essa atividade a quase três décadas.
Como a Estação Ecológica da Jureia não é de livre acesso, como era no passado, o grupo se empenha junto as autoridades competentes para conseguir as autorizações necessárias para a travessia de maneira legal, promovendo a inscrição dos interessados; a locomoção de todos até o início da jornada na Barra do Una, em Peruíbe; as providencias necessárias para apoio ao peregrino durante a travessia; e o resgate de todos no Porto do Prelado, na Barra do Ribeira, já em Iguape, levando todos com segurança até o centro da cidade.
Para se inscrever o candidato paga seu quinhão nas despesas que o grupo tem com locação de ônibus, confecção de camisetas e outras necessidades que não tem por objetivo qualquer tipo de lucro. No ato da inscrição o candidato é convidado a fazer uma doação de alimentos não perecível, o que é aceito de bom grado por todos.
A quantidade de pessoas tem sido limitada a 120 nessa travessia, já que o ingresso na Estação Ecológica de grupos maiores põe em risco o ecossistema lá existente, bem como dificulta qualquer tipo de segurança dos participantes durante um dia inteiro.
A exceção ocorreu nesta edição de 2024, quando 180 pessoas receberam permissão para acompanhar a romaria (nós entre elas) que, somados a outras 13 pessoas que administraram o evento, perfizeram 193 pessoas nessa jornada.
Para o transporte de todos a organização dispõe de ônibus interurbano para o trajeto a partir da cidade de Iguape, até a rodoviária de Peruíbe, e lá são fretados outros ônibus urbanos para levar todos até a Barra do Rio Una, em cuja margem oposta começa a caminhada.
O primeiro trecho do percurso é feito pela areia da praia e vai até a Ermida de Bom Jesus, onde ocorre a missa. Desse ponto em diante o trajeto segue pela Trilha do Imperador, como narramos anteriormente.
A HISTÓRIA DO LOCAL DA TRAVESSIA – TELÉGRAFOS
A Trilha do Imperador, também chamada de Trilha do Telégrafo, segue ao lado da extensa porção de terra beira mar entre a praia do Guaraú, em Peruíbe, e a Barra do Ribeira, em Iguape, numa extensão aproximada de 50 km.
Nesse trecho verificamos que ainda estão fincados alguns postes remanescentes da antiga Trilha do telégrafo, utilizado no Segundo Império do Brasil para realizar comunicação com o extremo sul do país.
O trecho é composto de muita diversidade, com rios e cachoeiras intactas para contemplação, praias, costão rochoso, área de manguezal preservada, árvores centenárias, flora e fauna exuberantes, montanhas e uma vista panorâmica de cair o queixo.
Como já o dissemos, o caminho de terra batida hoje existente nesse percurso, e pelo qual caminhamos boa parte de nossa jornada, seria um trecho não concluído da BR-101, que ligaria o Estado de São Paulo com o sul do Brasil renteando o mar.
A interrupção da BR-101 de seu projeto original se deu ao norte da cidade de Santos/SP, recomeçando na altura de Joinville, em Santa Catarina, e é possível ver a indicação da rodovia nos mapas atuais do Google.
A Trilha do Imperador, por sua vez, foi construída a mando de Dom Pedro, a fim de possibilitar a circulação do Correio Del Rei e para facilitar o acesso de mensageiros com notícias, acrescentando nela a linha telegráfica, que permitia comunicação bem rápida sobre os conflitos da Guerra do Paraguai.
Embora a Estação Ecológica Juréia-Itatins tenha sua portaria norte a alguns quilômetros da a Praia do Guaraú, em Peruíbe, parte desse trecho até a Barra do Una está recheado de casas, sítios pousadas, campings, criadouros e outras atividades desconexas com a Reserva Ecológica.
É somente depois de transpormos o Rio Una do Prelado, na Barra do Una, que verdadeiramente entramos nesse paraíso que estamos reportando nesta matéria especial de aniversário.
Tem-se, atualmente, que dentro da reserva há apenas algumas poucas famílias remanescentes, que lá permanecem de forma sustentável a preservar a natureza intocável, o que justifica a existência da precária escolinha infantil da Base Grajaúna que comentamos.
NOSSA PREPARAÇÃO
Para trazermos para você esta matéria especial de aniversário, cruzando a pé aproximadamente 40 km de uma das áreas mais preservadas de nosso país, precisávamos de uma preparação adequada, quer pela idade, quer pelo fato da caminhada ser feita boa parte na areia da praia, o que dificulta mais as passadas, já que a areia retém nossa jornada.
Uma vez admitidos no evento, no qual dividimos a primazia de atravessar a reserva com mais 192 pessoas, tratamos de melhorar nosso condicionamento físico com caminhadas semanais cada vez mais distantes, no curto espaço de 30 dias de antecedência.
Os terrenos arenosos e de terra batida foram os preferidos nessas poucas jornadas de treino, já que tínhamos que dosar o fôlego, a distância, o cansaço e a tralha que levaríamos, afinal, nessa jornada pela Juréia não se pode simplesmente “desistir” no meio do caminho, pois não se liga para um Uber, tampouco algum amigo ou parente pode nos resgatar de carro.
Nesses treinos fomos adequando o equipamento para levar (no nosso caso para imagens), a alimentação, a água e as roupas para vestir ou carregar (Frio? Calor? Chuva?). Fora isso era preciso lembrar que a jornada levaria mais de doze horas para ser terminada e, se iniciarmos em 193 pessoas, terminaremos com o mesmo número, já que ninguém pode ficar para trás.
Protetor solar, repelente, medicamentos, ataduras, boné e congêneres são produtos que sempre nos vem à mente e estaremos mentindo se dissermos que não nos preocupamos com isso.
Nos dias anteriores à travessia demos uma trégua nos treinos mais acirrados e começamos a montar a tralha que efetivamente levaríamos.
Para esse evento chegamos na Barra do Una com três dias de antecedência e ficamos nos adaptando ao ar marinho e fazendo pequenos passeios pela praia.
E ao que pareceu, pouco valeu tanta preocupação. Ainda que não tenhamos sentido uma única dor no corpo, sentimos o “cansaço” de sermos ultrapassados por muitas pessoas acima dos 70 anos de idade, um deles completando 88 anos agora em setembro.
Percebemos que numa romaria, ao contrário do trekking habitual que sempre praticamos, a fé e a devoção das pessoas estão bem acima de qualquer condicionamento físico, mais ainda quando aproximadamente cinquenta de seus participantes já são classificados como idosos, pois já atingiram aos 60 anos de idade.
E ainda tem mais. Pasmamos com a indumentária e guarnições levadas por muitos deles. Roupas triviais, um bornal de pano com quase nada dentro e uma vontade férrea de caminhar, nos deixando para trás em todos os momentos.
De que valeram nossas mochilas cargueiras sofisticadas, nossos bastões de caminhada retráteis e nossas roupas especiais importadas, se nos faltou a fé indispensável para uma jornada como a que trilhamos?
COMO PARTICIPAR
Participar do evento não é tão fácil como se pode imaginar. Como tudo é projetado para o devoto de Bom Jesus de Iguape, a prioridade está nos peregrinos locais com sua fé, com suas tradições e com seus santos objetivos, evitando-se os curiosos.
Se somarmos tudo isso com a quantidade mínima de pessoas permitidas no evento, entenderemos o motivo da inscrição ser apenas presencial e num único dia, em muitos casos até com a obrigação de atestado médico.
Por se tratar de um evento religioso e de grande responsabilidade, não há possibilidade de vagas reservadas para este ou aquele amigo especial, tendo todos que enfrentar a fila no dia e hora marcada, sendo certo que neste ano já tinha gente postada em frente da Casa da Sopa, local onde ocorreram as inscrições no centro de Iguape, desde as cinco horas da manhã.
De qualquer maneira, a melhor forma de saber com antecedência o dia da inscrição é ficar atento aos grupos de Instagram, facebook e whatsapp do grupo, bem como ter tempo e disposição para chegar muito cedo em Iguape no dia da inscrição.
OUTRAS OPÇÕES
Outra forma de transpor a Reserva Ecológica da Juréia de forma legal é ser estudante, professor ou pesquisador, ou obter junto aos órgãos competentes autorização especial para ingressar na Reserva para outras finalidades.
Até mesmo os moradores lindeiros não tem passe livre para a Reserva, e mesmo seus moradores fixos da Reserva não tem permissão para levar visitas em seus lares. O atracamento de barcos na orla da Reserva também é fiscalizado pelos Monitores da Estação Ecológica.
Porém, é certo que não são apenas os romeiros de Iguape que tem a primazia de atravessar área tão nobre para sua romaria anual. Outros grupos também obtém permissões quase idênticas e fomentam suas viagens, como ocorre com a Romaria de Peruíbe, que dura quatro dias para ser concluída, sendo dois dias inteiros dentro da Reserva Ecológica e com direito a pernoite junto ao Rio Verde.
No entanto, pudemos verificar que a fiscalização nesses dias de romaria, embora multiplicada em relação aos demais dias do ano, é insuficiente para separar o joio do trigo e várias pessoas acabam se infiltrando durante a muvuca da travessia de barcos (fato que constatamos pessoalmente), situação essa que possivelmente ocorrerá no momento da saída, já na Base do Prelado.
Seja como for, adentrar a Reserva em outras épocas do ano e sem as autorizações devidas pode até caracterizar crime ambiental, conforme o caso, bem como ensejar apreensão de qualquer objeto, veículo ou equipamento em posse do invasor, sujeitando sua detenção até sua saída da área restrita.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Vanessa França – coordenadora do evento
Denis Arthur – fotos, vídeos e resgate
Fernanda Barbi – Fotos e Vídeos
Dra. Jennifer Steschenko – condicionamento físico para o evento
E vamos nós para mais dez anos no
Portal Aventuras
Se você já conhece a região, tem alguma crítica ou sugestão para fazer, envie-nos um comentário a respeito. Será muito útil para nós.
EDITORIAL
PORTAL AVENTURAS é um veículo de comunicação de turismo, aventureiros e aventuras de todos os tipos, no ar, no mar e na terra, abordando os assuntos com seriedade e profissionalismo.
Jornalista responsável: Marcos Duarte– MTB 77539/SP
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Parabéns pela matéria. Fotos lindas. E parece que estamos juntos nessa aventura.
eheheheheh. São seus olhos.