HISTÓRIA
A região onde se encontra a cidade de Congonhas passou a ser vasculhada com mais intensidade, desde a última década do século 17, com as certeiras notícias de ouro farto naquelas plagas.
Foi nessa época que os bandeirantes, seguindo o rumo da Serra do Deus-te-Livre, hoje Serra de Ouro Branco, encontraram muito ouro na região do Ribeirão do Carmo, nascendo então a primeira Vila das Minas Gerais, Mariana, em 1696.
Antes mesmo desse século terminar, descobriu-se extensas reservas auríferas nas Congonhas do Campo, junto aos rios Soledade, Macaquinhos e Maranhão, formando, então, as primeiras rotas oficiais para escoamento do outro até Paraty, denominado Caminho Velho da Estrada Real.
Evidentemente o ouro abundante gerou uma das maiores guerras em terras brasileiras (dos Emboabas), travada entre Bandeirantes, forasteiros de outras regiões e indígenas, cujos sinais ainda perduram até os dias atuais, como pode ser visto nas Ruínas da Cadeia, no atual distrito de Alto Maranhão.
Com a restauração da paz foram criados os arraiais do Redondo (Alto Maranhão), em 1718, e das Congonhas do Campo, em 1734.
O marco mais significativo na vida do arraial se deu em meados do século 18, possivelmente no ano de 1755, com a chegada em Congonhas de mais um minerador português em busca das riquezas da colônia. Feliciano Mendes era o nome a ser reverenciado para sempre.
Porém, dois anos depois de fixar nas Gerais o minerador adoeceu gravemente e, para obter a graça divina da cura, prometeu criar um Santuário em devoção ao Bom Jesus de Matozinhos, cujas obras iniciaram com parte de sua fortuna particular e doações diversas. (veja abaixo)
Como não só de ouro vivia Congonhas, em 1812 foi implantada na cidade a primeira fábrica de ferro do país (Patriótica), hoje situada nas margens da BR-040 e pertencente a Mineradora VALE.
Atualmente são várias as mineradoras explorando o solo de Congonhas, inclusive a Companhia Siderúrgica Nacional, responsável por uma das barragens mais críticas de Minas Gerais, com 50 milhões de m2 de rejeitos em situação de risco iminente de rompimento, que rendeu-nos uma matéria especial sobre o assunto que você pode conferir aqui.
Somente em dezembro de 1938, desmembrada das cidades de Conselheiro Lafaiete e Ouro Preto, Congonhas do Campo foi elevada à categoria de município, mudando seu nome para Congonhas dez anos depois.
SANTUÁRIO DO BOM JESUS DE MATOSINHOS
O Santuário, construído entre 1757 e 1790, foi declarado em 1985 pela Unesco como Patrimônio da Humanidade e é um dos maiores tesouros da arte barroca mundial.
Na rampa de acesso à Basílica notamos as seis imponentes Capelas dos Passos, exibindo cada uma delas cenas da paixão de Cristo. Ao todo são 66 imagens em tamanho natural, magistralmente esculpidas em cedro e pintadas a mão.
As esculturas são da lavra do imortal Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho; e as pinturas foram feitas por Manuel da Costa Ataíde, conhecido como Mestre Ataíde.
Quanto as seis capelas, essas levaram muito tempo para serem completamente construídas (76 anos), embora as imagens já estivessem prontas há muito tempo. A última capela (passo da crucificação) foi concluída em 1875, 61 anos após a morte de Aleijadinho.
Já no adro da basílica, acolhendo aos incontáveis fiéis e turistas que visitam a cidade, vamos encontrar os “Doze Profetas”, todos esculpidos por Aleijadinho e seus ajudantes, entre os anos de 1800 e 1805.
O feitio peculiar das esculturas em pedra; os trejeitos não usuais dos personagens; as distorções e equívocos propositais nas vestimentas e em suas expressões tem seus mistérios e inúmeras teorias, algumas que transcendem o imaginário vulgar.
A igreja, por sua vez, traz rica decoração interna com entalhes dourados e pinturas, e é considerada um importante marco da arte sacra brasileira, reunindo trabalhos de alguns dos maiores escultores do período colonial mineiro, como Jerônimo Félix Teixeira, João Antunes e Vieira Servas, além de quadros e imagens de João Nepomuceno Correia e Castro e Manuel da Costa Ataíde.
Sua planta segue o modelo barroco colonial, com uma nave única, um coro sobre a entrada e uma capela-mor separada da nave por um grande arco.
Todo o complexo do Santuário foi construído nas encostas do Morro Maranhão e em várias etapas, entre os anos de 1757 e 1875.
O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos é assim formado: Basílica, Conjunto dos Profetas, Capelas dos Passos, Capela do Santíssimo, Sala dos Milagres e Sede da Administração do Santuário, essa última na parte posterior da Basílica, também utilizada para encontros religiosos.
IGREJA MATRIZ
Construída em 1735, a revelia da Coroa Portuguesa e sob a proteção de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, tem como curiosidade os boatos que seu alicerce foi feito em um só dia, contra as ordens do governador da província de então.
A capela-mor, datada de 1764, tem significado especial por ter sido dourada por Manuel Francisco Lisboa, pai do imortal Aleijadinho, autor também dos entalhes da tribuna.
Já a escultura do frontispício e do pórtico do templo, essas, por sua vez, estão na conta do grande mestre Aleijadinho.
A grandiosa nave principal da Igreja é tida como uma das mais espaçosas de Minas Gerais, constituída por forro em gamela e de tábuas corridas.
Além do belíssimo altar-mor, ricamente ornamentado em talha dourada, a igreja tem mais quatro altares laterais, formando um conjunto de rara beleza.
ROMARIA
O atual prédio da Romaria está situado exatamente no local onde, desde o ano de 1770, servia de abrigo aos pobres que vinham em caravanas para as festividades do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, que ocorre no mês de setembro de cada ano.
Com a finalidade de dar mais comodidade aos romeiros e cobrando-se deles o valor correspondente, o Santuário mandou construir cerca de meia centena de casas baixas, dispostas em forma de círculo, com entrada única formada por portão grande e duas torres, isso nos anos de 1930.
O empreendimento durou apenas 30 anos, sendo vendido para empreendedores que desejavam construir um hotel. Chegaram a demolir todas as casas, com exceção das duas torres e do pórtico, mas o negócio não vingou.
Com a recuperação do imóvel pela Prefeitura de Congonhas, em 1993, deu-se início a restauração do projeto original da Romaria, que serve hoje para diversas atividades culturais do município.
MUSEU DE CONGONHAS
Também conhecido como “Museu de Aleijadinho”, está a meio caminho entre a Basílica de Matosinhos e a Romaria. Se há um museu que não pode deixar de ser visto é este.
O prédio do museu é de concepção ultramoderna, com muito concreto armado e paredes envidraçadas, destoando em tudo com as linhas barrocas do complexo da Basílica, da qual dista poucos metros.
Por outro lado, o museu atende muito bem ao fim que se destina, com amplos espaços para locomoção interna, salas de exposição bem dimensionadas, biblioteca, auditório, cafeteria e até um anfiteatro ao ar livre, para eventos especiais.
O Museu é voltado tanto para os que buscam o turismo cultural quanto para aqueles que procuram o turismo religioso, pois se alinha com as modernas tendências de promoção da qualificação urbana associada à vocação histórica da cidade de Congonhas.
O ponto alto, entretanto, está na exposição dos trabalhos do gênio das artes, Aleijadinho, que agrega um espaço imenso para esse fim, desde os tipos de ferramentais que eram por ele utilizados para a feitura de suas obras, como a explicação específica das que permanecem em Congonhas.
No salão maior vamos ter, em detalhes, todas as informações sobre as 66 imagens em cedro que compõem as Capelas dos Passos, com suas explicações e curiosidades, bem com vamos poder ver de perto as réplicas em tamanho natural dos Doze Profetas.
Outras coleções também são expostas de maneira permanente, mas há espaços reservados para exposições temporárias, que sempre acrescentam cultura e entretenimento aos visitantes.
TOUR POR CONGONHAS
A CIDADE
A área urbana de Congonhas está toda na margem oeste da rodovia BR-040 e é cortada de fora a fora pelo Rio Maranhão, um dos primeiros a apresentar indícios de ouro abundante nas Minas Gerais.
Hoje vivem na cidade cerca de 55mil congonhenses, divididos entre a sede do município e nos distritos de Alto Maranhão e Lobo Leite.
Bem abastecida de infraestrutura, com bons hotéis, rede gastronômica de qualidade e muitos atrativos turísticos, atrai gente do mundo todo para lá durante todo o ano.
Mas, sendo a atividade básica da cidade a mineração pesada, também recebe profissionais especializados da área e aqueles de mão de obra barata, fazendo o crescimento populacional expandir descompassadamente.
O centro comercial é bem desenvolvido, oferecendo aos munícipes quase tudo que precisam, sem necessidade de viagem para outras cidades. No entanto, algo no visual de suas ruas e avenidas fora do centro comercial incomoda bastante.
Talvez devido a quantidade de escavações na região e o tipo de atividade que mais rende na economia local, a mineração, as ruas são muito empoeiradas e sem aquele ar de limpeza que predomina em outros recantos.
Isso não quer dizer que o povo seja desleixado, ao contrário, já que não se vê desorganização no serviço de higiene pública, mas o ar parece sempre impregnado de poeira vermelha que assenta no chão, nas paredes, etc, que só dá uma trégua depois das chuvas.
As ruas centrais, como soi ocorre nessas cidades históricas antigas, são todas estreitas e, no caso de Congonhas, cheias de aclives e declives acentuados, muitos ainda em pedras pé de moleque, que causam pânico dos motociclistas menos afeitos com esse tipo de piso.
Para melhor apreciação de quanto falamos, convém ao leitor ler a matéria que fizemos sobre as Barragens sujeitas a rompimento na região. saiba mais.
NOSSA VIAGEM
Nesta viagem tivemos o prazer de permanecer na cidade por três dias consecutivos, com oportunidade de conhecer, com detalhes, seus principais atrativos.
Congonhas foi o ponto final do Projeto Barragens que começamos dias antes, em Belo Horizonte, seguimos pela Serra do Rola Moça, da Moeda e do Mascate, contornando as principais minas em atividades no estado, com suas perigosas barragens.
Chegamos na cidade no finalzinho da tarde mas, no mesmo dia, depois de regularmente instalados em confortável hotel, fomos conhecer a Igreja Matriz da cidade, já que era dia de missa e ela estava aberta para que pudéssemos entrar.
Foi o que restou de passeio naquele dia, já que o cansaço da viagem nos impunha o sono reparador depois do jantar simples que fizemos, a base de lanche reforçado.
Os dois dias seguintes serviram para conhecermos o Museu de Congonhas, que estava em final de construção em nossa última estadia por lá, e para contemplarmos mais uma vez a magnifica alameda dos passos, desta vez com tempo de sobra.
Nem por isso deixamos de promover outra excursão para esse local durante a noite, também com tempo estendido, para colhermos imagens impressionantes da Basílica, dos Profetas e dos detalhes das esculturas, intensificados pela luz noturna.
A dramaticidade das imagens nas Capelas dos Passos durante a noite é impressionante e nos remete ao passado, como se pudéssemos entrever o franzino e doente Aleijadinho esculpindo aquelas obras divinas.
O que nos chama a atenção, contudo, é a facilidade de acesso tátil à tais obras (Profetas), podendo toca-las, alisa-las, percebe-las, senti-las entre os dedos sob a luz, orvalho da noite e até chuvas torrenciais, sem qualquer proteção especial, a não ser raros guardas municipais que soubemos que ali permaneciam, mas que sequer chegamos a vê-los.
Nem mesmo quanto as 66 obras de artes esculpidas em cedro estavam distantes de nosso tato.
Embora protegidas por seis capelas especialmente feitas para isso, tinham janelas totalmente abertas para que pudéssemos “enfiar” as mãos para fotografá-las a bel prazer e, com um braço alguns centímetros mais longos, com certeza poderíamos toca-las com firmeza.
Percebendo a noite cair com um pouco de neblina, embora estivéssemos no outono, ficamos intrigados com essa umidade toda ladeando as frágeis esculturas ali expostas, ao nosso lado, imaginando a necessidade de uma proteção maior à toda essa grandeza histórica e cultural, que foi capaz de conferir ao Santuário o título de Patrimônio da Humanidade.
O último dia em que permanecemos em Congonhas rendeu outra visita ao Santuário, porém verificamos que a tradicional missa domingueira não estava sendo realizada na Basílica, mas num salão pelado de um prédio do outro lado da rua.
Com isso não tivemos oportunidade de visitarmos a parte interna da Basílica, contentando-nos com uma imagem de seu interior, apresentada no Museu da cidade.
Por volta do meio dia deixamos mais uma vez a cidade de Congonhas para trás, seguindo em direção de São Brás de Suaçuí pela Estrada Real, não sem antes passarmos pelo distrito de Alto Maranhão.
RUMO A ALTO MARANHÃO
ALTO MARANHÃO
Com mais de trezentos anos de história, o centro histórico do distrito fica a 9km ao sul de Congonhas, usando-se o acesso pela Estrada Real, hoje toda pavimentada em tijolinhos de cimento intertravados.
A história das Minas Gerais e de todo seu ouro começa por esse distrito, onde se assentaram os primeiros bandeirantes a descobrirem as riquezas minerais do estado.
Antes de chegarmos ao distrito, por essa rota, vamos ver as ruínas da Antiga Cadeia de Alto Maranhão, que serviu para aprisionar pessoas detidas por ocasião da Guerra dos Emboabas, entre os anos de 1707 e 1709.
Evidentemente o edifício foi usado para a mesma finalidade posteriormente, já que ainda hoje está em regular estado de conservação, apesar de estar isolado de tudo e de todos. Não há, sequer, ares de ter sido reformado ou preservado especificamente.
Outro ponto alto do distrito é a igreja Nossa Senhora da Ajuda, recentemente restaurada e que tem uma construção imponente, com pinturas no forro da capela-mor com 13 temas distintos.
O distrito é acanhado e tem suas atividades comerciais bastante reduzidas, dependendo muito de Congonhas para o devido abastecimento.
Por volta das 14h deixamos definitivamente Alto Maranhão pela BR-383, que margeia o distrito, e seguimos em frente rumo ao nosso próximo destino.
COMO CHEGAR
Para os visitantes que partirem de Belo Horizonte o trajeto é bem simples e curto (80 km), feito pelas BR-040 e BR-386.
O percurso para o carioca que partir da capital do estado é mais longo (370 km), mas todo ele poderá ser cumprido pela BR-040.
Já o paulista que partir da região metropolitana de São Paulo terá um trajeto bem maior para percorrer: 590 km. Os primeiros 460 km serão completados pela BR-381 (Rod. Fernão Dias), até a cidade de Carmópolis de Minas, e o restante pela estreita e sinuosa MG-270.
Os interessados em visitar Congonhas e desejarem partir de outras localidades, aconselhamos consular um bom guia rodoviário, já que muitos caminhos podem levar o turista até a “Cidade dos Profetas”.
Se você já conhece a região, tem alguma crítica ou sugestão para fazer, envie-nos um comentário a respeito. Será muito útil para nós.
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